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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Entre o aprofundanto do rio e a invasão há muito anunciada do mar

Ao que parece, mesmo em fim de linha, o ex-ministro das Infraestruturas João Galamba deixou uma grande notícia aos figueirenses: "o concurso público para o aprofundamento do canal de navegação do porto comercial e da barra deverá ser lançado em Janeiro do próximo ano."

“É uma obra importantíssima para a economia da Figueira da Foz e da região”, sublinhou ontem no decorrer de uma reunião de câmara o presidente de câmara da Figueira da Foz, manifestando-se “muito contente” por avançar uma das suas reivindicações desde que iniciou o mandato.

Aos jornalistas, o autarca lembrou que se trata de uma obra “com dinheiro desde o período anterior à pandemia da covid-19” e que tinha sido retirado. 

“É dinheiro que volta à Figueira da Foz”, sublinhou.

O aprofundamento do canal de navegação vai permitir a atracagem de navios de maior calado no porto, que nos primeiros nove meses deste ano movimentou 1.535.500 toneladas, menos 9,1% relativamente ao período homólogo de 2022.

A intervenção prevista vai permitir a entrada de navios até 140 metros de comprimento e oito metros de calado, quando actualmente só permite a acostagem de navios com 120 metros de comprimento e 6,5 metros de calado.


No mesmo concelho da Figueira da Foz, uns 4 ou 5 quilómetros para sul, existe um enorme desastre ambiental, que faz andar com o "coração nas mãos", há muitos anos, os moradores da zona.

Sim estou a referir-me ao "Quinto Molhe" que, até Março, vai ser local de peregrinação dos políticos que certamente irão a andar por aí em campanha eleitoral.

Todos sabemos, que a ocupação desordenada do litoral contribuiu para situações de desequilíbrios e fenómenos de erosão costeira que têm vindo a pôr em causa a segurança de pessoas e bens.

Foi o que aconteceu,  a sul do porto da Figueira da Foz, depois das obras do prolongamento do molhe norte em 400 metros, onde nos últimos anos se agravaram os efeitos erosivos.

A obra, considerada fundamental pelas cabeças pensadoras da tutela e da comunidade portuária, visava a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz.

Porém, isso não aconteceu. Os acidentes entretanto ocorridos à entrada da barra, depois de 2011, provam isso. A agravar, desde o prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto comercial, um investimento de 14,6 milhões de euros, inaugurado em 2011, a erosão nas praias a sul acentuou-se, com destruição da duna de proteção costeira em vários locais, com especial ênfase na praia da Cova, alvo de duas intervenções de emergência nos últimos anos.


O prolongamento do molhe norte e a erosão a sul tem sido um brutal sorvedouro de dinheiros públicos. Com o aprofundamento do canal de navegação do porto comercial da barra, que deverá ser lançado em Janeiro do próximo ano, lá irão mais uns milhões.

Entretanto, ao que parece, a panaceia para atenuar sustentavelmente a erosão a sul existe, já foi estudada e alvo de consenso: chama-se bypass.

Sabe-se, porque foi estudado, que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz, com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada.

“Avaliada esta solução [da transferência de areias] não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, veio dizer aos figueirenses o então ministro João Pedro Matos Fernandes, em meados do mês de Agosto de 2021, curiosamente a mês de umas eleições autárquicas que se advinhavam difíceis para o PS, o que acabou por se concretizar.

Carlos Monteiro foi derrotado por Santana Lopes.


De palpável, passados mais de dois anos, tirando o estudo que situa o investimento inicial com a construção do bypass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros, nada mais aconteceu.

“Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, [a operação] possa ser financiada”, disse o ministro em Agosto de 2021.

E assim ficámos: o sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há mais de uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz continua a ser uma miragem.

E assim vai continuar. A prova disso é que, há poucos dias, O Livre viu “chumbada” a proposta sobre a inscrição da instalação do bypass (sistema mecânico de transposição de areia) na barra da Figueira da Foz no Orçamento do Estado de 2024. 

Penso que presumem quem evitou isso: os votos contra da maioria absoluta do PS na Assembleia da República. O PAN absteve-se e os restantes grupos parlamentares votaram a favor.

Passadores de moeda falsa... "São a favor do Bypass mas votam contra a sua implementação..."
Imagem via Sos Cabedelo

Se o Orçamento da República para 2024, com tantos milhões da Europa, não teve estofo para acomodar a solução proposta, que “já foi avaliada pela Agência Portuguesa do Ambiente como a melhor solução, quer a nível técnico quer a nível económico, considerando um horizonte temporal de 30 anos”, quando é que isso poderá acontecer?


Como parece que ninguém se importa com o assunto, como morador a sul do Mondego, resta-me a tristeza de constatar que a merda grossa, merda da boa, a bela cagada obrada pelos cagões da Figueira e de Lisboa, não vai ser limpa.

A enorme borrada (que a foto mostra) vai continuar a poder ser vista. 

É triste presumir que, maioritariamente,  ao votar em Março próximo, os eleitores do sul, com o seu voto, como tem acontecido, vão continuar a comprometer um bocado a possibilidade de resolução do problema, que o mesmo é dizer, vão perpetuar a enorme cagada que torna este País difícil de habitar, tal é o cheiro.

Apesar deste texto terminar um tanto ou quanto brejeiro e brincalhão, o assunto é sério.

E, sobretudo, inquietante.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

As obras na linha costeira da Figueira da Foz criaram um desequilíbrio brutal na costa

Hoje, no Jornal Público
Erosão costeira na Figueira da Foz: “O mar trabalha todos os dias e nunca se cansa”.

A propósito, recorde-se uma postagem OUTRA MARGEM, de 11 DE ABRIL DE 2008, antes do acrescento dos 400 metros do molhe norte:
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão na zona costeira na margem a sul do Mondego?

Esta pergunta, colocada antes do início da obra, foi ignorada por quem tinha o poder de decisão. A obra foi, na altura, apoiada pela Câmara Municipal da Figueira da Foz e pela Junta e Assembleia de Freguesia de S. Pedro. Há 15 anos estava tudo de acordo. 
O Kilas, o mau da fita, era o António Agostinho: foi caluniado, foi perseguido (até porrada lhe prometeram), foi isolado. Valeu-lhe, como ainda hoje, o grande ego e saber que a razão estava do seu lado. Como, infelizmente, se está a comprovar.
Contudo, esteve sempre bem acompanhado. 
O seu Amigo Manuel Luís Pata, fartava-se de lhe dizer: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Passados 15 anos os desperdícios de recursos financeiros, os resultados estão à vista de todos no Quinto Molhe, Costa e Lavos, Leirosa e mais além...
Como afirma Miguel Figueira na edição de hoje do Público, «a última reposição de areias, trazidas do zona do porto, terminou “há um mês” (e aponta para um enorme buraco na zona mais próxima do local onde os banhistas solitários se instalaram). E acrescenta: “Já está a ser completamente comida. Este buraco não existia, já está aberto. A duna está fragilizada e acabamos de gastar aqui um milhão de euros.”»
Como muitos também me recordo que  “quando éramos miúdos, descíamos as dunas a sul do Quinto Molhe com pranchas, pois isto era uma coisa colossal”. Agora, esse monstro de areia é só uma memória. Ali em frente, estão sacos enormes de sedimentos colocados na base do que resta da duna, que a APA instalou no local há alguns anos, na tentativa de reter parte da areia que tem sido reposta, pontualmente, no local. Sobre a duna há um tubo, que serve para transportar areia para ali, alimentando artificialmente a costa.

A APA continua a desvalorizar a avaliação de Miguel Figueira. Primeiro, garante em resposta escrita ao PÚBLICO, «a intervenção naquela zona não está concluída — foram depositados 45 mil metros cúbicos (m3) de areia e faltam ainda outros 55 mil m3, ou seja, só foi concluída 45% da operação prevista e a restante, se a agitação marítima deixar, deverá ser concluída até ao final do mês.
Quanto aos danos visíveis indica: “A APA e o empreiteiro estão a monitorizar a evolução da intervenção, estando a decorrer como esperado. Este tipo de intervenções de alimentação artificial tem normalmente associadas perdas iniciais de curto prazo associadas aos fenómenos de reajuste do perfil (até atingir o perfil de equilíbrio) e compactação da areia após deposição”, além de alguma “dispersão lateral por processos longitudinais para fora da zona de deposição.”
Segundo o Público, a palavra "monitorizar” anda a irritar sobremaneira Miguel Figueira e Eurico Gonçalves, antigo campeão de surf e o outro rosto do SOS Cabedelo. 
O que está mais do que provado, é tal como previmos antes da execução da sua execução, as obras na linha costeira da Figueira da Foz — incluindo a extensão em 400 metros do Molhe Norte do porto marítimo, uma obra iniciada em 2008 — criaram um desequilíbrio brutal na costa. O areal da praia da Claridade, na cidade, a norte do porto e da foz do Mondego, cresceu tanto que fez com que esta se tornasse a maior praia urbana da Europa.
A sul de tudo isto o cenário é o oposto — a falta de sedimentos, impedidos de passar pelo extenso molhe, fez recuar a costa vários metros, fazendo desaparecer praticamente o areal em várias zonas da Cova-Gala e criando uma meia-lua bem pronunciada ainda mais para sul, onde antes não existia, porque a linha da costa estava muito mais à frente. 
Como afirma Migueira: “não há falta de areia. Ela está é mal distribuída”

A norte do porto, o areal não pára de aumentar, mas a sul a linha de costa está cada vez mais recuada, porque os sedimentos não conseguem passar.
Dúvidas há?
Sem esquecer o perigo na barra do porto,  onde já morreram 15 pessoas em acidentes, desde 2009...
«O Estudo de Viabilidade da Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz, encomendado pela APA a um consórcio, que incluía a Universidade de Aveiro (UA), analisou diferentes soluções e concluiu que o bypass era a solução “economicamente mais viável”, para uma zona que, a sul da Cova-Gala, já apresentava taxas de recuo da costa de 3,5 metros ao ano.
Para os responsáveis do movimento cívico, parecia o início do fim de um longo processo, uma percepção reforçada pelo anúncio do então ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, de que o bypass era mesmo para ser feito. O país já não queria voltar as costas ao mar — algo que nunca se faz, dizem, e que aprenderam muito cedo com os pescadores —, nem fazer dele o inimigo, mas aprender a adaptar-se às mudanças que ele próprio sofria, fruto, em grande parte, da intervenção humana.
Só que o balde de água fria veio logo a seguir: ao contrário do que o SOS Cabedelo esperava, a APA não tem qualquer intenção de avançar com a obra do bypass num futuro imediato e isso desespera os dois activistas. “Neste momento, a nossa maior preocupação é a urgência em avançar com a obra”, diz Eurico Gonçalves. “Queremos que se despachem”, reforça Miguel Figueira.»

Mais uma vez, as coisas estão a acontecer como o responsável do OUTRA MARGEM temia. Lembram-se das nossas conversas nos últimos dois anos sobre o assunto Miguel Figueira e Eurico Gonçalves? 
Percebem agora as minhas inquietações perante o vosso optimismo? 
Recordo Maio de 2021. De acordo com Carlos Monteiro, na altura presidente da câmara, que citou informação que lhe foi transmitida pela APA, o concurso para elaboração do projecto e estudo de impacte ambiental “ainda está para adjudicação”. Tendo um prazo de 12 meses para ser elaborado, só estará concluído em meados de 2022, a que acrescem os procedimentos de eventual aprovação, lançamento do concurso da obra propriamente dita e adjudicação dos trabalhos, que, se tudo correr bem, só deverão começar em 2023.
«Não será isso que vai acontecer. Em resposta escrita ao PÚBLICO, a APA explica que quando foi conhecido o resultado do estudo que apontou para o bypass como a melhor solução, já estavam em curso os procedimentos burocráticos para a operação de alimentação artificial do troço Cova-Gala/Costa de Lavos, a sul do porto marítimo, com 3,3 milhões de m3 de areia. “Só após a concretização dessa intervenção e a sua monitorização (fundamental para se avaliar a sua evolução, comportamento e eficácia) será possível avançar com a eventual solução de bypass fixo”, refere a APA.
E para que a “eventual” obra do bypass avance, terá ainda de ser precedida do seu próprio processo burocrático, acrescenta. Ou seja, concursos públicos, estudo de impacte ambiental, candidatura a financiamento...

A APA olha para o bypass — uma obra com validade mínima de 30 anos e custos de construção e operação para esse período estimados em 53 milhões de euros — como uma operação de “mitigação da erosão costeira” de “longo prazo”. Até lá, há a colocação de areia como a que está a decorrer a sul de Cova-Gala, com recurso a dragagem das areias do porto (solução de “curto prazo”) e a “alimentação artificial de elevada magnitude”, dos tais 3,3 milhões de m3, com um custo de 25 milhões de euros, e que é olhada como uma intervenção de “médio prazo”.
Miguel Figueira e Eurico Gonçalves não entendem por que não se avança já para o bypass. Nem porque querem monitorizar uma intervenção de colocação de areias que, acreditam, acabará por não ter sucesso, por não ser um processo contínuo. “Uma solução pontual não faz sentido. O mar trabalha todos os dias e nunca se cansa”, diz Miguel Figueira. “Então está tudo a arder e querem monitorizar a desgraça?”, questiona Eurico Gonçalves.»
Contudo, «Carlos Coelho, especialista em erosão costeira e coordenador dos investigadores da UA que participaram no estudo responsável pela identificação do bypass como a solução mais viável para a Figueira da Foz, defende a posição da APA. “Há alguns fenómenos e pressupostos admitidos durante este estudo que é possível que sejam discutíveis. Portanto, se pudermos aumentar o grau de confiança nos resultados, será o ideal”, diz.
E isso, defende, poderá ser conseguido monitorizando a operação que a APA tem prevista de colocação de 3,3 milhões de m3 de areia — um volume “muito mais alargado” do que o que tem sido colocado em operações mais pequenas e que, por isso, acredita, vale a pena acompanhar e avaliar. “Diria que a posição da APA faz sentido, sim. É um investimento muito alargado e tudo o que vier contribuir para aumentar o grau de certeza nos resultados deve ser feito”, defende.
E não se corre o risco de, daqui a alguns anos, quando se avançar de facto para o bypass, o estudo que o escolheu seja considerado desactualizado e se defenda a necessidade de um novo? Ouve-se Carlos Coelho rir ao telefone. “Podemos eventualmente correr o risco de ter de actualizar os resultados do estudo. Mas diria que este estudo do bypass acaba por ser válido num período mais longo”, diz o investigador.

Olhando o mar revolto da Figueira da Foz, de onde saíram há poucas horas, depois de mais uma manhã a surfar as suas ondas, os dois fundadores do SOS Cabedelo não se conformam com estes argumentos. Não se convencem que valha a pena avançar para uma operação intermédia, com um custo do m3 de areia que dizem ser dez vezes superior ao que é previsto para o bypass, e com o ónus ambiental “da queima dos combustíveis fósseis, com as dragagens”.
“Toda a gente já concordou com o bypass. É o que está inscrito na política do Governo, nos estudos da universidade, é o que defende a cidadania. Mas depois dizem-nos que isto é só para daqui a sete anos, para 2030. Isto é absolutamente insensato”, acusa Miguel Figueira.
O PÚBLICO questionou o MAAC, que remeteu quaisquer esclarecimentos para a APA. O presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, em resposta escrita, refere: "Nunca foi admitido nem faz sentido dizer que uma acção, importante mas conjuntural, como a da transposição de 3 milhões de metros cúbicos possa pôr em causa a intervenção estrutural do bypass. E os calendários foram estipulados e ditos. A nosso ver, demasiado longos mas, de qualquer modo, assumidos."
O SOS Cabedelo vai continuar a insistir numa mudança de posição de quem decide as intervenções na costa. “A transição que falta fazer é desta atitude da APA, que continua numa lógica reactiva. De cada vez que há um acidente na costa, lá vêm eles gastar mais uns milhões. Têm de inverter esta lógica de “correr atrás do prejuízo”, para passar a correr atrás da solução. Hoje em dia é disso que se trata. Sabendo qual é a solução, têm de se pôr ao caminho”

Nota de rodapé.
Para ver o video com a entrevista de Miguel Figueira, clicar aqui.

sábado, 17 de junho de 2023

Calamidades figueirenses

Para quem ainda não conseguiu perceber a importância de um executivo de maioria absoluta socialista, apeado em 21 de Setembro de 2021, depois de 12 anos no poder na Figueira da Foz, 9 dos quais em maioria absoluta, aqui está um bom exemplo: a criação e manutenção de espaços públicos ao serviço das populações. Um parque de merendas, instalado em plena Praia, em cima do coberto vegetal, entre pinheiros ressequidos e raquíticos. 
A outrora Praia da Claridade no seu melhor: transformada em praia da calamidade
Foto de 23 de Maio de 2017 por Clara Gil
O Município da Figueira da Foz tornou público o parecer elaborado pelos serviços técnicos municipais, relativo à remoção da camada vegetal do areal da praia de Buarcos/ Figueira da Foz, intervenção para a qual a ARH do Centro emitiu, recentemente, parecer positivo.
A determinado passo consta o seguinte:
Ter razão antes do tempo tem custos e é tramado.
A propósito, recorde-se uma postagem OUTRA MARGEM, de 11 DE ABRIL DE 2008, antes do acrescento dos 400 metros do molhe norte:
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão na zona costeira na margem a sul do Mondego?

Esta pergunta, colocada pelo OUTRA MARGEM antes do início da obra, foi ignorada por quem tinha o poder de decisão. A obra foi, na altura, apoiada pela Câmara Municipal da Figueira da Foz e pela Junta e Assembleia de Freguesia de S. Pedro. Há 15 anos estava tudo de acordo. 
O Kilas, o mau da fita, era o António Agostinho: foi caluniado, foi perseguido (até porrada lhe prometeram), foi isolado. Valeu-lhe, como ainda hoje, o grande ego e saber que a razão estava do seu lado. Como, infelizmente, se está a comprovar.
Contudo, estive sempre bem acompanhado. 
O meu Amigo Manuel Luís Pata, fartava-se de me dizer: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Passados 15 anos de desperdícios de recursos financeiros, os resultados estão à vista de todos no Quinto Molhe, Costa e Lavos, Leirosa e mais além...
Onde é que andavam os ambientalistas locais quando foi anunciada esta obra que facilmente se adivinhava ir contribuir para o que temos frente à Figueira: o maior desastre ambiental da Europa.

Outro assunto abordado pelo parecer elaborado pelos serviços técnicos municipais foi a intervenção na frente de praia:
Em janeiro de 2016, o executivo socialista fez o anúncio de uma obra “milagrosa”.
Na Obra de Requalificação do Areal/Valorização de Frente Mar e Praia - Figueira/Buarcos foram gastos cerca de 3 milhões de Euros na empreitada, com a obrigação do empreiteiro fazer a manutenção durante 5 anos.
Onde estavam os ambientalistas quando se "plantou" cimento na Praia da Figueira entre coberto vegetal, pinherinhos, camarinhas (ou camarinheiras)?
Quem, como eu, por lá passou hoje,  viu uma ciclovia a degradar-se de dia para dia, quase vegetação e árvores mortas. Para não referir aquela alarvidade que são as mesas e bancos em cimento plantada no areal, em cima de florzinhas, pinheirinhos secos e coberto vegetal.
Em 6 de Janeiro de 2020, há mais de 3 anos, o vereador na oposição Ricardo Silva do PSD, neste momento vereador executivo com o pelouro do Ambiente, solicitou um relatório sobre o estado em que se encontrava a praia e se está de acordo com o projeto elaborado. 
Alguém sabe se essa iniciativa, na altura muito badalada na comunicação social, teve alguma consequência?
Pode ser que agora com Ricardo Silva vereador executivo com o pelouro do Ambiente, dado que o problema se mantem, apareça o relatório.

A Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade. 
O extenso areal da Praia da Figueira continua a ser um problema.
Os ambientalistas estão aí prontos para o combate e para o que der e vier.
Importante é salvar uma camarinha, também designada por camarinheira, uma espécie que existe a rodos no pinhal a sul do quinto molhe até à Nazaré.
A erosão a sul pode esperar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

NA FIGUEIRA E NO PAÍS EXISTE UM GRANDE PROBLEMA: A BARRA.

Recordo uma postagem de 11 DE ABRIL DE 2008, uma sexta-feira.
“O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi hoje adjudicado, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária, vai permitir a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz e deverá estar concluída até Fevereiro de 2010.
Com um preço base de 12,5 milhões de euros, a intervenção compreende a extensão do molhe em 400 metros, bem como a ampliação do canal de navegação.”
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão?

Mas, neste País de merda,  já tinha havido "avisos" anteriores a quem de direito.
Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996. 
Manuel Luís Pata,  no extinto  Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto  concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava isto.

 “Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com  os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra  vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”

Como ninguém ligou, ninguém tratou do problema, o resultado aí está: desde que a obra que aumentou em 400 metros o molhe norte da barra da Figueira da Foz ficou concluída,  temos um grande problema.
Tratar o problema é urgente: exige colocar ordem na desordem, que é a administração do território, e colocar ordem na desordem, que existe na gestão do litoral português.

António Miguel Lé, presidente da Cooperativa de Produtores de Peixe Centro Litoral, ONTEM, no decorrer da manifestação frente à Capitania da Figueira, disse aos jornalistas que “muita coisa falhou”, acrescentando que “não houve operação de socorro”. O armador figueirense relacionou a vaga de naufrágios de embarcações de pesca com mortos ocorridos à entrada da barra nos últimos cinco anos com as obras de prolongamento do molhe Norte
“É a conclusão que toda a gente tira”, afirmou Lé, exortando que se faça a “correção” antes que aconteça outro acidente. A empreitada teve como finalidade melhorar o acesso e a segurança do porto comercial, mas as embarcações de pesca têm-se deparado com dificuldades, por terem de fazer uma abordagem à barra lateral, ficando mais vulneráveis a golpes fortes de mar. Foi o que terá acontecido com o “Olívia Ribau”.

Na mesma oportunidade, em declarações ao mesmo DIÁRIO AS BEIRAS, João Traveira defendeu que o “país tem que despertar para os problemas da barra da Figueira que estarão na origem de naufrágios com um saldo de 15 mortos, nove nos dois últimos anos”

E tudo poderia ser diferente:  a Figueira poderia ter um grande porto... 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Cada vez mais areia a norte, erosão galopante a sul...

A praia da Figueira da Foz, o maior areal urbano do país, está a crescer, em média, 40 metros por ano, devido ao prolongamento do molhe norte do rio Mondego, afirma um investigador do movimento das areias.
foto Pedro Agostinho Cruz
José Nunes André, geógrafo e investigador universitário, tem vindo a monitorizar a acumulação de sedimentos através de três perfis transversais, elaborados numa faixa de dois quilómetros de comprimento no areal entre a Figueira da Foz e Buarcos. "Tem dado uma média de 40 metros ao ano de crescimento da praia. E a sul [dos molhes do porto] temos o reverso da medalha, as praias estão a recuar assustadoramente. As praias da Cova Gala e da Leirosa recuaram 15 metros num ano", disse à agência Lusa José André.
De acordo com o investigador, o ritmo de crescimento do areal da Figueira da Foz é, actualmente, superior ao verificado aquando da construção original do molhe norte, nos anos 60 do século passado. A praia, explicou, cresceu cerca de 440 metros até à década de 1980 e, a partir daí, nos últimos 30 anos, a acumulação de sedimentos reduziu de intensidade e praticamente estabilizou. No entanto, com a obra de prolongamento do molhe - concluída no verão de 2010 -, o areal voltou a crescer e, actualmente, apresenta 580 metros de largura máxima entre a marginal e a orla marítima, segundo as medições feitas por José André. 
Este geógrafo recordou que, por ocasião da obra, o período estimado de crescimento do areal foi estabelecido em 12 anos. Segundo os dados de que dispõe, e a manterem-se os valores observados, o prolongamento da praia vai ocorrer "apenas em seis, sete anos, até que as areias contornem o molhe", disse.
O crescimento da praia em largura representa ainda, segundo o geógrafo, uma acumulação anual de 290 mil metros cúbicos de areia na faixa estudada, o equivalente a 290 mil toneladas.
Se a norte do Mondego a areia acumula, a erosão cresce nas praias a sul.
Na Leirosa, no extremo do concelho da Figueira da Foz, as autoridades construíram, no final de 2011, uma duna artificial para proteger um bairro habitacional do avanço do mar, com areia retirada a norte de um pequeno esporão ali existente, procedimento que merece críticas do investigador. "Interrompeu-se a alimentação a sul. Nunca era de tirarem a areia a norte do esporão, porque ela estava já a passar naturalmente para sul, tinham era de se ir buscá-la onde ela se acumula e não faz falta, na praia a norte do rio Mondego", argumentou.
Embora admita que os efeitos da obra do molhe norte se verifiquem até à praia da Osso da Baleia (Pombal), a erosão também afecta as praias de Vieira de Leiria e São Pedro de Muel.
"Em São Pedro, este verão, as pessoas ficavam sentadas em cima das rochas porque não havia areia. E a praia da Vieira também está numa situação de perigo. Formou-se um degrau erosivo por défice de areia com três, quatro metros [de altura] no final do verão", indicou.

Sacado daqui

Em tempo. 
Mais uma vez, deixo a pergunta que ando há anos a fazer publicamente neste blog: será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão na zona costeira na margem a sul do Mondego?

domingo, 17 de abril de 2022

Desviem as areias...

A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia, edição de Março de 2022

Se há coisa com que lido mal é com acidentes no mar. Sou filho, neto e bisneto de pescadores. Estas tragédias tocam-me profundamente. Tenho antepassados que tiveram o mar como sepultura eterna.


Naufrágios na barra da Figueira aconteceram muitos nos últimos 12 anos. Entre eles, o mais presente na memória das pessoas, foi o ocorrido no dia 6 do mês de Outubro de 2015. A Figueira da Foz ficou de luto. Ao final desse dia negro para a nossa comunidade piscatória, o arrastão Olívia Ribau afundou-se à entrada da barra e levou consigo cinco vidas. 


Porém, entre os inúmeros acidentes que ocorreram `na barra da Figueira, depois do acrescento dos 400 metros do molhe norte, destaco o que aconteceu em 25 de Outubro de 2013. O barco naufragado foi o "Jesus dos Navegantes". Registaram-se 4 mortos numa tripulação de 7 homens.

Passados pouco mais de 2 anos, em 21 de Dezembro de 2015, o Estado português, via Tribunal de Coimbra, condenou o Mestre Francisco Fortunato a uma pena suspensa de dois anos e seis meses de prisão.  O Homem do Mar foi acusado pelo Ministério Público do Estado Português de quatro crimes de "homicídio por negligência", por não ter cumprido a "Carta Náutica"… Não ter tido conhecimento de um "edital"… E não ter mandado vestir coletes e descalçar botas.

Mas será que "a forma como a barra do porto da Figueira da Foz foi construída não poderá ter ajudado ao naufrágio da Jesus dos Navegantes"? Essa foi, pelo menos, a tese do falecido mestre José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar.

A obra do acrescento dos 400 metros no molhe norte, iniciou-se em 2008 e ficou pronta em 2010. A partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar. Com o tempo acumulou as areias (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento levou ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Dada a pouca profundidade existente na ponta do molhe norte, o mar parte o mar nesse local, o que torna difícil as entradas e saídas aos pequenos de pesca e iates.

Exactamente no mesmo local - barra do porto da Figueira da Foz - depois da obra, em 26.10.2010, 20.01.2012, 10.04.2013 e 25.06.2013, aconteceram outros quatro  naufrágios, com três mortos. Depois  do acidente  com o "Jesus dos Navegantes" em 25.10.2013 com quatro  mortos, aconteceu o naufrágio do Olívia Ribau (e outros estiveram iminentes) com mais cinco mortos. Em Novembro passado, os graves problemas de segurança da barra da Figueira da Foz, com o assoreamento que torna o mar violento e traiçoeiro,  provocaram mais uma tragédia naquele local. Quatro amigos, pescadores amadores, morreram após a embarcação onde seguiam, a ‘Seberino II’, ter virado e naufragado entre as praias do Hospital e da Cova, a sul da barra.

Para quando a realização de um inquérito - a sério - à operacionalidade da barra depois das obras do prolongamento dos 400 metros do molhe norte?

No passado dia 10, perto da embocadura da barra da Figueira, o mar virou a lancha dos pilotos, que iam dar entrada a um navio que vinha com destino ao porto comercial para carregar argila. No acidente houve a registar 2 feridos e danos na embarcação utilizada pelos pilotos da barra da Figueira. Segundo o que li no Diário de Coimbra, "à situação não foi alheio o assoreamento". 

O velho problema de conseguir assegurar a manutenção desassoreada de uma instalação portuária  destinada também a barcos pequenos, de pesca e de recreio e não apenas a cargueiros continua. O acidente com os pilotos da barra confirma isso mesmo. Se há alguém que conhece a barra como as próprias mãos, são os profissionais que todos os dias operam na barra da Figueira e estão sujeitos a cumprir todas as regras e procedimentos instituídos na "carta Náutica".

Como certamente estão lembrados, 2021 foi ano de eleições autárquicas. Aconteceram a 26 de Setembro. O Governo, quiçá por mera coincidência, antecipou a divulgação pública do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para Setembro de 2021.  O documento foi apresentado no dia 12 de Agosto de 2021: esse foi o tempo considerado certo para anunciar o estudo de viabilidade do bypass. 

Continuamos a aguardar pelo tempo certo para o transformar em projecto... E, depois, em realidade. Recorde-se que o estudo do bypass, que custou 264 mil euros, foi adiado durante anos. Contudo, mais vale tarde do que nunca. Em 12 de Agosto, a  pouco mais de um mês da realização das eleições de 26 de Setembro de 2021, o ministro do Ambiente assumiu que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada. 

“Avaliada esta solução (da transferência de areias) não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, disse à agência Lusa João Pedro Matos Fernandes.

O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, apresentado na manhã de 12 de Agosto de 2021 pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avaliou quatro soluções distintas de transposição de areias e concluiu, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.

O estudo situa o investimento inicial com a construção do by pass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros. “Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, (a operação) possa ser financiada”, disse o ministro.

O sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há mais de uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz, será o primeiro em Portugal e idêntico a um outro instalado na Costa de Ouro (Gold Coast) australiana. É constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego. A tubagem estende-se, depois, para sul, com vários pontos de saída dos sedimentos recolhidos, que serão depositados directamente nas praias afectadas pela erosão.

A opção de avançar para a construção de um bypass era em Agosto de 2021, para o então presidente da Câmara da Figueira da Foz, Dr. Carlos Monteiro, uma solução que permitia “tranquilidade e esperança a quem usa o porto comercial, a quem usa o porto de pesca e à população da margem sul da Figueira da Foz”. Carlos Monteiro, na altura, disse que uma proposta a longo prazo “não é frequente” em Portugal e agradeceu ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes, por aquilo que considerou ser um gesto com “visão”.

Carlos Monteiro solicitou que o estudo  apresentado fosse “avaliado o mais depressa possível” e que o projecto “fosse desenvolvido”. Mas disse esperar, “fundamentalmente, que tenha a maturidade necessária para ser inscrito no Quadro Comunitário [Portugal] 2030. Atendendo aos valores, acredito que possa e deva ser”. 

Também na altura, o arquitecto Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo, se manifestou agradado com a decisão de se optar pelo bypass. “Agora temos uma responsabilidade de contribuir para que seja bem feito. Há uma série de dúvidas, estamos a trabalhar em coisas que já deram provas de funcionamento, o sistema australiano funciona há mais de duas décadas, mas há sempre dúvidas sobre os impactes”, notou.

O ministro do Ambiente recordou a primeira vez que ouviu falar “ao vivo” da hipótese do bypass na Figueira da Foz e lembrou o “ar zangado” do arquicteto “cheio de certezas absolutas”, quando o movimento protestava, em 2019, pela construção do sistema fixo. “Agradeço ao SOS Cabedelo, a forma, muito para além de reivindicativa, mas técnica, com que nos entusiasmou a chegar aqui”, frisou Matos Fernandes.

Passaram sete meses. Espero, sinceramente, que tudo tenha sido mais do que uma mera tentativa de jogada de propaganda eleitoral. 

"Há muitos anos que, para mim, a protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem e que o processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.

Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova. Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial..."

Escrevemos o que está entre comas, no blogue OUTRA MARGEM em 11 de Dezembro de 2006. Passados quase 16 anos, infelizmente, continua actual. Depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do Mondego tem avançado. A barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores. A Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade. A pesca está a definhar. Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...

O Dr. Santana Lopes é agora o novo presidente de câmara. É ele que tem que perceber e saber  lidar  com as as consequências das diferentes dinâmicas que construíram  e desconstruíram a orla costeira no concelho da Figueira da Foz. "Um sistema complexo com uma instabilidade natural (decorrente de marés, das correntes, dos fenómenos meteorológicos, das derivas de sedimentos) mas também decorrente da acção humana, salientando-se aqui a interferência da barra do porto marítimo da Figueira da Foz e do seu prolongamento". 

O impacto ambiental causado pelo crescimento dos molhes  - uma infraestrutura que inibe a deriva de sedimentos acumulados na praia da Figueira da Foz (seguramente a maior praia da Europa) acelerou a erosão da costa a sul, colocou ao território do nosso concelho desafios que têm de ser defrontados com responsabilidade e ousadia. 

As soluções, ao que parece existem. A proposta do bypass - um sistema mecânico de bombagem permanente de areias que permitam restabelecer em grande parte a dinâmica dos sedimentos que alimentam a costa, já foi assumida pelo ainda ministro do Ambiente como a mais indicada. 

Se a situação foi estudada e a solução encontrada, continuamos à espera de quê? "O mar é a nossa terra". Temos de saber entende-lo e saber lidar com ele. E, sobretudo, nunca tentar contrariar a sua força, pois isso é impossível... 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O momento não está para politiquices: a erosão costeira a sul da barra do Mondego é um assunto muito sério...

"Tempestade Doris: estes são os efeitos da tempestade que afectou a costa portuguesa nos últimos dias na Cova-Gala, na parte sul da Freguesia de São Pedro. Os acessos à praia foram em parte destruídos. O mar voltou a romper o cordão dunar e a invadir o pinhal. A situação a Sul da Freguesia de S.Pedro continua bastante preocupante."  
- Via Pedro Agostinho CruzPara ver melhor, clicar na imagem.

A praia da Figueira da Foz, o maior areal urbano do país, está a crescer, em média, 40 metros por ano, devido ao prolongamento do molhe norte do rio Mondego, afirmou um investigador do movimento das areias.
José Nunes André, geógrafo e investigador universitário, tem vindo a monitorizar a acumulação de sedimentos através de três perfis transversais, elaborados numa faixa de dois quilómetros de comprimento no areal entre a Figueira da Foz e Buarcos. "Tem dado uma média de 40 metros ao ano de crescimento da praia. E a sul [dos molhes do porto] temos o reverso da medalha, as praias estão a recuar assustadoramente. As praias da Cova Gala e da Leirosa recuaram 15 metros num ano".
De acordo com o investigador, o ritmo de crescimento do areal da Figueira da Foz é, actualmente, superior ao verificado aquando da construção original do molhe norte, nos anos 60 do século passado. A praia, cresceu cerca de 440 metros até à década de 1980 e, a partir daí, nos últimos 30 anos, a acumulação de sedimentos reduziu de intensidade e praticamente estabilizou. No entanto, com a obra de prolongamento do molhe - concluída no verão de 2010 -, o areal continuou a crescer, segundo as medições feitas por José André. 

Claude Chabrol, disse um dia o seguinte: "a estupidez é infinitamente mais fascinante que a inteligência, pois a inteligência tem os seus limites... Mas a estupidez não!" 
O meu Amigo Manuel Luís Pata, farta-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 14 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra"
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira"
Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será  sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".

E não foi por falta de avisos.
Extracto de uma carta, publicada no dia 26 de Março de 2007, no “Diário de Coimbra”, pág. 8, na secção Fala o Leitor, com o título: “Erosão das Praias”:
"Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “ Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!.. Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!...
É urgente contratar técnicos credenciados, de preferência Holandeses, para analisarem o precioso projecto elaborado pelo distinto Engenheiro Baldaque da Silva em 1913, do qual consta um Paredão a partir do cabo Mondego em direcção a Sul, a fim de construir um Porto Oceânico junto ao Cabo Mondego e Buarcos. Este Paredão, sim, será a única obra credível, não já para o tal Porto Oceânico mas sim para evitar que as areias vindas do Norte, se depositem na enseada, que depois a sucessiva ondulação arrasta-as e deposita-as na praia da Figueira, barra e rio."


Hoje, nas páginas do jornal AS BEIRAS, o SOS Cabedelo,  deixa alertas sobre as consequências do prolongamento do molhe norte e convida  os partidos a despertaram para a necessidade de se estudar a solução proposta por este movimento cívico que acredita que passa por uma realidade chamada bypass.
“Aquilo que se recomenda é que se elabore um estudo para se escolher a melhor solução”, sublinha Eurico Gonçalves, para quem “a esperança é a última a morrer”.  
“Se não for agora, será mais tarde, mas parte da areia do areal da Figueira da Foz vai ter de sair dali, porque ela não pertence àquele local”
E se das mais recentes diligências não sair uma solução? 
“Se daqui nada resultar, quem sabe o Presidente da República possa ajudar… Mas acreditamos que deverá ser desta que o problema vai ser encarado de frente”, respondeu Eurico Gonçalves.
Entretanto, o areal urbano não para de crescer. Neste momento, o mar encontra-se a cerca de 850 metros da avenida, tendo aumentado para o dobro desde o prolongamento do molhe norte.

Voltando ao senhor Manuel Luís Pata, também sempre uma das vozes discordantes do prolongamento do molhe norte.
Um dia, já distante, em finais de janeiro de 2008,  confessou-me: "ninguém ouve".
Recordo algumas frases de Pinheiro Marques numa entrevista dada à Voz da Figueira em 26 de Novembro de 2008 : “os litorais da Cova-Gala, Costa de Lavos e Leirosa vão sofrer uma erosão costeira muitíssimo maior, com o mar a ameaçar as casas das pessoas e o próprio Hospital Distrital”.
“Devido à orientação obliqua do molhe norte, os barcos pequenos, as embarcações de pesca e ao iates de recreio, vão ter de se expor ao mar de través. Poderá vir a ser uma situação desastrosa para os pescadores e os iatistas e ruinosa para o futuro das pescas e da marina de recreio”.

Não podemos esquecer  11 de abril de 2008, uma sexta-feira.
O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi adjudicado nesse dia, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, apesar dos vários alertas feitos em devido tempo e, agora, a realidade, continua a ser considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária para a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz.
Cerca de 9 anos depois de concluída a obra, a barra, para os barcos de pesca que a demandam está pior que nunca e a erosão, a sul, está descontrolada. 
Neste momento, pode dizer-se, sem ponta de demagogia, que é alarmante: o mar continua a “engolir” sistema dunar em S. Pedro, Costa de Lavos e Leirosa.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Erosão costeira: para já, a precupação é a onda, o surf, o negócio…


Recordando um post de 11 DE ABRIL DE 2008, aqui no Outra Margem.

“O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi hoje adjudicado, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária, vai permitir a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz e deverá estar concluída até Fevereiro de 2010.
Com um preço base de 12,5 milhões de euros, a intervenção compreende a extensão do molhe em 400 metros, bem como a ampliação do canal de navegação.”
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão na zona costeira na margem a sul do Mondego."



Hoje, 15 meses depois, ao lermos a página 9 do diário As Beiras verificamos que, infelizmente, tínhamos razão. Vale mais tarde que nunca. Pena é ser tão tarde, curiosamente a pouco mais de dois meses das próximas eleições autárquicas. Mas, isso é só um pormenor e deve ser apenas coincidência. Vejamos, então o que dizem hoje nas Beiras o vereador Lídio Lopes e o presidente da junta de freguesia de São Pedro, sobre o assunto:

“NO CABEDELO já se realizaram provas do campeonato do mundo de surf e várias etapas
do circuito nacional. Marcos Charana, presidente da Associação de Surf da Figueira da Foz,
lembra-se desses tempos. “O Cabedelo é uma das praias mais consistentes da zona Centro,
mas estamos prestes a perder a onda devido ao prolongamento do molhe Norte, com graves
prejuízos para a economia local”.
Sublinha, por outro lado, que o Cabedelo é o único sítio do concelho onde se pode fazer a iniciação à prática da modalidade.
Tânia Pinto, da direcção do Clube de Surf e Salvamento da Figueira da Foz, que tem escolinhas, corrobora: “é uma zona onde predominam as ondas com condições para iniciar a modalidade, ou seja, é o melhor local para a aprendizagem”.
Quando a onda não chega ao Cabedelo, a alternativa chama- se Cabelinho. Mas até esta poderá estar em vias de extinção.
É para tentar que a onda não desapareça que na Internet está a gerar-se uma vaga de fundo, impulsionada por surfistas, que exige soluções para os efeitos negativos das referidas obras (ver edição de sábado).
“Todos os desportos aquáticos radicais são importantes para a economia da freguesia, que oferece as melhores condições do concelho para a sua prática”, assevera Carlos Simão, presidente
da Junta de S. Pedro. O autarca defende, por isso, que “devem ser criadas mais e melhores condições para que os praticantes possam continuar a frequentar o Cabedelo”.
Mas, sem onda, a paisagem económica e desportiva não será a mesma. “Os praticantes já
se vinham queixando desse problema”
, diz Carlos Simão, advogando “uma solução para que o surf se mantenha”. Os efeitos do prolongamento do molhe Norte, acrescenta, por outro lado, “estão a ser nefastos para a freguesia. Os técnicos dizem que é só numa primeira fase. Esperemos que sim...”.
As obras vão beneficiar o acesso à barra e estabilizar a navegabilidade no porto comercial.
“Somos a favor que se encontrem soluções que vão ao encontro de todos os interesses em causa, mas os desportos aquáticos radicais são uma imagem de marca da freguesia de S. Pedro, e assim deve continuar”, remata Carlos Simão.
Lídio Lopes tutela o pelouro do Desporto e da Juventude. O surf e o bodyboard fazem parte
dos campos de férias da autarquia.
Portanto, “para a Câmara da Figueira, a prática de desportos aquáticos tem toda a importância”.
O vereador frisa ainda que “o Cabedelo é uma opção de excelência em tempos referenciada
como sendo das melhores ondas do mundo para a prática de surf”.

Assim sendo, conclui, “deve ser dispensada atenção no sentido de se criarem infra-estruturas
que confiram qualidade aos praticantes e a quem visita a cidade”
por causa do surf. Acerca dos efeitos das mencionadas obras, Lídio Lopes defende: “esse é um assunto que devemos monitorizar com os técnicos responsáveis pela obra no âmbito do estudo de impacte ambiental”.
O prolongamento do molhe Norte é uma obra da Administração Central.”

Bom, para já para Lídio Lopes e para o presidente da junta de freguesia de São Pedro, o importante é a onda, o surf, o negócio.
Um dia, e dois meses são 60 dias, ainda hão-de ser as pessoas.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Barra da Figueira: de erro em erro, estamos em 2022...

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) realiza hoje, pelas 18H00, no Auditório Municipal, uma sessão pública de esclarecimento sobre as medidas que visam mitigar a erosão costeira na Figueira da Foz. 
Há muito que a erosão costeira, a sul do estuário do Mondego, e o crescimento do areal, a norte, é uma fonte de problemas e preocupações a nível local.
Neste momento, os figueirenses anseiam por saber quando será feita a transposição de areia, de norte para sul da barra. 
Vamos ver se com esta sessão se fica a saber, pelo menos, o prioritário: para lá da já prevista transposição de areia, que outras iniciativas estão previstas, visando a protecção da orla costeira e das populações.

No nosso concelho, a erosão costeira está a afectar as praias de São Pedro, Costa de Lavos e Leirosa. A areia que tanta falta faz a sul, sobra no areal urbano: neste momento, a distância entre a marginal oceânica da cidade e o mar deve ultrapassar os 800 metros.
Contudo, existem outros problemas. A Barra da Figueira da Foz, por vontade dos homens, tornou-se numa armadilha mortal para os pescadores.
O aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira"
Em devido tempo, foram feitos avisos a que ninguém, com responsabilidades, ligou. Apesar de algumas  vozes discordantes – principalmente de homens ligados e conhecedores do mar e da barra da Figueira – foi concluído o prolongamento do molhe norte.
"A obra do aumento de quatrocentos (400) metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi exigida, anunciada, e aprovada, em 2006, 2007 e 2008; teve início neste último ano; realizou-se ao longo de 2009; e ficou pronta em 2010 — e, por isso, logo a partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar, e com o tempo acumulou as areias, ao longo dos anos (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento das areias levou, concomitantemente, ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os resultados não se fizeram esperar."
Tal com este blogue previu há anos (tudo foi dito, tudo se cumpriu), depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do Mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores e a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade.
Agora, que já aconteceu o que era facilmente previsível de prever - o norte da foz, onde em tempos existiu a “Rainha das Praias de Portugal”, transformou-se numa imensidão de areia; na Cova-Gala, na Costa de Lavos e na Leirosa, a falta de areia tornou esta uma ZONA DE RISCO ELEVADO - resta tentar remediar o que ainda for possível.
Na Figueira é assim: andamos sempre a correr a tentar emendar o erro. Fez-se um erro, tenta-se remendar com outro erro. E assim tem sido sucessivamente.
Toda a gente sabe porque se acrescentaram  aqueles 400 metros no molhe norte.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Aqueles 400 metros que acrescentaram ao molhe norte...

NA FIGUEIRA E NO PAÍS EXISTE UM GRANDE PROBLEMA: A BARRA.
Recordo uma postagem de 11 DE ABRIL DE 2008, uma sexta-feira.
“O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi hoje adjudicado, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária, vai permitir a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz e deverá estar concluída até Fevereiro de 2010.
Com um preço base de 12,5 milhões de euros, a intervenção compreende a extensão do molhe em 400 metros, bem como a ampliação do canal de navegação.”
Mas, será que alguém sabe, porque estudou, as REPERCUSSÕES QUE MAIS 400 METROS NO MOLHE NORTE terão?

Mas, neste País de merda,  já tinha havido "avisos" anteriores a quem de direito.
Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996. 
Manuel Luís Pata,  no extinto  Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto  concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava isto.

 “Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com  os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra  vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”
 Via Jornal de Notícias

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Porque o tema é a maior preocupação deste blogue ao longo de mais de 13 anos que leva de existência...

"Figueira da Foz. Erosão costeira, um problema, três dimensões diferentes"


"Desde o prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto comercial, um investimento de 14,6 milhões de euros, inaugurado em 2011, a erosão nas praias a sul acentuou-se, com destruição da duna de protecção costeira em vários locais, com especial ênfase na praia da Cova, alvo de duas intervenções de emergência nos últimos anos, a última concluída este verão.

Em junho, o Governo anunciou a transferência, por dragagem, de três milhões de metros cúbicos (m3) de areia, de uma zona no mar a norte do molhe norte do porto da Figueira da Foz para combater a erosão das praias a sul e garantir a navegabilidade na barra do rio. O projecto, orçado em 19 milhões de euros, deverá começar em 2020 e o presidente da Câmara, Carlos Monteiro, aplaude a iniciativa.
“A areia que está a mais no canal, que está a mais na entrada do porto, é colocada para abastecer as praias a sul. Todos ganhamos e resolvemos aqui um problema que foi causado pelo porto, mas que foi causado porque a actividade portuária na nossa cidade também é extremamente importante”, disse à agência Lusa Carlos Monteiro.
O autarca enfatizou que o projecto a iniciar em 2020 “é um trabalho a quatro, cinco anos”, já que três milhões de metros cúbicos de areia representam um valor entre os cinco e os sete milhões de toneladas (a densidade da areia molhada situa-se entre os 1.700 e os 2.300 quilos por m3), o que equivale a uma fila compacta de camiões com cerca de 1.500 quilómetros.
“Mas é um trabalho para a vida, vai ter de ser um trabalho constante”, assinalou Carlos Monteiro, dizendo acreditar que, “no mínimo”, com a decisão governamental e a articulação entre ministérios, autarquia e administração portuária, “foi dado um passo incontornável para resolver um problema que se resolve da maneira mais eficiente”.
“Já ninguém permite que se usem mal os dinheiros públicos. E esta é uma situação em que ele é bem aplicado, é bem gerido”, afirmou.

O movimento SOS Cabedelo leva cerca de uma década de intervenção cívica relacionada com a questão das areias e os seus impactes, quer na erosão a sul do Mondego, quer na acumulação a norte do rio, por acção da «barreira» do molhe norte. A praia da Figueira da Foz é o maior areal urbano da Europa, continua a crescer e a afastar o mar da cidade, está “completamente soterrada” e é um “desastre ecológico” que não se resolve com a medida governamental, argumenta Miguel Figueira.
O SOS Cabedelo defende a instalação de um sistema de transferência mecânica de areias entre as margens do Mondego, conhecido por ‘bypass’, porque, de acordo com Miguel Figueira, esta solução “ataca os três problemas”: a erosão a sul, a acumulação a norte e a navegabilidade na barra do rio, por onde se faz o acesso ao porto comercial e ao porto de pesca.
Desde 2011 que o movimento pugna pela realização de um estudo económico do ‘bypass’ – recomendação ao Governo aprovada no Parlamento em 2017 -, tendo este ano sido lançado um concurso público para uma análise custo/benefício daquele sistema face a outros, como as dragagens, orçado em cerca de 300 mil euros.
Apesar de o concurso estar lançado, Miguel Figueira não deixa de criticar o anúncio do investimento de 19 milhões de euros na transferência de três milhões de metros cúbicos de areia, que, defende, “não garante sustentabilidade absolutamente nenhuma” a longo prazo, clamando que “é duas vezes má despesa”.
“Estamos a pagar uma análise de custo/beneficio depois de fazer o investimento. E depois de fazer o investimento, se calhar já não há dinheiro para por em prática as conclusões do estudo. Mais uma vez, adiámos por um ou dois anos um problema e neste adiamento esgotámos a verba que nos permitiria garantir a sustentabilidade a longo prazo”, argumentou.
O extenso areal urbano localizado entre o molhe norte e a vila piscatória de Buarcos tem 110 hectares (o equivalente a 154 relvados de futebol), o que significa que metade da cidade caberia na praia.
A quantidade de areia ali depositada nunca foi medida – a praia tem vários metros de altura a nascente e a sul, mas essa altura não é uniforme ao longo do areal – sabendo-se, apenas, que a distância da avenida ao mar ultrapassa os 700 metros no seu ponto mais largo e continua a aumentar.
Eurico Gonçalves
O surfista e elemento do SOS Cabedelo, Eurico Gonçalves, olha para o extenso areal e diz acreditar que “o maior tesouro, o tesouro do surf, está soterrado na Figueira da Foz”, escondido pela areia e que é uma “inevitabilidade” que reapareça.
O tesouro, explica o surfista, é a onda que “quebrava” na praia antes da implementação dos molhes portuários, na década de 1960 e que terá sido surfada, vinte anos antes, por um figueirense, Nunes Fernandes, construtor da primeira prancha de surf na Europa, de acordo com os registos existentes.
“Acreditamos mesmo que é uma inevitabilidade retirar toda aquela areia, [da praia], temos de usar aqueles sedimentos na protecção da orla costeira”, defendeu Eurico Gonçalves.