Foto Pedro Cruz
Sempre gostei de botes. Sempre gostei da sensação de pertencer a esta gente que, no rio e no mar, tem de navegar com estes botes. Sempre gostei de olhar para estes botes e para esta gente.
Daí, ter gostado da ideia do Pedro de fotografar os botes da minha Terra.
Ao brindar-nos com os seus olhares sobre estas embarcações, vai preserva-las em fotografia para sempre.
O bote, embarcação tão característica da minha Terra, faz também parte da nossa vida colectiva. Nele, por enquanto, navega e trabalha gente, já em pequeno número, é certo, que ganha o pão na dura lida da pesca.
Com cada vez mais dificuldades, alguns botes vão resistindo, ali no Portinho da Gala, mantidos e "mimados" pela carolice e orgulho dos seus proprietários, que insistem em preservar a memória do Mondego e o pedaço de história escrita nas suas águas pelos botes da minha Terra.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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