segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

A nossa opção

O referendo sobre o aborto veio colocar de novo a questão de saber se um órgão de comunicação social pode ou não tomar partido, deve ou não assumir uma posição.
Obviamente, que o OUTRA MARGEM não é um órgão de comunicação social.
Temos, pois, toda a legitimidade para assumir ou não a causa.
O problema de um media tomar ou não partido, não está no facto de poder tomar partido, mas sim na capacidade em permanecer credível apesar de tomar partido.
Panfletos, para nós, são evidentemente de rejeitar. Sabemos, porém, que não existe informação bacteriologicamente pura e isenta.
Sendo assim, o que vale é a qualidade e a honestidade do jornalismo que se pratica.
Tomar ou não posição é uma opção.
O aborto é um tema demasiado sério. É também um tema que não pode ser partidarizado, pois não é de esquerda nem de direita....
Temos um referendo sobre o aborto à porta.
Votar, no próximo dia 11 de Fevereiro é fundamental.
“A única liberdade que merece esse nome é a de buscarmos o nosso próprio bem, pelo nosso próprio caminho, enquanto não privarmos os outros do seu ou os impedirmos de se esforçarem por consegui-lo. Cada um é o guardião natural da sua própria saúde, seja física, mental ou espiritual. A humanidade acaba por ganhar mais consentindo que cada um viva à sua maneira que obrigando-o a viver à maneira dos outros.” (John Stuart Mill).

Claramente o expressamos:

- a nossa opção no referendo, do próximo dia 11 de Fevereiro, é votar - “SIM”.

8 comentários:

Anónimo disse...

OPINIÃO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM:

“Quanto ao poder laico, e livre, da política, é clara uma transferência do poder político para o poder religioso. É sintomático que as grandes discussões a que, desde há tempos, o País assiste tenham subjacente uma jaez militar ou religiosa. Progressivamente é essa a duplicidade institucional que ordena, solidifica. Do último ponto de vista dois exemplos recentes adensam a preocupação já expressa: por um lado a competição política, provinciana, que já se vislumbra e decerto crescerá, à volta da visita do Papa a Portugal. Pelo rumo que o facto leva vamos assistir naquele que devia ser um acontecimento pastoral e moral de extrema importância, a um jogo turvo de influências, para que saiba quem convidou, quem esteve mais minutos com Sua Santidade, quem mais o acompanhou, quem ganhou os seus louros. O segundo tem que ver com o tom ‘Cro-Magnon’ com que a questão do aborto tem sido tratada entre nós. (…) a AD não tem a menor autonomia de discurso, já se não pede de voto, nem de vontade, em relação à Igreja, e limita-se a repetir o que esta diz,a presenciar o que esta proclama. Os socialistas dividem-se entre a sua história e a história que a Igreja quer que eles façam.Só por referência lembre-se, por exemplo, que em França foi uma liberal, assumida como tal, da maioria giscardiana, a senhora Simone Weil quem, contra os mais conservadores e os mais ortodoxos, impôs a lei do aborto. Lá, os socialistas não tiveram dúvidas. Giscard, líder da maioria, não interferiu. Quer isto dizer, uma vez mais, que somos subdesenvolvidos; e que, no caso, andamos atrasados, à direita e à esquerda. A menos que se rejeite a Europa moral e apenas se queira a Europa económica…”.
Paulo Portas, "Civis, Laicos e Europeus", in Tempo, 4 de Março de 1982, [PDF].
“Não tem nada a ver com a Europa um país em que o discurso da social-democracia sobre as questões morais se limita a dizer que o aborto é a restauração da pena de morte. É próprio dos mais conservadores dentro dos conservadores, e sul-americano concerteza. Não tem nada a ver com a Europa que a livre iniciativa seja um palmarés deixado vazio, preterido pelas fáceis e dóceis concessões às corporações fácticas. É próprio dos Estados sobretudo confessionais e não de sociedades civis dinâmicas. Não tem nada a ver com a Europa que se regrida a ponto de substituir o acto livre e consciente, por isso pleno e sublime de escolher uma religião, pela imposição de um princípio de obrigatoriedade, por isso sem elevação, nas escolas, de uma confissão. É próprio do passado.”
Paulo Portas, “A Europa Mora ao Lado”, in Tempo, 12 de Maio de 1982 [PDF].
“Nesta coluna não deixei de fazer notar divergências a uma série de atitudes e propostas que não se coadunavam com princípios modernos de relacionamento entre a sociedade, o Estado e as instituições. Assim se fez quando o Governo anunciou a concessão de um canal de Televisão à Igreja; assim se fez quando surgiu na maioria um discurso primitivo e desinteressante a propósito das questões éticas ou morais, como o aborto, mais afeito a ‘slogans’ que à percepção de um problema que não é fechado; assim se fez, recentemente, a propósito da reintrodução da obrigatoriedade das aulas da religião e moral nas escolas, por considerar-se a escolha religiosa um acto só sublime quando livre.”
Paulo Portas, "O Fascínio de João Paulo", in O Tempo, 20 de Maio de 1982 [PDF].
Fonte:http://barnabe.weblog.com.pt/arquivo/073630.html

Anónimo disse...

Passaram 9 anos. Mudei de opinião. Dia 11 de Fevereiro votarei SIM.
O meu voto é um voto sem militância religiosa ou partidária. É um voto sem ideologias. É um voto sem certezas absolutas. Resulta da ponderação dos vários factores, tantas vezes antagónicos, que estão em jogo neste referendo.
O meu voto pretende responsabilizar as mulheres, dando-lhes a oportunidade de tomar um decisão livre e consciente. Abortar diz, fundamentalmente, respeito à mulher. Porque é a mulher que é acusada por esta lei feita por homens. Porque é a mulher que tem que se sujeitar à gravidez. Porque os homens não têm qualquer dever perante a gravidez. Porque os homens, muitas vezes, não querem saber.
O meu voto pretende acabar com a clandestinidade. Não vale a pena continuarmos a enfiar a cabeça na areia: quem quer abortar e tem dinheiro vai a Espanha. Quem não tem dinheiro vai à clandestinidade comprar uma complicação que lhe pode amputar definitivamente a capacidade reprodutiva ou mesmo a vida.
O meu voto é pela coerência. Quando abandonamos as populações à sua sorte, não apostando em verdadeiras políticas de Educação Sexual e Planeamento Familiar, não temos legitimidade para castigar a mulher. E, mesmo que possamos, em consciência, condenar o acto da mulher que abortou, o que é que resolve submeter as mulheres à humilhação pública de um julgamento? Porque é que é entre os apoiantes do Não que encontramos as maiores resistências à implementação da Educação Sexual nas escolas?
O meu voto pretende criar mais justiça social. Não é raro depararmo-nos com terríveis histórias de vida a que a lei actual é completamente insensível e que o Código Penal continua a penalizar. Devemos respeitar o sofrimento do outro como o sofrimento do outro. Não vale a pena dizermos "o que faríamos se...". É que o "se..." faz toda a diferença.
O meu voto é pela tolerância. Este é inegavelmente um assunto sensível que divide a sociedade portuguesa. Não há certezas absolutas. Votar SIM abre uma janela de esperança e liberdade para todos. Votar Não é a manutenção da imposição de uma visão que não é nada consensual na sociedade portuguesa

Anónimo disse...

Então? A demorar essas horas todas a publicar os comentários, parece que estamos no tempo dos carteiros a pé.
Aliás, um tempo quer lhe deve deixar algumas (muitas?) saudades.

Anónimo disse...

É disto que tu gostas....
Martas e Toninhos.
Lindo

Anónimo disse...

A racionalidade dos juristas ficou bem patente nas Jornadas de Reflexão realizadas ontem, e que continuam hoje, no Casino Figueira, organizadas - com muito mérito, diga-se - pelo pastor Neto e Centro Social da Cova e Gala. O procurador da República e jurista Dr. Tiago Miranda, falho de argumentos, não teve pejo em reproduzir o bater do 'coração' de um feto de 10 semanas, apelando ao sentimentalismo mais básico. Registe-se que este jurista pertence ao movimento Aborto a Pedido, Não, que também esteve representado - por um jurista, uma docente universitária e um médico -no salão paroquial de Buarcos, onde pôs à venda reproduções em gesso de... fetos de 10 semanas. Com o apelo a que as pessoas da assitência os usassem na campanha pelo não. Acrescento que, no casino, no painel da tarde, os médicos presentes esclareceram que às 10 semanas não há coração, mas o projecto do que, a desenvolver-se a gravidez, se transformará no coração. Esclareceram também que, até às 10 semanas, por ausência de terminações nervosas do sistema nervoso central, ainda incompleto, não há dor.E deixo uma pergunta aos defensores do Não: o feto de uma mulher violada não tem batimentos? Então por que não pedem a alteração da lei por uma lei que não contemple quaisquer razões de exclusão de ilicitude? Haja honestidade intelectual! Que foi também a que faltou a Aguiar Branco, no Prós e Contras, quando tentou convencer-nos de que a pergunta do referendo tornava impossível ao legislador estabalecer, por exemplo, um período de reflexão para a mulher que pretende abortar, quando a questão do referendo é a que é porque só as questões essenciais são referendáveis, e não a sua tradução em lei, tarefa do legislador legitimamente eleito. Eu voto sim.

Anónimo disse...

Votem todos no "Eh, pá, talvez, vamos lá ver, a questão não é assim tão simples."
Vai ganhar ou talvez não, nao sei!!!

Anónimo disse...

O referendo não deixa de ser uma hipocrisia.
Sou e serei sempre pelo SIM, mas acho que a assembleia da republica, tem neste momento autoridade para mudificar uma lei estupida e obsuleta.Poupariam muitos milhares de Euros ao cofre tão debelitado do estado.
sejamos claros.

Nota: nem nas coisas sérias o estupido deixa de ser Burro e Anormal,não é Tonito? Isto é um assunto sério.

Beira-Mar

Anónimo disse...

12. Como é possível que católicas estejam pelo “sim” neste referendo?
Não estão a desrespeitar a doutrina da igreja?
A história da Igreja como instituição ensina-nos que a sua posição tem variado ao longo
dos séculos. Se formos por aí vamos encontrar situações surpreendentes. Mas olhando para o
presente, em que a Instituição, pela voz de homens que escolheram o celibato, que não têm
filhos, nem sabem o que é viver em família conjugal, continua a considerar que um homem
infectado com HIV-Sida não deve utilizar o preservativo nas relações sexuais mesmo com a
sua mulher, como pode essa Instituição afirmar que defende uma cultura de vida? E quando se
opõe afincadamente ao uso do preservativo como forma de prevenção do HIV (sabemos que
não é a única e que obviamente não pode ser apresentado como a grande panaceia da
epidemia)? Ou ainda, mais estranho, quando se opõe à utilização de métodos contraceptivos,
que acusam de artificiais, quando afinal todos os métodos, mesmo os chamados ‘naturais’
iludem a natureza? Quando as pessoas vivem uma sexualidade responsável e respeitadora
sabem que devem, é mesmo uma obrigação moral, essa sim, utilizar métodos contraceptivos
eficazes, caso não queiram engravidar. Evita-se e previne-se o aborto através da utilização
correcta de métodos contraceptivos.
Toda a mensagem de Jesus Cristo é uma mensagem de amor, de inclusão, de respeito
pela diferença, não condenatória, não julgadora. Seria melhor que a instituição-Igreja
respeitasse de uma forma mais perfeita os ensinamentos de Jesus, porque a maior parte dos
cristãos, que também são igreja, usam métodos contraceptivos sem qualquer problema de
consciência.
Além disso, esta lei não vai obrigar qualquer mulher a fazer um aborto e vivemos,
felizmente, num estado em que, para benefício de ambas as partes, há separação entre os
credos religiosos e o Estado. Devemos ser não só a favor da vida, como da dignidade da
própria vida. A solidariedade com o sofrimento das mulheres obrigadas a fazer abortos
clandestinos faz parte de uma prática cristã.

12. Como é possível que católicas estejam pelo “sim” neste referendo?
Não estão a desrespeitar a doutrina da igreja?
A história da Igreja como instituição ensina-nos que a sua posição tem variado ao longo
dos séculos. Se formos por aí vamos encontrar situações surpreendentes. Mas olhando para o
presente, em que a Instituição, pela voz de homens que escolheram o celibato, que não têm
filhos, nem sabem o que é viver em família conjugal, continua a considerar que um homem
infectado com HIV-Sida não deve utilizar o preservativo nas relações sexuais mesmo com a
sua mulher, como pode essa Instituição afirmar que defende uma cultura de vida? E quando se
opõe afincadamente ao uso do preservativo como forma de prevenção do HIV (sabemos que
não é a única e que obviamente não pode ser apresentado como a grande panaceia da
epidemia)? Ou ainda, mais estranho, quando se opõe à utilização de métodos contraceptivos,
que acusam de artificiais, quando afinal todos os métodos, mesmo os chamados ‘naturais’
iludem a natureza? Quando as pessoas vivem uma sexualidade responsável e respeitadora
sabem que devem, é mesmo uma obrigação moral, essa sim, utilizar métodos contraceptivos
eficazes, caso não queiram engravidar. Evita-se e previne-se o aborto através da utilização
correcta de métodos contraceptivos.
Toda a mensagem de Jesus Cristo é uma mensagem de amor, de inclusão, de respeito
pela diferença, não condenatória, não julgadora. Seria melhor que a instituição-Igreja
respeitasse de uma forma mais perfeita os ensinamentos de Jesus, porque a maior parte dos
cristãos, que também são igreja, usam métodos contraceptivos sem qualquer problema de
consciência.
Além disso, esta lei não vai obrigar qualquer mulher a fazer um aborto e vivemos,
felizmente, num estado em que, para benefício de ambas as partes, há separação entre os
credos religiosos e o Estado. Devemos ser não só a favor da vida, como da dignidade da
própria vida. A solidariedade com o sofrimento das mulheres obrigadas a fazer abortos
clandestinos faz parte de uma prática cristã.
Beira-Mar