“Portugal tem que ser um dos países mais baratos”, defendeu Daniel Bessa.
Esta gente que usufrui de um belíssimo salário e/ou dispõe de avultados rendimentos e que, baseando-se em meros cálculos economicistas, que, aliás, qualquer um de nós saberia fazer se o objetivo for o exclusivo desafogo financeiro dos empresários, vem dizer que o melhor é os trabalhadores ganharem o menos possível, revolve-me as tripas, confesso.
A “mão-de-obra barata” é constituída por pessoas, com necessidades, com expectativas, com famílias ou com ambição a constituírem uma, pessoas potencialmente com capacidades. Pessoas que, com tiradas como esta, só podem é decidir fugir daqui e sem demora.
Daniel Bessa, que, por vezes, parece ter lucidez suficiente para desejar que a Europa reveja a austeridade, pretende agora, como muita gente insensível, reduzir o país a pessoas analfabetas (ah, pois, a educação e a formação custam dinheiro), desqualificadas e mal pagas que “alimentem” (também literalmente) e perpetuem o nosso incompetente tecido empresarial.
Esta é a via para o subdesenvolvimento, caro senhor. Só que não para o seu nem o dos seus filhos, claro.
Via Aspirina B
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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