“A toponímia está intimamente relacionada aos valores culturais das populações, reflectindo e perpetuando a importância histórica de factos, pessoas, costumes, eventos e lugares, que ficarão na nossa memória colectiva como motivo de orgulho para sempre”.
Carlos Lima, leitor deste blogue e pessoa interessada no associativismo, cultura e desporto da Cova-Gala, em comentário que pode ler na integra clicando aqui, acentua que “a Toponímia é de facto um tema interessantíssimo”. Tal como nós, considera que “a Toponímia é uma fonte de conhecimento. Um livro geralmente fechado, mas com um conteúdo histórico e cultural muitas vezes indispensável para o desbravar das nossas origens, da nossa história e da nossa cultura.”
E deixou um exemplo prático, que muito agradecemos, no mínimo, curioso, para a compreensão do nosso passado. Fica aqui, com o relevo devido, esta perspectiva do Carlos Lima sobre:
”Para evocar este nome, temos de nos reportar à época da fundação dos povoados de Cova e Gala. Tendo por base a verdade histórica sobre os nossos ancestrais ascendentes, o povoado da Cova começou a crescer de forma caótica, sem qualquer controlo urbanístico. As construções surgiam semeadas por aqui e por ali, à vontade de cada um, apenas obedecendo ao regime de boa vizinhança e às condições que o próprio areal lhes permitia. Com a fixação de algumas famílias na margem sul do Mondego, conforme rezam as crónicas, onde aí começariam também a construir as suas habitações, foi-se estabelecendo um corredor entre os dois aglomerados, o lugar de Cova e o recém-criado lugar que iria ser designado por Gala. O regime que então vigorava, onde cada um, segundo o seu livre arbítrio, construía a sua habitação onde melhor lhe conviria, foi entretanto adulterado em função de uma voz autoritária que viria a interferir, e de que maneira, naquele que terá sido o primeiro Plano de Urbanização da Cova e Gala. Um homem, de seu nome Remígio Falcão Barreto, provindo das regiões da Esgueira (distrito de Aveiro), como todos, ou quase todos os nossos antepassados, surgiu com um estatuto de senhor poderoso. Armador de pesca, talvez um dos mais avultados proprietários pesqueiros do local, quiçá possuidor de uma personalidade e vontade própria que o distinguia dos seus demais concidadãos, Remígio decidiu aplicar as “suas” leis. Aqui, neste traçado que separa a Cova e a Gala, ninguém constrói. Esse trajecto por si definido, seria o local de passagem dos seus carros (puxados a bois) utilizados para o transporte dos seus apetrechos de pesca, o que viria a repetir-se ao longo de muitos e bons anos.
Com toda a naturalidade, ladeando aquele traçado interdito à construção, os povoados foram crescendo, aproximando-se entre si, atraídos pela natureza das suas raízes e em obediência ao tal “Plano de Urbanização” imposto pela lei de Remígio: “Aqui Ninguém Constrói...”. Os efeitos desta “lei” são hoje bem patentes, já que a espinha dorsal de S. Pedro e ao mesmo tempo o cordão umbilical que viria a unir para sempre estes nossos dois povoados, corresponde exactamente ao traçado geodésico da avenida Remígio Falcão Barreto. Um traço de união entre dois pólos que se fundiram num só, cujo ponto de encontro, provavelmente, jamais será possível assinalar.
Por tudo isto, penso que Remígio Falcão Barreto, embora possa ser posta em causa a nobreza (ou falta dela) do seu procedimento, bem poderia ser consagrado como o patriarca da geminação covagalense.”
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