segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A...

"As portas que a Revolução abriu têm 40 anos! E o povo saiu às ruas, para celebrar, para abrir a boca num país em que os homens passaram a comer as palavras. Somos livres, mas estamos tontos. Atordoados, pelo menos. Abril fez 40 anos, no verão quente derreteram-se os Espírito Santo e o inverno chegou com um ex-primeiro-ministro na cadeia. Nas quatro estações do ano, o regime ainda aprende a soletrar a palavra de-mo-cra-cia. Não falta liberdade, apenas não se respira a lucidez mordaz, a irreverência necessária, as provocações, simultaneamente irónicas e violentas, que nos obrigam a pensar, a olhar para além do óbvio. Nas portas que Abril abriu, a elite desapareceu e os intelectuais calaram-se. Estão calados, que é outra forma de morrer. Liberdade, mas condicionada: na primeira metade do ano a discutir como nos livraríamos da troika, na outra metade a assistir com perplexidade à derrocada."

Sopa de letras: 2014 de A a Z (parte I)

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