Outubro de 2015. A noite das eleições é pródiga em sobressaltos. No Altis acotovela-se a multidão solidária. Seguro aparece à janela vestido de branco entre pombas esvoaçantes. O seu olhar inteligente acaricia o povo socialista, que veio de tão longe para o felicitar.
“Camaradas”, exclama. “Por um expressivo ponto percentual ultrapassámos os nossos amigos do PSD!” Uma ovação percorre o átrio do hotel e alastra à rua Castilho. Nunca se tinham visto tantos portugueses e portuguesas felizes naquele local. Erguendo o punho ele grita — “PS! PS!”
O senhor Presidente da República congratula-o na manhã seguinte. Que honra, ver assim reconhecido o desempenho irrepreensível das suas elevadas funções de líder da oposição.
O Pedro está ansioso para formar Governo. Ficará ministro de Estado e da Defesa. O doutor Relvas receberá a pasta da Educação. Marco António Costa ornamentará as obras públicas. Marques Mendes caberá onde puder. A doutora Maria de Belém, João Soares (noblesse oblige), Ana Gomes e um punhado de bons amigos dividirão entre si as prebendas que restarem. A reunião com o Pedro seria perfeita não fossem as chamadas insistentes de Paulo Portas, que ele teima, felizmente, em ignorar.
O novo Governo de União Nacional tomará posse em Novembro. A doutora Maria Cavaco e o Senhor Presidente da República abençoam os nubentes. Mais tarde ela celebra a ocasião num recital de poesia declamada por si com fulgor em atmosfera informal, trajando um bonito vestido de cetim lilás e azul-celeste ousadamente decoleté.
À porta de São Bento, Pedro e António unem as mãos para exibirem todo o afecto e confiança que depositam no futuro de Portugal. A limusina aproxima-se. O casal entra. A doutora Maria Cavaco enxuga um lágrima. Aníbal dirige-lhes um último aceno viril mas comovido. O carro sai, recortado pelos jardins de Belém e pelo céu escarlate, em direcção a Massamá.
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