Via Diário as Beiras
terça-feira, 27 de abril de 2021
O comboio vai de carrinho
Afonso Camões, via Diário de Notícias:
"Portugal tem hoje os mesmos quilómetros de caminhos-de-ferro que em 1893. Crescemos em autoestradas o que perdemos na ferrovia. Temos 1,17 quilómetros de autoestradas por cada quilómetro de linha férrea, mas estamos a 2 mil quilómetros dos nossos principais mercados e não há uma tonelada de mercadorias exportadas via terrestre que vá de comboio para lá da fronteira. Vai e vem tudo de camião e não há conversa sobre competitividade que convença o pagode.
É este quadro que o ministro Pedro Nuno Santos quer inverter, para "corrigir o erro histórico" que tem condenado ao desprezo o meio de transporte mais amigo do ambiente. No momento em que a União Europeia aponta metas que preveem triplicar o número de passageiros em comboio de alta velocidade e duplicar o tráfego ferroviário de mercadorias até 2050, o novo Plano Ferroviário Nacional, lançado há uma semana e em discussão pública por mais um ano, volta a anunciar a alta velocidade Lisboa-Porto e dá agora prioridade ao seu prolongamento até Vigo, em vez de Madrid.
A ambição de Pedro Nuno é pôr o caminho-de-ferro na base da mobilidade dos portugueses. Daí o objetivo de levar comboios a portos e aeroportos, ligar todas as capitais de distrito e ainda a um conjunto de cidades com mais de 20 mil habitantes, sem descurar as ligações a Espanha e ao centro e norte da Europa. Anotamos o compromisso."
Mudar de casa?
Crónica de João Vaz no Diário as Beiras:
"A minha atividade profissional levou-me a visitar e conhecer dezenas de edifícios onde funcionam Câmaras Municipais. Invariavelmente, os mais modernos são os menos interessantes. Não têm história nem a carga institucional que esperamos do órgão máximo do poder local. Por isso, inclino-me para que a Câmara Municipal da Figueira da Foz se mantenha onde está e muito bem, na parte mais antiga da cidade num edifício que se identifica com o percurso e história da cidade.
Mudar será um erro. Passar o coração das decisões municipais para um edifício moderno sem alma é retirar peso deliberativo e consensual às políticas municipais. A ideia da passagem do edifício da Câmara para um local mais moderno, e supostamente funcional, mostra alguma incapacidade em compreender que os edifícios valem muito mais do que a sua “modernidade”.
Naturalmente que reabilitar energeticamente o edifício da Câmara Municipal tem custos. Mas para uma Câmara que parece nadar em dinheiro, com adjudicações umas atrás das outras, algumas centenas de milhares de Euros não serão certamente problema. Aliás o dinheiro investido em conforto térmico, melhoria da ventilação e iluminação, tem um retorno positivo, reduzindo-se o consumo de energia, reduzindo-se emissões e poupando-se dinheiro. Para quando a reabilitação energética dos edifícios camarários, onde predominam salas muito frias no inverno e quentes no verão?
Vejo com bons olhos a ação da Câmara Municipal na reabilitação ativa de edifícios históricos, muitos há que estão devolutos e em pré-ruína, ocupando-os com vários serviços da sua tutela. Mas, nos últimos anos essa política parece estagnada sem que haja um impulso decisivo na dinamização da baixa da cidade."
"A minha atividade profissional levou-me a visitar e conhecer dezenas de edifícios onde funcionam Câmaras Municipais. Invariavelmente, os mais modernos são os menos interessantes. Não têm história nem a carga institucional que esperamos do órgão máximo do poder local. Por isso, inclino-me para que a Câmara Municipal da Figueira da Foz se mantenha onde está e muito bem, na parte mais antiga da cidade num edifício que se identifica com o percurso e história da cidade.
Mudar será um erro. Passar o coração das decisões municipais para um edifício moderno sem alma é retirar peso deliberativo e consensual às políticas municipais. A ideia da passagem do edifício da Câmara para um local mais moderno, e supostamente funcional, mostra alguma incapacidade em compreender que os edifícios valem muito mais do que a sua “modernidade”.
Naturalmente que reabilitar energeticamente o edifício da Câmara Municipal tem custos. Mas para uma Câmara que parece nadar em dinheiro, com adjudicações umas atrás das outras, algumas centenas de milhares de Euros não serão certamente problema. Aliás o dinheiro investido em conforto térmico, melhoria da ventilação e iluminação, tem um retorno positivo, reduzindo-se o consumo de energia, reduzindo-se emissões e poupando-se dinheiro. Para quando a reabilitação energética dos edifícios camarários, onde predominam salas muito frias no inverno e quentes no verão?
Vejo com bons olhos a ação da Câmara Municipal na reabilitação ativa de edifícios históricos, muitos há que estão devolutos e em pré-ruína, ocupando-os com vários serviços da sua tutela. Mas, nos últimos anos essa política parece estagnada sem que haja um impulso decisivo na dinamização da baixa da cidade."
segunda-feira, 26 de abril de 2021
Reflexão quase no final do primeiro dia do décimo sexto ano de publicação do OUTRA MARGEM
OUTRA MARGEM, hoje, entrou no décimo sexto ano de publicação.
Na Figueira, mais do que uma mediocridade instalada, existe uma passividade assustadora. Sente-se um pasmo quase geral.
As centenas de pessoas que visitam o meu blog, aquelas que por aqui passam mesmo para me ler, a meu ver, constitui uma parte da parte válida da população que existe, e que eu tenho imenso prazer em encontrar por aí.
Há gente de todas as idades. Ainda hoje de tarde me encontrei, por mero acaso, com um prestigiado e interventivo cidadão do nosso concelho, com mais de 80 anos, que me disse: "vou acompanhando o que escreve no OUTRA MARGEM"...
Fiquei satisfeito...
Mas, há também malta nova a ler, que espero seja capaz de tirar partido disso...
Espero que utilize inteligentemente a informação que recebe.
Espero, sobretudo, que tenha uma atitude, que não tem de ser sonhadora e utópica, como aconteceu nos anos 60 e 70 do século passado, mas uma atitude que lhe permita olhar de forma realista e positiva para as coisas que dizem respeito à sua vida e ao concelho onde vive.
E, já agora, que aja em conformidade.
Mas, há também malta nova a ler, que espero seja capaz de tirar partido disso...
Espero que utilize inteligentemente a informação que recebe.
Espero, sobretudo, que tenha uma atitude, que não tem de ser sonhadora e utópica, como aconteceu nos anos 60 e 70 do século passado, mas uma atitude que lhe permita olhar de forma realista e positiva para as coisas que dizem respeito à sua vida e ao concelho onde vive.
E, já agora, que aja em conformidade.
Sei também que existe quem não goste do OUTRA MARGEM.
Principalmente, aqueles que não gostam da opinião livre e transparente.
O Povo, todos nós, tem o pleno direito de saber como é que as coisas se passam. É um direito, legítimo e reconhecido legalmente.
Essa transparência, porém, incomoda.
Mas, é um valor democrático.
Demasiado oneroso para quem prefere o segredo no exercício da actividade política.
É essa a essência do problema. Por vezes, também, o problema do OUTRO MARGEM.
47 anos depois do 25 de Abril uma carta da filha ao pai...
Catarina Salgueiro Maia |
Catarina, Mau Feitio
Esta semana falei com um grupo maravilhoso de crianças e jovens sobre o 25 de Abril e fiquei encantada com o interesse deles. Fiquei tão feliz por saber que há, mesmo a 2000km de Portugal, professores que fazem questão que as gerações futuras dêem valor ao que vocês conquistaram naquele dia. No final, pedi-lhes para lembrarem Abril todos os dias e não deixarem que a memória se apague.
Porque esta é a minha mágoa! Ver os cravos ao alto nesta altura e os ideais esquecidos o resto do ano. Ver pessoas a celebrarem democracia quando, ao longo da vida, impõem ditaduras.
Vivemos tempo complicados! A pandemia continua, as restrições continuam e os desrespeitar de regras também! Os teus netos começaram os auto-testes na escola para que não tenhamos que fechar novamente. Mas continuam as festas clandestinas onde põem em risco não só a própria saúde como a de todos com que se vão cruzar nos dias seguintes. Estivemos muito tempo com os centros de cultura fechados, negócios fechados e limitados porque alguns se acham acima da lei!
Esta noite recebi uma mensagem de alguém a ofender-te e atacar-te! Surpreendentemente (vais ficar orgulhoso de mim ) não respondi e só pensei "foi também para isto que os capitães saíram à rua"! Mas sabes o que me magoou? O facto de, sem a Revolução, aquela alma não teria a ousadia de a enviar. Ou teria, porque seria um dos outros.
Sabes o que me deixa tranquila? Tu estás bem! Tu sabes o quanto foi importante para nós aquela viagem a Lisboa. Vocês sabiam que algo tinha de mudar. Que os pais não mereciam perder os filhos tão novos! Que Portugal não poderia continuar isolado e que a liberdade não poderia continuar aprisionada! Vocês sabiam que era "agora ou nunca" mesmo pondo as vossas vidas em risco! Vocês deixaram mulheres, pais, filhos em casa apreensivos e foram para a "frente de batalha" enquanto outros ficaram no quentinho e se auto-intitularam heróis atrás de mentiras.
A todos os que não cruzaram os braços, a todos os que desobedeceram e lutaram por nós, a todos os que vivem sobre os ideais de Abril... MUITO OBRIGADA!
A ti, meu Rei, obrigada por nunca teres desistido, obrigada por nunca teres mudado após o 25 de Abril e MUITO OBRIGADA por me dares a honra de te chamar PAI!
Meu Pai,
Cá estamos nós novamente a celebrar aquele dia mágico! Cá estou eu, a chata do costume, a escrever-te!Esta semana falei com um grupo maravilhoso de crianças e jovens sobre o 25 de Abril e fiquei encantada com o interesse deles. Fiquei tão feliz por saber que há, mesmo a 2000km de Portugal, professores que fazem questão que as gerações futuras dêem valor ao que vocês conquistaram naquele dia. No final, pedi-lhes para lembrarem Abril todos os dias e não deixarem que a memória se apague.
Porque esta é a minha mágoa! Ver os cravos ao alto nesta altura e os ideais esquecidos o resto do ano. Ver pessoas a celebrarem democracia quando, ao longo da vida, impõem ditaduras.
Vivemos tempo complicados! A pandemia continua, as restrições continuam e os desrespeitar de regras também! Os teus netos começaram os auto-testes na escola para que não tenhamos que fechar novamente. Mas continuam as festas clandestinas onde põem em risco não só a própria saúde como a de todos com que se vão cruzar nos dias seguintes. Estivemos muito tempo com os centros de cultura fechados, negócios fechados e limitados porque alguns se acham acima da lei!
Esta noite recebi uma mensagem de alguém a ofender-te e atacar-te! Surpreendentemente (vais ficar orgulhoso de mim ) não respondi e só pensei "foi também para isto que os capitães saíram à rua"! Mas sabes o que me magoou? O facto de, sem a Revolução, aquela alma não teria a ousadia de a enviar. Ou teria, porque seria um dos outros.
Sabes o que me deixa tranquila? Tu estás bem! Tu sabes o quanto foi importante para nós aquela viagem a Lisboa. Vocês sabiam que algo tinha de mudar. Que os pais não mereciam perder os filhos tão novos! Que Portugal não poderia continuar isolado e que a liberdade não poderia continuar aprisionada! Vocês sabiam que era "agora ou nunca" mesmo pondo as vossas vidas em risco! Vocês deixaram mulheres, pais, filhos em casa apreensivos e foram para a "frente de batalha" enquanto outros ficaram no quentinho e se auto-intitularam heróis atrás de mentiras.
A todos os que não cruzaram os braços, a todos os que desobedeceram e lutaram por nós, a todos os que vivem sobre os ideais de Abril... MUITO OBRIGADA!
A ti, meu Rei, obrigada por nunca teres desistido, obrigada por nunca teres mudado após o 25 de Abril e MUITO OBRIGADA por me dares a honra de te chamar PAI!
Na hora da saída, fica a herança do culto da modernidade perpetuada em Buarcos em jeito de placa....
José Tavares (Zé Esteves), assume claramente o paradoxo da modernidade: vai ficar conhecido pelas placas que inaugurar a partir de ontem.
Um dia depois do 25 de Abril
Vídeo sacado daqui
Penso nos 47 anos que decorreram, desde 1974.
Muita coisa, entretanto, aconteceu.
Os grandes obectivos do MFA foram cumpridos: a LIberdade, a Democracia, o fim da Guerra em África.
Falta cumprir muita coisa?
Muita coisa, entretanto, aconteceu.
Os grandes obectivos do MFA foram cumpridos: a LIberdade, a Democracia, o fim da Guerra em África.
Falta cumprir muita coisa?
Falta - e muito.
Naturalmente. Ainda mais para quem teve o privilégio de participar na utopia que tudo parecia poder tornar possível. Tudo prometia. E nada podia garantir.
Para muitos, nos quais eu me incluo, permanece o indispensável direito ao sonho.
Para isso, é fundamental preservar e cuidar a Democracia. A explicação, mais do que óbvia, é simples: é a base de tudo o resto.
Para muitos, nos quais eu me incluo, permanece o indispensável direito ao sonho.
Para isso, é fundamental preservar e cuidar a Democracia. A explicação, mais do que óbvia, é simples: é a base de tudo o resto.
Continuamos a ter liberdade para escolher...
Tem cerca de um metro e meio e olhos brilhantes, deu o nome a uma revolução – a Revolução dos Cravos – e não se julga merecedora de qualquer medalha ou homenagem; talvez por essa razão não lhe seja atribuído um reconhecimento geral e oficial.
Na imagem Celeste Caeiro, uma mulher que nunca deixou de ser pobre.
"Juntem o cravo branco do CDS ao cravo preto do Chega e temos o Portugal que que eles gostariam de comemorar: o Portugal a preto e branco de 24 de Abril."
domingo, 25 de abril de 2021
47 anos depois chegámos aqui. Há motivos para os democratas se preocuparem...
Em 2021, Rio, Ventura, Cotrim e Rodrigues dos Santos participam na grande reunião das direitas. O líder do PSD, Rui Rio, participa pela primeira vez nos estados-gerais da direita que o Movimento Europa e Liberdade (MEL) organiza desde 2019. Este ano, o evento está agendado para os dias 25 e 26 de Maio, no Centro de Congressos de Lisboa.
Isto, num momento em que a democracia
está “congelada”
e a culpa é do
“cartel” PS-PSD. Vários analistas concordam no diagnóstico: Portugal vive hoje uma crise
de representação política, uma crise
profunda na justiça e nas principais
instituições do Estado. Crises estas
resultantes sobretudo da cultura política do país e da ausência de grandes
reformas por parte de PS e PSD.
Amar Abril é amar a
democracia em todas as suas
vertentes e ser contra qualquer
tipo de ditadura.
À democracia
representativa deve aliar-se a
democracia participativa. A democracia tem de ser mais que um estado de alma: tem de ter expressão concreta no nosso dia a dia.O que mudou em Portugal 47 anos depois do 25 de Abril de 1974?
Tanta coisa. Somos mais, sabemos mais, vivemos melhor, gastamos mais
e vamos menos às urnas.
O perigo existe... E está aí.
A liberdade tem um gosto de maçã
Via Público |
“Era
uma vez, num reino
distante, um rei que
tinha medo do seu
povo. A verdade é que este rei era
tão medroso que a única forma de
se sentir seguro no trono era
controlando tudo o que as pessoas
faziam e diziam. Como não o podia
fazer sozinho (afinal ele era só um),
um dia decidiu chamar os seus
soldados mais fiéis e, com a sua
ajuda, criou uma polícia que servia
para vigiar os seus súbditos. Essa
polícia espalhou-se por todo o lado
e passou a registar tudo o que via
para depois contar ao rei. Às vezes,
essa polícia descobria coisas
importantes, mas, na maior parte
do tempo, tudo o que fazia era
denunciar, prender e torturar
quem criticasse o seu soberano.
Mas conseguem adivinhar o que
é que assustava mais o rei dessa
nação longínqua? Não eram armas
ou pessoas zangadas. O que ele
temia, com todas as suas forças,
era o conhecimento. Porque ele
sabia que o conhecimento era o
único alicate que poderia cortar as
amarras invisíveis do medo com
que ele mantinha preso o seu povo.
E foi por isso que o rei proibiu
muitos livros e muitas canções. No
reino da nossa história, o povo só
podia ler e ouvir as músicas que o
rei escolhia. Era um reino muito
triste e cinzento, sabem?
Além disso, o rei era também
muito injusto. Imaginem que
houve um dia em que mandou
prender um menino muito pobre
que, cheio de fome, subiu a uma
árvore para apanhar maçãs. Como
a macieira estava dentro do quintal
de uma casa muito rica, mesmo
que perto do muro, a polícia levou
o menino e deixou-o uma noite
sem comer numa cela fria. E este
menino não era o único com fome,
nada disso. O reino estava cheio de
pessoas tão pobres que, muitas
vezes, nem tinham dinheiro para
comer. Na casa do menino das
maçãs, sempre que havia peixe,
uma sardinha tinha de ser dividida
entre duas pessoas, imaginem. E
na maioria das noites tudo o que
comiam era um caldo de couve
com pão que os fazia deitar com a
barriga ainda a roncar de fome.
Os meninos também iam muito
pouco à escola porque tinham de
começar a trabalhar cedo para
ajudar os pais. Muitos deles nunca
sequer aprendiam a ler e a
escrever. Mas enquanto o povo
vivia com fome, os cofres do reino
estavam repletos de ouro e
algumas das poucas pessoas ricas
do país achavam que esse ouro,
trancado no palácio real e do qual
o rei muito se orgulhava, era mais
importante do que dar ao povo
condições de vida dignas.
As pessoas viviam
infelizes e
descontentes. O rei,
algumas vezes,
tentava distraí-las do
seu
descontentamento e entretinha-as
com o futebol, com a missa e com
alguns programas de televisão e
rádio que ele próprio escolhia. Mas
as pessoas queriam mais e estavam
demasiado cansadas. Para além da
fome, da pobreza, das más
condições de habitação e dos
fracos cuidados de saúde, toda a
gente estava cansada de não ser
livre. E, apesar de ninguém poder
gritar, o burburinho foi
aumentando.
Até que um dia, cansado da vida
difícil de todos, um grupo de
soldados decidiu criar um plano
para mandar embora o rei e para
devolver ao povo a liberdade. E
sem o rei imaginar, fazendo tudo
no maior segredo, num dia como o
de amanhã, 25 de Abril, usando
canções como sinal (sendo que
uma delas tinha até sido proibida
pelo rei), estes soldados
conseguiram o que antes parecia
impossível. O rei, quando viu
tantos soldados, percebeu que não
podia fazer nada e fugiu para outro
país. Já o povo ficou tão feliz por
ser finalmente livre que encheu as
ruas com centenas de cravos
vermelhos.
O reino longínquo mudou muito
depois desse dia. Não se tornou
um reino perfeito, é claro. Mas,
apesar de alguma turbulência
inicial, aos poucos tudo melhorou
e a pobreza tornou-se menos
marcada, havia menos
barriguinhas a roncar com fome à
noite, mais meninos nas escolas e
casas melhores e mais dignas.
Também se construíram hospitais,
mais gente chegou às
universidades e cada um passou a
ouvir a música que mais gostava e
a ler os livros que mais lhe
interessavam sem ter ninguém a
proibir.
Às vezes, muito de vez em
quando, alguém falava no velho
rei. E quando alguns mostravam
saudades desses tempos cinzentos
para a maioria, o menino das
maçãs que, entretanto, se tinha
tornado um homem, acertava-lhes
com um livro na tola e mandava-os
ter juízo. No que dependesse dele,
não voltaria à sua terra um rei de
tão má índole. Ele sabia bem quão
doloroso era viver em ditadura e
jurou que falaria sempre aos seus
sobre a importância da liberdade.”
E depois, quando eles
adormeceram e os vi tão perfeitos,
tranquilos e amados, parei uns
minutos para pensar no menino
das maçãs desta história. Hoje,
com dois e quatro anos, o João e o
Pedro são demasiado pequenos
para compreenderem que nunca
existiu um rei, que o reino distante
é o país onde nasceram e vivem e
que o menino das maçãs é tão real
que eu ainda carrego o apelido
dele. Mas daqui por alguns anos,
num 25 de Abril como o de hoje,
vou contar-lhes que esse menino,
na verdade, se chamava Manuel e
era o bisavô deles. O bisavô de
olhos muito azuis e pele tão clara
que parecia transparente. O bisavô
que ficava ofendido quando,
inocentemente, algum neto dizia
“tenho fome” porque isso era
quase uma blasfémia. Sabíamos lá
nós o que era fome, dizia. Mas ele
sabia, soube durante demasiados
anos. Ele que comia os caldos de
couve, que bebia água para encher
a barriga e que se acostumou
tanto às dores no estômago que a
fome provocava que já as tratava
quase como amigas. O bisavô
Manuel que não sabia ler nem
escrever e que olhava para os bifes
de vaca no prato com o mesmo ar
de encantamento com que eu
olhei pela primeira vez o tecto da
Capela Sistina. O bisavô que todos
os anos, enquanto as pernas o
deixaram, descia a rua até à
Boavista para ver desfilar os carros
da câmara enfeitados de cravos e
que no 1.º de Maio nem a horta
regava por ver nele um dia
sagrado.
Um dia, no alto da
minha inocência dos
11 anos e depois de
uma aula em que
falámos no assunto,
perguntei-lhe se era
comunista. E ele olhou para mim
muito sério, deu-me um calduço
com aquelas mãos enormes que
tinha e respondeu-me que essas
coisas não interessavam para nada.
Porque o partido dele, dizia-me,
era a liberdade.
E essa foi a minha herança
política. O menino que foi
castigado por subir a uma árvore e
apanhar maçãs foi o avô que me
ensinou que, custe o que custar, o
mais importante é sermos livres.
Como a gaivota, a papoila ou o
menino que não queria combater.
E essa é a lição que quero
transmitir e a herança que
pretendo deixar a estes dois
pequeninos que se entregaram
sem medo nos braços de
Morpheu.
As cores partidárias na nossa
família pouco importam e o nosso
voto não tem nem nunca teve
militância. Agora que penso nisso,
acho até que nunca votei duas
vezes seguidas no mesmo partido.
Mas votei sempre em liberdade.
Porque é aí, e só aí, que militam os
descendentes do menino das
maçãs. Na liberdade. Sempre na
liberdade. Pela liberdade sempre.
Palavras leva-as o vento...
Vídeo via Notícias de Coimbra
Em tempos cheguei a considerar "o poder local a maior conquista do 25 de Abril"...
Porém, aquilo que foi acontecendo na Figueira da Foz, ao longo destes últimos 40 e tal anos, retirou-me essa convicção.
Para mim, autarcas como Carlos Monteiro, entre outros, na sua acção quotidiana, contribuiram para isso...
Para mim, autarcas como Carlos Monteiro, entre outros, na sua acção quotidiana, contribuiram para isso...
Infelizmente, a meu ver, a Revolução não trouxe aos figueirenses um Poder Autárquico mais próximo da população.
Recomendo, vivamente, o visionamento deste filme. Não se esqueçam de também ouvir atentamente...
AUTÁRQUICAS 2021 NA FIGUEIRA: CHEGA DE COMÉDIA....
Autárquicas 2021: ponto da situação em 24 de Abril de 2021
CANDIDATURAS ASSUMIDAS À CÂMARA MUNICIPAL DA FIGUEIRA DA FOZ
Amanhã entramos no ano dezasseis!..
O responsável acredita que as coisas ganham vida própria quando lhes acrescentamos palavras. Nunca prometeu nada. Não ignora que existem ideologias. Porém, sabe que resultam mal quando são aplicadas em estado puro. Importante, é cada um de nós: a pessoa.
Andamos a postar todos os dias. Mesmo em anos em que não há eleições. Quinze anos! Sinceramente, nunca pensei que isto durasse tanto.
Há mais de 260 anos, David Hume, ao abordar a problemática da obediência civil, chegou à conclusão que o governo de uma nação se baseia no controlo da opinião pública, princípio que abarca todos os governos, as ditaduras civis, as ditaduras militares, os nepotismos e, até, as democracias.
Na prática, de acordo com a gestão das democracias ocidentais, a população pode ser “espectadora”, mas não “participante”, salvo quando de longe em longe coloca o voto na urna no acto eleitoral. Ou seja, na ocasional escolha de líderes partidários. Porém, onde se definem os verdadeiros rumos da política, é no campo económico, área de onde a população em geral deve de ser excluída.
Desta forma, existem doutrinas concebidas para impor o novo “espírito” da “democracia” segundo os moldes neoliberais. Para os teóricos do controlo das massas, a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões organizadas das massas constituem importantes componentes das sociedades ditas democráticas.
As minorias elitistas e informadas para atingirem os seus objectivos, fazem uso contínuo e sistemático da propaganda.
Aproveito para agradecer a cada um dos meus leitores. A todos - aos amigos e aos outros. Amanhã este blogue entra no ano dezasseis. O futuro há-de ser o que for possível...
Blog que se preze tem os seus detratores... O valor dos blogues, tal como o valor dos Homens, não se vê pelo número de amigos... Há mesmo quem considere, que é pelo número dos inimigos...
Que fique claro, porém, que a amizade é um dos maiores valores da vida e uma coisa linda, quando é pura e desinteressada. Nós sabemos que temos Amigos verdadeiros e desinteressados...
E PORQUÊ.
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