terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Porque é que os portugueses são como são?..


Foto de Luís Carregã
Temos uma fascinação antiga pela mediocridade, pelo sofrimento e pela pobreza.
Salazar, que nos conhecia bem,  soube tirar partido dela.
Passos  (tal como Sócrates…),  que também nos conhece de gingeira, sabe que até na inveja somos pobrezinhos: odiamos quem tem um pouco mais que nós, mesmo que o mereça, mas tratamos com admiração e subserviência qualquer ladrão completamente descarado  que tenha acumulado uma fortuna.
No fundamental, aceitamos  que merecemos ser pobres e vemos nessa pobreza uma manifestação de virtude.
Permitimos tudo.
Até aceitamos pacificamente que nos digam  que não trabalhamos o suficiente.
Tudo o que realça a vida é luxo, e tudo o que é luxo é pecado: daí a nossa aversão ao pensamento, à discussão dos problemas e ao conhecimento.
As Ciências, as Letras e as Artes são coisas marginais.
Em vez de favorecer o engenho, condenamo-lo à miséria.
Já disto se queixava Camões, no tal Canto Décimo que todos os portugueses deviam conhecer:

Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida;
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Somos e vamos continuar portugueses  -  mesquinhos, austeros, apagados e vis.
Por isso, descansem as almas inquietas.
Nas próximas eleições,  vamos continuar, muito maioritariamente,  a votar nos partidos da troika, que são, certamente  por mera e infeliz coincidência, os partidos da corrupção. 

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