quarta-feira, 31 de agosto de 2016

É bom conhecer o passado, ter boa memória e não esquecer este covagalense e grande Senhor: se há figueirense que merece a atribuição de uma Medalha de Mérito Cultural, esse cidadão chama-se Manuel Luís Pata.

Não foi por acaso que, na semana passada, coloquei esta imagem como foto de capa no meu facebook.
Contudo, sejamos, desde já, claros.
A nostalgia não é boa companheira,  se não for acompanhada de lucidez. 
Sem lucidez a nostalgia é perigosa. 
A lucidez é que permite que a memória esteja no sítio que deve ocupar. 
A memória nostálgica é perigosa. Significa imobilismo, significa amargura, significa sempre dor. 
A lucidez permite-nos assumir a memória voltando a dar-lhe vida como período do nosso passado que é útil e bom recordar.

Vamos então tentar olhar para este quadro, pintado pelo recentemente falecido pintor Cunha Rocha para a família Gaia Braz, com lucidez.
A imagem que desenterrei da minha memória ao olhar para este quadro, já desapareceu há anos. 
Foi levada, nos anos 80 do século passado, por culpa e responsabilidade da Junta Autónoma das Estradas, com a conivência do poder autárquico figueirense.
O presidente da câmara da Figueira da Foz, nessa altura, era Joaquim Manuel Barros de Sousa.
Na altura, ainda não existia a freguesia de S. Pedro e a única e perseverante voz que se levantou, lutou e protestou contra esta mal feitoria que foi feita à nossa Terra foi Manuel Luís Pata.
Foi (mais...) uma luta perdida. Mas, agora, passados todos estes anos, como todos temos oportunidade de constatar, Manuel Luís Pata tinha razão.
A variante levou este postal magnifico da nossa Terra. 
Ainda bem que o artista, em boa hora, pintou esta obra que ficou para a posteridade...
Era tão bonita a antiga borda do rio da minha Aldeia.

Ficámos sem poder reconstruir aquilo que seria hoje o ex-libris da Aldeia.
A reconstrução nem sempre é possível... 
Contudo, por vezes, a única forma de começar de novo é precisamente esta - crescer do nada, já que absolutamente nada se tem a perder
Numa situação destas ou surge o maior dos desânimos ou a maior das forças.
E Manuel Luís Pata nunca desanimou.
O maior exemplo que Manuel Luís Pata nos deu e continua a dar, apesar dos seus mais de noventa anos e de todas as mazelas e incompreensões que o seu corpo e a sua alma tiveram de suportar ao longo da vida, e que as pessoas pensam que é a teimosia - que é força de vontade dos pobres - para mim, é outra coisa: é sim, do meu ponto de vista, um dos raros exemplos de verdadeira perseverança que conheço... 
Foto Bela Coutinho, obtida via Cemar

Os figueirenses sempre tiveram medo de assumir as suas posições. 
Antes do 25 de Abril, por razões óbvias.  E, agora, no tempo que nos dizem ser da democracia, continuo a conhecer muito pouca gente que arrisque tornar-se cidadã de corpo inteiro. 
E todos sabemos porquê.
Continuam a existir represálias, mais ou menos encapotadas.
Por isso é que, numa sociedade como a figueirense, são tão importantes e decisivos cidadãos como Manuel Luís Pata.
Todos nascemos completos. Contudo, só poucos conseguem viver assim.

A coluna vertebral permite que caminhemos de forma erecta. 
Utilizar a coluna para andarmos levantados, fazendo frente a quem não quer que a usemos para esse fim, é um dever de cidadania. 
Manuel Luís Pata é um desses raros cidadãos: continua erecto e  consequente...

Festival Gliding Barnacles começa hoje

Para ver melhor clicar na imagem sacada daqui

terça-feira, 30 de agosto de 2016

"Vila Verde quer recuperar território retirado pela reforma administrativa"

"A reorganização da administração do território, levada a cabo pelo anterior Governo, começou e acabou nas freguesias.
Ainda hoje os autarcas locais criticam que os governantes de Lisboa só tivessem coragem para atingir “o elo mais fraco”.
Quando Paulo Júlio, secretário de Estado do ministério tutelado por Miguel Relvas, apresentou o contestado Livro Branco da Reforma da Administração Local no Casino Figueira ouviram-se vozes de indignação.
José Elísio, presidente da Junta de Lavos, foi dos mais fervorosos contestatários, entre as centenas de pessoas que se encontravam no Salão Caffé do Casino Figueira.
O político figueirense chegou, até, a advertir que o fim da freguesia de Lavos poderia levara ao derramamento de sangue. 
O que o histórico autarca do PS e do PSD – independente desde 2009 – não imaginava naquele dia é que iria ter direito a um jackpot, oferecido em bandeja pela reforma administrativa. E foi particularmente generoso." - Via AS BEIRAS

Nota de rodapé, sacada daqui.

Como é diferente a noite na Aldeia!..

"Esperava um debate sobre a “noite”! Sobre as regras de funcionamento dos estabelecimentos nocturnos, de comercialização de bebidas, do horário de encerramento, da limpeza e segurança no seu funcionamento e toda uma parafernália de normas adoptadas, essas sim, acessíveis a uma discussão e reflexão pública importante para os cidadãos.
Considero a “noite” perniciosa, onde se torna fácil acontecerem episódios indesejáveis, e nunca compreendi as brandas leis nacionais que a regulam.
Além disso, a noite é cara para as famílias e nociva para os jovens. Afirmo: a noite é má para todos – pais, educadores, forças de segurança, brigadas de limpeza urbana, bombeiros, responsáveis políticos, etc.
Pergunto: que fazem adolescentes na “noite” filhos ou não de diplomatas? É urgente mudar comportamentos, e já diziam os antigos – a noite é má conselheira!"
Isabel Maranha Cardoso, na sua habitual crónica das terças, no jornal AS BEIRAS.

Nota de rodapé.



Aqui, nesta outra margem, à noite, estou longe dos grandes potentados turísticos, do bulício, do barulho irritante, da procura incessante de um lugar para aparcar, do tomar as refeições à pressa, de ter que dar a moedinha... 
Aqui a noite ainda é noite. E o dia continua a valer a pena!..
Aqui, nesta outra margem,  a noite ainda não é “a má conselheira”...
Gosto da noite na Aldeia! 
Para mim, continua a ser a melhor parte do dia.

Pessoas que vivem com uma deficiência, são a maior minoria... E se ao longo da vida não tivermos outra deficiência, todos temos a possibilidade de chegar a velho... Que o mesmo é dizer: na Figueira, é capaz de ser pior que morrer...



Pergunta do jornalista: 
Como é ser atleta cego na Figueira da Foz, sem infraestruturas de atletismo? 
Resposta de Carlos Cordeiro: 
A minha vida de atleta é muito complicada, porque temos de gostar mesmo daquilo que temos e focarmo-nos em vencer. Não temos infraestruturas adequadas para que possamos treinar mais afincadamente e de forma mais profissional. Quando fui campeão da Europa em atletismo e medalha de bronze na Polónia, o meu treino foi todo na praia: lançamento do peso, salto em comprimento… As corridas eram feitas no passeio. Foi assim que me preparei.
Outra pergunta do jornalista: 
Não há comendas para os atletas com deficiência?
Resposta do entrevistado:
Nunca as “vi”. Quando conquistamos medalhas no estrangeiro, temos direito a um prémio em dinheiro da Secretaria de Estado do Desporto: ainda estou à espera do meu [relativo à medalha de bronze conquistada na Polónia]. Como eu, há muitos outros atletas deficientes que, se calhar, ainda não receberam esse prémio.
E e terminar esta citação (o bom mesmo seria ouvirem o vídeo acima) ainda outra pergunta do jornalista:
Sente a falta de semáforos com sinais sonoros na cidade?
Sem comentários, fica a resposta de Carlos Cordeiro:
Não temos, mas fazem muita falta. Há [muitas] barreiras arquitetónicas na Figueira da Foz.

Via Figueira TV e AS BEIRAS

"A Verdadeira História de Portugal…" - Nota prefacial de Alfredo Pinheiro Marques, director do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), no livro "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…"

De "altieiros" a "vareiros", mas sempre capazes de recomeçar navegações e pescas longínquas desde a Índia e o Brasil até ao Canadá e à Terra Nova, já desde os séculos XV-XVI (na chamada "Época dos Descobrimentos") existiram em Portugal navegadores e pilotos com o nome de família Luís (e, no século XVI, um deles, Lázaro Luís, em 1563, até foi também um cartógrafo… responsável pelo célebre atlas que hoje se conserva na biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa), e depois disso, mais tarde, nos séculos XVIII-XIX (na época da asfixia e da decadência marítima e económica portuguesa), existiram nos litorais desertos portugueses da Ria de Aveiro e Ovar, "sozinhos com Deus e o Mar", de São Jacinto e Ílhavo até aos areais da foz do Mondego, companhas da "Arte" (a pesca de arrasto para terra, com barcos em "meia-lua") chamadas com o nome de "companha dos Luises"
Não é portanto de admirar que, depois, nos séculos XIX-XX — na época em que, com novas tecnologias norte-americanas, a partir dos Açores e da Figueira da Foz (1885-1886), os Portugueses conseguiram recomeçar a fazer pescarias longínquas do bacalhau na Terra Nova (1886), e logo depois, também, a partir de Ílhavo, na Gronelândia (1931) —, uma vez mais se tenham afirmado como expoentes máximos e como exemplos paradigmáticos dessa faina árdua e heróica, quer como "primeiras-linhas", quer como contramestres (e, logo depois, também, como responsáveis mecânicos e motoristas dos lugres e outros navios já motorizados), homens de gerações sucessivas dessa mesma família "dos Luises". Antepassados e familiares próximos do nosso caro Amigo Senhor Manuel Luís Pata — ele próprio também descendente, pelo lado materno, dos Pata, outra das famílias dos primeiros patriarcas que no século XVIII vieram dos litorais da Ria de Aveiro e Ílhavo para fundarem as companhas da "Arte" na Cova, junto à foz do Rio Mondego (num dos exemplos da "diáspora dos ílhavos", ou da "colonização das areias do litoral português"… a diáspora a que o autor destas linhas prefere chamar "o humilde descobrimento marítimo de Portugal, pelos pescadores portugueses"…).

Secular e heróica aventura… Trágica, e marítima… Uma aventura feita de coragem e de sal, de necessidade e de sorte, pobreza e solidão, acaso e vento, esforço e determinação.

Só a título de exemplo, diga-se que no fatídico ano de 1938 — no ano em que tantos homens e navios se perderam — quando, no dia 10 de Maio, a bordo do lugre-motor "Trombetas II" (da Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca, da Figueira da Foz), nove homens foram levados borda fora por uma súbita vaga assassina, e sete deles desapareceram para sempre, três dos mortos eram da família de Manuel Luís Pata (eram o seu tio paterno João Luís, o seu tio materno Manuel Maria Pata, e um seu primo, sobrinho de sua Mãe). E, desses nove homens arrastados pela vaga assassina, os dois náufragos que, nesse dia, apesar de tudo, desesperadamente, ainda puderam ser resgatados ao mar e à morte certa, foram salvos pelo próprio contramestre do navio, Joaquim Maria Luís (o Pai de Manuel Luís Pata), e pelos seus outros dois irmãos que também iam a bordo, e que sobreviveram, Francisco Luís, e Armando Luís (os outros dois tios paternos de Manuel Luís Pata).
Iam a bordo quatro irmãos… E um deles não pôde ser salvo.

Esse tio Francisco Luís, veterano de dezoito campanhas, viria a ser depois, ele próprio, a partir de 1939, o contramestre do lugre "Lusitânia", o outro grande navio da empresa figueirense do mesmo nome (e o primeiro a ser motorizado em Portugal, em 1932). E, depois disso, Francisco Luís viria a ser contramestre de outros mais navios dessa mesma empresa, a mais significativa e longamente instalada na Figueira da Foz. Mas em 1958 sofreu uma trombose, no mar, ao largo da Terra Nova, e não houve dinheiro para o repatriarem imediatamente para um hospital em Portugal.
E o outro seu tio, Armando Luís, veterano de vinte e duas campanhas, viria a ser em 1946 o contramestre do lugre-motor "Ana I", da Sociedade de Pesca Luso-Brasileira, da Figueira da Foz, navio em que já em 1943 e 1944 tinha navegado (quando o seu jovem sobrinho Manuel Luís Pata também embarcou, como motorista, fazendo o seu próprio baptismo de mar na Terra Nova).

Quanto ao Pai de Manuel Luís Pata, Joaquim Maria Luís, já antes em 1934 havia sido o contramestre desse mesmo navio "Lusitânia" (o melhor da companhia do mesmo nome, e recentemente motorizado); e em 1944 veio a sê-lo também do "Ana I", da Luso-Brasileira (levando a bordo o seu próprio irmão Armando, como pescador, e o seu próprio filho, como motorista); e em 1946 veio a sê-lo igualmente do "João Costa", também da Luso-Brasileira, etc, etc. Depois da tragédia em que perdeu o irmão mais novo, João Luís, em 1938, Joaquim Maria Luís nunca mais quis embarcar com o mesmo capitão do "Trombetas" em que havia sido contramestre. Foi um dos melhores homens do mar da Figueira do seu tempo, requisitado por vários navios, capitães e companhias.

E ainda havia mais um outro irmão — o qual em 1938 não ia a bordo do segundo "Trombetas" da Lusitânia (e por isso não participou da tragédia) —, Manuel Luís, o qual já em 1935 havia sido contramestre do majestoso lugre-motor de quatro mastros "José Alberto", o grande navio da Sociedade de Pesca Oceano que veio a ficar como o mais emblemático dos navios da Figueira da Foz, e que era comandado pelo capitão figueirense João de Deus junior (João Deivas), de ascendência originária dos Açores e de Buarcos. E o homem do leme que, no dia 10 de Maio de 1938, apesar de também ferido pela onda assassina, aguentou firme… e assim salvou o navio… era um primo do contramestre…

É isto a História — a verdadeira História… — de Portugal…

Filho e sobrinho dos contramestres dos mais célebres veleiros da Foz do Mondego nos anos 20-30-40 do século XX (e ele próprio, nas décadas de 40-50, responsável das máquinas de novos navios motorizados figueirenses entretanto surgidos), Manuel Luís Pata fez depois disso a sua vida de mar, durante os anos 60, em Moçambique (acreditando no sonho africano que então na sociedade portuguesa foi cultivado); e voltou a Portugal, nos anos 70, com esse sonho desfeito (como tantos outros); e a partir dos anos 80-90 abalançou-se a ter a coragem — uma outra forma de coragem… —de fazer aquilo a que na sua cidade da Figueira da Foz quase ninguém mais se atreveu (só ele e o seu conterrâneo João Pereira Mano): reunir os elementos para a História Marítima da região da Figueira.

O Senhor Manuel Luís Pata publicou em 1997, 2001 e 2003 os seus três volumes em que coligiu notícias, referências escritas e testemunhos orais, textos, comentários e recordações pessoais, sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e publicou um livro de memórias do Zambeze (2008); e eis que, por fim, agora (em 2016) — uma vez mais numa edição preparada pelo próprio Autor (e uma vez mais com a colaboração editorial que pela parte do CEMAR-Centro de Estudos do Mar tivemos e temos o prazer e a honra de lhe prestar) — publica ainda mais um livro seu… Um livro no qual agora retoma muitos dos elementos contidos nos seus três volumes anteriores sobre a Figueira da Foz e a pesca longínqua do bacalhau, mas, desta feita, apontando-se mais especificamente para a realidade dos estaleiros e das construções navais levadas a cabo na Foz do Mondego para servirem a esse tipo de pesca longínqua, outrora tão significativa nesta região, e depois tão decaída.

Com efeito, nas últimas décadas do século XIX (a partir do seu [re]início em 1885-1886), articulada com os círculos dos Açores e da Nova Inglaterra (costa leste dos E.U.A.), foi a Figueira da Foz (nela se incluindo Buarcos e a Cova-Gala) que se cotou como a praça pioneira, dominante, e mais significativa, da (nova) Pesca Longínqua do Bacalhau que veio a ser praticada pelos Portugueses. Só na década de 30 do século XX (e depois, mais ainda, nas décadas seguintes, devido ao cada vez maior estrangulamento do seu impossível porto fluvial) a Figueira perdeu essa sua primazia quantitativa e qualitativamente (uma primazia que Ílhavo e a Ria de Aveiro herdaram, e que honrosamente logo depois avolumaram, cada vez mais e mais, de maneira esmagadora, ao longo do século XX). A própria Atlântica acabou por se transferir para o Tejo (Seixal). Só a Lusitânia (e os seus Estaleiros Navais do Mondego, entretanto criados em 1941) se manteve na Figueira. Tudo mais faliu. Incluindo até, com o tempo, a Oceano (cujo último navio figueirense foi para a sucata… e não conseguimos salvá-lo, em 1999… e cujos antigos estaleiros Foznave, em 2015, acabaram abandonados, roubados, vandalizados).

Extraordinário erro histórico, o de em 1913, quando a frota bacalhoeira da Figueira da Foz liderava a nível de Portugal inteiro (!), não se ter avançado para a construção do porto oceânico de águas profundas em Buarcos (Cabo Mondego) que então foi proposto pelo figueirense Com. Antonio Arthur Baldaque da Silva (ele próprio, talvez não por acaso, o especialista de construção de portos com verdadeira viabilidade e também, ao mesmo tempo, o especialista, com verdadeira competência e verdadeira sistematicidade, da Etnografia e da Tecnologia das comunidades dos pobres Pescadores Portugueses)… Extraordinário erro histórico…! Erro de funestas e trágicas consequências para o futuro da cidade da Foz do Mondego, da região de Coimbra e da Beira Litoral, e de Portugal inteiro.

Já o escrevemos, e aqui o repetimos. Se a Figueira da Foz tem reunidos os elementos para a sua História Marítima nos séculos XIX-XX, deve-o à Cova-Gala (São Pedro): deve-o ao Capitão João Pereira Mano, e ao Senhor Manuel Luís Pata. E nós tivemos o extraordinário prazer, e orgulho, em ter sido o Centro de Estudos do Mar (CEMAR) que esteve na publicação dos seus livros, desde 1997.

Alfredo Pinheiro Marques
(Centro de Estudos do Mar - CEMAR)

domingo, 28 de agosto de 2016

Para quê a critica construtiva?.. Os ignorantes não lhe darão atenção...

"Serra da Boa Viagem", uma crónica com a assinatura de João Vaz, ontem publicada no jornal AS BEIRAS, onde fica demonstrado como nas pequenas voltinhas do dia a dia nos podemos surpreender com coisas que estão à vista, mas que quem tem a obrigação de o fazer nunca repara! 


"Dezenas de famílias aproveitaram o sábado solarengo para um “picnic” na serra. Os parques de merendas mais próximos da estrada, e mais centrais, estavam cheios. Conseguimos lugar num local mais afastado.
Surpresa: o sítio das merendas estava limpo. Contentores para o lixo não havia. Informação, também não. Cuidados a ter: perigo de incêndio. Nada sobre o assunto.
Nota-se trabalho florestal, árvores cortadas, reduzindo as “infestantes“ (acácias). Os caminhos estão arranjados, permitindo o acesso à mata e descobertas bizarras. Uma torre de betão, com data de 1926, coberta de trepadeiras e fungos, sem indicação da “história”. Um enigma. Logo a seguir, uma vedação delimita uma pequena “gruta” que esconde algum veio de água. Informação? Nada.
Esta lacuna, a falta de informação, persiste no site da Câmara da Figueira da Foz. A descrição da serra é tecnocrática: “A rede viária tem 26,57 quilómetros de estradas”, repetindo-se a expressão “rico património natural”, mas sem conteúdo. Através do site, não sabemos o mais importante: nada é dito sobre flora e fauna; percursos, rotas, cuidados a ter, etc.
Quem escreveu o texto parece que nunca visitou a Serra da Boa Viagem, ou só passou de carro, foi à Bandeira e voltou. Se queremos informação sobre o património natural, temos os artigos do biólogo Horst Engels, que trabalhou este assunto, durante anos, sem qualquer apoio. A Serra da Boa Viagem merece mais atenção por parte do município."

Morreu o Armando Correia, mais um que sempre pertenceu à "outra margem do poder"...

A imagem, mostra o Armando Correia fotografado no decorrer do jantar comemorativo do 4º. aniversário do Barca Nova, realizado no dia 29 de janeiro de1982, em Vila Verde, que constituiu na altura uma jornada na defesa intransigente de um ideal comum, aos que estiveram - e foram centenas - presentes naquela memorável jornada de confraternização democrática.

O Pedro Biscaia foi quem me deu a notícia: "na semana passada morreu o Armando Correia".
Estava hospitalizado em Leiria. Ao que me disse o Pedro, morreu durante o sono.
Armando Correia, no seu percurso profissional foi funcionário administrativo na Lusitânia Companhia Portuguesa de Pescas, SA.

Convivi com o Armando Correia no Barca Nova. Era ele que tinha de gerir as parcas disponibilidades financeiras da Empresa Jornalística do Mondego, SARL, a proprietária do jornal. 
Outra das suas paixões foi o associativismo. Em Vila Verde, penso que, pelo menos, passou como dirigente pelo GRV
No jornal, fiel ao seu interesse pelas Colectividades de Cultura e Recreio, assinou vários trabalhos ligados às Colectividades do concelho da Figueira da Foz. 
A sua preocupação era divulgar as actividades culturais, que se iam fazendo um pouco por todo o nosso concelho. Ele sabia que era necessário motivar os jovens para que o associativismo tivesse futuro.
Era um Homem sério, rigoroso e exigente. Estava sempre a chamar a atenção da redacção para a necessidade de cortar nas despesas, dadas as debilidades que existiam a nível económico.
Como me disse o Pedro ao telemóvel: "foi mais um que cumpriu a vida".
Os meus sentimentos à família de Armando Correia.

Nota de rodapé.

Tudo se vai escoando. Nem o homem nem as suas obras perduram para sempre. 
Tudo tem o tempo que o Tempo permite! 
A notícia da morte do Armando Correia, fez-me pensar nos que já partiram e que colaboraram no Barca Nova
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto AmorimWaldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins. E, agora, Armando Correia.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido,  Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Passe a imodéstia, acabei de citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"... 
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.  
Entretanto, tudo se foi escoando. 
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento. 

Não deixamos de brincar porque envelhecemos. Envelhecemos porque deixamos de saber brincar...

Um brincalhão (ou brincalhona...) anda a telefonar-me de um telemóvel com número privado com alguma insistência.
(Pelos vistos, para alguém, tentar chatear, é sinónimo de teimosia...) 
Toca, toca e, como, por norma, não atendo números anónimos,  não ligo...
Duas vezes, porém, dada a insistência, fiz a  experiência: atendi...
Do outro lado, tirando uma respiração ofegante, silêncio absoluto!..

Nota de rodapé.
"Odeio quem me rouba a solidão sem, em troca, me oferecer verdadeira companhia."
Nietzsche

sábado, 27 de agosto de 2016

Recanto da borda do rio

foto António Agostinho
Um dia, não muito distante, este recanto esteve cuidado.
E era lindo. 
Hoje, está descuidado e esquecido. 
É um destroço daquilo que foi. 
Sobrou o desleixo.
E, as ervas... 
E, no entanto, ainda deu uma bela fotografia!..

Cerimónia de apresentação do livro de Manuel Luís Pata

Foto de José Vidal
"Dos que escreveram sobre a Cova e Gala, ainda vivos,  Manuel Pata,  é a fonte mais capacitada e esclarecedora. É possuidor de uma memória extraordinária e fiel e de uma vivacidade invejável".  - Jorge Mendes

"(…) com a colaboração editorial do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), foi lançado ao público o livro "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…", de Manuel Luís Pata - o homem do mar figueirense e historiador autodidacta que, no passado (1997-2001-2003), já havia sido responsável pelos três volumes anteriores sobre "A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau", e o qual, desde 2005, é associado do CEMAR (desde 2015 Associado Honorário)."

(…) temos muita honra e muito prazer por assim termos podido contribuir para a publicação de mais uma obra que vai ficar para sempre na História Marítima desta região, dos seus Pescadores, e dos seus Homens do Mar. Havia já sido o CEMAR que, no passado (desde 1997 até 2008), havia sido responsável pela preparação editorial, na Figueira da Foz, de todos os outros livros anteriores de Manuel Luís Pata (o qual, como já se disse, desde 2015 já havia sido distinguido com o título de Associado Honorário desta associação científica, e em relação ao qual, desde então, se continua a esperar pela distinção honorífica autárquica cuja proposta, na Figueira da Foz, ficou logo então, em devido tempo, apresentada). (…)" - Alfredo Pinheiro Marques, Director do CEMAR.

A cerimónia de apresentação do livro "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…", de Manuel Luís Pata, teve nível elevado.
Isto, se tivermos apenas em atenção as intervenções de Alfredo Pinheiro Marques, Director do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), que teve a responsabilidade editorial, e de Jorge Mendes, que foi o principal impulsionador da edição da obra literária da vida de Manuel Luís Patao homem do mar figueirense e historiador autodidacta .

Sobre as intervenções dos políticos presentes na mesa e que usaram da palavra, pouco há a dizer.
O presidente da Junta limitou-se a aproveitar a ocasião para fazer campanha eleitoral para as autárquicas 2017. 
O presidente da câmara esteve ao seu nível... 
Teve o desplante e a infelicidade de iniciar o discurso dizendo que não conhecia Manuel Luís Pata!..

A Figueira e a Cova e Gala, politicamente falando são isto mesmo: uma pobreza franciscana..
Portanto, por estes lados, eleger um político é como vender um sabonete. 
Esclareça-se, desde já, que nada tenho contra os sabonetes.
Contudo, tenho tudo contra os políticos sabonete! 
Alguém, depois do discurso de ontem ao fim da tarde no Desportivo Clube Marítimo da Gala, conseguiu perceber o discurso e o  pensamento do presidente Ataíde?
Continuem a votar assim e depois queixem-se que o sabonete não presta!

O meu Amigo Manuel Luís Pata não merecia os políticos que teve num momento tão importante da sua já muito longa vida.
Os políticos limitam-se a viver o tempo de imediatismo primário. 
Não conseguem distinguir entre o essencial e o acessório, entre o permanente e o efémero, entre o necessário e o dispensável.
Para eles conta apenas o momento.
Privilegiar o presente, em detrimento do futuro, é um erro crasso.

Parabéns e obrigado, Senhor Manuel Luís Pata.

"(…) Os que não conseguem lembrar o Passado estão condenados a ter que o repetir (…)"…
- George Santayana, 1905 
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)"… 
Aldous Huxley, 1959 

Duas unidades industriais da Figueira da Foz no top ten das mais poluidoras de Portugal!..

Imagem sacada daqui
De uma vez por todas, temos de tomar consciência de que a poluição está a dar cabo da  qualidade de vida da Figueira.
Não podemos continuar a destruir o legado que recebemos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Posto Médico da Cova e Gala: o silêncio nunca foi inocente...

Mais ou menos há um mês, parte do tecto de uma das duas salas de enfermagem e pensos que existem no Posto Médico da Cova e Gala, ruiu durante um fim de semana.
O mesmo é dizer, que desde essa altura, o Posto Médico da Cova e Gala está a funcionar apenas com uma das salas de enfermagem e pensos.

De sublinhar, que a Junta de Freguesia de S. Pedro foi imediatamente colocada a par da situação.
Ao local deslocou-se a Secretária desta Instituição. Na sequência, uma brigada de trabalhadores procedeu à limpeza do espaço.
De sublinhar e registar, igualmente, que o Agrupamento do Centro de Saúde Baixo Mondego (ACES),  na pessoa do seu Director António Morais, foi também alertado e até hoje mantém-se em silêncio.

Decorrido um mês, dado que tanto a Junta de Freguesia de S. Pedro como o Agrupamento do Centro de Saúde Baixo Mondego (ACES), se mantém em silêncio, há já quem se inquiete e interrogue se isto não poderá ser o pretexto que faltava para o encerramento (que esteve anunciado) do Posto Médico da Cova e Gala?

Depois de tanto tempo decorrido, sem que quem de direito resolva um problemazito cuja resolução depende de uma ou duas centenas de euros, a inquietação começa a tomar conta e a preocupar os utentes do Posto Médico da Cova e Gala...
Em tudo  que tem a ver o com o Posto Médico da Cova e Gala o silêncio continua a não ser inocente!..

Nota de rodapé.


O resto da minha intervenção na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada em 29-04-2016, poderá ser lida aqui, quando a acta nº. 3/2016 ficar disponível para o público...

ACTUALIZAÇÃO ÀS 13 HORAS:
Quem me conhece bem sabe que tenho, desde sempre, a Aldeia no coração, critério indispensável para assumir e protagonizar a crítica construtiva, o quer dizer que, quando o assunto tem a ver com a minha Aldeia, o que mais gosto é de dar boas notícias.
Portanto, é com enorme satisfação que posso informar "que a Junta de Freguesia de S. Pedro vai iniciar as obras de restauro do tecto da sala de enfermagem e de pensos do Posto Médico que, desde 1959, serve a população local, em breve."

Sessão de lançamento do livro "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…", de Manuel Luís Pata, hoje, pelas 18.00 horas, no Desportivo Clube Marítimo da Gala

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Na Figueira, 245 anos depois do seu nascimento, continua a ser necessário e oportuno recordar Manuel Fernandes Tomás, "O Patriarca da Liberdade" e da consciência cívica...

"Os oradores foram unânimes em realçar o vanguardismo ideológico do irredutível defensor da liberdade, inscrito na carta constitucional, documento que consagrava as liberdades, direitos e garantias dos portugueses...

Manuel Fernandes Thomaz morreu pobre, não tendo sequer deixado dinheiro para o seu próprio funeral, porque preconizava que os políticos deviam servir o Estado e não servir-se dele".

Nota de rodapé.
Ao vivo, escutei, olhei e registei.
Agora, ao ver a notícia no jornal, volto a escutar, a olhar e a registar.

Poderia dizer muita coisa. 
Mas, hoje, não me apetece usar muitas palavras.

Fica o registo, apenas.
Hoje, deu-me para esta atitude púdica de voyeur...

Tento interpretar, sabendo que a realidade é difícil de definir.
Eu sei que irritar pessoas, mesmo políticos com altas responsabilidades no concelho, não é difícil.

Porém, tal como um presidente, por exemplo, se irrita, também há políticos que me irritam.
Sobretudo, quando dizem coisas que, do meu ponto de vista, não batem a bota com a perdigota...

Mais uma vez, cumpriu-se a tradição. 
Fiquemos assim.

O que conclui de tudo isto, é a minha verdade.
Até que me provem que ando completamente enganado...