sábado, 29 de julho de 2006
Não se perdeu
quinta-feira, 27 de julho de 2006
MEMÓRIA - O Estado Novo, o isqueiro e a coca-cola
Portugal, nos tempos do Estado Novo, viveu situações que, de tão aberrantes, até parece que a realidade não passou de uma ficção.
Deixemos, por agora, os pormenores trágicos, que a vida já é pesada que chegue, e vamos ao caricato.
Já aqui lembrámos, um dia destes, o que aconteceu com o isqueiro, o "perigoso" instrumento que carecia de licença paga para ser utilizado pelos cidadãos fumadores.
Cremos que vale a pena pormenorizar um pouco mais! ... Até porque o tema teve enorme impacto, junto de quem faz o favor de visitar este espaço.
Vamos, pois, ao que interessa. A licença de isqueiro.
Atenção ao preciosismo: não era uma licença por isqueiro, mas sim por utilizador.
Por exemplo, uma família de oito elementos que partilhasse um único isqueiro, para estar legal, precisaria de oito licenças! ...Vamos aos detalhes.
Em Novembro de 1937, o Decreto-lei nº 28219 estabelecia que qualquer cidadão, para poder utilizar isqueiros em público, tinha que possuir uma licença.
Este documento tinha de ser passado por uma Repartição de Finanças.
Era nominal, o que significava que um mesmo isqueiro não podia ser utilizado por outra pessoa sem que esta tivesse uma licença para o utilizar.
Se alguém não apresentasse a referida licença, ao ser interpelado por um «fiscal de isqueiros» ou por um polícia, sujeitava-se ao pagamento de uma multa e à apreensão do acendedor. Não esquecer o pormenor da denúncia, “premiada” com 15% ao denunciante! ...
É bom ter memória e dar-lhe algum uso ...
Mais uma recordação curiosa! ...
Atentem, então, o que aconteceu com a Coca-Cola, a vulgaríssima bebida refrescante que, durante décadas, enquanto se incentivava o consumo de vinho, foi banida de Portugal.
Esta, como dizia o meu saudoso amigo Zé Martins, “é de cabo de esquadra! ...”
Vale a pena trazer à colação algumas palavras dirigidas por Salazar a Makinsky, na altura, o responsável daquela multinacional para a Europa, no sentido de excluir qualquer possibilidade de distribuição comercial da bebida no nosso País.
Citando a Historiadora Maria Filomena Mónica, ficam as palavras de Salazar: "sempre me opus à sua aparição no mercado português. Trata-se daquilo a que eu poderia chamar "a nossa paisagem moral". Portugal é um país conservador, paternalista e – Deus seja louvado – "atrasado", termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo. O senhor arrisca-se a introduzir em Portugal aquilo que eu detesto acima de tudo, ou seja, o modernismo e a famosa "efficiency". Estremeço perante a ideia dos vossos camiões a percorrer, a toda a velocidade, as ruas das nossas velhas cidades, acelerando, à medida que passam, o ritmo dos nossos hábitos seculares".
Tanto proteccionismo ao bom povo português devia enjoar, pois, se reflectirmos um pouco, verificamos que configurava mesmo um atentado contra a nossa liberdade de escolha. Mais: interferia com a qualidade de vida. Das nossas vidas.
quarta-feira, 26 de julho de 2006
O Vento soprou
O Vento soprou
O Céu trovejou
E o Mar enfureceu.
O Vento soprou
A Água correu
A Nuvem passou
E a Terra tremeu.
O Vento soprou
A Estrela brilhou
A Noite terminou
E o Sol apareceu.
O Vento soprou
O Dia acabou
E a Gente viveu.
No entretanto...
A Vida não parou!..
O Tempo passou
Sobrou o desencanto...
O Vento Soprou...
E ... se não se morreu...
A Gente envelheceu!...
terça-feira, 25 de julho de 2006
Três meses... continuamos a navegar! ...
.....
........................................ SERÁ PORQUE:
quem tem um olho, em terra de cegos é rei? ...
a intuição é uma forma de conhecimento do mundo que não podemos justificar racionalmente? ...
com a velocidade de informação o mundo ficou maior? ...
os sonhos são filmes que não sabemos que estamos a fazer? ...
as ideias pré-concebidas são paralisantes? ...
todos temos medo, mas só alguns arriscam? ...
o desafio é poder fazer aquilo que ainda não sabemos fazer? ...
a curiosidade é um motor? ...
conseguimos resistir a tudo, menos a uma tentação? ...
......................................... AFINAL, PORQUE SERÁ? ...
segunda-feira, 24 de julho de 2006
Em democracia é assim
Nas últimas eleições autárquicas, S. Pedro escolheu a continuidade.
Como em democracia quem tem mais votos ganha, conquistou o poder a “alaranjada” Lista “Independente”.
Contudo, os covagalenses sabem que a diversidade é a génese da democracia.
Face à indecisão e falta de clarificação do PS, nestas eleições, no que concerne à nossa Terra, a CDU, desde 1989 sem representação nos órgãos autárquicos da Freguesia de S. Pedro, conquistou localmente espaço político.
O eleitorado, ao contrário do que alguns aspiravam, mais que tudo, não colocou todos os ovos no mesmo cesto.
A sobranceria, a soberba, a precipitação e a falta de maturidade para aguardar calmamente o veredicto dos eleitores, foi tão evidente, que chegou a haver quem confundisse o desejo com a realidade, e tivesse comemorado antecipadamente: “foi uma goleada, 9 a 0”, foi dito publicamente por um elemento da Lista “Independente” “alaranjada” , enquanto ainda se procedia à contagem dos votos! ...
Valha-nos Deus! ...
Há muitas formas de ser útil à Terra onde se nasceu e de que se gosta. Servi-la, a partir da oposição, não é menos nobre, nem menos digno.
Por isso, dentro das limitações que 4 Assembleias de Freguesia realizadas por ano permitem, e com a correlação de forças existente – num universo de 9 membros, a CDU tem 1 representante –, a força minoritária tem tido uma participação activa, discutindo, mas apoiando o que considera justo e necessário; mas, também, não deixando de apresentar divergências quando tal se justifica.
A lealdade e o respeito pelas pessoas e pelas suas ideias, será sempre um valor fundamental. Contudo, isso é uma coisa, subserviência cega e muda, é outra.
Que não haja confusão! ...
Porém, há valores que, para um covagalense, estão acima de tudo.
Um desses valores, é o património que lhe foi naturalmente legado: o exemplo de humildade, honradez, seriedade e postura na sociedade, que foi transmitido pelos genes familiares.
Na vida, quem se bate com ética por projectos, valores e ideias sérias, conquista vitórias e derrotas pontuais.
Quem só está disponível para a vitória, não tem dimensão nem dignidade política.
Daí, à demonstração de falta de aptidão para lidar com este tempo novo e global, de troca aberta de ideias e informação, foi um passo e uma tristeza confrangedora.
Não saber lidar com o contraditório e estar de olhos fechados e orelhas moucas ao debate democrático, não é atitude de um político dos dias de hoje. Noutros tempos, é que quem falava mais alto tinha razão.
Hoje, felizmente, temos democracia! ...
Aquilo que julgamos o paraíso, também provoca angústia, mal estar e insegurança.
È dos livros, que colado às coisas boas está sempre presente o medo de as perder.
Mas a vida é mesmo assim. Em democracia, os vencedores de hoje, são os vencidos de amanhã.
- António Agostinho, COVAGALENSE
domingo, 23 de julho de 2006
D.A.M.M – dRuNkS aGaInSt MaD mOtHeRs
No início eram os DREADS e praticavam música punk.
Quem eram: na voz, o Moca; na bateria, o Bolas; na guitarra, o Ivo; e no baixo, o Calhau.
Isto, antes de 2002.
Entretanto, a banda evoluiu, tanto a nível musical, como no que diz respeito a ambições e objectivos profissionais.
A partir daí surgiu um novo projecto musical. Enveredaram pelo hard-rock.
Surgiu o projecto D.AM.M, com os seguintes elementos: na voz, o Calhau; na bateria, o Bolas, na percussão o Dani; no baixo, o Fernando; e na guitarra, o Ivo.
As composições que tocam nos concertos, são todas originais compostos pelo Calhau e pelo Ivo. Isto, no que diz respeito às letras. Na música, “todos metem o dedo”.
Os concertos transmitem sempre grande energia, o que passa para o público, e que é a imagem de marca desta Banda.
Os temas, “têm a ver com o dia a dia de cada um e a vida que levam”.
Têm como objectivo, “cultivar a amizade, fazer o que gostam e, ao mesmo tempo, ganhar algum dinheiro”.
Neste momento, têm algumas maquetes gravadas, a última das quais, ao vivo, na Queima das Fitas de 2005, na Figueira da Foz.
Concertos que ficaram na memória do grupo, de forma especial: Clube Mocidade Covense (Bolas); para o Calhau, são todos, mas o realizado no Grupo Desportivo Cova-Gala, compartilhado com os Contraband foi memorável; para o Nando, o Dani e o Ivo, foi o da Queima das Fitas, na Figueira.
Do futuro, ”esperam poder continuar a fazer o que gostam: dar concertos, realizar saídas, para passar a mensagem”.
Segundo eles, “é em cima do palco que se distinguem os homens das crianças”.
Pode deixar mensagens de incentivo, crítica, ou contactar a Banda para concertos na Internet, através de http://www.fotolog.com/kellydamm
(Um trabalho de Pedro Cruz)
sábado, 22 de julho de 2006
ORBITUR – o pioneirismo no campismo na Cova-Gala
O Parque de Campismo Orbitur, situado em plena Mata de Lavos, quase no extremo sul da Freguesia de S. Pedro, desde 1962, começou com uma dimensão de 2 hectares e apenas com um bloco sanitário e alguns (poucos) Bungalows.
Nos dias de hoje, as exigências impostas por esta forma de fazer turismo, obrigaram à evolução e ao crescimento.
A área ocupada expandiu-se. Passou para 8 hectares.
As infra-estruturas, naturalmente, também tiveram de acompanhar a expansão: 3 blocos sanitários, 2 piscinas, sala de jogos, supermercado, bar, restaurante e um maior número de Bungalows e a implantação de Bangalis, campo de futebol de 5, campo de ténis, campo de basquete e mesas de ping-pong, constituem apoios imprescindíveis para quem, nos dias de hoje, faz do campismo e caravanismo uma forma de usufruir os tempos livres.
Este Parque de Campismo, já com 44 anos de vida, com praia a 400 metros, continua a ser uma estrutura de referência no acolhimento aos visitantes da nossa Freguesia.
(Texto e fotos de Pedro Cruz)
Mais uma obra. Haja saúde
Se os males de saúde são sempre inquietantes ...
“Numa altura em que há tanta gente a pôr-se em bicos de pés para aparecer na fotografia...”
Viver em S. Pedro é uma mais-valia ...
Continua tudo como dantes? ...
Haja saúde ... Relaxem ... Aproveitem o verão ...
Levem as criancinhas para férias... Bebam uns copos nos bares ...
Aceitem, como natural, que as alfaces nascem do chão...
E, por favor, não obriguem os tomates a nascerem aos pares...
sexta-feira, 21 de julho de 2006
quinta-feira, 20 de julho de 2006
A propósito duma entrevista
O estilo
O que conta não é a ideologia, ou a clivagem política, mas apenas o estilo de actuação e o modelo de acção.
O bom povo, não coloca questões, nem está para chatices. Muito menos, é exigente.
Algum ritmo e alguma acção, são as chaves do sucesso imediato.
Obviamente, que isso não dura sempre.
Com o passar dos anos, quando se espreme tudo, o estado de graça vai à vida.
Mas até lá – e isso pode durar anos - só é vencedor quem adapta o comportamento e linguagem às ideias com quem convive.
A dimensão
Estamos fartos de políticos fugazes.
O presente é tudo. O passado é uma chatice. O futuro é uma coisa longínqua.
Queremos é um líder. A equipa pouco importa. Gostamos de quem manda calar quem fala de mais, gostamos de quem se irrita facilmente, gostamos de quem exprime dureza. Gostamos de quem fala grosso.
Gostamos da linearidade. Gostamos de coisas só com uma dimensão.
A mensagem
Tendo um estilo próprio e uma linearidade inata, segue-se a construção da mensagem.
Depois, é só torná-la acessível. Para isso existem os papagaios amplificadores.
Quanto mais repetitiva, mais eficaz. As intervenções, os discursos, as entrevistas, têm sempre as mesmas palavras, as mesmas ideias, as mesmas tiradas.
Faz lembrar uma cassete. Mas serve perfeitamente, face ás poucas exigências do auditório.
As promessas
É preciso, para alimentar a propaganda, ter sempre em carteira algumas promessas, planos, anúncios, para transmitir uma imagem de eficácia, de trabalho contínuo e árduo. Se se cumpre ou não, ver-se-á no futuro.
Com boas ou más decisões, o que interessa é a ideia de acção e de trabalho incansável. É verdade, também, que não bastaria apenas o espectáculo: muitos dos planos são interessantes. É o lado mais importante desta encenação política: algumas das coisas têm de funcionar, para o cenário aguentar, a mensagem passar e o estilo atrair.
A duração
Até quando vai durar?
Como tudo, é uma questão de tempo.
A entrevista pode ser lida em http://correiodafigueira.blogspot.com/
quarta-feira, 19 de julho de 2006
A licença do isqueiro! ...
Até ao 25 de Abril de 1974 era obrigatória uma licença anual de uso de isqueiros.
Já nesses tempos, os governos tinham maneiras estranhas de sacar dinheiro ao pessoal.
Mas o mais, digamos assim, interessante, é o que está escrito no próprio documento: o apelo à denúncia, premiando o acto com 15% do valor da multa!..
Para os que não têm memória, cá está, no seu melhor, a pureza do regime salazarista-caetanista.
Será que o uso do isqueiro era subversivo?.
terça-feira, 18 de julho de 2006
Envelhecimento
No envelhecimento há coisas que custam.
Vermos desaparecer locais e coisas onde fomos felizes, que marcaram o percurso já percorrido, dói no mais fundo de nós. Arranha-nos a alma.
Este assomo de nostalgia tem a ver com o futuro desaparecimento da Ponte dos Arcos.
Dentro de dois anos, se se cumprir o previsto, vai estar pronta a Nova Ponte dos Arcos e a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
Isso mesmo – vai ser vítima de uma implosão.
Quer dizer, vai rebentar para dentro. O que é isso?!.. Uma modernice, uma moda?!... Ou, apenas, uma morte estúpida e rápida?!...
Mas, de certeza, não uma morte digna, nem decente, para quem tão bem cumpriu a sua missão durante décadas.
A Ponte dos Arcos, tal como está, é, neste momento, um estorvo, pois é um impedimento para o fluir do trânsito dos dias de hoje.
Estamos numa sociedade comodista, de consumo exacerbado, onde se vive e se morre a correr.
A Ponte dor Arcos é um estorvo, empata os carros, as motos, os camiões e, até, as bicicletas. Nada mais simples: faz-se desaparecer.
Da Ponte dos Arcos, a minha geração tem grandes recordações. O desafio que era a passagem, a pé, por cima dos arcos, que tremiam com a passagem dos pesados; os mergulhos, com a maré a encher, para depois ir a nadar até ao cais do Luís Elvira.
Para a Ponte dos Arcos, porém, ainda não é tempo de recordação. Tem o destino traçado, é certo, mas ainda tem dois anos de vida pela frente.
Por vontade dos políticos, a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
A Cova e Gala da minha juventude era pequena e fluia melancólica, mas com um peculiar recolhimento afectivo.
Entretanto, cresce desmesuradamente. Vai, também e paradoxalmente, envelhecendo lentamente.
Por vontade dos políticos, vai-se tornando um subúrbio, que é onde passam a residir os expulsos da cidade.
A minha Terra está a morrer. Ou, antes, estão a roubar-lhe a alma, que é a mesma coisa que condená-la a desaparecer numa agonia desumana, lenta e dolorosa.
Que é o que estão a fazer à Ponte dos Arcos, para quem, por vontade dos políticos, a morte está anunciada a prazo! ...
As pessoas caminham, mas não tomam conhecimento umas das outras, vão perdendo a alma.
Devia ser proibido matar os locais onde fomos felizes! ...
Quando desaparecem, vai com eles parte do que fomos ...
segunda-feira, 17 de julho de 2006
Campo de Trabalho Luso-Alemão na Cova-Gala
Em solidariedade com o Centro Social da Cova e Gala, 22 jovens provenientes do Distrito Eclesiástico Gladbach-Neuss da Igreja Evangélica da Renânia encontram-se na freguesia de S. Pedro, desde o passado dia 3 do corrente.
Estes jovens alemães vão estar na Cova-Gala até ao próximo dia 21.
Entretanto, enquanto estiveram entre nós, estes jovens alemãs, juntamente com alguns portugueses, ocupam-se de algumas tarefas de melhoramento das instalações do Centro Social da Cova e Gala (como pintar mesas, muros, cuidar do ATL, etc.).
Paralelamente com o trabalho, nos tempos livres e fins de semana, os jovens beneficiam de um programa de ocupação de tempos livres que passa por passeios e excursões ao Porto, Lisboa, Coimbra.
Previstas, estão igualmente actividades com membros das comunidades evagélicas-presbiterianas do concelho da Figueira da Foz.
Estes 22 jovens que vieram da Alemanha – 10 rapazes e 12 raparigas – dão seguimento a um programa de intercâmbio internacional, desenvolvido pelo Centro Social da Cova e Gala ao longo de décadas, que visa a manutenção e fortalecimento dos laços de amizade e troca de experiências interculturais entre a juventude local e, neste caso, a juventude alemã.
A realização deste Campo de Trabalho, fica a dever-se à colaboração estabelecida entre o Centro Social da Cova e Gala, o Distrito Eclesiástico Gladbach-Neuss da Igreja Evangélica da Renânia e a Azone.
domingo, 16 de julho de 2006
As Citroen da Gulbenkian
Alguma da liberdade que conquistamos ao longo da vida, tem a ver, ou foi adquirida, nos livros que fomos lendo. Com alguma regularidade, refugiu-me em páginas, onde o pensamento ou a realidade descrita, transbordam o meu quotidiano.
E, quão importante pode ser um livro, quando, no fundamental, como tem acontecido comigo nos últimos anos, contamos sobretudo connosco próprios!
Nascido numa casa com muito poucos livros, mas onde o gosto pela leitura era cultivado, a minha dívida perante as carrinhas da Fundação Gulbenkian é enorme.
As carrinhas, que paravam na Gala, no Largo das Alminhas, e na Cova, frente ao clube Mocidade Covense, traziam dois Homens que muito contribuíram para incentivar o gosto pela leitura de gerações de covagalenses.
Os seus nomes: António Dias Lopes Curto, já falecido e Joaquim Oliveira Medina, ao que sei, ainda vivo.
Este serviço, estritamente popular e sem fins lucrativos, era assegurado pela Fundação Gulbenkian em quase todo o Portugal continental, Açores e Madeira. Durou entre 1958 e meados da década de 90 e atingia níveis de leitura bastante elevados, em termos estatísticos de utilizadores atendidos e inscritos, com milhões de livros emprestados todos os anos.
A Gala e a Cova, agora, não ficam longe da Figueira. Há razoáveis transportes públicos e, muita gente, possui transporte particular, o que torna uma brincadeira uma ida à cidade.
Mas, no Portugal dos anos 60 e 70, as coisas eram substancialmente diferentes, e a chegada da Citroen da Fundação Gulbenkian, com as estantes carregadas de livros, era praticamente a nossa única oportunidade de aceder ao conhecimento.
Portugal, vivia, então, num regime autoritarista, fechado sobre si mesmo e castrador, onde a cultura não era propriamente uma prioridade do salazarismo.
Nas pequenas Terras, como a Cova e Gala, quando chegava a carrinha biblioteca da Gulbenkian, porém, abria-se uma janela para o conhecimento! ....
Há 50 anos, faz dia 18, nasceu a Fundação Gulbenkian. Parabéns.
Como seria Portugal, em 2006, se não existisse a Fundação Gulbenkian?
Confesso que não sei.
Sei, isso sim, como foram importantes para a minha geração as carrinhas Citroen da Gulbenkian! ...
Obrigado!
sábado, 15 de julho de 2006
Quem é o autor dos painéis do edifício da Junta de Freguesia?
Certamente, que ao passar pelo edifício da Junta de Freguesia de S. Pedro já se interrogou:
quem será o autor destes painéis?
Fique a saber que não é um artista qualquer.
É o Zé Penicheiro.
Zé Penicheiro nasce na aldeia beirã de Candosa, Tábua, mas a partir dos 2 anos passa a viver na Figueira da Foz.
Em 30 de Junho de 1978, em entrevista que na altura deu ao semanário “barca nova” dizia o artista: “ter nascido em Candosa foi um mero acidente. Considero-me figueirense de raiz, tão novo para aqui vim”.
Filho de um carpinteiro, de ascendência humilde, portanto, as dificuldades económicas impossibilitam-no de seguir qualquer curso de Artes Plásticas ou Belas Artes.
Como habilitações literárias “tenho apenas um diploma oficial: o da instrução primária.
Frequentei é certo a Escola Comercial e a Academia Figueirense, mas quedei-me por aí, pela curta frequência. Tenho é uma larga experiência da Universidade da Rua, onde aprendi tudo quanto sei e onde conheci as figuras que têm inspirado toda a minha obra”, disse ainda Zé Penicheiro em discurso directo, em 1978, ao extinto semanário figueirense citado acima.
Inicia a sua carreira artística como caricaturista e ilustrador.
Colabora em diversas publicações: jornais do Porto, Lisboa e província, "Primeiro de Janeiro", "A Bola", "Os Ridículos", "O Sempre Fixe", "A Bomba" “barca nova” e outros, publicam os seus "cartoons" de humor.
Criador duma expressão plástica original, que denomina de "Caricatura em Volume", inicia o seu ciclo de exposições, nesta modalidade, a partir de 1948.
António Augusto Menano, Poeta e Escritor Figueirense, em artigo publicado em 18 de Outubro de 2001, no jornal Linha do Oeste traça um esboço escrito sobre o Zé:
“A arte é indivisível de quem a produz, da acção do artista, da sua invenção criadora. A obra de Zé Penicheiro, a sua forma, o modo como se desenvolve artisticamente, traduz o seu diálogo com a matéria”.
E mais adiante: “Zé Penicheiro é memoralista, um moralista, um comprometido. Faz-nos recordar tipos arquétipos de actividades quase desaparecidas numa escrita sobre a pureza estética, que estará patente em toda a sua obra. Compromete-se, está ao lado dos mais fracos, do povo, retrata-os, mostra-os como se de uma “missão” se tratasse, obrigação profunda de retorno às raízes, outra forma de pintar a saudade”.
E a terminar o artigo, escreve António Augusto Menano:
“Mas a arte de Zé Penicheiro não esquece o lugar. Os lugares: a infância, as praias, as planícies, as serras, e as cidades da sua vida, “diálogo” de que têm surgido algumas das sua melhores obras.
Nesta sociedade pós industrial, da informática e do virtual, Zé Penicheiro mantém-se fiel aos seus “calos”, que está na base de um percurso tão “sui generis”.
Zé Penicheiro, a Universidade da Rua na origem de um Artista.
Os bonecos, o nanquim, o guache, o óleo – uma vida inteira a retratar as alegrias e tristezas de um povo admirável.
Que é o nosso!
sexta-feira, 14 de julho de 2006
Luz e cor
“O mar às vezes parece um céu diáfano, outras pó verde. Às vezes é dum azul transparente, outras cobalto.
Ou não tem consistência e é céu, ou é confusão e cólera.
De manhã desvanece-se, de tarde sonha.
E há dias de nevoeiro em que ele é extraordinário, quando a névoa espessa pouco a pouco se adelgaça, e surge atrás da última cortina vaporosa, todo verde, um verde que apetece respirar.
Diferentes verdes bóiam na água, esbranquiçados, transparentes, escuros, quase negros, misturados com restos de onda que se desfaz e redemoinha até ao longe. E ainda outros azulados, com a cor das podridões. Tudo isto graduado e dependendo do céu, da hora e das marés.”
Do livro Os Pescadores de Raul Brandão.
Jornalista e escritor.
Nasceu em 1867 e morreu em 1930.