quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A importância do (bom) nome...

"Os nomes são mais importantes do que parecem. Algumas pessoas, por exemplo, assumem o apelido de família como lema de vida, procurando honrar quem as precedeu e criando a esperança de que os vindouros possam também encontrar nesse apelido algum motivo de orgulho."

Citação de uma crónica de José Augusto Cardoso Bernardes

Nota de rodapé.
Agostinho: o trabalho  ignorado e realizado, a gosto, por gente sem nome, mas com alma!.. 
Imposto, é outra coisa. 
Tem esse nome, porque de outro modo ninguém queria... 
Volto a citar José Augusto Cardoso Bernardes
"Como é sabido, uma das consequências do programa de ajustamento a que Portugal esteve sujeito entre 2011 e 2014 foi a reestruturação administrativa do território. Entre muitas outras condições, o Memorando assinado com a chamada “Troika” referia a necessidade de proceder à diminuição do número de autarquias. Tendo ficado em aberto a possibilidade de extinguir ou agregar indistintamente câmaras ou freguesias, o governo acabou por se fixar apenas nas unidades administrativas mais pequenas, dando cumprimento expedito a uma imposição que, se tivesse abrangido as câmaras municipais, poderia ter sido politicamente bem mais delicada. Importava que o processo fosse rápido e foi isso que aconteceu. Quase não houve debate (a não ser entre uma minoria de protagonistas políticos) e as populações não tiveram tempo suficiente para se aperceber do que estava em causa. Foi assim também no concelho da Figueira da Foz. Depois de algumas hesitações e de não poucas reviravoltas, o balanço viria a traduzir-se no apagamento puro e simples de quatro das dezoito freguesias então existentes. Recorro a este termo e não a outro de conteúdo mais suave porque, na prática, foi isso que aconteceu: apagaram-se nomes e, num dos casos (Brenha), chegou ao ponto de se ter fragmentado, em poucos dias, um território que permanecia unido há vários séculos. No final, quatro freguesias foram sacrificadas: Brenha, Borda do Campo, Santana e São Julião. Todas perderam a sua autonomia administrativa. Mas, como se isso não bastasse, viram-se desapossadas do seu nome, uma vez que as novas unidades autárquicas passaram a designar-se apenas pelo nome da entidade agregadora. É certo que a proposta não obteve aprovação unânime na Assembleia Municipal mas, na altura, os protestos pareceram bastante débeis e inconsequentes. Só mais tarde o descontentamento começou a tomar forma entre as populações. Avançou São Julião, a maior de todas as freguesias “agregadas”. Graças à iniciativa de alguns cidadãos e à esperada concordância de todos os órgãos autárquicos e da própria Assembleia da República, a freguesia urbana conseguiu, para já, ver o seu nome reposto na designação da nova autarquia, em paridade com o nome de “Buarcos”. Trata-se de uma solução razoável e justa, que deveria ser imediatamente alargada às restantes freguesias, cujo nome foi apagado. Nenhum partido, nenhum agente político confessou entusiasmo pela maneira como o processo foi conduzido há três anos. Mesmo os responsáveis diretos pelo processo afiançaram então (e têm-no vindo a repetir) que a sua iniciativa visou apenas evitar males maiores. Pois bem: é o momento de todos serem consequentes, corrigindo agora, até onde for possível, uma atitude na qual felizmente ninguém se revê. Tal como sucedeu já com São Julião, também Brenha, Borda do Campo e Santana merecem um gesto uniforme de reparação, que consistiria, para já, em repor o seu nome na designação das freguesias agregadas. Estas passariam a chamar-se, respetivamente, “União das freguesias de Alhadas e Brenha”, “União das freguesias de Ferreira-a-Nova e Santana” e “União das freguesias de Paião e Borda do Campo”."

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