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A exposição que esteve montada, à porta fechada, no Mercado de São Pedro, das 17 às 21 horas, do dia 27 de fevereiro, uma sexta-feira. Como se pode verificar, não existem legendas, como foi insinuado ontem na Assembleia Municipal pelo presidente da junta de S. Pedro, António Salgueiro. A exposição era para ter sido inaugurada às 10 horas do dia seguinte. |
Na passada quinta-feira, 30 de de
Abril, como faço quando posso, subi até ao salão nobre dos paços
do concelho para assistir à Assembleia Municipal.
Tive uma enorme surpresa, ao deparar com a discussão de uma moção apresentada pela deputada municipal Ana Oliveira, com o
seguinte teor:
"No passado mês de Fevereiro do presente ano, o fotojornalista Pedro Cruz foi convidado pelo Presidente da junta de freguesia de São Pedro a realizar uma exposição da Freguesia de são Pedro, tendo o autor atribuído lhe o nome de “Alerta Costeiro 14/15”.
Esta exposição mostrava imagens que documentam a erosão do litoral costeiro, em especial a zona da freguesia de S. Pedro.
Nas vésperas da inauguração, a exposição do fotojornalista foi cancelada, alegando o presidente de junta do partido socialista, que a mesma estava politizada, mostrando, no nosso ponto de vista, uma verdadeira barreira à liberdade de expressão.
O que é certo, é que, com este infeliz desfecho e tal como o artista comunicou numa rede social, “O alerta foi dado” e mais do que nunca a população e as várias entidades com responsabilidades sobre o assunto “Olharam com olhos de ver” para o real problema que aquela freguesia e que o concelho da Figueira da Foz está a sofrer com esta constante devastação da zona costeira.
Neste sentido propunha à Assembleia Municipal, que pelo impacto e para mantermos viva a nossa preocupação sobre a solução deste assunto, que convidassem o fotojornalista Pedro Cruz a realizar a exposição “Alerta Costeiro 14/15” nos Paços do Concelho."
Na votação verificou-se um empate:16 votos a favor, 16 contra e 1
abstenção.
O
Presidente da Assembleia Municipal teve de decidir com o seu voto de
qualidade.
Sobre as ilações políticas a tirar, não me vou pronunciar: deixo isso a quem de direito.
Sobre este assunto, recordo que as fotos da “A EXPOSIÇÃO CENSURADA PELO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. PEDRO”, em finais do
passado mês de fevereiro, podem ser vistas clicando aqui. O comunicado emitido pelo presidente da Junta de S. Pedro, António Salgueiro a propósito do cancelamento da exposição fotográfica ALERTA COSTEIRO 14/15, emitido na altura, pode ser lido clicando aqui. A estória é curta e está contada
aqui.
Portanto, quem estiver de boa fé, tem os elementos para construir uma opinião fundamentada.
Esta estória exemplar, a meu ver, demonstra,
quarenta e um anos depois da queda da ditadura de Salazar e Caetano,
como este país continua afinal igual a si próprio e ao que sempre
foi: um pobre e bisonho paraíso paroquial para pequenos chefes
labregos que - no seu boçal entendimento, certamente inebriado pelo
esplendor do mando - pensam que podem apagar figuras de uma paisagem.
Mas, também, demonstra que há algo -
para além do talento, claro - que um artista consciente, ainda que
pobre, nunca admite que lhe seja escamoteado: o orgulho e o
amor-próprio.
O senhor presidente da junta de S.
Pedro, pelo que disse na passada quinta-feira na Assembleia Municipal
da Figueira da Foz, passados mais de 2 meses, continua sem perceber o
óbvio.
A exposição era do artista: na
totalidade - no talento e nos custos.
A Liberdade é isto, senhor presidente.
“Seu” era o espaço do Mercado
de São Pedro.
O senhor presidente, por não gostar de uma
fotografia que fazia parte da narrativa do fotojornalista, entendeu
interditar o acesso ao espaço. Problema seu, caro presidente da junta.
Neste momento, a exposição do Pedro
Cruz já foi mais longe do que o senhor pensa. E não vai ficar por
aqui.
Já passaram 41 anos do 25 de abril de
1974.
Quem mora em S. Pedro e recorda Abril,
sente que celebra um acontecimento já longínquo - daqueles
que começam a ressoar a liturgia morta. Essa é, infelizmente, a
realidade. Mas a memória tem de ser avivada,
sempre que estiver em causa a questão da
Liberdade. A dignidade não tem preço e, em
democracia, a comunidade não pode perdoar a indignidade de quem
governa.
V. Exa., na sessão da Assembleia
Municipal da Figueira da Foz, realizada no passado dia 30 de Abril de 2015,
mesmo descontando que não tem vocação para discursar, falou sem dizer nada perceptível, nem, ao menos uma
palavra autêntica de arrependimento. Na Assembleia Municipal da
Figueira da Foz, V. Exa. foi aos limites da náusea, sem carisma,
nem dignidade institucional – e estava lá, como deputado
municipal, por ser presidente, com maioria absoluta, da freguesia da
minha Aldeia.
Senti-me muito mal representado como
freguês de S. Pedro.
Admito que o momento foi difícil para V. Exa. Contudo, a grandeza dos homens emerge nos momentos
difíceis.
V. Exa., pelo que disse na Assembleia Municipal, desconhece a
palavra grandeza, só conhece a palavra poder. Desconhece a palavra
dignidade, só conhece a palavra arrogância. Desconhece a palavra
humildade, só conhece a palavra vingança.
Depois do que aconteceu na Assembleia
Municipal da Figueira da Foz, parece-me que no mais alto forum político de debate concelhio, a recuperação da imagem do presidente da junta de freguesia de S. Pedro – que é
V. Exa. - não tem retorno.
Antes tivesse permanecido calado.
Num palco da política – e a
Assembleia Municipal da Figueira da Foz é o maior palco político do
nosso concelho - os discursos valorizam-nos ou desvalorizam-nos. E a postura, as palavras e a falta de ideias dele, na qualidade de presidente da junta de S. Pedro, não foram
um bom sinal.
E, depois, como acontece com todos os
fracos, a sua atitude foi boçal, imprevidente e insensata.
Tive pena de V. Exa., principalmente
quando disse – ou deu a entender - que a exposição tinha
legendas, o que, como sabe, é uma completa e real mentira. Ponto.
Como escreveu um dia Albert Camus: “É
horrível ver a facilidade com que se desmorona a dignidade de certos
seres. Vendo bem, isso é normal visto que a dignidade em questão
apenas é mantida por eles através de incessantes esforços contra a
sua própria natureza.”