“Quem diz o que pensa está lixado”,
é o título da primeira página do Jornal de Negócios que hoje
publica a entrevista feita a Fernando Dacosta, escritor e antigo
jornalista.
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade
da democracia era a de tolerar?..
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade
da democracia era a de vivermos numa sociedade onde ninguém faz sangue, onde não há repressão e gente morta pelas injustiças?..
A democracia é deliciosa e boa e é maravilhosa quando dá tempo de antena a Santanas que são Lopes, a Cavacos que
são Silvas, a Paulos que são Portas, a Passos que são Coelhos, a
Dias que são Loureiros e a outros Antónios que são Costas.
O título de primeira página da
entrevista (que ainda não li) dada pelo Dacosta, que é Fernando,
deve vir na esteira disto, que é o que penso: a vitória da actual
política de Salazar recauchutada, fica a dever-se, mais coisa menos
coisa, ao incumprimento de Abril, à miséria paroquial em que vivemos, ao
defraudar de expectativas que esta democracia atraiçoada e de
«baixa intensidade e qualidade» desencadeou por quem esteve no
poder disfarçado de esquerda.
As cicatrizes das nossas vidas ficaram
mais expostas, por causa dessa mentira que os mesmos querem
continuar.
Estas palavras ferem, como devia ferir o
inferno a quem nos conduziu até aqui: a verdade da realidade, não merece menos do que isto...
Não somos detentores de nada. Não
possuímos nada. Nem os bens que julgamos serem nossos – dinheiro,
carros, casas, etc.. Nem, no final, o nosso corpo. Nem, no final, a nossa alma. Neste momento, nem à verdade temos direito. Neste momento, nem já, ao menos, a uma ilusão.
No fim, não somos nada. Não resta nada.
Para alguns, durante algum tempo,
enquanto alguém se lembrar da nossa passagem por aqui, seremos
fantasmas de mentiras que criámos e sombras de ilusões que
alimentámos.
A memória do que resta da maioria de
nós – restam os que conseguem libertar-se da lei da morte: Camões,
Pessoa, Eça, Cunhal, talvez Saramago... - é como as nossas vidas:
oca e vazia, por fora e por dentro.