Estou a chegar àquela idade em que, à nossa volta se começa a sentir, ainda mais, a pressão para, finalmente, sermos como a esmagodora maioria.
Vendo bem, porém, não me sinto assim tão diferente: tive uma filha; e uma casa; agora, tenho uma garagem, 3 bicicletas e um carro.
Estou naquela idade de aceitar a finitude com serenidade. Já não tenho idade para pedir muito.
Aliás, a vida para mim nunca foi acumular
Prefiro a solidão e a aceitação fácil.
Gosto de sentir que não sou vencedor.
Não vivo - nunca vivi - uma vida «comprada» segundo a opinião que domina a sociedade.
Nunca o fiz; nunca o farei. Chegou o que me venderam na adolescência.
Se há qualidade que tenho, quiçá em demasia, é a de não me vender. Por nada.
Há apenas meia dúzia de coisas realmente importantes na minha vida. Umas de natureza familiar, que me abstenho de divulgar. Outras, de gosto: os livros, a musica, a paz e o amor.
São-nos concedidas algumas dezenas de anos, que temos que aproveitar: para mim, gosto de apreciar a beleza simples da vida.
Até Dezembro do ano passado, era sentar-me na melhor esplanada da Figueira.
Agora, resta-me um bom livro de poemas e a música...
E as caminhadas, como a desta manhã, ao longo do molhe sul.
Gosto de ir ao Cabedelo, mesmo agora revoltado e revolvido pelas obras.
Desapareceu a praceta Mário Silva e aquela que era a melhor esplanada da Figueira e que tinha a mais linda vista sobre o mar.
Depois disto, não deixará jamais de me espantar a necessidade que os políticos têm de "obrar"...
É salgado, umas vezes, outras amargo, andar por aqui, agora.
Gritar fazia falta, fazia sentido e era importante, mas continuo a preferir outras formas de usar o aparelho fonador.
Por isso, fica o silêncio para poder ouvir o rumorejar das ondas a beijar o molhe.
Garanto: continua a ser bom...
O Cabedelo, no decorrer desta semana, é o tema proposto pelo jornal Diário as Beiras, aos cronistas residentes.
Como é óbvio, vou estar atento.
Fica a crónica publicada pelo João Vaz, o habitual cronista das segundas-feiras.