segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O debate político-partidário local está degradado ha muito tempo

Nos idos de 1975, no decorrer do chamado PREC, alguma da direita mais radical alinhada com a "Maioria Silenciosa", trouxe ao debate político a moca de Rio Maior. 
Como sabem, a moca é um pau maciço, com uma ponta mais larga cravejada de pregos. Essa, era a arma que essa direita imbecil entendia ser a melhor para combater os comunistas. 

45 anos depois, em Agosto
 de 2020, na sequência de uma exposição enviada à Junta de Freguesia de S. Pedro relativa a um problema com uma caixa multibanco avariada no mercado local, assinada por duas residentes que juntaram à carta uma petição subscrita ao longo do mês de julho por uma centena de pessoas, António Salgueiro, um autarca militante e eleito pelo PS, respondeu, por escrito e em papel timbrado do órgão autárquico a que preside, a Junta de Freguesia de S. Pedro: "O silêncio é a única resposta que devemos dar aos tolos. Porque onde a ignorância fala, a inteligência não dá palpites"
A frase utilizada pelo autarca socialista é atribuída, em inúmeras fontes espalhadas pela internet, ao ditador italiano Benito Mussolini, considerado o pai do fascismo e aliado de Hitler, que morreu em 1945. 

O PSD criticou. Por sua vez, «o presidente da Câmara da Figueira da Foz e líder do PS local mostrou-se "indignado" com a postura do PSD! 
O presidente do município manifestou-se "indignado", sim, mas com a abordagem de que diz ter sido alvo o assunto por parte da concelhia do PSD. 
Que foi a seguinte: o PSD da Figueira da Foz acusou o presidente da junta de freguesia socialista de má conduta democrática, exigindo ainda ao presidente da Câmara Municipal que, "de uma forma clara e inequívoca, manifestasse o seu e o do seu partido maior repúdio por mais este desaforo à democracia representativa", sob a pena "de estar a ser cúmplice de má conduta democrática" do presidente da junta, António Salgueiro. 
E qual foi a resposta de Carlos Monteiro?
"Os presidentes de junta têm de prestar contas aos seus fregueses e não ao presidente da Câmara".
"É uma imagem", dirão os socialistas apoiantes de Salgueiro e Monteiro. 
Pois é. E bem verdadeira. É a imagem de quem acha que a política se faz à cacetada (deseja-se que apenas com o verbo). 

Quem acompanha a vida política local e assiste a reuniões da Assembleia e Câmara Municipal, sabe que não existe debate político há muitos anos na Figueira. 
Quando muito, existe debate partidário. Nas Assembleias Municipais a qualidade dos seus membros (principalmente nos partidos do chamado arco do poder) tem vindo a degradar-se eleição após eleição. 
(Quem duvidar desta realidade, que vá assistir a uma sessão e depois trocaremos opiniões...)
Como escreve João Vaz na edição de hoje do Diário as Beiras, «os actores com qualidade política são poucos. 
Nas reuniões da Câmara Municipal, entre presidente e vereadores, está o melhor palco local de discussão e debate político. Contudo, assistimos frequentemente a ataques pessoais, defesas de honra, “queixinhas pessoais” e um sem número de remoques sem substância política. Alguns políticos locais chegam a misturar a sua vida privada com a intervenção política, amiúde vitimizando-se, degradando o debate político.» 

E o que pode fazer um cidadão? Tentar exercer o direito de cidadania. Como pode e como sabe. Só que isso não é bem visto, nem benquisto, pelo poder do momento. 
Como cidadãos, em teoria, temos todo o direito de nos manifestarmos, contra ou a favor, com esta ou aquela linguagem, apenas com os limites da ética e do código penal. Só que os novos censores não aceitam a Liberdade de pensamento. Gostam é de estabelecer os limites da Liberdade de expressão e de pensamento. Na Figueira, os políticos no poder nunca fizeram esquecer algumas perversidades geradas no absolutismo de Salazar. 
Os intocáveis, como vimos na reacção de Carlos Monteiro em relação ao vergonhoso e antidemocrático comportamento do seu camarada António Salgueiro, esquecem o essencial: em democracia, tudo e todos estamos permanentemente em regime de prova
Em 2020, tal como em 1975 (aconteceu e acontece comigo...), o "lápis azul" assume formas mais maquiavélicas de tentar riscar as opiniões diversas. 
A ameaça velada, o sorrizinho amarelo, o passar à frente, o vê lá no que te andas a meter, a encomenda para a tentativa de silenciamento. 
Assim não vamos lá: só com o exercício da cidadania, cumpriremos a democracia.

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