quarta-feira, 26 de março de 2014

Gala Figueira Tv

"Resultados das votações com as percentagens de todos (incluindo os que não ganharam)..."Fernando Gonçalves, aqui.

Será?..

Paulo Macedo: “O problema é as pessoas estarem a consumir medicamentos a mais”...

Reino da impunidade?..

Colégios investigados receberam 20 milhões do Governo

Deixemos as flores e voltemos às demolições (II)

Ontem, por causa da publicação desta postagem,  recebi na caixa de comentários do Outra Margem o seguinte comentário:

“António disse...
Acabe-se com esta demagogia verborreica de uma vez por todas! O meu caro Agostinho conhece o plano de pormenor do Bairro Novo? já ouviu falar? sabe o que são direitos adquiridos? sabe em que situações, de acordo com a lei, é possível dar ordem de demolição de um imóvel? Sabe quanto é que a Câmara teria que indemnizar o privado se quisesse demolir o prédio? Sabe qual o valor do prédio no imobilizado da empresa? Conhece os pareceres jurídicos sobre o assunto? sabe que a Açoreana apresentou um projecto de requalificação do imóvel que foi aprovado e a que não deu seguimento? Sabe que a Açoreana por duas vezes teve que intervencionar o prédio por ordem da Cãmara fazendo aquilo que era possível à edilidade obrigar. Sabe que, de acordo com os juristas, um processo judicial arrastar-se-ia anos e anos e a situação ainda era pior, porque a Câmara perderia de certeza? Sabe de todas as démarches e as entidades contatadas para resolver este problema? Sabe os técnicos e horas que foram investidas na busca de uma solução? Pois é, o problema é falar sem saber. E a sua ignorância nesta matéria é que compara duas situações que, simplesmente, não são comparáveis. Caro Agostinho: escreve do que sabes e o que não souberes pergunta (estou disponível se souber responder) e estuda. Cumprimentos. António Tavares
25 Março, 2014 15:09”

De imediato, teve a seguinte resposta do autor deste blogue:

“Antonio Agostinho disse...
Então, aproveitando a sua boa vontade, ficam algumas perguntas, creio que do interesse de quase todos os figueirenses:
Quanto é que a Câmara, neste caso concreto, teria que indemnizar o privado se quisesse demolir o prédio?
Qual é o impedimento pra o cumprimento da lei, do valor do prédio no imobilizado da empresa?
O que dizem os pareceres jurídicos sobre o assunto?
Porque é que a Açoreana apresentou um projecto de requalificação do imóvel que foi aprovado e não deu seguimento?
Não era obrigação da Câmara zelar pelo cumprimento dos seguimento do projecto?
Porque é as situações não são comparáveis?
A Câmara do Porto tem mais poderes legislativos ou mais competências legais que a Câmara da Figueira?
Porque é que a Câmara perderia de certeza um processo judicial?
Seguindo o seu raciocínio estamos num país sem lei - os tribunais não funcionam?

Sobre a minha ignorância - que é real.
A culpa não será da Câmara que não disponibiliza a informação aos habitantes do concelho?
Será com reuniões à porta fechada - para os munícipes e para os jornalistas - que se incentiva à participação na vida colectiva do nosso concelho?
Cumprimentos
25 Março, 2014 16:50”

Como não obtive resposta, não vou perder mais tempo com a pseudo-exegese do António   Tavares.
Não vou, por uma razão muito simples - por muito que tenha escrito, faltou-lhe a humildade de se reconhecer também, a ele, como parte do problema.
O cerne da questão, como António Tavares muito bem sabe, é outro, bem mais complicado.
É o medo.
Na Figueira  não há a Câmara e os privados.
Na Figueira,  há apenas e só quem tenha relacionamento com e com a Câmara - omnisciente e omnipresente - isto é, de uma forma ou de outra toda a gente depende da Câmara, ponto.
No fundo, no fundo os “democratas”, como se intitulam, não querem o debate, preferem como a pseudo-exegese  demonstra,  atirar-se  às pernas.
Por outras palavras, preferem tentar  matar o mensageiro a discutir a mensagem...
Tivesse António Tavares,  que não é arguido ou suspeito no seu percurso camarário do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade, uma réstia de dignidade, uma réstia de moralidade, e seria o primeiro a condenar este tipo de comportamento, que também conheceu e foi vítima, quando estava do outro lado.
Mas não. António Tavares acha-se uma vítima, a única vítima.
E no PS, neste PS,  de que se tornou militante nas circunstâncias e no período temporal conhecido, as vítimas reagem sempre da única forma que conhecem - à canelada.

Os meus melhores cumprimentos senhor vereador.

Assim a vida passa vagarosa: O presente, a aspirar sempre ao futuro: O futuro, uma sombra mentirosa.

“Das coisas mais difíceis que há na vida é prever o futuro, dizia Miguel Torga em 1948 no “Diário”. A afirmação é evidente. Serve para qualquer um de nós - para a cidade ou país onde vivemos ou até este planeta onde partilhamos este mundo globalizado que criámos.
Embora “nem possa ter a certeza dos processos nem a verificação dos fins”, como refere Pessoa, no “Livro do desassossego”, posso ao menos definir objectivos para, caminhando, para eles ir criando o caminho.
O que não posso nem devo, enquanto responsável político, é limitar-me a gerir a res pública de uma forma avulsa, condicionado à obrigação de tratar o lixo, limpar a cidade e pouco mais. Ou condicionar-me a actos avulsos de celebração cultural, mais popular ou mais erudita, permitindo carnavais sem identidade ou satisfazer-me com iniciativas sem enquadramento num plano de futuro.
A Figueira, cuja actividade portuária foi importantíssima nos séculos XVII e XVIII, que teve uma incomparável actividade turística dos finais do século XIX e até meados do século XX, adormecida por tão notáveis êxitos, acabou por não definir novos objectivos, terminados os anos de ouro. Se “o caminho se faz caminhando”, não é menos verdade que não chegaremos onde não sabemos para onde ir.
Talvez que o facto de termos agora um responsável regional possa ajudar a definir objectivos através das sinergias que potenciem todos e cada um dos concelhos da nova CIM. E que, na falta de recursos, ao menos se consagre no planeamento regional e local os objectivos que verdadeiramente merecem a região e o concelho.”

Em tempo.
O texto é do Eng. Daniel Santos, e foi sacado à edição impressa do jornal AS BEIRAS.
O título é do Poeta Antero de Quental (“Sonetos” 1860-62) e é uma escolha do autor do Outra Margem.

O porquê da centralização da fiscalização bancária na Europa

A figura da semana:
“Anda tudo para aí muito satisfeito com o facto de a União Europeia ir finalmente concentrar no BCE os mecanismos de fiscalização bancária, algo que há muito já deveria ter sido feito, dizem.
De facto, deveria; mas não foi, e não é por acaso que não foi; e agora é, e não é por as instituições e os deputados europeus terem finalmente feito o que já deveriam ter feito.
O que acontece é que a crise financeira vai chegar agora aos grandes bancos europeus.
A crise financeira (que não tem nada a ver com a crise das dívidas soberanas, que é a consequência directa do Tratado de Lisboa) resulta de o enriquecimento bancário se ter feito através de processos especulativos que estoiraram quando as pessoas, por efeito desses mesmos processos que aumentaram a desigualdade, começaram a empobrecer - a especulação alimenta-se do enriquecimento das vítimas, se estas empobrecem, morre. Os bancos pequenos não tinham como fugir às consequências da crise e estoiraram; mas os bancos grandes estão exactamente na mesma situação, ou pior, porque a sua capacidade especulativa é muito maior.
Eu já escrevi há anos que o Deutsche Bank deve ter um buraco tão grande que a Lua cabe lá dentro; até agora, têm conseguido esconder esse buraco, mas isso não vai durar muito mais; e quando ele estoirar, quem o vai assumir? A Alemanha vai fazer o mesmo que Portugal fez?
Claro que não! A Alemanha vai chutar o problema para a Europa, para o BCE, para nós!!!
Nós ainda vamos ter de contribuir para tapar o buraco do banco da Alemanha. Já estamos a contribuir, este processo das dívidas soberanos está a ser usado para tapar esse buraco à nossa custa; mas não chega, é preciso mais, muito mais.
Portanto, já sabem: o processo em curso, o trabalho apresentado pela Elisa Ferreira, não é o resultado da acção dos deputados em defesa da Europa, é o resultado da acção das instituições europeias ao serviço da Alemanha.”

Um partido que cria bancos desde 1993...

"Ainda o novo banco do PSD não nasceu e já vai assim"...

terça-feira, 25 de março de 2014

Para mais tarde recordar

foto Paulo Pimenta
Luís Montenegro, líder da bancada do PSD: "Quero deixar aqui de uma forma clara. Vamos todos jogar limpo. Não é verdade que venham aí cortes de salários mais e pensões, mais cortes de rendimentos".

Um blogger acima das possibilidades...


Em tempo.
Pouco tenho a dizer. Apenas, como sempre,  aquilo que penso... E  estou a pensar nos políticos em geral.
Que está a chegar ao limite da dignidade a capacidade de ser um moço de recados alheios.
Que se está  a  prescindir da própria consciência e dignidade para conseguir ser, não eleito do povo, mas mandarete teórico de alguns milhares de militantes partidários controlados pela máquina partidária.
Que se está a agravar aquilo que  vejo há  muito estar a acontecer: as minorias partidárias falseiam  o resultado das eleições, impedindo  o contacto do eleito com os eleitores (que não são, claro, as bases partidárias).
Que está a crescer entre  o povo o sentimento de  que os eleitos não são seus representantes.
Que cada vez percebo melhor, por que se recusam os partidos a dialogar entre si: querem o poder todo. 

QUEM É IGUAL A QUEM? OU A RESISTÊNCIA HERÓICA DAS MULHERES DA COVA/GALA

Adelino Tavares da Silva, o autor deste inédito, foi meu Amigo e um grande jornalista deste País, tendo chegado a ser Director do extinto «O Século», a seguir ao 25 de Abril de 1974. 
Quando morreu pertencia ao quadro de jornalistas do também já extinto «O Diário»
Adelino Tavares da Silva tinha raízes familiares no nosso concelho, pois o seu Pai – o Comandante Rainho – era da Gala.
Como dizia Adelino Tavares da Silva, «é a contar estórias que a gente se entende».
Tinha tomado conhecimento deste evento há uns dias numa conversa onde dei conta do entusiasmo com os que os trabalhos estão a decorrer.
Francisco Sanchez, é o Encenador.
Portanto, no dia 5 de abril todos ao CLUBE MOCIDADE COVENSE!

Este "é um problema estritamente da administração do Hospital?..

foto António Agostinho
Solicitado pela bancada do Movimento Somos Figueira, o parecer da Protecção Civil sobre o novo parque de estacionamento do Hospital Distrital da Figueira da Foz já foi entregue ao executivo, mas os vereadores da oposição só foram informados há minutos, no decorrer da própria reunião, pelo que o assunto só será discutido numa próxima reunião. Ainda assim, numa breve apreciação, João Ataíde, presidente da autarquia, admitiu que o relatório da Protecção Civil "levanta algumas questões e não é favorável à solução ali implementada", havendo "melhorias a efectuar na sequência das críticas". O edil sublinha, no entanto, que este "é um problema estritamente da administração do Hospital". (Via Foz Do Mondego Rádio)

Deixemos as flores e voltemos às demolições

Avenida 12 de Julho, Gala. Foto de António Agostinho sacada daqui
Ontem no Porto começou a ser  demolida uma antiga fábrica que era um foco de tráfico e consumo de droga.
De acordo com a autarquia, o processo de tomada de posse administrativa do terreno, com “cerca de 130 metros de comprimento por 95 de largura”, foi iniciado “apenas 2 semanas” depois de Rui Moreira ter sido empossado presidente da Câmara, tendo em conta “problema social gravíssimo” do espaço.
As demolições começaram,  segunda-feira, porque terminaram na sexta-feira “os trâmites legais e o prazo dado em edital para que os proprietários tomassem medidas”, justifica o site do município portuense.
Pela Figueira é o que sabemos.
António Tavares, vereador PS, no poder há quase 5 anos.
“...  não conseguimos perceber como pode a Açoreana, empresa proprietária do chamado edifício "O Trabalho", fazer perpetuar e permitir a degradação constante do mamarracho que todos conhecemos, para mais situando-se numa zona nobre da cidade e degrande fluxo de turistas e locais..."
A Figueira é mesmo uma cidade que não se leva a sério...

Das flores

“Obviamente, queriam-me calado. Conheço-lhes os dotes censórios quando tinham poder para tal e deles fui vítima, sem rebuço nem decoro. Incomodam-se com a poesia, com a simples poesia ou com a descrição de factos, de meros factos. Vitupério!
Gritam as bruxas. Preferem o silêncio e a omissão e rejubilam no ruído cáustico das suas macabras danças.”  
(António Tavares, vereador PS, no jornal AS BEIRAS)

Em tempo.
Aos cinquenta e tal anos,  será que o vereador queria, finalmente, ter encontrado alguém carinhoso, atencioso, que lhe faça as vontadinhas todas e que, mesmo passados 5 anos, continue a oferecer-te flores?..
Não será, talvez, ingenuidade a mais?
Como escreveu Mao Tse Tung: “deixai que cem flores desabrochem e que floresçam as discussões”.
Entre as cem flores, algumas sempre resistem ao tempo e à secura. 
Entre as begónias e gladíolos, pode ser que permaneça alguma rara. 
Por exemplo, uma gardénia ou uma centáurea...

segunda-feira, 24 de março de 2014

O programa de empobrecimento está a ser um êxito!..

Com uma invejável determinação e coragem o Governo tem conseguido transformar milhões de portugueses em pobres,  os chamados  novos pobres, pelo que o nosso índice de felicidade tem vindo a subir sustentada e estruturalmente.
É verdade que existe uma pequena minoria que tem sido  discriminada, mas...

“Autarquia assume gestão do complexo desportivo do Estádio Municipal José Bento Pessoa”, uma questão que interessa a todos os Clubes do nosso Concelho que vai ser discutida e votada amanhã em reunião de Câmara

Texto hoje publicado no jornal AS BEIRAS:
A Câmara da Figueira da Foz chamou a si a gestão do Estádio Municipal José Bento Pessoa, que era gerido há várias décadas pela Naval 1.º de Maio, no âmbito de um protocolo assinado com o clube. A denúncia do acordo acontece na sequência da expiração da validade do documento, no dia 14 de fevereiro último. Deste modo, a autarquia evita pagar indemnizações ao coletivo navalista.
Todavia, o novo regulamento da utilização do complexo desportivo não agrada a ninguém, incluído a Naval.
Por sua vez, o Ginásio Clube Figueirense, que recuperou a secção de futebol ao abrigo de um protocolo com a empresa privada Academia 94, manifestou o seu descontentamento através de carta enviada ao executivo camarário, a que o DIÁRIO AS BEIRAS teve acesso.
Na extensa missiva, o Ginásio alude a “anos e anos de sistemáticos incumprimentos e violações flagrantes do protocolo de concessão das instalações desportivas do estádio municipal”. Mais à frente acrescenta que o novo regulamento viola alguns princípios que regem a gestão pública, advogando a sua “clara nulidade”.
A direção ginasista invoca a “violação dos princípios da igualdade e da livre concorrência” e critica a “atribuição de uma condição preferencial a uma entidade [Naval]”.
Por outro lado, adverte que, “caso a salvaguarda dos referidos princípios não seja assegurada pelo regulamento”, recorrerá aos meios legais a seu dispor.

O peso da história
A proposta de regulamento do executivo municipal que vai amanhã a votos na reunião de câmara dá preferência à Naval na utilização dos campos sintéticos. A autarquia baseia-se no histórico dos clubes e associações que utilizam ou pretendam utilizar o equipamento desportivo, o que coloca os navalistas no topo da lista de utilizadores.
Recorde-se que o protocolo celebrado entre a autarquia e a Naval que vigorava desde 2009 foi alterado em 2011.
Entre outras cláusulas, previa um apoio mensal de 10 mil euros para a secção de formação do clube e em caso de denúncia unilateral do documento pela autarquia esta teria de pagar as obras realizada pela Naval no estádio municipal desde 1989.
Este segundo artigo caiu com a revisão do documento e o apoio desceu para 7.500 euros.
O pagamento da água, eletricidade e gás pela câmara também foi anulado, passando a despesa para a Naval.
Porém, como a autarquia nunca pagou os 7.500 euros e os contadores mantiveram-se em seu nome, o clube remetia a fatura dos três serviços para a autarquia. De resto, neste encontro de contas, a Naval é credora.

Impedido  de utilizar os sintéticos
A Naval exige ao Grupo Desportivo da Chã  uma verba mensal pelo consumo de água, eletricidade e gás. Como ainda não houve acordo, este clube amador de Tavarede que utiliza os campos de treinos do estádio municipal há mais de 30 anos está impedido de utilizar os relvados sintéticos, desde há duas semanas. Fátima Trigo, presidente do GDC, afiança que, sem o apoio da câmara, as verbas agora exigidas pela Naval (300 euros por mês) “são incomportáveis”. Por outro lado, exige igualdade de condições na utilização dos equipamentos municipais.
A União Desportiva da Gândara tem o seu próprio campo com relva artificial, o primeiro dos dois de que o concelho dispõe. O clube não necessita, portanto, do estádio municipal. Contudo, o presidente, Antonino Oliveira, mostra-se “solidário com os clubes que contestam o direito de preferência” que a autarquia concede à Naval. O dirigente gandarês aproveita para exortar a câmara a municipalizar o campo de Bom Sucesso, “para poder servir os clubes do norte do concelho”.

O executivo municipal recusou-se a falar sobre o assunto antes da reunião de câmara de amanhã. E, apesar das tentativas, não foi possível recolher declarações da Naval 1.º de Maio.”

“louvor e simplificação de José Penicheiro”

Zé Penicheiro faleceu no passado dia 15.
Na altura Fernando Campos escreveu o seguinte:
E como o prometido é devido cá está o "depoimento que foi um pouco para além da ditirâmbica palermice circunstancial" do Fernando Campos (pode ser lido na íntegra, clicando aqui).
Termina assim.
“Quando o conheci, em 1981, trabalhei com ele em publicidade. Aprendi imenso (a relevância do seu contributo para a linguagem desta arte de comunicação dava para escrever um tratado, um capítulo à parte na sua vasta obra criativa (só semelhante ao de outro figueirense, Cândido Costa Pinto. Este até com obra teórica publicada sobre o assunto, embora nunca tenha exercido actividade na região). Mas em 84 (ou 85), quando trabalhei para ele - na impressão serigráfica dos seus trabalhos – já ele se dedicava finalmente, em exclusivo, à sua paixão de toda a vida, a pintura. Tinha mais de sessenta anos.

Numa idade em que a maior parte dos homens calça as pantufas e se senta ao borralho a olhar para ontem, Penicheiro preparava-se para começar outra vida. Criativa. E para consumar a sua obra – uma obra que teria, contudo, um carácter sempre reminiscente, também a olhar para ontem, numa espécie de interminável “Amarcord”.
Todavia, ao contrário de Fellini, não existe em Penicheiro o conflito, o pormenor, o improviso, a blasfémia, o humor (ou o sarcasmo), a revolta, a gargalhada, a obscenidade, a subversão, o grito.
Não há rostos, nem olhares, nem expressões na sua obra. Nem se vêem das mãos as linhas da vida, ou as unhas negras e as calosidades. Apenas vultos. Os homens, de chapéu; as mulheres, de lenço na cabeça, sempre curvada. Tudo sob um manto intrincado de manchas opacas, numa densa bruma esquartejada de harmoniosas decomposições tonais atenuadas. E uma indelével impressão de nostálgica e solene mansidão resignada.
Penicheiro não pinta o que vê, pinta o que viu. Ou melhor, a impressão com que ficou.

Foi esta visão sentimental, silenciosa e velada pela distância do tempo que talvez tenha tranquilizado os novos (e até os velhos) burgueses. A-do-ra-ram. Penicheiro tornou-se mesmo o artista mais premiado e homenageado  pelos “clubes de serviço”.  Arrematavam tudo, em alegres e selectas jantaradas. À peça ou à molhada.
A consagração popular veio depois, naturalmente. O povo, como é sabido, aplaude sempre os vencedores.


Porém, a coroa de glória de Zé Penicheiro, a verdadeira consagração, surgiu já quase no fim da sua vida (e carreira, que os artistas trabalham sempre até ao fim), em 2004: a encomenda de um mural monumental pela Universidade de Aveiro, para comemoração dos seus trinta anos.
Nada mal. Para um homem que se tinha feito a si próprio, que se gabava de nunca ter ido à escola e de toda-a-vida ter nutrido um sincero desprezo pelo conhecimento académico.”