“De todas as formas da estupidez o patriotismo é, para mim, a mais inquietante e enigmática.
Consiste basicamente em, através da propaganda, transformar pessoas sem qualquer brio individual ou qualidades cívicas notórias numa turba cheia de auto estima, convictamente consciente dos supostos valores da sua hereditariedade. Quanto mais grunhos, impreparados e civicamente amorfos forem os indivíduos, mais ululante se torna o fervor colectivo. Em geral, isto é perpetrado com intuitos políticos mais ou menos óbvios mas sempre inconfessáveis.
Em Portugal, onde tudo assume contornos sempre muito pitorescos, este fenómeno adquire por vezes proporções de um ridículo que atinge a atrocidade.”
Excelente e oportuna esta postagem do Fernando. Acrescento, apenas, um pormenor. Somando, como acontece pelas Aldeias, vilas e cidades, deste nosso País, o bairrismo exacerbado e balofo, explorado até ao tutano, resulta um ridículo ainda mais atroz e confrangedor!..
Do meu ponto de vista, está explicado muito do nosso subdesenvolvimento!...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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