sexta-feira, 10 de junho de 2022

Veleiros de regata internacional chegam hoje à Figueira

 Via Diário as Beiras

Ciclo de cinema de homenagem a realizadores figueirenses

Para ver melhor clicar na imagem


Vai decorrer no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, de 29 de junho a 31 de agosto, no Auditório João César Monteiro, um ciclo de homenagem a realizadores figueirenses, englobado nas comemorações dos 250 Anos de Elevação da Figueira da Foz a Vila. 
Estas sessões – de entrada gratuita – realizam-se às quartas-feiras, pelas 21H30, e contarão com a presença dos realizadores/produtores dos filmes, para uma conversa com o público. 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Essa é que é essa, como diria o Eça...

"A perda de poder de compra das remunerações médias por trabalhador, em Portugal, vai rondar os 3,5% em 2022, naquela que é a maior redução desde o tempo da troika e do programa de austeridade (2012) e uma das maiores do grupo de 33 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o chamado clube dos países mais avançados da economia global."

Festa da Sardinha começa hoje

 Via Diário as Beiras

Vai cumprir-se a tradição

Quim Barreiros: mais uma vez no Santo António da Figueiraonde gosta de cantar e de divertir...
E o Santo António retribui-lhe à maneira: gosta de o ver e ouvir...

PSD Figueira vai ter eleições no próximo dia 9 de Julho

Ricardo Silva tem sido, para o bem e para o mal, um figura central, importante, incontornável e interveniente, não só no PSD, mas no pequeno mundo que é a política figueirense. Decorridos vários anos, a frustração e o desânimo, são os sentimentos que, neste momento, dominam, de forma incontornável, o PSD Figueira. Terá valido a pena tanto esforço e tanto empenho dado à política e aos interesses políticos que defende Ricardo Silva?
A quem beneficiou a luta fratricida, melhor dizendo, a luta de opostos que decorreu entre laranjas figueirenses? 

No próximo dia 9 de julho, precisamente de hoje a um mês, "a Assembleia de Secção do PSD/Figueira da Foz reúne  para eleger a nova Comissão Política Concelhia".
A informação está na edição de hoje do DIÁRIO AS BEIRAS. 
Nesse sábado, as urnas estarão abertas entre as 14H00 e as 20H00, na sede do Grupo Caras Direitas, em Buarcos. Da ordem de trabalhos faz ainda parte, no primeiro ponto, a eleição da Mesa da Assembleia de Secção. 
As listas candidatas à eleição devem ser entregues ao presidente da Assembleia de Secção ou a quem estatutariamente o represente.
Recorde-se que, em finais de Junho de 2020, Ricardo Silva, foi reeleito presidente da Comissão Política Concelhia do PSD/Figueira, obtendo 184 votos, derrotando o candidato Carlos Rabadão, que obteve 141.
"único  vereador do  PSD no executivo camarário figueirense", venceu ainda o ex-presidente da Junta de Quiaios e ex-deputado municipal,  na candidatura à mesa da assembleia. Resultados: 182 votos para a lista A e 142 para a B.
Desta forma, Manuel Domingues foi reeleito para o cargo.  Teresa Machado saiu derrotada.
Como previmos na altura, "Ricardo Silva e a sua equipa, obtiveram uma vitória saborosa, mas difícil. Não iriam ser fáceis os 2 anos seguintes. Na altura, em declarações ao OUTRA MARGEM, o candidato vencedor começou por agradecer a grande mobilização dos militantes do PSD/Figueira: "esta vitória representa uma grande responsabilidade",  mas também um voto de confiança dado pelos militantes do partido, que reconheceram o trabalho feito "pelo único  vereador do  PSD no executivo camarário figueirense".
Ricardo Silva tinha a sua prioridade traçada para 2021: “conquistar a Câmara da Figueira, a Assembleia Municipal e as juntas de freguesia""Já estamos  a trabalhar nisso. Todos têm lugar". Na sua opinião, "o PSD continuava vivo na Figueira."
Entretanto, muita coisa aconteceu e o PSD teve o pior resultado de sempre nas autárquicas de setembro de 2021. Em finais de novembro do ano passado, deu-se "a formalização do pedido de renúncia de Ricardo Silva à presidência da Concelhia do PSD, que tinha sido apresentado a 3 de novembro".
Um dos vices, Carlos Ferreira, disponibilizou-se para preencher o lugar de líder da estrutura. Em 9 de julho próximo, vai, finalmente, realizar-se o acto eleitoral para a concelhia do PSD Figueira, que chegou a estar previsto par o início de 2022.

Habitação e outros problemas (4)

 Via Diário as Beiras

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Paula Rego (1935-2022)

Via O Sitio dos Desenhos

Habitação e outros problemas (3)

 Via Diários as Beiras

Teotónio Cavaco suspende mandato na AM. Fica por esclarecer se voltará para cumprir o mandato...

 Via Diário as Beiras

Se Rendeiro fosse pobre estariam muitas pessoas no seu funeral

 Luís Osório, via facebook

"1.
Sobre João Rendeiro o importante foi dito.
Não me ocorre nada de relevante ou que possa acrescentar ao que já escrevi, ao que já disse.
Quero então falar-vos dos vivos.
Dos amigos que o banqueiro tinha – ou, pelo menos, dos que se diziam amigos, dos que compareceram ao lançamento dos seus livros, dos que com ele fizeram negócios, dos que com ele almoçaram e jantaram, dos que foram visita de casa, dos advogados, dos que com ele trabalharam.
É desses que vos quero falar.
2.
Por que ontem no seu funeral não estava ninguém.
Contavam-se pelas mãos.
A sua mulher amparada pela irmã.
Mais algumas pessoas que não reconheci, três ou quatro, talvez mais uma ou duas que não chegam para os dedos das nossas duas mãos.
Absolutamente ninguém se despediu de João Rendeiro.
Um homem que estava sempre rodeado de gente, apesar de toda a gente que o rodeava saber desde primeiro momento que a sua seriedade era tudo menos à prova de bala.
Não era sério, mas já se sabia.
Era megalómano, mas todos o sabiam.
Era egocêntrico e focado na sua própria loucura e ambição, mas bolas todos o sabiam também.
3.
Nem um apareceu na Basílica da Estrela.
O mundo dos ricos tem destas coisas – a solidariedade, o respeito pela amizade ou a até a honra são sempre subordinados a outros valores mais importantes – ser visto ontem a cumprimentar a viúva seria sempre uma chatice grande, ninguém se quer queimar por alguém como o Rendeiro.
Os pobres nisso são diferentes.
Vemos assassinos a ser enterrados com centenas de vizinhos presentes.
Canalhas da pior espécie que, mesmo esses, não vão sozinhos para a terra ou para o crematório.
Na alta finança isso não existe.
O problema não foi João Rendeiro ter sido um vigarista.
O problema é que foi apanhado e enlouqueceu grávido de si próprio.
Esse foi o único problema.
Por que se não tivesse sido apanhado teria a sua quinta cheia de gente que o abraçaria em nome de uma amizade sem limites, uma amizade eterna, cheia de promessas de novos negócios, vinho exclusivo e os melhores chefs.
Teria sempre companhia para almoçar.
Teria sempre os seus livros a abarrotar de gajos com botões de punho de ouro.
Teria sempre os melhores lugares nos aviões, nos restaurantes.
E os melhores abraços.
Mas não.
Suicidou-se num buraco na África do Sul e saiu ontem da Basílica da Estrela como se nunca tivesse na sua vida conhecido uma única pessoa.
Terrível.
Revelador.
E angustiante."

E que tal um artigo sobre a máfia do BPN, professor Cavaco?

 João Mendes, via Aventar

"Cavaco Silva voltou a sair para o recreio, rancoroso como sempre, para bater nos meninos mais pequenos e recordar ao país a sua espectacularidade. Bateu em Costa, bateu em Rio e fez o número habitual que sempre faz quando tem oportunidade: auto-elogiou-se, com o pretenciosismo arrogante que há muito lhe conhecemos. Cavaco será sempre o maior da aldeia, pelo menos na perspectiva de Cavaco.

Pena nunca o ouvirmos sobre outros temas, mais caros a todos os portugueses. Nomeadamente sobre o saque que a sua antiga eutourage provocou com o BPN. Sobre a permuta com Fernando Fantasia na Herdade da Coelha. Sobre a compra e venda de acções da SLN. Sobre a coragem que não teve de abordar o assunto com a frontalidade que diz ter, ele que se acha o mais honesto dos homens.

Cavaco poderá ter sido um grande estadista para alguns, mas o final da sua carreira política é um completo desastre. Para a sua imagem, para o legado que afirma ter deixado e para o seu partido, que contínua refém da sua existência auto-centrada, qual Salazar deitado na cama após cair da cadeira, cuidando ainda governar o país. E a reverência da direita, para com este sombrio personagem, ilustra bem a sua incapacidade de voltar ao poder."

terça-feira, 7 de junho de 2022

Vem para a Figueira um dos maiores projetos a nível nacional para descarbonização de Economia no sector Rodoviário inicialmente previsto para Pombal

Via Município da Figueira da Foz

“A Figueira da Foz vai receber, junto das instalações do Porto da Figueira da Foz, um investimento de aproximadamente 12 000 000€ numa nova unidade industrial de combustíveis avançados. Recorrendo a tecnologia desenvolvida pela empresa, a nova unidade industrial será das mais desenvolvidas no mundo na produção de combustíveis avançados com poupanças estimadas entre 92 e 98% das emissões de CO2 comparativamente aos combustíveis fósseis usados no sector rodoviário. Com capacidade para 20 000 ton/ano, ao qual terá possibilidade de expansão para 60 000 ton/ano, permitirá ao País o cumprimento da Diretiva RED II no que respeita a combustíveis avançados.
Inicialmente projetada para o Concelho de Pombal, a Figueira da Foz ganha um dos maiores projetos a nível nacional para descarbonização de Economia no sector Rodoviário. Este investimento, será o início de um total de investimentos que a empresa tem projetado para os próximos dois anos, num valor total que atingirá 47 000 000€, tornando-se num dos grandes players europeus na produção de combustíveis avançados.
Numa primeira fase serão criados 36 postos de trabalho, dos quais 18 altamente qualificados. Com o concluir do projeto, espera-se que a empresa crie mais de 100 postos de trabalho.
A fase relevante do projeto terá a ver com o desassoreamento do Porto da Figueira da Foz, que permitirá trazer ao Terminal de Graneis Líquidos do Porto da Figueira uma nova vida.”

Habitação e outros problemas (2)

 Via Diário as Beiras

O coveiro


«Cavaco Silva tem desprezo pelos partidos. É assim desde que Sá Carneiro recusou reconduzi-lo, como ministro das Finanças, na passagem do VI para o VII Governo Constitucional. Mesmo sem essa mágoa, seria sempre assim com alguém que abomina o trabalho partidário e cuja primeira acção no PSD foi ser eleito seu presidente. Adepto da máxima “depois de mim, o dilúvio”, sonhou ser o coveiro do partido e está a consegui-lo: não lhe bastou fuzilar Rui Rio, também avisou Luís Montenegro de que vai ser o seu fiscal.
Cavaco fala e Costa exulta»

O Centro era “a região com perspetivas menos otimistas”

"Os hotéis apresentam uma taxa de ocupação entre 40% e 59% para os meses de junho a setembro, penalizada, sobretudo, pela região Centro, segundo um inquérito da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), ontem divulgado. De harmonia com os dados apresentados, em Lisboa, pela vice-presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, as reservas para junho apontam uma taxa de ocupação entre 40 e 59%, sendo que o Centro era “a região com perspetivas menos otimistas”, quando foi fechado o inquérito. “As reservas de junho ainda estavam muito baixas” para aquela região, acrescentou. Esta média mantém-se também para os meses seguintes, nomeadamente, até setembro, embora se verifiquem algumas diferenças nas regiões em destaque."

Via SICN

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Muito de tudo, nada de nada

Por António Araujo, via Diário de Notícias

"E o ponto é o seguinte: talvez sem se aperceberem disso, aqueles alunos da D. João II, de Setúbal, por certo sob orientação dos seus professores (e com a colaboração da Associação José Afonso), produziram um assombroso retrato social de um país já extinto, de um Portugal que morreu. Neste caso concreto, a viragem fatal ocorreu em meados de 1970, quando o governador civil de Setúbal anunciou urbi et orbi grandes transformações para a região, dizendo que "uma nova actividade, a do turismo, ensaia os primeiros passos para o aproveitamento da península de Tróia para o turismo de grande projecção". Em consonância, o senhor governador dava conta da construção de novas estradas e de obras no porto de Setúbal para a atracção do ferry-boat e, pouco depois, em Agosto, O Setubalense informava que a empresa Soltróia entregara na Câmara Municipal de Grândola, e que esta aprovara, um projecto de um conjunto turístico (1.ª fase) a construir na Ponta do Adoxe. O entusiasmo era enorme, contagiante, e, em Outubro, o mesmo jornal proclamava para breve, com ponto de exclamação e tudo, "O Algarve a 40 km da capital!".

No início do ano seguinte -- 1971, portanto --, Amália Rodrigues actuaria no restaurante Tróiamar para os representantes da imprensa estrangeira, a quem foi mostrado o plano de urbanização previsto para a península sadina, no qual se incluía um vasto conjunto de edificações com traço do arquitecto Conceição e Silva. "Tróia será em breve grande centro do turismo europeu!", novo ponto de exclamação de O Setubalense, que noticiava que "ao lado das boîtes, dos cinemas, dos teatros, dos campos de jogos, erguer-se-ão escolas primárias e pré-primárias. E tudo isto no prazo de quatro anos!" (novo ponto de exclamação). Nesse Verão de 1971, Américo Tomás inaugurou a nova travessia Setúbal-Tróia em hovercraft e prosseguiram a bom ritmo os trabalhos de demolição das barracas e construções clandestinas que, durante décadas, tinham servido de local de veraneio ou apoio de pesca às gentes setubalenses ("O que aconteceu não foi a destruição de Tróia, como muitos preconizaram. Talvez antes o despertar de Tróia"). Nas duas margens do Sado, ambiente ao rubro: "A Tróia é já hoje uma praia cosmopolita, que embriaga o espírito, que prende e alicia multidões. Daí a sua crescente rivalidade com estâncias congéneres estrangeiras." Talvez Tróia ainda não rivalizasse propriamente com a Riviera, mas os turistas, e sobretudo os mirones, não escasseavam: no dia 15 de Agosto de 1971, refere O Setubalense, acumularam-se lá 40 mil pessoas, que entupiram os acessos fluviais com filas de espera de longas e longas horas, só terminadas já passava da meia-noite.

O povo de Setúbal acorria em massa para ver as construções a nascer, o progresso anunciado sob a forma de betão, prometendo "piscinas e parques de jogos, dois supermercados, restaurante, esplanadas, dez-doze papelarias, livrarias, cabeleireiros". Era o Algarve a poucos quilómetros de Lisboa, a Côte-d"Azur à beira-Sado. Deu emprego a muitos, férias a muitos mais, lucros aos afortunados, discursos para os políticos, e não interessa aqui saber se, do ponto de vista económico, ambiental e até turístico, o que ocorreu em Tróia terá sido coisa boa ou coisa má, ou sequer como acabou a festa ou como hoje está tudo aquilo. O que importa assinalar, tão-só, é que, como sempre sucede, a mudança implicou ganhos e perdas, para todos e para alguns, e que a repartição das vantagens e das desvantagens talvez não tenha sido inteiramente equitativa ou sequer equilibrada. O povo não terá perdido por inteiro a sua Tróia, mas viu desaparecer um tempo e um modo de vida que eram seus, só seus, feitos de barracas e de clandestinos, de atropelos ambientais, de ruas desordenadas, com odores a fritos e tachos na areia. Mas perdeu-se também um tempo, para quem o viveu, de longos passeios a pé até ao Bico das Lulas, das travessias nos barcos do Albino e do Tomé, da apanha das camarinhas ou da captura de lagartos na Caldeira, de namoros começados à sombra das giestas batidas ao vento. E, nos princípios de Agosto, em data incerta, variando consoante os humores das marés do Sado, o ponto alto, as Festas da Tróia, tradição que remonta a 1758 e que ainda hoje se mantém. Os festejos iniciam-se com três noites de orações na Igreja de São Sebastião, em Setúbal, pelas almas dos marítimos falecidos, e no sábado, depois de missa e de procissão pelas ruas da cidade, os barcos dos pescadores partem da doca das Fontainhas. Numa das embarcações, à proa, a imagem de Nossa Senhora do Rosário ruma à Caldeira de Tróia, onde uma multidão a aguarda há muito. Há foguetes, nova missa, um jantar animado e, depois dele, uma procissão de velas pela areia. Recolhida a Santa, começa então o baile, até às tantas. No dia seguinte, mais missas, mais festas, mais procissões. Na segunda-feira, o Círio mais majestoso, de regresso a casa, passa pela Outão e pela Nossa Senhora do Cais e termina na Doca do Comércio. Agora mais discretamente, Nossa Senhora retorna à Caldeira e dá entrada na capela, à espera do ano que vem. Acaba a festa, acaba o Verão.

Durante décadas, do final da guerra até 1970, as famílias populares de Setúbal tinham por hábito passar o Verão inteiro na Tróia, três ou quatro meses a fio, o que, naturalmente, deixou lastro e memória em muita gente, que ainda hoje recorda que as Festas de Agosto eram sempre pontuadas pelas actuações do Xico da Cana, do conjunto Trio Azul, que recorda os gritos do Ervilha, o homem dos sorvetes ("Cá está o Ervilha! O Ervilha nunca falha!"), os farnéis levados para a praia, com tachos lavados no mar, as tardes em que os rapazes iam à caça dos patos enquanto as moças ficavam no areal à conversa e a ler fotonovelas Capricho. As únicas pessoas que tinham fatos de banho eram as que vinham da América, enquanto as outras se molhavam vestidas, com as roupas pelo joelho; a partir de 1968 começaram a aparecer os primeiros nudistas, quase sempre estrangeiros, para escândalo dos mais velhos e horror dos cabos-de-mar, que também olhavam desconfiados para as sabrinas, as minissaias e os biquínis que despontaram já na década de 70. Acampava-se no areal ou dormia-se ao relento, havendo alguns que, para se protegerem da humidade nocturna, estendiam toldos de lona atados às árvores e amanhavam-se como podiam. Aos poucos, começaram a surgir tendas de campismo, em condições mais do que selvagens: não havia esgotos nem água potável, tirava-se água de um poço para lavar a roupa e a louça; WC nem vê-los, duches também não, e, após um dia de banhos de mar, todos se deitavam com o sal no corpo. Quanto à alimentação, como recorda uma das entrevistadas para o livro Quando a Tróia era do Povo, "eu ainda sou do tempo de se levar para a praia autênticos festins de comida, principalmente quando ia com os meus avós". Peixe frito e arroz de tomate, levado dentro de um tacho de barro enrolado numa toalha, bifes panados, amêijoas de cebolada, linguiça assada, berbigão assado na brasa, peixe trazido de Setúbal, sardinhadas, caldeiradas. "Comia-se de tudo. Era desde coelho frito e arroz e peixe frito, mas sobretudo muito peixe frito e arroz de tomate, com pimento e peixe assado, peixe grelhado." Depois, longas sestas à sombra dos pinheiros mansos e, aos lanches, pão com banha de alho ou ovos cozidos, que ninguém ali tinha dinheiro para sandes de fiambre ou queijo. Em muitas famílias era hábito ir uma vez por semana a Setúbal confeccionar refeições para vários dias, que depois eram transportadas em grandes panelas a bordo dos barcos que faziam a travessia do Sado.

Curiosamente, ou talvez não, havia subtis diferenças de classe e de status, com os mais pobres, os pescadores, a irem para o lado da Caldeira, enquanto os restantes ficavam na Ponta do Adoxe, sendo lá, aliás, que estanciavam as estrelas, como o Fernando Vaz ou o Emídio, ambos treinadores do Vitória. Por vezes apareciam alguns estrangeiros, poucos, quase nenhuns, atraídos pelas ruínas romanas e, aos fins-de-semana, forasteiros do Montijo, do Barreiro, do Pinhal Novo. Com o tempo, porém, começaram a surgir pessoas da região de Lisboa e até de mais longe, do Porto e da região Norte. Na edição de 23 de Março de 1960, O Setubalense trazia a notícia de que o Clube dos Amadores de Pesca de Setúbal iria promover, no domingo próximo, uma excursão-passeio a Tróia, a fim de admirar as giestas em flor, com partida às 9h30 e regresso marcado para as 18h30. Uma delícia.

São gratas as memórias da Tróia do povo. "Era uma época feliz. Apesar da pouca qualidade de vida, divertíamo-nos e passávamos bons momentos juntos. Era um tempo que tínhamos para estar em família, com os amigos e a fazer novas amizades, com muito convívio, muitas festas, muita e boa música, bons cozinhados, muito de tudo", diz quem viveu esses anos.

E é isso que é espantoso, alguém afirmar que havia muito de tudo numa época e num lugar em que, para os nossos padrões, parecia não haver nada de nada: nem casa para dormir, nem água canalizada, nem frigoríficos, luz eléctrica, alimentos frescos, confortos mínimos, nada de nada. Agora, que temos essas coisas todas e muitas mais (Internet, smartphones, viatura própria, férias pagas, Punta Cana), será que iremos recordar os nossos dias como um tempo em que havia muito de tudo?

"O que é o tempo? É ver o mundo a mudar", escreve Jorge Calado em Mocidade Portuguesa, o seu livro mais recente, como sempre retumbante. De facto, a história da Tróia do povo mostra-nos o mundo a mudar no tempo, mas mostra-nos mais do que isso, mostra-nos o que é a nostalgia e até que ponto ela é diferente da memória. Quando ouvimos ou lemos como eram aquelas tardes ingénuas na península da Tróia, entre giestas e peixe frito, logo sentimos um frémito nostálgico, não porque tenhamos lá estado ou sequer porque desejássemos lá ter estado. Ninguém de bom senso aspira a regressar a essa época, de ditadura e pobreza, como ninguém de bom senso considera que aquele estendal de barracas no Sado, ou os clandestinos da Arrábida, ou os índios da Meia-Praia eram coisas belas e dignas de preservação. A nostalgia, ao contrário da memória, não tem a ver com o passado, mas com o presente (e com a incerteza do futuro). A memória reporta-se a um passado vivido, experienciado individual ou colectivamente, ao passo que a nostalgia é fantasiosa, ligada a pretéritos que não são nossos, como o da Tróia do povo, o Rio dos anos dourados de 1950 ou a Östalgie de Berlim nos tempos do comunismo. Sentimos nostalgia daquela época, imaginamo-la mais sadia e mais inocente do que realmente foi, porque nela projectamos as nossas frustrações do presente e as nossas angústias do futuro. Mesmo sabendo que havia miséria e violência, alcoolismo e injustiça, dramas terríveis, o passado parece-nos radioso, enternecedor, porque a actualidade nos desencanta - e quanto maior for o nosso desencanto com ela, mais intenso e onírico será o sentimento nostálgico. O facto de muitos russos, inclusive jovens, terem saudades do estalinismo poderá parecer assustador, mas não nos diz muito sobre se eles querem realmente voltar ao tempo das purgas e do Gulag; diz-nos, isso sim, que estão profunda e tremendamente desalentados com a Rússia de Putin e dos oligarcas. A nostalgia não é um produto da memória, mas, pelo contrário, fruto da desmemória, da ignorância da História."

Habitação e outros problemas


Imagem via Diário as Beiras

Em 2022, há mal-estar na Figueira e no País. 
Pese embora o optimismo e ligeireza desta crónica da vereadora Mafalda Azenha, em outubro de 2021, apesar das promessas, os salários já eram (e continuam) baixos, as pensões já eram (e continuam) exíguas, o poder de compra já estava estagnado (nos últimos meses tudo se agravou), a classe média já estava (e continua) a desfazer-se, a pobreza já estava (e continua) a alastrar, as desigualdades (e continuam) acentuavam-se, as famílias já estavam (e continuam) pesadamente endividadas. 
O temor pelo futuro continua a aumentar. 
A crise internacional aumentou e atingirá alguns com especial violência. 
É a mediocridade da economia que temos. 
Quando se analisa a sua evolução, torna-se inequívoco o declínio. 
Quando se imagina o futuro europeu de Portugal, ele é cinzento. 
Mais ano, menos ano, poderemos estar (se já não estamos) na “cauda” da Europa. 
Como é que a habitação não era, em outubro de 2021, um problema num concelho de um País destes, governado pelo PS e PSD há mais de 45 anos? 
Como é que todos os outros problemas não se vão agravar se os portugueses vão continuar a votar mais do mesmo?