sexta-feira, 16 de junho de 2023
O problema estrutural da Figueira
Novobanco vende dívida de 37 milhões do hotel “Titanic” da Figueira da Foz
Via Jornal ECO
"Inaugurado em 2014, o próprio hotel assume que “parece adotar a forma de um cruzeiro encalhado na praia” devido à forma elíptica. Os locais até o apelidaram de “Titanic” por verem semelhanças com o navio que afundou no meio do oceano em 1902. Para o Novobanco, a ideia é mesmo desencalhar um processo que vem do tempo do BES.
O desenvolvimento do hotel, cuja localização na Avenida do Brasil privilegia a vista para o mar, coube à Oasis Plaza, constituída em 2013 e que tem atualmente Francisco Bandeira, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), como administrador único. De acordo com o portal InformaDB, a Oasis Plaza é detida pela Cyclonecipher, que é, por sua vez, controlada pela angolana Armangola.
O processo de construção do hotel não esteve isento de obstáculos, como relatam os meios locais. Aquando da inauguração, o jornal A Voz da Figueira lembrou que, “além do problema com um dos sócios que se encontra fugido à justiça, o outro promotor tem encontrado dificuldades junto da banca para financiar o restante investimento”. Dificuldades que estavam a ser ultrapassadas, com os bancos comprometidos a que a obra fosse concluída, segundo garantia a câmara municipal ao jornal naquela altura.
O hotel de 4 estrelas tem 160 quartos e dispõe ainda de 15 salas de reuniões com uma capacidade total para 700 pessoas, dois restaurantes, três zonas de bar, entre outro tipo de equipamento turístico e de bem-estar.»
quinta-feira, 15 de junho de 2023
Exposição «O Mar é a nossa Terra» está aberta ao público
Via Município da Figueira da Foz
Ontem, quarta-feira, dia 14 de junho, no Meeting Point Point, na Praceta Ledesma Criado, realizou-se a cerimónia de abertura da exposição «O Mar é a nossa Terra- A construção sensível da linha de costa», com curadoria dos arquitetos Miguel Figueira e André Tavares, e comissariada, entre outros, pelos arquitetos figueirenses Pedro Maurício Borges e Pedro BMarcaram também presença na cerimónia o Presidente da Assembleia Municipal, José Duarte; os Vereadores Anabela Tabaçó, Manuel Domingues, Olga Brás e Ricardo Silva; representantes de diversas entidades locais e muitos figueirenses.andeira e por Eurico Gonçalves.
Estiveram também presentes no evento o Presidente da Assembleia Municipal, José Duarte; os Vereadores Anabela Tabaçó, Manuel Domingues, Olga Brás e Ricardo Silva; representantes de diversas entidades locais e muitos figueirenses.
A exposição, que “tendo como ponto de partida as contradições físicas e a cultura popular da praia da Figueira da Foz, percorre um conjunto de experiências de pensamento, desenho e configuração das linhas de costa e da sua relação com a densa dimensão do oceano”, esteve inicialmente patente, em 2020, na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, entidade com quem o Município estabeleceu um protocolo para a apresentação da exposição na Figueira da Foz.
A Fundação Centro Cultural de Belém fez-se representar pela Vogal do Conselho de Administração, Madalena Reis, a qual expressou a vontade desta exposição, “pensada por um grupo alargado de pessoas “que “ousaram, sonharam e tiveram ambição”, ser “o início de uma colaboração muito profícua”.
Madalena Reis referiu ainda que «O Mar é a nossa terra» é “um projeto que merece ser visitado e discutido”.
Já o curador, Miguel Figueira, para quem o dia foi “marcante”, considerou que a exposição, que já foi vista além-fronteiras, “voltou a casa”, uma vez que a mesma nasceu na Figueira da Foz no seio de um movimento de pessoas, já com uma década.
“Vale a pena ter convicções”, enfatizou o arquiteto figueirense, que se considera pertencente à geração do meio, ou seja, “aquela que deve entregar aos netos a praia que recebeu dos avós”.
O Presidente da Câmara Municipal, Pedro Santana Lopes, congratulou todos os envolvidos na montagem e manifestou a certeza de que “foi um excelente trabalho” que permitiu ganhar “um espaço de exposição enriquecido” para a cidade.
A cerimónia contou com um momento musical protagonizado por alunos do 3º e 4º anos da Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico do Viso, que cantaram três temas originais, «a AREIA», «a ONDA», «O SURF», com letra e música de Rita Ruivo Marques e inspirados em tópicos do livro «O Mar é a Nossa Terra», de Miguel Figueira.
«O Mar é a nossa terra», “cartografa e apresenta as contradições existentes entre a terra e o mar, sob a perspetiva da arquitetura, do ordenamento do território e da construção da paisagem, matéria tão relevante para a sociedade por ser objeto de atenção de um conjunto de arquitetos que têm desafiado os limites convencionais da disciplina”.
De salientar que a exposição, que irá ficar patente até 29 de maio de 2024, data em que terminam as comemorações do 20º aniversário do Núcleo Museológico do Mar, e onde se encontra visitável um núcleo especial, dedicado à Faina Maior, o «Núcleo do Bacalhau», tem entrada gratuita e dispõe de vários materiais de visita inclusivos, nomeadamente audioguia, vídeos com legendagem em língua gestual, folhas de sala com escrita com símbolos e escrita em braille, folheto em escrita simplificada, e experiências sensoriais.
A luta da "Arte-Xávega"
Via Campeão das Províncias, edição de 15 de Junho de 2023
O que estava em causa era a possibilidade de ser ou não, de uma vez por todas, remediada a lenta agonia e o progressivo desaparecimento da "Pesca de Cerco e Alar para Terra" ("Arte-Xávega"), e a possibilidade de ser ou não evitado o fim das suas elegantíssimas embarcações em forma de "meia-lua" ("o mais belo barco do mundo" segundo Alfredo Pinheiro Marques, "a embarcação mais interessante da Europa", segundo Fernando Alonso Romero, o extraordinário e fascinante "Barco-do-Mar", ou "Barco-da-Arte", usado desde há séculos nos litorais portugueses do Extremo Ocidente Peninsular e que, ainda hoje, ostenta a sua orgulhosa proa desde Espinho até à Praia da Vieira), e a possibilidade de ser ou não evitado o fim das comunidades dos homens, mulheres e famílias que fazem dessa "Arte" secular uma realidade viva e identitária de Portugal.
José Vieira. foto sacada daqui |
A Escala do Clima - SOS Cabedelo
Via INFORMAR
"Em diálogo, o Arquitecto Miguel Figueira (coordenador dos movimentos Cívicos "O Mar à Cidade-Bring Back The Bay" e "SOS Cabedelo", e membro do Conselho Consultivo e Científico do CEMAR-Centro de Estudos do Mar) e o Professor Filipe Duarte Santos (da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, coordenador do Grupo de Trabalho para a Estratégia Nacional Portuguesa para as Zonas Costeiras, e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável-CNADS), falam sobre a erosão do litoral, o aquecimento global, as alterações climáticas, e a defesa da orla costeira, particularmente no caso, infelizmente exemplar, da região da Figueira da Foz do Mondego, no programa radiofónico A Escala do Clima, na rádio pública portuguesa RTP - Antena 1."
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Cabecinhas pensadoras...
Via Campeão das Províncias, edição de 15 de Junho de 2023
A remoção do coberto vegetal do areal das praias está suspenso, publicou o Executivo do Município da Figueira da Foz, na rede social Facebook.
PITONISA
Albert Camus, escritor, filósofo, jornalista franco-argelino (1913-1960), Prémio Nobel de Literatura em 1957: “não há que ter vergonha de preferir a felicidade.”
A partir de hoje, o autor do OUTRA MARGEM, depois de reunir em assembleia geral extraordinária com os accionistas detentores do título, decidiu passar a assinar como nome de exibição das suas mensagens: PITONISA.
Como sabem, o conceito de PITONISA assenta na crença de que existem indivíduos que afirmam possuir algum tipo de faculdade ou poder com a qual podem prever acontecimentos futuros. Estas pessoas recebem várias denominações: adivinhos, clarividentes, profetas, bruxas ou pitonisas.
Quem acompanha, com alguma atenção, este espaço, sabe que este conceito assenta que "nem uma luva" ao seu autor.
"Fico curioso com as vozes que se levantam contra tal remoção, e questiono-me: onde estavam quando se fazia a extração das areias, com tratores e camiões, em plena praia e a atravessar a cidade? E quando se implementou o RFM Somnii (que eu apoio) com todas as consequências para o ambiente, devido à falta de civismo de alguns? E quando “plantaram” mesas e bancos de betão (!) em pleno areal? Nesses momentos houve silêncio…."
"Cedência do imóvel, pelo Município da Figueira da Foz, exclui a área contígua, terrenos onde é permitida construção de habitação"
"A Universidade de Coimbra (UC) vai instalar-se no antigo terminal rodoviário. As obras de reabilitação vão iniciar-se em breve. Santana Lopes tinha preferência pelo Sítio das Artes para a instalação do campus da UC, que manifestou quando ainda era candidato à presidência da Câmara da Figueira da Foz. Contudo, o conjunto de edifícios, vizinho do antigo terminal rodoviário, fora cedido pelo anterior executivo camarário, por 50 anos, ao IEFP, para ali instalar um centro de formação profissional. As obras de reabilitação para este efeito deverão começar nos próximos meses."
O MAR É A NOSSA TERRA vai ser apresentada na cidade a que sobretudo diz respeito
Publicamos um texto do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), "uma das entidades que participou e contribuiu para a preparação e a apresentação desta exposição", que nos vai certamente ajudar a entender melhor o que vamos ver.«Vai ser feita a abertura, na cidade da Foz do Mondego, da grande exposição O MAR É A NOSSA TERRA, coordenada pelo Arquitecto Miguel Figueira (dos movimentos Cívicos "O Mar à Cidade-Bring Back The Bay" e "SOS Cabedelo", e do Conselho Consultivo do CEMAR-Centro de Estudos do Mar) e pelo Arquitecto André Tavares (do Centro Cultural de Belém).
Trata-se da grande exposição, sobre o Mar e a Foz do Mondego (como caso de estudo exemplar), nos seus aspectos de Hidráulica Marítima (erosão e assoreamento do Litoral), Urbanismo, Ambiente, Turismo de Praia, Ecologia e Sustentabilidade Local, que primeiro havia sido inaugurada e havia estado patente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, de Março a Agosto de 2020, e depois disso havia sido apresentada em 2021 em França, em Nice. Agora, em 14 de Junho de 2023, essa exposição é por fim apresentada na própria cidade a que sobretudo diz respeito, na Figueira da Foz do Mondego, com o apoio da Câmara Municipal local, e aqui irá ficar patente ao longo deste ano de 2023.
O Centro de Estudos do Mar (CEMAR), a entidade que, desde 1996 (logo no ano a seguir à sua criação em 1995), havia sido quem na Figueira da Foz havia chamado a atenção, pioneiramente, para a situação catastrófica da erosão e do assoreamento do litoral figueirense (jornal Público de 06.09.1996, etc.), e em 2008 havia denunciado o já então previsível avolumar dessa catástrofe ambiental, que então estava iminente, com o prolongamento, quase para o dobro (400 metros), do molhe norte do porto fluvial da Figueira da Foz, veio depois disso a ser a entidade que veio a apoiar, desde o primeiro momento, os movimentos cívicos "SOS Cabedelo" e "O Mar à Cidade-Bring Back The Bay", quando esses movimentos cívicos começaram as suas meritórias acções, em 2009-2010, em resposta ao prolongamento do molhe que efectivamente foi iniciado nesses anos.
Agora, em 2020-2023, uma vez mais, o CEMAR teve o prazer e a honra de ser uma das entidades que participou e contribuiu para a preparação e a apresentação desta exposição. O CEMAR orgulha-se, sobretudo, por ter sido quem, ao longo dos anos, contribuiu para a aproximação das dinâmicas, das acções e das reivindicações — articuladas entre si, indissociáveis, e mutuamente emblemáticas e úteis —, por um lado dos praticantes e amantes do "Surf", e por outro lado dos pescadores da "Arte" (a pesca de cerco e alar para terra, actualmente chamada oficialmente "Arte-Xávega"), duas actividades marítimas com grande expressão nos litorais da Beira Litoral portuguesa.
"Os mais pobres dos pobres, com o mais belo barco do mundo"…
"Esses pescadores são, tecnicamente, surfistas…"»
Cormac McCarthy 1933/2023
terça-feira, 13 de junho de 2023
O Mar É a Nossa Terra estará patente ao público no Meeting Point, na Esplanada Silva Guimarães a partir de quinta-feira
Conheço o PS há 50 anos...
Previno, desde já, que a explicação vai ser longa. Vou abordar quase 50 aos da minha «estória» de vida e o mesmo tempo da história da democracia portuguesa, vividos por mim na primeira pessoa.
Quem tiver curiosidade, continue. Para mim será um gosto acompanharem esta reflexão que fiz, com a juda de muita leitura, aproveitando 5 dias de descanso e de isolamento numa aldeia perdida na Serra da Estrela.
Quiçá, ainda mais grave: da tentativa de apropriação, por elementos do Partido Socialista, do movimento estudantil simbolizado no “17 de Abril”.
Nada mais falso. Essa tentativa, mais ou menos velada de reescrever a história, pode, com o apoio acrítico ou a pura ignorância dos meios de comunicação, ter tido algum sucesso.
Porém, não teve força suficiente para historicamente impor essa mentira.
A saber.
Em 1969, nem Partido Socialista havia. O que havia era a ASP, Acção Socialista Portuguesa, fundada em Novembro de 1964, em Genebra, por Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa.
Assim sendo, a filiação de qualquer movimento estudantil ou político da época no actual Partido Socialista, só seria legítima se aqueles, ou parte daqueles que então actuaram, se identificassem com a acção política de Mário Soares ou das organizações políticas por ele dirigidas, visto ele ser, indiscutivelmente, mais até do que depois do 25 de Abril, a figura mais visível desse sector da oposição democrática.
"Mário Soares, desterrado para S. Tomé, por deliberação do Conselho de Ministros presidido por Salazar, tinha regressado em Novembro de 1968 cerca de um mês e meio depois da tomada de posse de Marcello Caetano. Logo a seguir a este regresso, um núcleo da ASP (Associação Socialista Portuguesa) de Coimbra, constituído por um ou dois estudantes (Luís Filipe Madeira e um outro) e apoiantes históricos de Mário Soares na região, como António Arnaut, António Campos e Fernando Valle, organizou em Coimbra, no ambiente restrito de uma República – “Os Kágados” –, uma sessão com Mário Soares para falar sobre o desterro em S. Tomé, o seu regresso e a situação política do país. No ambiente agitado do meio estudantil que então já se vivia em Coimbra, a presença de Soares e as suas intervenções n’ “Os Kágados” não tiveram praticamente nenhum impacto político entre os estudantes, tal era o distanciamento da juventude oposicionista ao “socialismo” de Soares e seus amigos. Aliás, esse encontro não terá corrido nada bem a Soares, apesar de apadrinhado por alguns notáveis vultos da intelectualidade coimbrã, como o professor Paulo Quintela e outros. Não apenas por Mário Soares não captar nenhuma simpatia entre a juventude de então, mas também por o seu regresso do desterro, tão próximo da tomada de posse de Marcello, ter levantado uma onda de boatos sobre a sua acção futura política que, por mais injustos que fossem, o prejudicavam seriamente."
O mesmo distanciamento se notou, aliás, meses mais tarde, no II Congresso Republicano de Aveiro (Maio de 69) no qual a intervenção de Soares, centrada na exigência de cumprimento do art.º 8.º da Constituição (1933), foi acolhida com muita frieza. Posteriormente, "em Outubro de 1969, na campanha eleitoral para as legislativas – as primeiras da era marcelista -, Soares quebrou a unidade oposicionista, apresentando em quatro distritos (Lisboa, Porto, Braga e Castelo Branco) listas da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática) apoiadas pela ASP, que recolheram uma ínfima parcela dos votos da oposição democrática. Isto, apesar de durante a campanha eleitoral, Soares se ter esforçado por marcar inequivocamente todas as diferenças (Comício de Entrecampos, no - posteriormente chamado - Teatro Vasco Santana) que o distinguiam (a ele e aos apoiantes do seu movimento) da CDE (Comissão Democrática Eleitoral), movimento unitário da oposição democrática, por ele considerado de inspiração comunista, não obstante nele participarem activamente e em lugares de grande destaque alguns daqueles que mais tarde ocuparam lugares de grande relevo no Partido Socialista, como, por exemplo, Jorge Sampaio."
Soares, porém, mantinha-se fiel, como aliás sempre se manteve, mesmo depois do 25 de Abril, a uma transição do fascismo para a democracia segundo os princípios e os valores inscritos no “Programa para a Democratização da República”, "apresentado em 1961 pela velha guarda republicana."
Em 1973, viria a ser o “primeiro” fundador do Partido Socialista e dois anos depois (1975) o líder do partido mais votado em eleições livres.
Mário Soares, não gozava na década de 60 da simpatia da maior parte dos portugueses. Era mesmo olhado com alguma hostilidade pela juventude estudantil antifascista.
Então, como explicar a popularidade e as vitórias eleitorais depois do 25 de Abril?
Quem andou no "barulho", sabe que em 1975 e anos seguintes o PS cavalgou uma forte onda anticomunista, que Soares soube habilmente aproveitar e até instrumentalizar a partir de tudo o que à esquerda do Partido Socialista se estava a passar durante a Revolução.
E recorda que muito do que se passou: por exemplo, que muitos dos que foram responsáveis pelo que se passou, acabaram, anos mais tarde, depois da “normalização” e já "regenerados", por integrar as fileiras do Partido Socialista.
Depois de Soares, tivemos muitos outros. E tivemos Socrates... E tivemos Seguro, que o mesmo é dizer, "o mais vulgar populismo de direita".
Recorde-se que Seguro, na disputa eleitoral interna com Costa, "apresentou um conjunto de propostas que agradava a todos aqueles que consciente ou inconscientemente pretendem desviar as atenções dos verdadeiros problemas para as fazer incidir sobre questões menores, frequentemente anti-democráticas, que nada resolvem e apenas têm o condão de permitir acercar-se do poder, em último termo, tomá-lo, àqueles que delas fazem uso."
Para se fazer uma ideia mais precisa do que representam algumas das propostas apresentadas por Seguro, basta lembrar "que só os prejuízos semestrais do BES ou o «desfalque» do BPN davam para pagar por décadas os cinquenta deputados que Seguro queria eliminar, eliminando com eles a representatividade democrática do Parlamento."
Seguro, que tem uma imagem de homem sério, politicamente é um homem de direita. Consequentemente, continua a defender uma política de direita.
Já seria motivo de profunda preocupação se estas propostas tivessem sido apresentadas para “ganhar votos”, junto do eleitorado socialista menos atento, aos portugueses em geral, de modo a cativar uma parcela do eleitorado situado à direita ou no centro-direita, capaz de votar no PS, depois de profundamente decepcionado pela política do Governo de Passo Coelho.
Nestes pressupostos todos, as propostas de Seguro continuariam a ser reprováveis, mas apesar de tudo justificáveis ou, pelo menos, compreensíveis, no “vale-tudo” eleitoral.
Mas não era esse o caso. Estas propostas dirigiram-se "àqueles a que poderíamos chamar a «elite» do eleitorado socialista, àquela fatia do eleitorado composta pelos militantes, que são a essência do partido, e pelos simpatizantes que voluntária e empenhadamente se mobilizaram para escolher o “número um” do Partido Socialista."
Esse foi o problema: "sendo Seguro um homem que faz política desde a mais tenra idade, nado e criado nas “jotas”, profundo conhecedor do partido, dos seus militantes e dos simpatizantes mais empenhados na vida político-partidária, a apresentação daquelas propostas no auge da disputa eleitoral intra-partidária só podiam querer significar que elas tinham a virtualidade de seduzir eleitoralmente aqueles a que se dirigiam".
As propostas apresentadas então por Seguro explicam muito daquilo que é o PS.
Ao tentar ganhar votos entre os militantes do partido e os simpatizantes inscritos passou, digamos assim, uma espécie de atestado de menoridade política da “essência” do Partido Socialista.
Se o então responsável máximo do partido e profundo conhecedor dos seus meandros, entendia que as propostas publicitadas eram susceptíveis de cativar a excelência do eleitorado socialista ou, pelo menos, a sua maior parte, então a conclusão a que inevitavelmente se tem de chegar é que o Partido Socialista se situa ainda muito mais à direita do que qualquer análise imparcial poderia supor.
E esse PS continua a andar por aí. E Seguro também...
E, agora, "temos" o PS de Costa.
Há quem diga que "Pedro Nuno Santos será o próximo líder do PS".
Mas será, "que consegue chegar a primeiro-ministro"?
A ala do centro e a ala da direita do PS, teme que o ex-ministro "seja uma inflexão à esquerda".
Num partido como o PS, "uma dita ala esquerda é mesmo uma coisa muito complexa." Muitos consideram que no actual momento, "o partido se situa à esquerda." Sendo assim, sabendo que estamos a fazer uso de uma lógica formal muito redutora e que as coisas podem ser vistas de outra maneira, vamos admitir que essa dita ala esquerda do PS está realmente descontente com o rumo que o partido tem tomado.
Portanto, no futuro a inflexão do PS, a meu ver, tem várias hipóteses de ser ao centro, ou, ainda mais visível, à direita.
Na derrota de Freitas, o PS dividiu-se em duas candidaturas (uma de direita, Soares; outra, de esquerda, Zenha). Os independentes e católicos de esquerda, na ausência de um candidato consensual, apoiram Lurdes Pintassilgo. O PCP, que começou por apresentar o seu candidato, desistiu na primeira volta a favor de Zenha, não tendo, todavia, esses votos sido suficientes para garantir a Salgado Zenha a passagem à segunda volta.
Soares acabou por ganhar, graças aos eleitores que na primeira volta votaram Pintassilgo e ao voto dos comunistas, cujo apoio foi decidido num Congresso Extraordinário, seguido por uma disciplina de voto sem falhas, sem a existência da qual jamais Soares teria sido Presidente da República.
Na vitória de Sampaio concorreram factores difíceis de convergir noutras situações. Em primeiro lugar, Sampaio tendo feito o seu percurso até 1978 à margem do PS e quase sempre, desde muito antes do 25 de Abril, em oposição a Mário Soares, granjeou na restante esquerda uma simpatia e um estatuto como nenhum outro socialista alguma vez teve. Por outro lado, Sampaio, apesar de não gozar da simpatia da maior parte dos “históricos” do PS e de ter rompido com Guterres, conseguiu, numa altura em que Guterres estava politicamente muito ocupado na preparação da campanha para as legislativas (Estados Gerais), antecipar a sua candidatura e impô-la ao PS como um facto consumado. Apesar de Sampaio não ser o candidato que Guterres escolheria, se o tivesse podido fazer, o PS (oficial) viu-se obrigado a apoiá-lo seguindo assim a restante esquerda que nem sequer levou qualquer candidato às urnas, já que tanto Jerónimo de Sousa (PCP) como Alberto Matos (UDP) desistiram a seu favor.
Depois, é o que sabemos. Em 2006, Cavaco foi eleito e em 2011, reeleito. Tanto numa como noutra eleição, o PS foi incapaz de apresentar uma candidatura consistente e susceptível de ser apoiada pela esquerda.
Em 2006, Sócrates, completamente inebriado com a maioria absoluta que tinha acabado de alcançar um ano antes, desprezou as presidenciais e minimizou a sua importância.
Soares, já sem fôlego para novo mandato, querendo continuar a “ajustar contas” com Cavaco, numa época e num contexto em que já não estava em condições de o fazer, viu-se confrontado com o aparecimento da candidatura de outro socialista, Manuel Alegre, avidamente apoiado pelos que na área do PS e suas proximidades se estavam posicionando contra Sócrates, tendo-se então assistido a uma verdadeira luta fratricida, com corte de relações pessoais e acusações de toda a ordem entre ambos os candidatos. O clima criado pelos dois candidatos e a maioria absoluta de Sócrates desmobilizaram completamente o eleitorado de esquerda, tendo Cavaco sido tranquilamente eleito logo na primeira volta.
Em 2011, Cavaco foi reeleito, deixando logo no dia da vitória um aviso muito claro do que iria ser a sua presidência nos cinco anos subsequentes: mesquinha, vingativa e sectária.
Não enganou ninguém!
E chegámos a Marcelo. E é o que sabemos.
E porquê? Não existia um candadato com um perfil reconhecidamente vencedor à esquerda?
Porém, esse candidato existia no seio do Partido Socialista. Existia mas não foi escolhido, nem ele demonstrou publicamente qualquer interesse em desempenhar esse papel.
Na euforia da vitória “interna“ de António Costa, supôs-se – as sondagens ajudavam a este entendimento – que facilmente derrotaria a direita nas legislativas de 2015, alcançando uma maioria absoluta. E é neste contexto que é incentivada no seio do PS, informalmente, mas com apoios muito claros da liderança e de todos os que lhe são muito próximos, a candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Acontece que sucedeu o que toda a gente sabe: António Costa não alcançou a maioria absoluta, nem sequer a maioria relativa nas legislativas e aquela candidatura, que havia sido lançada com base numa pressuposição que falhou, passou quase de imediato a ser contestada no interior do Partido Socialista pelos opositores de Costa, pelos adversários da solução governativa entretanto alcançada e pelos ressabiados da ressaca das primárias.
E como sempre acontece no Partido Socialista, também desta vez, os oponentes de liderança não tiveram qualquer problema em “empurrar” para a disputa eleitoral uma personalidade da direita do partido, que não tinha, objectivamente, quaisquer condições para ganhar eleições, mas cuja candidatura teria o efeito – efeito que ninguém com um mínimo de experiência política poderia deixar de antecipar – de desmoralizar e desmobilizar o eleitorado socialista e da esquerda em geral, impedindo desta modo a polarização da eleição entre o candidato da direita e o da esquerda, com vista a obrigar aquele a definir-se politicamente.
Dada a divisão reinante no seio do PS, Marcelo pôde fazer uma campanha apolítica como se previa, assistindo de palanque aos ataques cruzados das “candidaturas socialistas”, e ainda teve a sorte ter sido objectivamente favorecido pelo aparecimento de, pelo menos, dois “candidatos folclóricos”, cujo discurso e a divulgação que os media fizeram, muito contribuíram para a consolidação da campanha à volta de questões de escasso interesse político.
Se o Partido Socialista perdesse a chamada ala esquerda e se dele se afastassem aqueles eleitores que à esquerda, às vezes contrariados e quase nunca convencidos, votam nele por não se reconhecerem ou não confiarem nas demais alternativas existentes, o PS deixaria de parecer o que é e passaria a ser um partido de centro direita.
A sua preocupação é apenas uma: garantir a alternância relativamente ao partido imediatamente à sua direita.
O PS é isso mesmo. Mesmo com uma "ala esquerda" e com um núcleo relativamente importante de votos da esquerda, o PS é como é – apesar da "geringonça", não fez e não faz uma política em que a esquerda se consiga rever e apoiar.
É preciso ter presente a história do Partido Socialista e a sua verdadeira natureza.
Assim como o papel dos demais “partidos irmãos” europeus, digam-se eles socialistas, social-democratas ou trabalhistas, depois da Queda do Muro e da implosão da URSS. Esses tais "partidos irmãos do" PS, devidamente descaracterizados foram em grande "levados pela vertigem da História".
Não souberam, ou não quiseram, compreender o que realmente se estava a passar, tendo sido inclusive por obra sua que todas as portas foram abertas para o relançamento de um capitalismo sem freios com as consequências que agora estão à vista e contra as quais esses mesmos partidos socialistas se consideram impotentes para as contrariar ou inverter.
O PS, em 25 de Abril de 1974, "intitulava-se um partido à esquerda".
Todavia, nunca houve politicamente uma “maioria de esquerda”, apesar de ela existir aritmeticamente, nem houve qualquer tipo de entendimento à esquerda minimamente durável. Houve sim uma coligação com o CDS, o único que não votou favoravelmente a Constituição.
Porquê? Porque o PS de Mário Soares tinha uma estratégia muito clara da qual não nunca se afastou um milímetro: institucionalizar em Portugal uma democracia representativa, se possível de base exclusivamente parlamentar, sem qualquer tipo de cedências a qualquer outra forma de poder que não a resultante do voto popular.
"Mário Soares seguiu à risca esta estratégia, fazendo as alianças de ocasião que lhe pareceram as necessárias para a consolidar e recusando, sem problemas de consciências ou hesitações, qualquer tipo de entendimento à esquerda.
Mário Soares acreditava na solidariedade dos partidos socialistas e social-democratas europeus, acreditava no “socialismo em liberdade” e acreditava acima de tudo na Europa como palco ideal de concretização das suas ideias políticas. E continuou a acreditar, nos anos imediatamente subsequentes à Queda do Muro e à desagregação da URSS, que estavam, finalmente, reunidas as condições ideais para pôr em prática aquele ambicioso projecto político."
Aliás, "é bom que se recorde que não foi sob o comando executivo de Soares à frente do PS que a organização económica consagrada na Constituição Portuguesa foi revista e completamente descaracterizada, mesmo tendo em conta a Lei n.º 77/77. Soares patrocinou e promoveu, juntamente com o PSD, a revisão de 1982, que no essencial consagrou aquilo que fora a sua estratégia politica depois do 25 de Abril. Mas foi com a revisão de 1989, promovida pelo cavaquismo com o apoio do PS de Constâncio que se abriu à porta às privatizações e tudo o mais que elas trouxeram. Cumprida a tarefa, Constâncio demitiu-se de secretário-geral do PS por divergências insanáveis com a família Soares, na altura centradas em João Soares."
Mesmo quando o PS esteve politicamente mais à esquerda nunca a sua política favoreceu qualquer entendimento à sua esquerda. Meia dúzia de anos depois da revisão constitucional de 89, veio o “guterrismo” que escancarou as portas da economia à Europa.
O PS, hoje, pratica o neoliberalismo, atenuado pela promoção de um certo assistencialismo que a existência de dinheiro com fartura possibilita.
Temos no poder a nova geração de socialistas a preparar o caminho para o capitalismo sem freios, voraz e insaciável que jamais abrandará a sua marcha com vista à constituição de uma sociedade inteiramente dominada pelo mercado. Uma sociedade onde impera o poder do mais forte, onde campeia a liberdade ilimitada, bem à semelhança do que se passa na selva.
Não tenhamos iliusões, é para onde nos dirigimos pela mão do PS.
Evento realizou-se pela primeira vez no Portinho da Gala...
Presidente do Centro de Cultura e Desporto (CCD) dos Trabalhadores da Câmara da Figueira da Foz, Nuno Mendes: “o balanço é positivo, perante as expetativas que tínhamos [tendo em conta que foi a primeira vez que o evento se realizou naquele espaço e, por outro lado, devido à instabilidade meteorológica]”.
O CCD vai entregar um donativo de 500 euros aos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, provenientes da Festa da Sardinha de 2022. Entretanto, o clube dos trabalhadores da Câmara da Figueira da Foz criou quatro bolsas de estudo para o ensino superior, no valor de 500 euros cada uma, destinadas a filhos de sócios. A seleção tem como fatores de ponderação o mérito escolar e a capacidade económica do agregado familiar.
O populismo é um perigo que tem sido alimentado...
Recorde-se: em 15 de Fevereiro de 2020, André Ventura passou pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, onde teve uma reunião com o presidente da câmara, que era na altura Carlos Monteiro.
Como diria a CMTV, foi OUTRA MARGEM, em rigoroso exclusivo, quem anunciou a vinda do deputado do Chega.A André Ventura deu jeito e credibilidade ser recebido por um autarca do Partido Socialista.
O que, politcamente, dava enorme jeito para as aspirações políticas de Carlos Monteiro.
Passou o tempo. Entretanto, estamos em 2023.
Via UM JEITO MANSO
"O balão do populismo em Portugal está a encher a olhos vistos, insuflado pela Comunicação Social. (... e também pelo Presidente Marcelo?)
... em Portugal, em vez de se tentar erradicar o populismo, não apenas a comunicação social anda com os populistas ao colo, promovendo-os em permanência, como alguns dos outros partidos pensam que, para não irem pelo ralo, têm que ombrear em populismo com os populistas.
.... se o Ventura vai à Feira do Livro, sem motivo legítimo que se divise, a comunicação social vai atrás e é vê-lo, a fingir que é uma pessoa decente, a dar palpites, a fazer exigências, a ser demagogo e, no fundo, a mostrar-se como o troca-tintas que é, falando para as câmaras e para os microfones.
A Iniciativa Liberal também resolveu que deveria guinar para o lado populista da política ao pôr de lado o Cotrim e ao escolher este que por aí anda a fazer barulho sem dizer uma que se aproveite. Mas as televisões e as rádios andam atrás dele e ele, tal como o Ventura, tem uma capacidade infinita para ser troca-tintas, demagogo e vendedor de banha da cobra.
Montenegro, neste campeonato em que vale tudo, não sendo capaz de se afirmar como um líder decente e confiável, emula os outros dois e lança atoardas para o ar, não apresentando uma ideia, uma única, a que os portugueses reconheçam valor.
Falta aqui o Bloco de Esquerda que, no meio da mudança de liderança, tem andado mais apagado. Senão seria a quarta força a poluir a democracia com atoardas e a atirar-nos areia para os olhos. Aliás, veja-se a miserável actuação de Pedro Filipe Soares na CPI, portando-se como uma espécie de agente pidesco.
A nuvem de poluição que esta gente lança sobre a vida política é uma vergonha. Mas, mais do que isso, é um perigo. E é um perigo que tem sido alimentado pela Comunicação Social."
E não só...
Sounds of Travel, a partir de poemas de Robert Louis Stevenson
Parceria entre o Pateo das Galinhas e o Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra.