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sábado, 2 de dezembro de 2023

Erosão costeira e o(s) inverno(s) que se aproxima(m) no Quinto Molhe

A deputada Raquel Ferreira foi apanhada na curva apertada que o PS nacional está a percorrer.  
Pimenta Machado, vice-presidente da APA, foi claro há um ano e 16 dias no Auditório Municipal: como estratégia de longo prazo  apresentou uma solução com recurso a um sistema fixo (‘bypass’), “que nunca se fez em Portugal”, previsto para 2030, com um custo estimado de 72,2 milhões.
A memória serve mesmo para isto: para recordar a verdade.
Há um ano e 16 dias, a 15 de Novembro de 2022, realizou-se no Auditório do Museu Municipal uma reunião sobre a problemática da erosão costeira.
Para quem acompanha, atentamente e com preocupação, há dezenas de anos, o problema da erosão costeira no concelho da Figueira da Foz, se apreensivo e preocupado foi para a sessão, mais apreensivo e preocupado ficou depois da realização dessa reunião.
Mais uma vez, depois de ouvir os oradores verificou o óbvio: de erro em erro, estamos onde estamos em 2023. 
Pior que em 2022. 

Não chegámos ao ponto crítico em que nos encontramos por mero acaso: foi causa, efeito e consequência de erros sucessivos - alguns deles  estratégicos -, cometidos por responsáveis políticos e técnicos, durante décadas no concelho da Figueira da Foz. 
Para não nos alongarmos muito, lembramos um, alertado por nós há mais de 20 anos - que nem sequer foi referido na citada reunião. 
Planeamento do concelho: Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização.
O último grande erro cometido, que foi ventilado na reunião de 15 de Novembro do ano passado, o que está mais presente e acelerou a erosão costeira a sul do concelho, que só aconteceu para tentar remediar o erro anterior, foi o acrescento dos 400 metros no molhe norte.

Na altura, o Dr. Pedro Santana Lopes , presidente da Câmara da Figueira da Foz, exigiu celeridade à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) nas intervenções de combate à erosão da costa e ameaçou tomar formas de luta se os processos não avançarem.
Nessa sessão de esclarecimento com a APA relativa à orla costeira, o Dr. Pedro Santana Lopes defendeu que a situação no concelho apresenta “circunstâncias excepcionais”, que podem ser usadas diminuir para prazos dos procedimentos legais.
Recordemos as suas palavras.
“Estamos em circunstâncias excepcionais, que a lei prevê quando estão em causa vidas humanas, habitações, segurança e risco. Há circunstâncias mais do que ponderosas”, sublinhou na altura o autarca figueirense, salientando que o problema da erosão se arrasta há anos, afetando a marina, o porto marítimo e as populações das praias a sul do concelho.
Santana Lopes defendeu mesmo que a APA crie uma comissão para esta “sub-região do baixo Mondego para tudo o que está implicado: erosão costeira, porto e transposição de areias”.
“Que a APA perceba que a Figueira da Foz está em emergência nessas matérias”, frisou o presidente da autarquia figueirense, reconhecendo que existe “estudo e trabalho feito”, mas que falta passar à acção.
Na sua intervenção final na sessão, o autarca disse que o município não quer utilizar “outras formas de luta”, mas que se for preciso serão usadas, arrancando uma grande salva de palmas do público que quase lotou o auditório municipal da cidade.
Na mesma reunião, o vice-presidente da APA, Pimenta Machado, como estratégia de longo prazo  apresentou uma solução com recurso a um sistema fixo (‘bypass’), “que nunca se fez em Portugal”, previsto para 2030, com um custo estimado de 72,2 milhões.

Como dá para ver nada acontece por acaso.
Percebem agora o motivo pela qual o Orçamento da República para 2024, com tantos milhões da Europa, não teve estofo para acomodar a solução proposta, que “já foi avaliada pela Agência Portuguesa do Ambiente como a melhor solução, quer a nível técnico quer a nível económico, considerando um horizonte temporal de 30 anos”?
Pimenta Machado, foi claro há um ano e dezasseis dias no Auditório Municipal da Figueira da Foz: "como estratégia de longo prazo  apresentou uma solução com recurso a um sistema fixo (‘bypass’), “que nunca se fez em Portugal”, previsto para 2030, com um custo estimado de 72,2 milhões."
A sessão ficou marcada por várias queixas de autarcas das freguesias afetadas pela erosão, preocupados com os efeitos do mar no Inverno, operadores comerciais e o movimento SOS Cabedelo, que acusou a APA de estar com uma década de atraso.

A deputada Raquel Ferreira, que já decidiu, "com os seus mais fortes sentidos de ponderação,  humildade e responsabilidade,  anunciar a  recandidatura à Concelhia do PS da Figueira da Foz", foi apanhada na curva apertada que o PS está a percorrer.  
Pois.
Porém, é em momentos destes, «como recomendava Mário Soares que " um político tem de se assumir".»

segunda-feira, 20 de março de 2023

Questão estruturante para o desenvolviemnto planificado do concelho: se a Marina pode crescer para sul, porque é que o Porto Comercial não pode?

Segundo o Diário as Beiras de hoje, "a administração portuária está a refletir sobre a expansão da marina para o Cabedelo, na margem Sul. Este é um assunto que o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Santana Lopes, tem vindo a defender, argumentando que, numa extensa faixa costeira atlântica ibérica, incluindo as regiões Norte e Centro portuguesas, não existe uma infraestrutura com dimensões semelhantes àquelas que se encontram no Sul de Portugal e na vizinha Espanha. Estão previstos investimentos na melhoria das condições de navegabilidade e aumento do calado do Porto Comercial da Figueira da Foz (aprofundamento do canal de navegação, da barra e da bacia de manobras) de cerca de 23 milhões de euros. Os utilizadores privados deverão contribuir com 4,5 milhões de euros. O lançamento da empreitada, que foi adiada pelo Governo no início da pandemia, aguarda pela Declaração de Impacte Ambiental."
Sendo este um assunto importante, não é, contudo, na opinião deste modesto escriba, estruturante para o desenvolvimento planificado do concelho.
Estruturante para o desenvolvimento planificado do concelho, na opinião do mentor deste OUTRA MARGEM, é a questão do Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização.
 
Em 18 de Junho de 2001, publiquei no jornal Linha do Oeste, uma crónica que continua actual. 
O assoreamento do Rio Mondego é um problema antigo e complicado. Mas, para a Figueira, nem tudo sempre foram desvantagens.
Antes do século XI, o Mondego navegável era a estrada natural para o comércio existente nos princípios da nacionalidade. Coimbra, Soure, Verride, Montemor-O-Velho eram então importantes praças comerciais e influentes portos fluviais no centro do país. Por sua vez, a Figueira limitava-se a ser um pequeno ponto localizado na foz do Mondego.
A partir do século XII, porém, o assoreamento do Mondego, com a natural perda da navegabilidade que daí resultou, fez com que um pequeno povoado pertencente ao concelho de Tavarede viesse a ganhar actividade e importância e se desenvolvesse até à cidade na moda, cosmopolita, mas ainda provinciana, dos dias de hoje.
E tudo começou, em boa parte, por há cerca de oitocentos anos o rio ter começado a ficar impraticável para a navegação. Como em tantos outros casos, o mal de uns foi a sorte de outros.
O rio e o porto estão associados ao crescimento da Figueira e são factores de desenvolvimento concelhio, pelo que deveria ter havido (e continuar a haver) o máximo de cuidado e planeamento na execução e expansão das obras portuárias.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto comercial na margem norte é um factor condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.

Duas razões simples:

1º. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro da ponte da Figueira.
2º.  Principalmente no inverno, os navios acostados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda dos navios à barra da Figueira.

Tempo é dinheiro no competitivo mercado dos transportes marítimos. O mal, contudo, está feito, mas não pode ser escamoteado. Até porque a vinda para a margem sul do porto de pesca não foi inocente. Era poluente ...
Também podemos aprender com os erros. E erro estratégico foi, igualmente, a implantação da zona industrial logo a seguir à zona habitacional da Gala, quando teria sido perfeitamente possível e fácil a sua deslocação mais para sul, possibilitando assim a criação de uma zona tampão entre as fábricas e as residências.
É uma questão pertinente, apesar do optimismo que aí vai com a notícia da implantação de uma fábrica que, segundo a responsável pela gestão do Parque Industrial, “é o maior projecto”, desde que a câmara tomou posse dos terrenos da zona industrial.
Com erros, ou sem erros, porto comercial e zona industrial são estruturas complementares no progresso e desenvolvimento do nosso concelho. Contudo, convém que o planeamento seja devidamente sustentado, pois erros já foram cometidos bastantes. Apesar dos alertas feitos em devido tempo.
Historicamente é conhecido que a ocupação espanhola dos Filipes foi penosa para Portugal. Na Figueira, conforme pode ler-se no Manifesto do Reino de Portugal, “nos séculos XV e XVI até as pescarias não eram seguras, porque nos nossos portos tomavam mouros e turcos as mal defendidas barcas de pesca; cativavam e faziam mercadoria humana dos miseráveis pescadores; e ainda se atreviam licenciosa e insolentemente ao mesmo nos lugares marítimos, como senão tiveram rei que os pudesse defender; e proibida a pescaria faltava ao reino uma considerável parte do seu sustento”.
Isto aconteceu na dinastia dos ocupantes Filipes. Nesse tempo, mouros, turcos e habitantes do norte da europa, todos piratas, saquearam e flagelaram Buarcos e a Figueira. Essa realidade só veio a mudar com a independência, a partir de 1640.
Todavia, só em meados do século XVIII o porto da Figueira conheceu o esplendor, beneficiando, é certo, de um factor exógeno: a quase inutilização da barra de Aveiro. Mais uma vez, o mal de uns foi a sorte de outros.
A região interior centro passou a processar o movimento de importação e exportação das mercadorias pelo porto da Figueira, a tal ponto que embora com demoras, dificuldades e riscos, a nossa cidade “ foi considerada a terceira praça comercial e marítima do país do século XIX”.
De então para cá aconteceram períodos mortos, avanços, recuos, estudo e mais estudos técnicos, ilusões, desencantos, mentiras, mas, nas últimas dezenas de anos, apesar de tudo, avançou-se desde o cais de madeira obsoleto e podre, apenas equipado com uma grua a vapor, tempos esses aliás ainda presentes na nossa memória.
Pena foi o cais comercial ter morto e enterrado as memoráveis regatas de outros tempos. Também por isso, porque é que não o implantaram na margem sul?

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Erosão costeira e o inverno que se aproxima: se preocupado estava, mais preocupado fiquei...

Para quem acompanha, atentamente e com preocupação, há dezenas de anos, o problema da erosão costeira no concelho da Figueira da Foz, verificou o óbvio: de erro em erro, estamos onde estamos em 2022
Se apreensivo e preocupado foi para a sessão de ontem no Auditório do Museu, mais apreensivo e preocupado veio depois da realização dessa reunião.
Não chegámos ao ponto crítico em que nos encontramos por mero acaso: foi causa, efeito e consequência de erros sucessivos - alguns deles  estratégicos -, cometidos por responsáveis políticos e técnicos, durante décadas no concelho da Figueira da Foz. 
Para não nos alongarmos muito, lembramos um - que nem sequer foi referido na reunião de ontem. 
O último, que foi ventilado na reunião de ontem, o que está mais presente e acelerou a erosão costeira a sul do concelho, e que só aconteceu para tentar remediar o erro anterior, foi o acrescento dos 400 metros no molhe norte.
Fica o resumo do que ocorreu na reunião, via Notícias de Coimbra.
«O presidente da Câmara da Figueira da Foz exigiu ontem celeridade à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) nas intervenções de combate à erosão da costa e ameaçou tomar formas de luta se os processos não avançarem.
Numa sessão de esclarecimento com a APA relativa à orla costeira, que decorreu ao fim da tarde de ontem no auditório municipal, Pedro Santana Lopes defendeu que a situação no concelho apresenta “circunstâncias excepcionais”, que podem ser usadas diminuir prazos dos procedimentos legais.
“Estamos em circunstâncias excepcionais, que a lei prevê quando estão em causa vidas humanas, habitações, segurança e risco. Há circunstâncias mais do que ponderosas”, enfatizou o autarca, salientando que o problema da erosão se arrasta há anos, afetando a marina, o porto marítimo e as populações das praias a sul do concelho.
Santana Lopes defendeu mesmo que a APA crie uma comissão para esta “sub-região do baixo Mondego para tudo o que está implicado: erosão costeira, porto e transposição de areias”.
“Que a APA perceba que a Figueira da Foz está em emergência nessas matérias”, frisou o presidente da autarquia figueirense, reconhecendo que existe “estudo e trabalho feito”, mas que falta passar à acção.
Na sua intervenção final na sessão, o autarca disse que o município não quer utilizar “outras formas de luta”, mas que se for preciso serão usadas, arrancando uma grande salva de palmas do público que quase lotou o auditório municipal da cidade.
Relativamente à intervenção que já esteve agendada para maio, de transferência de 100 mil metros cúbicos de areia na área costeira da Cova-Gala, para reforço do cordão dunar, o vice-presidente da APA, Pimenta Machado, disse que a intervenção está iminente, embora a “janela de tempo para intervir é curta e difícil” devido às condições do mar.
Segundo o responsável, o processo concursal está concluído para a intervenção avançar.
O vice-presidente da APA adiantou ainda que está prevista uma resposta de médio prazo, que consiste na construção de um “big shot” que vai transferir 3,3 milhões de metros cúbicos de areia na praia a sul na Cova Gala e dentro do mar, num investimento estimado de 20 milhões de euros, cujo concurso público deverá ser lançado ainda em 2023, após a realização de um estudo de impacte ambiental que dura seis meses.
Como estratégia de longo prazo, Pimenta Machado apresentou uma solução com recurso a um sistema fixo (‘bypass’), “que nunca se fez em Portugal”, previsto para 2030, com um custo estimado de 72,2 milhões.
A sessão ficou marcada por várias queixas de autarcas das freguesias afetadas pela erosão, preocupados com os efeitos do mar no Inverno, operadores comerciais e o movimento SOS Cabedelo, que acusou a APA de estar com uma década de atraso.»

sábado, 15 de janeiro de 2022

"O porto comercial deve ser mudado para a margem sul?" (continuação...)

 Via Diário as Beiras

Nota de rodapé.

Quase há 21 anos, precisamente na edição de 18 de Junho de 2001, na coluna que escrevia todas as semanas, o responsável pelo OUTRA MARGEM, publicou então no jornal Linha do Oeste a seguinte crónica: "Curiosidades marginais (III): Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização".
Para ler, basta clicar aqui.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

"O porto comercial deve ser mudado para a margem sul?"

 Via Diário as Beiras

Nota de rodapé.
Quase há 21 anos, precisamente na edição de 18 de Junho de 2001, na coluna que escrevia todas as semanas, o responsável pelo OUTRA MARGEM, publicou então no jornal Linha do Oeste a seguinte crónica: "Curiosidades marginais (III): Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização".
Para ler, basta clicar aqui.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Esta porra de ter razão antes do tempo é tramada: "margem sul pode vir a receber terminal do porto comercial"

 Via Diário de Coimbra

"A Câmara da Figueira da Foz, em conjunto com a Administração do Porto (APFF) e a Comunidade Portuária, está a estudar a possibilidade de criar um terminal na margem sul, para «acostagem de uma ou duas embarcações para cargas específicas», ou seja, papel, pas­ta e madeira, «dentro da perspectiva ambiental e de retirar trânsito de cima da ponte». «É algo que está a ser estudado, faz parte de um pré-estudo e há interesse das partes», explicou ao nosso jornal o presidente da autarquia, no final da reunião do executivo camarário."

Em tempo.
Há cerca de 20 anos, precisamente na edição de 18 de Junho de 2001, na coluna que escrevia todas as semanas, o responsável pelo OUTRA MARGEM, publicou no jornal Linha do Oeste uma crónica a defender isso mesmo.
Passo a citar.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto comercial na margem norte é um factor condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.
Duas razões simples:
1º. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro da ponte da Figueira.
2º. Principalmente no inverno, os navios acostados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda dos navios à barra da Figueira.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Planeamento do concelho: Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização

O primeiro acto público de Pedro Machado, na qualidade de candidato do PSD à câmara da Figueira da Foz, aconteceu ontem.
Sob o signo Figueira do Futuro, Pedro Machado apresentou as primeiras 12 propostas do programa eleitoral, tendo no horizonte um “ciclo de 12 anos”, o que corresponde ao limite de três mandatos autárquicos consecutivos. 
As “alavancas” anunciadas abrangem áreas como o desenvolvimento económico, mobilidade, turismo, ambiente, demografia, políticas sociais ou coesão territorial. Uma das propostas chamou-me particularmente a atenção, pois é um tema que me diz muito e há muitos anos: a mudança do porto comercial para a margem sul e o aproveitamento da actual infraestrutura para fins turísticos.
Pedro Machado afirmou que a sua proposta visa enquadrar o porto comercial com a concentração de empresas existente na margem sul do concelho, a maioria na Zona Industrial.
O desenvolvimento planeado e estratégico do concelho da Figueira da Foz é um assunto que nos deveria preocupar a todos. Por outro lado, "a devolução da margem norte à cidade", também.
O Rio Mondego ja fez parte da cidade. A foto de Manuel Santos bem o demonstra.
Há cerca de 20 anos, precisamente na edição de 18 de Junho de 2001, na coluna que escrevia todas as semanas, o responsável pelo OUTRA MARGEM, publicou no jornal Linha do Oeste a seguinte crónica: 


O assoreamento do Rio Mondego é um problema antigo e complicado. Mas, para a Figueira, nem tudo sempre foram desvantagens.
Antes do século XI, o Mondego navegável era a estrada natural para o comércio existente nos princípios da nacionalidade. Coimbra, Soure, Verride, Montemor-O-Velho eram então importantes praças comerciais e influentes portos fluviais no centro do país. Por sua vez, a Figueira limitava-se a ser um pequeno ponto localizado na foz do Mondego.
A partir do século XII, porém, o assoreamento do Mondego, com a natural perda da navegabilidade que daí resultou, fez com que um pequeno povoado pertencente ao concelho de Tavarede viesse a ganhar actividade e importância e se desenvolvesse até à cidade na moda, cosmopolita, mas ainda provinciana, dos dias de hoje.
E tudo começou, em boa parte, por há cerca de oitocentos anos o rio ter começado a ficar impraticável para a navegação. Como em tantos outros casos, o mal de uns foi a sorte de outros.
O rio e o porto estão associados ao crescimento da Figueira e são factores de desenvolvimento concelhio, pelo que deveria ter havido (e continuar a haver) o máximo de cuidado e planeamento na execução e expansão das obras portuárias.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto comercial na margem norte é um factor condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.

Duas razões simples:
1º. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro da ponte da Figueira.
2º.  Principalmente no inverno, os navios acostados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda dos navios à barra da Figueira.

Tempo é dinheiro no competitivo mercado dos transportes marítimos. O mal, contudo, está feito, mas não pode ser escamoteado. Até porque a vinda para a margem sul do porto de pesca não foi inocente. Era poluente ...
Também podemos aprender com os erros. E erro estratégico foi, igualmente, a implantação da zona industrial logo a seguir à zona habitacional da Gala, quando teria sido perfeitamente possível e fácil a sua deslocação mais para sul, possibilitando assim a criação de uma zona tampão entre as fábricas e as residências.
É uma questão pertinente, apesar do optimismo que aí vai com a notícia da implantação de uma fábrica que, segundo a responsável pela gestão do Parque Industrial, “é o maior projecto”, desde que a câmara tomou posse dos terrenos da zona industrial.
Com erros, ou sem erros, porto comercial e zona industrial são estruturas complementares no progresso e desenvolvimento do nosso concelho. Contudo, convém que o planeamento seja devidamente sustentado, pois erros já foram cometidos bastantes. Apesar dos alertas feitos em devido tempo.
Historicamente é conhecido que a ocupação espanhola dos Filipes foi penosa para Portugal. Na Figueira, conforme pode ler-se no Manifesto do Reino de Portugal, “nos séculos XV e XVI até as pescarias não eram seguras, porque nos nossos portos tomavam mouros e turcos as mal defendidas barcas de pesca; cativavam e faziam mercadoria humana dos miseráveis pescadores; e ainda se atreviam licenciosa e insolentemente ao mesmo nos lugares marítimos, como senão tiveram rei que os pudesse defender; e proibida a pescaria faltava ao reino uma considerável parte do seu sustento”.
Isto aconteceu na dinastia dos ocupantes Filipes. Nesse tempo, mouros, turcos e habitantes do norte da europa, todos piratas, saquearam e flagelaram Buarcos e a Figueira. Essa realidade só veio a mudar com a independência, a partir de 1640.
Todavia, só em meados do século XVIII o porto da Figueira conheceu o esplendor, beneficiando, é certo, de um factor exógeno: a quase inutilização da barra de Aveiro. Mais uma vez, o mal de uns foi a sorte de outros.
A região interior centro passou a processar o movimento de importação e exportação das mercadorias pelo porto da Figueira, a tal ponto que embora com demoras, dificuldades e riscos, a nossa cidade “ foi considerada a terceira praça comercial e marítima do país do século XIX”.
De então para cá aconteceram períodos mortos, avanços, recuos, estudo e mais estudos técnicos, ilusões, desencantos, mentiras, mas, nas últimas dezenas de anos, apesar de tudo, avançou-se desde o cais de madeira obsoleto e podre, apenas equipado com uma grua a vapor, tempos esses aliás ainda presentes na nossa memória.
Pena foi o cais comercial ter morto e enterrado as memoráveis regatas de outros tempos. Também por isso, porque é que não o implantaram na margem sul?

segunda-feira, 8 de março de 2021

Curiosidades marginais : Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização

Citação de parte uma crónica Marginal de  António Agostinho, datada de 18 de Junho de 2001, publicada no jornal Linha do Oeste.

"Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto comercial na margem norte é um factor condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.

Duas razões simples:
1º. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro da ponte da Figueira.
2º.  Principalmente no inverno, os navios acostados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda dos navios à barra da Figueira."

Ao longo dos anos aconteceram erros (por exemplo, o acrescento dos 400 metros no molhe norte) períodos mortos, avanços, recuos, estudos e mais estudos técnicos, ilusões, desencantos, mentiras, mas, nas últimas dezenas de anos, apesar de tudo, avançou-se desde o cais de madeira obsoleto e podre, o chamado Trapiche, apenas equipado com uma grua a vapor, tempos esses aliás ainda presentes na nossa memória.
Pena foi o cais comercial ter morto e enterrado as memoráveis regatas de outros tempos.
Também por isso, não teria ficado melhor na margem sul o cais comercial?

Ao longo dos quase 15 anos que já leva este blogue, fizemos algumas publicações sobre esta temática, que podem ser conferidas consultando o OUTRA MARGEM
Esta semana, esta temática vai ser abordada por vários no Diário as Beiras.
Como é um assunto fulcral para o desenvolvimento planeado do nosso concelho, iremos ficar atentos.
Fica a crónica hoje publicdada no Diário as Beiras, pelo cronista residente das segundas-feiras João Vaz.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Cais comercial a sul? Como ficaria feliz...

Imagem via Diário as Beiras
Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização
, é uma postagem que publiquei neste blogue há mais  de 10 anos.
Estávamos a 28 de Julho de 2010. Recordo algumas passagens, pois mantém-se mais do que actuais. Passo a citar-me.
O rio e o porto estão associados ao crescimento da Figueira e são factores de desenvolvimento concelhio, pelo que deveria ter havido o máximo de cuidado e planeamento na execução e expansão das obras portuárias.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto na margem norte é um condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.
Duas razões simples:
1ª. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro na ponte da Figueira.
2ª. Principalmente no inverno, os navios atracados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda de navios à barra da Figueira.
Tempo é dinheiro no competitivo mercado dos transportes marítimos. O mal, está feito, mas não pode ser escamoteado, até porque a vinda para a margem sul do porto de pesca não foi inocente. Era poluente...
Contudo, também podemos aprender com os erros. E erro estratégico foi, igualmente, a implantação da zona industrial logo a seguir à zona habitacional da Gala, quando teria sido perfeitamente possível e fácil a sua deslocação mais para sul, possibilitando assim a criação de uma zona tampão entre as fábricas e as residências.Com erros, ou sem erros, porto comercial e zona industrial são estruturas complementares no progresso e desenvolvimento do nosso concelho. Contudo, convém que o planeamento seja devidamente sustentado, pois erros já foram cometidos bastantes. Apesar dos alertas feitos em devido tempo.

Agora, ao que parece (espero que não seja apenas de haver eleições no próximo ano...) estão a pensar nisso. Oxalá seja verdade, são os meus votos.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Da série aeroporto na Região Centro: vamos continuar a "brincar aos aeroportos dos pequeninos"? (6)

Ana Oliveira

"Que solução defende para voos comerciais na Região Centro?
A pergunta que o Diário As Beiras lança esta semana para reflexão não é nova e, até tem sido, nos últimos tempos, assunto da ordem do dia. Mas o tema já é pensado e discutido desde a década de 60. A história já vai longa e os consensos vão variando conforme as pessoas, ou como diz o ditado português, “cada cabeça, sua sentença”, ou consoante os momentos políticos que vão surgindo ao longo dos anos. Porque, o que importa, é “encantar o povo” com promessas, porque prometer não custa! E está à vista quem muito tem perdido… toda a Região Centro do país.
Os episódios dos últimos anos e dos últimos meses falam por si. Defende-se Monte Real, Coimbra; volta-se a defender a Base Aérea de Monte Real… Mais tarde pensam melhor e afinal o mais correto seria um novo aeroporto, feito de raiz, entre o sul de Coimbra e o norte de Leira, lá para os lados de Soure/Pombal.
Mas se for assim, a Figueira da Foz também deve revindicar o aeroporto da região, pois encontra-se entre as coordenadas agora defendidas pela Comunidade Intermunicipal (CIM), relembrando que, em tempos, existiu o início de um aeródromo em terrenos junto à Zona Industrial da Gala e podia ser que assim a reabilitação da estrada EN109 (IC1) visse luz ao fundo do túnel ou propunha o concelho de Cantanhede que, há cerca de 25 anos também pensou na implementação de uma base aérea em terrenos junto à praia da Tocha. Estamos numa fase em que tudo se pode propor, porque não Figueira ou Cantanhede?
Enfim… Houve tempos em que tudo se podia fazer, mas que, entretanto, tudo foi esquecido. Nos dias de hoje, tudo se pode dizer. Num momento a seguir, pode-se defender outra coisa qualquer! Até o seu contrário… Defendo a solução da abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego aéreo civil, considerando que é a solução mais coerente, contribuindo para o desenvolvimento económico, crucial, para a zona centro.
Mas o que essencialmente defendo como solução é lucidez e bom senso a dois protagonistas que ocupam cargos de grande influência para a região, mais precisamente o presidente da câmara de Coimbra, Manuel Machado, e o presidente da CIM, José Carlos Alexandrino."
Um aeroporto na Região Centro é essencial para o crescimento do turismo e necessário para o desenvolvimento económico da região e do país. Por outro lado, em Portugal, há poucos aeroportos, em comparação com a grande maioria dos países europeus, em que em cada 100km há um aeroporto. Croácia, Dinamarca, Finlândia ou Eslováquia, com metade da população de Portugal, têm mais do dobro dos aeroportos do nosso país (excluindo as ilhas).
A localização a escolher para o aeroporto deverá ser a mais sustentável. E nesta ponderação, deverão ser considerados todos os fatores financeiros e ambientais, não só de instalação e operação do aeroporto, propriamente dito, mas também das acessibilidades rodoviárias, ferroviárias e, se possível, marítimas, que garantam a sua intermodalidade.
Perante este cenário, parece-me que a solução de Monte Real é a melhor. Vejamos: a base aérea já está construída e funciona bem, bastando ser adaptada para voos civis; está junto à linha ferroviária do Oeste; é servida por autoestrada; está a poucos quilómetros de um porto comercial, também ele próprio servido pelas mesmas acessibilidades; tem uma localização geográfica muito central, a 154km de Lisboa e a 177km do Porto.
Há ainda a considerar que existem vários exemplos na Europa de aeroportos militares com voos civis. Aterrei uma vez, num Boieng 737, no aeroporto Tampere-Pirkkala, e vi dois F16 a descolarem uns minutos depois, da mesma pista, pois, este aeroporto é, também, base finlandesa da Satakunta Air Command.
Outro exemplo, é o do aeroporto internacional alemão Rostock-Laage, onde, em simultâneo com a aviação civil, voam F16 da Jagdgeschwader 73. Já para não falar de Gibraltar, cujo aeroporto, para além de ser partilhado com a Força Aérea Real Britânica, apresenta uma situação insólita, a de a sua pista atravessar a estrada rodoviária principal para Gibraltar.
Perante todas estas evidências, impõe-se uma questão. Será que não podemos também aproveitar e adaptar os recursos já existentes? Acima de tudo, há que, de uma vez por todas, decidir a localização do aeroporto na Região Centro, que podendo não ser a ideal, é, sim, a possível e a mais sustentável."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

No decorrer da sessão de tomada de posse dos novos órgão sociais da Associação Comercial e Industrial, o presidente da autarquia pediu o “apoio” de Ana Abrunhosa...

Via

"Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, defendeu a electrificação da Linha do Oeste, que liga Figueira da Foz a Lisboa, indo ao encontro de uma reivindicação de Carlos Monteiro, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Outros projectos são a ampliação da zona industrial da Gala, localizada a Sul do rio Mondego, a criação de um aeroporto na região Centro, “se possível em Monte Real”, e melhoramentos nos portos comerciais e de pesca locais.
Ana Abrunhosa afirmou rever-se em todos os projectos indicados, assumindo que “a electrificação da Linha do Oeste é absolutamente vital para a competitividade das empresas”.
“Tenho a certeza absoluta que é um projecto prioritário” para o ministro Pedro Nuno Santos, que tutela os investimentos nas infraestruturas ferroviárias.
A ministra afirmou, ainda, que um município industrial como o da Figueira da Foz “tem de ter, naturalmente, infraestruturas de localização empresarial e, portanto, a ampliação da zona industrial é absolutamente vital”. Quanto ao porto comercial “tem de ser competitivo”, uma vez que é “fundamental para o transporte de mercadorias, preservando o ambiente”.
No entanto, relativamente ao aeroporto na região Centro, reivindicação comum a vários Municípios, Ana Abrunhosa não se pronunciou."

sábado, 2 de setembro de 2017

Madrugada atribulada em São Pedro...

Foto ANC-CARALHETE NEWS. MAIS FOTOS AQUI.
A peça foi descarregada no porto de pesca  para ir para ir para um das papeleiras que laboram a sul do concelho.
Só que era tão grande que ficou presa entre o café Novo Mundo e a casa do outro lado da rua...

Nota de rodapé.
Recordo um texto: "Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização", publicado em 28 de julho de 2010. Pode ser lido clicando aqui.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Curiosidades marginais (III): Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização

O assoreamento do Rio Mondego é um problema antigo e complicado. Mas, para a Figueira, nem tudo sempre foram desvantagens.
Antes do século XI, o Mondego navegável era a estrada natural para o comércio existente nos princípios da nacionalidade. Coimbra, Soure, Verride, Montemor-O-Velho eram então importantes praças comerciais e influentes portos fluviais no centro do país. Por sua vez, a Figueira limitava-se a ser um pequeno ponto localizado na foz do Mondego.
A partir do século XII, porém, o assoreamento do Mondego, com a natural perda da navegabilidade que daí resultou, fez com que um pequeno povoado pertencente ao concelho de Tavarede viesse a ganhar actividade e importância e se desenvolvesse até à cidade na moda, cosmopolita, mas ainda provinciana, dos dias de hoje.
E tudo começou, em boa parte, por há cerca de oitocentos anos o rio ter começado a ficar impraticável para a navegação. Como em tantos outros casos, o mal de uns foi a sorte de outros.
O rio e o porto estão associados ao crescimento da Figueira e são factores de desenvolvimento concelhio, pelo que deveria ter havido (e continuar a haver) o máximo de cuidado e planeamento na execução e expansão das obras portuárias.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto comercial na margem norte é um factor condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.

Duas razões simples:
1º. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro da ponte da Figueira.
2º.  Principalmente no inverno, os navios acostados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda dos navios à barra da Figueira.

Tempo é dinheiro no competitivo mercado dos transportes marítimos. O mal, contudo, está feito, mas não pode ser escamoteado. Até porque a vinda para a margem sul do porto de pesca não foi inocente. Era poluente ...
Também podemos aprender com os erros. E erro estratégico foi, igualmente, a implantação da zona industrial logo a seguir à zona habitacional da Gala, quando teria sido perfeitamente possível e fácil a sua deslocação mais para sul, possibilitando assim a criação de uma zona tampão entre as fábricas e as residências.
É uma questão pertinente, apesar do optimismo que aí vai com a notícia da implantação de uma fábrica que, segundo a responsável pela gestão do Parque Industrial, “é o maior projecto”, desde que a câmara tomou posse dos terrenos da zona industrial.
Com erros, ou sem erros, porto comercial e zona industrial são estruturas complementares no progresso e desenvolvimento do nosso concelho. Contudo, convém que o planeamento seja devidamente sustentado, pois erros já foram cometidos bastantes. Apesar dos alertas feitos em devido tempo.
Historicamente é conhecido que a ocupação espanhola dos Filipes foi penosa para Portugal. Na Figueira, conforme pode ler-se no Manifesto do Reino de Portugal, “nos séculos XV e XVI até as pescarias não eram seguras, porque nos nossos portos tomavam mouros e turcos as mal defendidas barcas de pesca; cativavam e faziam mercadoria humana dos miseráveis pescadores; e ainda se atreviam licenciosa e insolentemente ao mesmo nos lugares marítimos, como senão tiveram rei que os pudesse defender; e proibida a pescaria faltava ao reino uma considerável parte do seu sustento”.
Isto aconteceu na dinastia dos ocupantes Filipes. Nesse tempo, mouros, turcos e habitantes do norte da europa, todos piratas, saquearam e flagelaram Buarcos e a Figueira. Essa realidade só veio a mudar com a independência, a partir de 1640.
Todavia, só em meados do século XVIII o porto da Figueira conheceu o esplendor, beneficiando, é certo, de um factor exógeno: a quase inutilização da barra de Aveiro. Mais uma vez, o mal de uns foi a sorte de outros.
A região interior centro passou a processar o movimento de importação e exportação das mercadorias pelo porto da Figueira, a tal ponto que embora com demoras, dificuldades e riscos, a nossa cidade “ foi considerada a terceira praça comercial e marítima do país do século XIX”.
De então para cá aconteceram períodos mortos, avanços, recuos, estudo e mais estudos técnicos, ilusões, desencantos, mentiras, mas, nas últimas dezenas de anos, apesar de tudo, avançou-se desde o cais de madeira obsoleto e podre, apenas equipado com uma grua a vapor, tempos esses aliás ainda presentes na nossa memória.
Pena foi o cais comercial ter morto e enterrado as memoráveis regatas de outros tempos. Também por isso, porque é que não o implantaram na margem sul?

Em tempo.
Crónica Marginal de  António Agostinho, 18 de Junho de 2001, publicada no jornal Linha do Oeste     

sábado, 31 de julho de 2010

"Os velhos do Restelo"

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No passado dia 28, neste post, apontámos o que, quanto a nós, tinham sido dois erros estratégicos de localização de duas infra-estruturas fundamentais para o desenvolvimento sustentando do concelho da Figueira da Foz.
Curiosamente, hoje no jornal As Beiras, está este texto que aponta no sentido da necessidade de um cais comercial na zona sul.
Não é motivo de nenhuma satisfação pessoal, pois é triste verificar que os chamados “velhos do Restelo”, muitas vezes, têm razão antes do tempo!..
Neste caso e sobre este assunto, gostosamente sou dos que me auto incluo nessa categoria (quem tiver dúvidas, é só consultar a colecção do extinto Linha do Oeste e ler as Crónicas Marginais que lá publiquei durante anos...), mas, sobretudo, permitam que realce a figura de Manuel Luís Pata, um exemplo de perseverança, que tem uma luta de anos e anos a bater-se por aquilo que considera que deveria ter sido feito e não foi, pelo verdadeiro desenvolvimento do porto e barra da Figueira da Foz. Sei do que falo, pois tenho em meu poder uma compilação muito completa do trabalho deste Homem, que, no entanto, é apenas um resumo dum enorme trabalho e duma luta voluntarista e incompreendida, no decorrer de anos e anos!..
Cavaco Silva, Santana Lopes, Duarte Silva, João Cravinho, Narciso Miranda, entre muitos outros, sabem do que estou a falar...
Nos dias de hoje, penso que muita gente já compreendeu o erro fatal que foi para a Figueira o ter-se ignorado o projecto para a construção do Porto Oceânico elaborado pelo eng. Baldaque da Silva, que chegou a ser aprovado em 1914 na Assembleia de Deputados e dada luz verde para ser posto a concurso, o que nunca aconteceu. Esse projecto, recorde-se, consistia na construção de um "paredão", a partir do Cabo Mondego em direcção a sul, o qual assentaria na rocha lá existente.
Em vez disso, optou-se nos anos sessenta do século passado, pela construção dos molhes que transformaram a Rainha das Praias de Portugal, a Praia da Claridade, na actual Praia da Calamidade.
Mais recentemente, avançou-se para o prolongamento do molhe norte, que ao contrário do que alguém disse há tempos, "não é a mãe de todas as obras", mas, oxalá esteja enganado, irá revelar-se, mais cedo do que tarde, a "obra madastra"...
Os especialistas é que o disseram, como pode ler-se no Jornal de Coimbra, no dia 29 de Março de 2000, na página 15: "é extremamente perigoso fazer qualquer prolongamento no molhe norte, porque isso iria provocar uma maior acumulação de areias a norte, enquanto que a sul o mar aumentaria a sua acção erosiva".
Alguém os ouviu?... Presumo que não, pois, sobre esta matéria, continuam a subsistir "muitas dúvidas e poucas certezas"...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Porto Comercial e Zona Industrial e os erros estratégicos de localização

O assoreamento do rio Mondego é um problema antigo e complicado.
Mas, para a Figueira, esse assoreamento nem sempre foi desvantajoso.
Antes do século XI, o Mondego navegável era a estrada natural para o comércio existente nos princípios da nacionalidade. Coimbra, Soure, Verride, Montemor-o-Velho, eram então importantes praças comerciais e influentes portos fluviais no centro do país. Por sua vez, a Figueira limitava-se a ser um pequeno ponto localizado na foz do Mondego.
A partir do século XII, porém, o assoreamento do Mondego, com a natural perca da navegabilidade que daí resultou, fez com que um pequeno povoado pertencente ao concelho de Tavarede viesse a ganhar actividade e importância e se desenvolvesse até à cidade na moda, cosmopolita, mas ainda provinciana, dos dias de hoje.
E tudo começou, em boa parte, por há cerca de oitocentos anos o rio ter começado a ficar impraticável para a navegação. Como em tantos outros casos, o mal de uns foi a sorte de outros.
O rio e o porto estão associados ao crescimento da Figueira e são factores de desenvolvimento concelhio, pelo que deveria ter havido o máximo de cuidado e planeamento na execução e expansão das obras portuárias.
As razões são óbvias: basta verificar qual será a função principal do porto comercial.
Fácil de responder: proporcionar o escoamento a mercadorias da zona centro do país, em especial das empresas sediadas na zona industrial da Figueira da Foz e das celuloses.
Sendo a Figueira, como sabemos, um porto problemático a vários níveis, nomeadamente por sofrer a influência das marés, enferma de um erro estratégico de fundo: a localização. A teimosia, ou a falta de visão, em manter o porto na margem norte é um condicionante para as condições de funcionalidade da estrutura portuária.
Duas razões simples:
1ª. Se estivesse na margem sul estaria mais perto das fábricas, o que pouparia as vias de comunicação que dão acesso ao porto comercial e evitaria a sobrecarga no tabuleiro na ponte da Figueira.
2ª. Principalmente no inverno, os navios atracados no cais comercial têm frequentes problemas de segurança, ao ponto de, por vezes, ser necessária a sua deslocação para a zona abrigada do porto de pesca com as demoras e despesas daí resultantes, o que torna mais onerosa e menos operacional a vinda de navios à barra da Figueira.
Tempo é dinheiro no competitivo mercado dos transportes marítimos. O mal, está feito, mas não pode ser escamoteado, até porque a vinda para a margem sul do porto de pesca não foi inocente. Era poluente...
Contudo, também podemos aprender com os erros. E erro estratégico foi, igualmente, a implantação da zona industrial logo a seguir à zona habitacional da Gala, quando teria sido perfeitamente possível e fácil a sua deslocação mais para sul, possibilitando assim a criação de uma zona tampão entre as fábricas e as residências.Com erros, ou sem erros, porto comercial e zona industrial são estruturas complementares no progresso e desenvolvimento do nosso concelho. Contudo, convém que o planeamento seja devidamente sustentado, pois erros já foram cometidos bastantes. Apesar dos alertas feitos em devido tempo.Historicamente, é conhecido que a ocupação espanhola dos Filipes foi penosa para Portugal. Na Figueira, conforme pode ler-se no Manifesto do reino de Portugal “nos séculos XV e XVI até as pescarias não eram seguras, porque nos nossos portos tomavam mouros e turcos as mal defendidas barcas de pesca; cativavam e faziam mercadoria humana dos miseráveis pescadores; e ainda se atreviam licenciosa e insolentemente ao mesmo nos lugares marítimos, como senão tiveram rei que os pudesse defender; e proibida a pescaria faltava ao reino uma considerável parte do seu sustento”.
Isto aconteceu na dinastia dos ocupantes Filipes. Nesse tempo, mouros, turcos e habitantes do norte da Europa, todos piratas, saquearam e flagelaram Buarcos e a Figueira. Essa realidade só veio a mudar com a independência, a partir de 1640.
Todavia, só em meados do século XVIII o porto da Figueira conheceu o esplendor, beneficiando, é certo de factor exógeno: a quase inutilização da barra de Aveiro. Mais uma vez, o mal de uns foi a sorte de outros.
A região interior centro passou a processar o movimento de importação e exportação das mercadorias pelo porto da Figueira da Foz, a tal ponto que embora com demoras, dificuldades e riscos, a nossa cidade “foi considerada a terceira praça comercial e marítima do país do século XIX”.
De então para cá aconteceram períodos mortos, avanços, recuos, estudos e mais estudos técnicos, ilusões, desencantos, mentiras, mas, nas últimas dezenas de anos, apesar de tudo, avançou-se desde o cais de madeira obsoleto e podre, o chamado Trapiche, apenas equipado com uma grua a vapor, tempos esses aliás ainda presentes na nossa memória.
Pena foi o cais comercial ter morto e enterrado as memoráveis regatas de outros tempos.
Também por isso, não teria ficado melhor na margem sul o cais comercial?