Extracto de uma carta do VELHO SENHOR NA FOTO, publicada no dia 26 de Março de 2007, no “Diário de Coimbra”, pág. 8, na secção Fala o Leitor, com o título:
“Erosão das Praias”:
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Manuel Luís Pata, fotografado por Pedro Agostinho Cruz,
no decorrer de um agradável café, acompanhado, como é habitual
quando nos encontramos, de uma empolgante conversa sobre
o porto e a barra da Figueira, à mesa do Bar Borda do Rio, na Cova-Gala |
"Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “ Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “ Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!... Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!...
É urgente contratar técnicos credenciados, de preferência Holandeses, para analisarem o precioso projecto elaborado pelo distinto Engenheiro Baldaque da Silva em 1913, do qual consta um Paredão a partir do cabo Mondego em direcção a Sul, a fim de construir um Porto Oceânico junto ao Cabo Mondego e Buarcos. Este Paredão, sim, será a única obra credível, não já para o tal Porto Oceânico mas sim para evitar que as areias vindas do Norte, se depositem na enseada, que depois a sucessiva ondulação arrasta-as e deposita-as na praia da Figueira, barra e rio."
Na Figueira, há mais de 100 anos que os engenheiros se
dedicam a fazer estudos para a
construção de uma barra.
Passando ao lado, para já, do projecto do Eng. Baldaque da Silva,
por este defender a construção de um Porto Oceânico (recorde-se: em 1914
foi aprovado na Assembleia de Deputados um estudo que previa a construção de um “Paredão”, a partir do Cabo Mondego em
direcção ao sul. Infelizmente, ficou na gaveta...), temos:
1 – Em 1874-1875 procedeu-se à construção de um molhe, com
grandes blocos de cimento, na praia do Cabedelo, a oeste das casas de férias da
Direcção Geral dos Portos. Estes blocos estão enterrados, pelas obras que
entretanto foram executadas. Esta obra decorreu sobre a responsabilidade
do eng. Adolfo Loureiro.
2- Em 1929, surge novo projecto também em blocos, mas mais a
norte. Não se sabem ao certo as razões que levaram a abandonar a ideia anterior, mas presume-se que tenha
sido para estreitar a barra e, assim, aumentar a corrente no decorrer da vazante,
para permitir que as areias pudessem ser arrastadas para o mar.
Isso, levou a que o canal de navegação fosse deslocado para norte, onde existem lajes no fundo, o que limitou a
tão desejada profundidade desta nossa barra.
Depois desta segunda obra, os pescadores e os figueirense passaram a chamar aos blocos abandonados e que pertenciam ao anterior projecto, “os
blocos velhos”.
O projecto do ponto 2 é o que definiu a barra que temos
hoje. Tiveram de rebentar parte da laje
do fundo e as dragagens são constantes. Mesmo assim, a Figueira continua a não
ter um porto capaz e eficiente – neste
momento, principalmente para os barcos de pesca que operam a partir da
Figueira.
Entretanto, apesar de
algumas vozes discordantes –
principalmente de homens ligados e conhecedores do mar e da barra da Figueira –
foi concluído o prolongamento do molhe norte.
Os resultados, infelizmente, estão à vista: este ano já morreram seis
pessoas à entrada desta nossa barra.
As dragagens
realizadas na enseada, na barra e no rio, na opinião de Manuel Luís Pata
– velho e teimoso lutador contra as obras que têm sido feitas, nomeadamente o
prolongamento do molhe norte, a que chama a obra “madastra”, fazendo alertas
para o que iria acontecer – são a “principal causa da assustadora erosão da
costa marítima, principalmente e S. Pedro de Moel para o norte”.
Ao contrário de Leixões, cujo molhe está curvado a sul, mas está construído em local fundo, onde por isso
o mar não rebenta, na foz do Mondego, devido ao constante assoreamento
provocado pelas areias que vêm do norte, o mar rebenta mesmo á saída da barra,
tornando-a na opinião de muitos pescadores com quem convivemos todos os dias,
neste momento, a pior barra do país para os pequenos barcos de pesca.
Como evitar isto?
Na opinião de Manuel Luís Pata, um exemplo de perseverança, só há uma alternativa: “fazer o molhe
a partir do Cabo Mondego para sul, o que não só serviria de barragem às areias,
como também abrigaria a zona do Cabo Mondego e Buarcos, evitando-se assim as
investidas do mar na marginal e que ainda há pouco tempo causaram importantes
estragos na zona da Tamargueira."
Como me tem dito ao longo dos anos o velho e experiente Homem da foto acima, nas inúmeras e enriquecedoras conversas que ao longo da minha vida com ele tenho tido, e que foram a base
deste texto, “a Figueira nasceu numa
paisagem ímpar. Porém, ao longo dos tempos, não soubemos tirar partido das
belezas da Natureza, mas sim destruí-las com obras aberrantes. Na sua opinião,
a única obra do homem de que deveríamos
ter orgulho e preservá-la, foi a reflorestação da Serra da Boa Viagem por
Manuel Rei. Fez o que parecia impossível, essa obra foi reconhecida por grandes
técnicos de renome mundial. E, hoje, o que dela resta? – Cinzas!..”