sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Sem SNS não há democracia

O Posto Médico da Cova e Gala tem funcionado nos últimos meses de forma irregular. 
Se precisarmos de marcar uma consulta, uma data para a vacinação covid e gripe, ou fazerr um penso, nunca sabemos se o serviço está aberto aos utentes. Isto não é ficção: é experiência própria.

No passado dia 20 do corrente, aconteceu-me isso mais uma vez. Depois de ter sido avisado por SMS, que deveria marcar a vacinação covid-19 e gripe no Centro de Saúde ou numa farmácia, escolhi o SNS e bati com o nariz na porta.
Dois dias depois telefonei para fazer a marcação. Não atenderam, mas devolveram a chamada. Informei a funciária ao que ía. Resposta dela: "vá telefonando, pois não sabemos quando temos as vacinas disponíveis".
Com toda a calma, tentei explicar à funcionária que optei pelo SNS por razões muito concretas: o serviço foi criado, existe e tem capacidade para servir os utentes e enquanto ele estiver em funcionamento é um direito que tenho a opção que pretendia tomar. Expliquei, ainda e com toda a calma deste mundo, que seria fácil criar uma lista dos utentes que manifestarassem vontade de serem vacinados no SNS no Posto Médico da Cova e Gala e quando existissem vacinas bastava avisá-los por ordem de inscrição.

Digo pretendia, pois a resposta da funcionária deixou-me sem chão: "era o que faltava..." Contei até dez e desliguei, sem deixar de agradecer a disponibilidade e a eficiência.
No dia seguinte, dirigi-me à "minha" farmácia. Aquilo que quem trabalha no SNS e é pago com o dinheiro de todos nós não conseguiu fazer, foi fácil: no dia seguinte, recebi uma chamada a marcar a data da vacinação.

Voltando atrás, ainda estive para explicar à senhora funcionária que me atendeu (que eu não sei de todo quem é) que os ataques ao SNS são golpes na democracia e na qualidade de vida dos portugueses. Poderia dizer-lhe mais: que este governo, que é um governo de direita, não consegue esconder o desejo de liquidar o Serviço Nacional de Saúde, uma das maiores - se não mesmo a maior - conquistas do 25 de Abril. 
Podia dizer-lhe mais: que o PSD e CDS votaram contra a criação do  SNS em 1976. 
E que decorridos quase 50 anos ainda não desitiram...
O caos está nas urgências, marcar uma simples data para uma vacinação é uma dificuldade gigante, fecham serviços de obstetrícia, as mulheres grávidas andam aflitas e não sabem onde vão ter os filhos. 
Porém, os hospitais privados continuam abertos às mães em estado de gravidez e as cesarianas funcionam bem.
Só que existe um peqeno problema: os partos custam os olhos da cara.
 
As debilidades crónicas do SNS (o PS tem nisso imensas culpas) foram bem aproveitadas pelos "vampiros": os seguros de saúde cresceram em espiral e a privatização do sistema de saúde em Portugal já esteve mais longe. 
As políticas que tentam há dezenas de anos liquidar um dos baluartes do 25 de Abril e da democracia são um ataque frontal à saúde - um direito inquestionável e constitucional -, que não pode nem deve ser um negócio. 
O que está em causa é a vida humana e o recuo civilizacional do nosso País.
É assim tão difícil adivinhar a quem interessa o caos em que vegeta o nosso SNS?

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