quarta-feira, 8 de junho de 2016

O deserto que é a Figueira

A paisagem urbana, se humanizada e preservada, poderia ser apetecível e agradável.
Porém, os homens têm uma tendência para descaracterizam tudo e pouco lhes sobrevive!
E isso não acontece só nas grandes cidades.
Na Figueira da Foz, o belíssimo edifício da foto que saquei daqui, onde funcionou a filial do Banco Nacional Ultramarino na nossa cidade, foi demolido há dezenas de anos.
Foram os figueirenses, ao longo dos anos,  que criaram o seu próprio deserto.
Mesmo algumas ilhas de oportunidade não lhes sobreviveram...
Na Figueira, é praticamente impossível fazer um percurso pela evolução da construção ao longo do tempo e admirar a preservação do património, pois não foram mantidos ou preservados os traços evolutivos dos diferentes modos de construir, salvo raríssimas excepções. 
A Figueira, no tempo que passa, é um conjunto urbano desarmonioso onde o contraste choca!
O cartão de visita da Figueira - a sua enorme avenida marginal que se estende até ao cabo Mondego - ficou reduzido, ao longo de quase toda sua extensão, a construções do mais puro cimento, edificadas o mais possível próximo da praia, expressando, cada uma delas a excelência da arquitectura portuguesa, a diversidade das suas correntes e conceitos estéticos. Sobretudo, ficou bem visível e patente a rica sensibilidade pato-bravística e a falta de rigor e contenção dos autarcas que estão no poder desde 1980. 
A cereja em cima do bolo da  interminável betonização do património paisagístico, natural e cultural, foi o recente  "equipamento hoteleiro de grande qualidade", que colocou a nu o que já se sabia: o ordenamento urbano na Figueira tem-se vindo a aproximar da qualidade que se verifica nos subúrbios das cidades da América Latina. 

2 comentários:

A Arte de Furtar disse...

Excelente reflexão!
"Na Figueira, é praticamente impossível fazer um percurso pela evolução da construção ao longo do tempo e admirar a preservação do património, pois não foram mantidos ou preservados os traços evolutivos dos diferentes modos de construir, salvo raríssimas excepções.
A Figueira, no tempo que passa, é um conjunto urbano desarmonioso onde o contraste choca!"

Quem se atreve a desmentir a crueza da realidade destas palavras?
Todos somos culpados!
Construímos uma cidade sem identidade; destruímos uma cidade com identidade!

Edifícios emblemáticos, como o Casino, que deu lugar a um "barracão" quem nem em Las Vegas tinha lugar. O que se irá passar com o edifício da Casa Africana (tabacaria); com o antigo posto de Turismo (na Esplanada Silva Guimarães); com a Casa do Castelo apenas recuperada por fora?
Outro exemplo emblemático de um edifício que está ao abandono e a entrar em degradação: o lindíssimo ex jardim infantil que fica situado ao cimo da Rua Alexandre Herculano (junto Quinta Santa Catarina). Não sei quem é o proprietário (o Estado? uma entidade particular?) mas é uma dor de alma ver um bom espaço não ser aproveitado para actividades culturais ou ...

Uma cidade que cedeu ao poder do cimento - destruição do quarteirão onde hoje está o edifício Portugal; a confusão urbanística junto ao Jumbo, etc e cereja no bolo o negócio (culpa morre solteira...) que é o hotel e a urbanização (????) na Ponte Galante.

Uma cidade sem rumo: não é turismo/ não é indústria/ não é educação / não é...
Uma cidade que não estima a sua espectacular, pura, bela e deslumbrante Serra da Boa Viagem!
Uma cidade que permite que o Picadeiro (zona pedonal e de repouso??) seja um entreposto de cagas e descargas a qualquer hora!
Uma cidade que não estimula uma frente de rio com esplanadas, restaurantes, espectáculos.
Uma cidade que não investe em educação - quantos bons alunos do secundário a Câmara apoio nos chamados Cursos de Verão das Universidades?

E a juntar ao urbanismo teríamos de falar da eterna falta de limpeza.
Folhas, lixo, papeis, contentores do antigamente....uma cidade ao desleixo.
Nem há a preocupação de ter flores no jardim ou nas rotundas!!!

E como diz o humorista Luís Filipe Borges: ‏
"Está quase aí a Volta a Portugal. A única altura do ano em que um grande grupo de portugueses pedala na mesma direcção."

Ponto final.
Bom texto Sr Agostinho.


ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Muito obrigado: pelo contributo dado - de que este comentário é, apenas, um exemplo elucidativo; e pela a atenção e interesse com que acompanha este pequeno contributo reflexivo sobre o tempo que passa. Um abraço.