A FIGUEIRA DA FOZ VAI ATÉ À PRAIA DA VIEIRA DE LEIRIA...
Sexta-feira passada, dia 8 do corrente, na Vieira de Leiria (Marinha Grande), no auditório da Biblioteca local, teve lugar uma sessão pública, organizada pela associação cívica local Marinha Grande em Movimento, com intervenções de Alfredo Pinheiro Marques (director do CEMAR), Eurico Gonçalves e Miguel Figueira (coordenadores do movimento cívico SOS Cabedelo, e membros do Conselho Consultivo e Científico do CEMAR), e José Nunes André (geólogo e consultor de Ambiente local).
Tratou-se do Ordenamento (e desordenamento…) Costeiro: da erosão e do assoreamento do litoral português, no âmbito da situação catastrófica que está em curso desde há décadas na Beira Litoral (sobretudo desde Aveiro até Mira e desde a Figueira da Foz até à Nazaré) devido aos efeitos do "erro histórico" da construção dos molhes, monstruosos e desmesurados, que foram construídos na segunda metade do século XX na barra do porto lagunar de Aveiro e na barra do porto fluvial da Figueira da Foz.
O que ali foi agora discutido na Vieira foram sobretudo os molhes que mais afectam essa região: os que levaram à destruição das praias e do Turismo da Figueira da Foz e levaram à erosão feroz que desde então se tem avolumado em todos os litorais a sul da Foz do Mondego: Cova-Gala, Lavos, Leirosa, Pedrógão, Praia da Vieira…
O director do Centro de Estudos do Mar (CEMAR) participa também em iniciativas deste tipo porque, embora esta associação científica tenha como fim estatuário e como actividade principal a defesa do Património Cultural e Histórico Marítimo (a herança histórica e patrimonial local, e a etnografia, tecnologia e cultura popular marítima dos pescadores e marítimos locais), não quis deixar nunca de, também, ao mesmo tempo, desde o princípio (1995), tomar também posição e fazer ouvir a sua voz sobre a paralela e indissociável questão cívica e científica da defesa do Património Natural e Ambiental Marítimo. Sobretudo, sobre esta catástrofe ambiental indesmentível (cujos resultados estão à vista de toda a gente), que sepultou aquela que outrora havia sido considerada em Portugal a "Rainha das Praias Portuguesas" ("Figueira, das finas areias, berço das sereias…") sob um areal monstruoso que afastou a cidade do mar ("o maior aterro urbano da Europa") a norte da foz do Mondego, ao mesmo tempo que a sul se criavam problemas de erosão gravíssimos, que ameaçam as populações (e o próprio Hospital Distrital), e estão a afectar todas as praias e populações da costa portuguesa, até Pedrógão, Vieira, etc..
A erosão e assoreamento que transformaram aquela que outrora havia sido chamada "a Praia da Claridade" em algo que, pelo homem do mar, e autor autodidacta da História Marítima local figueirense, Manuel Luís Pata (Associado Honorário do CEMAR, e Medalha de Mérito da Cidade da Figueira), veio a ser chamado "a Praia da Calamidade"…
Portugal, na sua realidade geográfica e humana concreta, e no seu significado simbólico e identitário, tem como uma das suas características mais notáveis as suas célebres praias de areia branca: como se diz, popularmente (na célebre "Nau Catrineta"), "Terras de Espanha, Areias de Portugal"... Mas, aqui, na Beira Litoral, toda esta realidade está em risco.
E é em Portugal que existem -- e, sobretudo, aqui, na Zona Centro do país (e, também, nesta Praia da Vieira de Leiria, ao sul da Figueira da Foz) -- as comunidades dos pescadores da "Arte", a pesca de cerco e alar para terra a partir de praias arenosas (actualmente designada oficialmente como "Arte-Xávega"), únicas em termos mundiais, que pescam sem portos (!), com os seus extraordinários "Barcos-da-Arte" em forma de meia-lua, sem quilha nem leme (!), enfrentando e varando a rebentação a partir das próprias praias ("tecnicamente, surfistas"…), em pleno litoral oceânico do Atlântico Norte…! ("os mais pobres dos pobres, com o mais belo barco do mundo"… "sozinhos com Deus e Mar"… no silêncio rumoroso dos seus antigos litorais arenosos desertos).
Todo esse mundo (o mundo a que Paulo Rocha, outrora, no Furadouro [Ovar], chamou "um mundo maior do que o das cidades"…), está hoje em dia em perigo (em agonia acelerada, "como neve diante do sol"...), ao mesmo tempo que estão em perigo as próprias praias de areia fina em que, ao longo dos últimos séculos, tal mundo existiu.
Assim nos sendo dada, uma vez mais, a lição que já tínhamos obrigação de saber (e nunca nos deveremos cansar de repetir): são absolutamente paralelas, e indissociáveis, a defesa do Património Cultural e Histórico e a defesa do Património Natural e Ambiental.
O Centro de Estudos do Mar (CEMAR), centrado na Figueira da Foz do Mondego e na Praia de Mira, lutou ao longo de mais de vinte anos pela sobrevivência deste mundo cultural e pela salvaguarda, e "renaturalização" (verdadeira) do seu ecosistema. E tentou motivar para esse combate também todas as demais instituições e entidades da "sociedade civil" e da "comunidade científica e universitária" (e já em 06.09.1996 o jornal "Público" o noticiava).
Lutou, e vai continuar a lutar… E congratula-se por, finalmente, na Figueira da Foz, desde 2009, ter surgido (mas, significativamente, vindo de fora da "comunidade científica e universitária"…!) o movimento cívico SOS Cabedelo, que foi quem foi capaz de desatar o "nó-cego" de tantas décadas de imobilismo, de desleixo e de fatalismo... e foi capaz de ir procurar, encontrar, e propor, uma verdadeira nova solução -- através de um "by-pass", de transposição mecânica das areias… -- para o catastrófico "exemplo" de Hidráulica Marítima da Figueira da Foz… O catastrófico "exemplo" do "erro histórico" cujos resultados foram calamitosos.
O Centro de Estudos do Mar, na Figueira da Foz, vai continuar a lutar e a apoiar o movimento cívico SOS Cabedelo no combate pela reposição da dinâmica sedimentar e da alimentação das praias com a areia que nelas é natural, desde a Figueira da Foz até à Praia da Vieira e mais a sul.
E os contributos pessoais de Alfredo Pinheiro Marques, director do CEMAR, ao longo destes anos, vão ser antologiados, no fim, no seu livro "O Mar Mais Alto Do Que a Terra", em edição do CEMAR.
"Areia a Mais, Areia a Menos…" : a Figueira da Foz vai -- ou não vai…? (ou devia ir…) -- até à Praia da Vieira…
Na passada sexta-feira, dia do corrente, foi.
Sexta-feira passada, dia 8 do corrente, na Vieira de Leiria (Marinha Grande), no auditório da Biblioteca local, teve lugar uma sessão pública, organizada pela associação cívica local Marinha Grande em Movimento, com intervenções de Alfredo Pinheiro Marques (director do CEMAR), Eurico Gonçalves e Miguel Figueira (coordenadores do movimento cívico SOS Cabedelo, e membros do Conselho Consultivo e Científico do CEMAR), e José Nunes André (geólogo e consultor de Ambiente local).
Tratou-se do Ordenamento (e desordenamento…) Costeiro: da erosão e do assoreamento do litoral português, no âmbito da situação catastrófica que está em curso desde há décadas na Beira Litoral (sobretudo desde Aveiro até Mira e desde a Figueira da Foz até à Nazaré) devido aos efeitos do "erro histórico" da construção dos molhes, monstruosos e desmesurados, que foram construídos na segunda metade do século XX na barra do porto lagunar de Aveiro e na barra do porto fluvial da Figueira da Foz.
O que ali foi agora discutido na Vieira foram sobretudo os molhes que mais afectam essa região: os que levaram à destruição das praias e do Turismo da Figueira da Foz e levaram à erosão feroz que desde então se tem avolumado em todos os litorais a sul da Foz do Mondego: Cova-Gala, Lavos, Leirosa, Pedrógão, Praia da Vieira…
O director do Centro de Estudos do Mar (CEMAR) participa também em iniciativas deste tipo porque, embora esta associação científica tenha como fim estatuário e como actividade principal a defesa do Património Cultural e Histórico Marítimo (a herança histórica e patrimonial local, e a etnografia, tecnologia e cultura popular marítima dos pescadores e marítimos locais), não quis deixar nunca de, também, ao mesmo tempo, desde o princípio (1995), tomar também posição e fazer ouvir a sua voz sobre a paralela e indissociável questão cívica e científica da defesa do Património Natural e Ambiental Marítimo. Sobretudo, sobre esta catástrofe ambiental indesmentível (cujos resultados estão à vista de toda a gente), que sepultou aquela que outrora havia sido considerada em Portugal a "Rainha das Praias Portuguesas" ("Figueira, das finas areias, berço das sereias…") sob um areal monstruoso que afastou a cidade do mar ("o maior aterro urbano da Europa") a norte da foz do Mondego, ao mesmo tempo que a sul se criavam problemas de erosão gravíssimos, que ameaçam as populações (e o próprio Hospital Distrital), e estão a afectar todas as praias e populações da costa portuguesa, até Pedrógão, Vieira, etc..
A erosão e assoreamento que transformaram aquela que outrora havia sido chamada "a Praia da Claridade" em algo que, pelo homem do mar, e autor autodidacta da História Marítima local figueirense, Manuel Luís Pata (Associado Honorário do CEMAR, e Medalha de Mérito da Cidade da Figueira), veio a ser chamado "a Praia da Calamidade"…
Portugal, na sua realidade geográfica e humana concreta, e no seu significado simbólico e identitário, tem como uma das suas características mais notáveis as suas célebres praias de areia branca: como se diz, popularmente (na célebre "Nau Catrineta"), "Terras de Espanha, Areias de Portugal"... Mas, aqui, na Beira Litoral, toda esta realidade está em risco.
E é em Portugal que existem -- e, sobretudo, aqui, na Zona Centro do país (e, também, nesta Praia da Vieira de Leiria, ao sul da Figueira da Foz) -- as comunidades dos pescadores da "Arte", a pesca de cerco e alar para terra a partir de praias arenosas (actualmente designada oficialmente como "Arte-Xávega"), únicas em termos mundiais, que pescam sem portos (!), com os seus extraordinários "Barcos-da-Arte" em forma de meia-lua, sem quilha nem leme (!), enfrentando e varando a rebentação a partir das próprias praias ("tecnicamente, surfistas"…), em pleno litoral oceânico do Atlântico Norte…! ("os mais pobres dos pobres, com o mais belo barco do mundo"… "sozinhos com Deus e Mar"… no silêncio rumoroso dos seus antigos litorais arenosos desertos).
Todo esse mundo (o mundo a que Paulo Rocha, outrora, no Furadouro [Ovar], chamou "um mundo maior do que o das cidades"…), está hoje em dia em perigo (em agonia acelerada, "como neve diante do sol"...), ao mesmo tempo que estão em perigo as próprias praias de areia fina em que, ao longo dos últimos séculos, tal mundo existiu.
Assim nos sendo dada, uma vez mais, a lição que já tínhamos obrigação de saber (e nunca nos deveremos cansar de repetir): são absolutamente paralelas, e indissociáveis, a defesa do Património Cultural e Histórico e a defesa do Património Natural e Ambiental.
O Centro de Estudos do Mar (CEMAR), centrado na Figueira da Foz do Mondego e na Praia de Mira, lutou ao longo de mais de vinte anos pela sobrevivência deste mundo cultural e pela salvaguarda, e "renaturalização" (verdadeira) do seu ecosistema. E tentou motivar para esse combate também todas as demais instituições e entidades da "sociedade civil" e da "comunidade científica e universitária" (e já em 06.09.1996 o jornal "Público" o noticiava).
Lutou, e vai continuar a lutar… E congratula-se por, finalmente, na Figueira da Foz, desde 2009, ter surgido (mas, significativamente, vindo de fora da "comunidade científica e universitária"…!) o movimento cívico SOS Cabedelo, que foi quem foi capaz de desatar o "nó-cego" de tantas décadas de imobilismo, de desleixo e de fatalismo... e foi capaz de ir procurar, encontrar, e propor, uma verdadeira nova solução -- através de um "by-pass", de transposição mecânica das areias… -- para o catastrófico "exemplo" de Hidráulica Marítima da Figueira da Foz… O catastrófico "exemplo" do "erro histórico" cujos resultados foram calamitosos.
O Centro de Estudos do Mar, na Figueira da Foz, vai continuar a lutar e a apoiar o movimento cívico SOS Cabedelo no combate pela reposição da dinâmica sedimentar e da alimentação das praias com a areia que nelas é natural, desde a Figueira da Foz até à Praia da Vieira e mais a sul.
E os contributos pessoais de Alfredo Pinheiro Marques, director do CEMAR, ao longo destes anos, vão ser antologiados, no fim, no seu livro "O Mar Mais Alto Do Que a Terra", em edição do CEMAR.
"Areia a Mais, Areia a Menos…" : a Figueira da Foz vai -- ou não vai…? (ou devia ir…) -- até à Praia da Vieira…
Na passada sexta-feira, dia do corrente, foi.
Via INTERMAR
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