“São Julião Forever” , uma crónica hoje publicada no jornal AS BEIRAS, por Isabel Maranha Cardoso, economista. Passo a citar.
"Após a Reorganização Administrativa Territorial Autárquica e a terminar os 4 anos de mandatos políticos conferidos pelo povo, na Figueira passou-se de 18 Assembleias de Freguesia para 14, extinguindo-se Brenha, Borda do Campo, Santana e São Julião, era tempo, julgo, de avaliarmos o “modelo” imposto, à revelia das regras da democracia, das agregações, fusões e extinções. O Governo afirmou os seus propósitos desde o início ao dizer “corrigir os erros da extinção de freguesias a regra e esquadro” defendendo um “princípio de avaliação” apenas para “correção de erros manifestos”. No silêncio da iniciativa partidária, sendo o assunto incómodo para todos, todos sublinho, dos que fizeram aos que deixaram fazer…, um cidadão figueirense levou a cabo uma petição popular congregando uma vontade de mudança, a reposição das 2 Freguesias da Figueira, a de Buarcos e a de São Julião. Exercendo por certo um direito de cidadania, a petição ditou igualmente a avaliação feita ao “modelo” ao pedir a reposição do anterior. Embora a unanimidade desejada não tenha sido possível, os Partidos cumpriram satisfatoriamente o seu papel ao reconhecerem a legitimidade da petição. Chegando à Figueira, vindos da A14, um sinal de trânsito antes da 1.ª rotunda, premonitoriamente mantém-se grafitado com “São Julião Forever”! Persiste num verde bem vivo como que a indicar-nos a reposição das “velhas” Freguesias. Afinal nem os sinais do tempo, nem a vontade de mudança nos farão perder a esperança!"
Nota de rodapé.
Antes do mais, a meu ver, neste assunto que envolve algum melindre para os Partidos, convém esclarecer que aquilo que, em 2012, Miguel Almeida, com a colaboração do Movimento 100% e o alheamento do PS, impôs às freguesias figueirenses, não foi uma reforma político-administrativa, mas, apenas um conjunto de alterações avulsas, coercivas e apressadamente gizadas, feitas à medida do chamado plano de reajustamento, ou Memorando de Entendimento (ME), celebrado pelo estado português sob a batuta do governo socialista de Sócrates com a Troika (FMI, CE e BCE), e com o acordo do PSD e CDS-PP.
Não sou defensor de que tudo, nomeadamente no que concerne às organizações humanas, é eterno.
Daí, encarar como perfeitamente natural reformas dos sistemas político-administrativos. Contudo, essas reformas têm de assentar em estudos fundamentados e tendo em conta a realidade.
Reformas político-administrativas coerentes e sérias, só se justificam quando ocorrem três condições fundamentais: necessidade comprovada de reforma (através do resultado de trabalhos científicos, do debate e acção política e de comparações/imposições internacionais), existência de tempo e de recursos para promover a reforma mais adequada às circunstâncias e, finalmente, vontade de promover a reforma por uma via democrática no referencial constitucional em vigor.
Em 2012, creio que não será estultícia apontar que não se verificou nenhuma das três condições formuladas (salvo a imposição da Troika, que não é coisa pouca).
Aceito que há sempre o momento para pormos em causa tudo o que até aqui fizemos.
Uma altura para fazermos um balanço, de preferência, o mais desapaixonadamente possível.
Ponderar tudo que ocorreu, para sabermos como estamos e como aqui chegámos.
Não falo de arrependimentos, mas de olhar a vida de frente.
No caso concrecto da Figueira, continuo a pensar o mesmo: colocar a questão em 18, 10 ou apenas uma freguesia, quanto a mim, é um falso problema.
A meu ver, a verdadeira questão é: para que servem as freguesias?..
E como servem!..
E a quem servem...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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