segunda-feira, 23 de abril de 2018
Barra da Figueira: não é uma completa inutilidade... Ao menos serve de mau exemplo.
"A Figueira da Foz, antes das obras, era uma barra perigosa e, depois, ficou uma barra de morte. Não permita que Leixões fique idêntica", solicitou um munícipe à presidente da autarquia de Matosinhos, Luísa Salgueiro, no decorrer da última Assembleia Municipal.
domingo, 22 de abril de 2018
A propósito de carros...
" Costa usa carro de 150 mil euros que Cavaco comprou e Marcelo não quis"...
Em tempo.
Nem todos conseguem andar de 4L!
Em tempo.
Nem todos conseguem andar de 4L!
Na beira do mar...
Estou mesmo na beira do mar...
Já agora, que é feito dos mexilhões e lapas das pedras do paredão desta outra margem do Mondego?..
Vejo-as agora desnudadas...
"Carro do tempo da revolução ainda está ao serviço da Saúde"!..
...40% dos automóveis das ARS são já do século passado.
Numa lista em que não faltam clássicos dos anos 1980, como o Citroën 2 CV, o caso mais extremo é o de uma Renault 4L com a mesma idade do sistema democrático português: 44 anos. Uma viatura anterior ao Serviço Nacional de Saúde, que tem irmãs já em museus, mas que continua ao serviço do Agrupamento de Centros de Saúde Dão-Lafões (ACES), da Administração Regional de Saúde do Centro.
O DN confirmou que o carro com matrícula de 1974 ainda circula e transporta, por exemplo, equipas de cuidados domiciliários em casos de emergência. Isto se os profissionais não se recusarem a fazê-lo, por razões de segurança. Problemas que se estendem a pelo menos metade do parque automóvel do ACES Dão-Lafões - que, segundo informações recolhidas pelo DN, precisa de renovação - e que estão longe de se resumir à zona centro.
Os dados entregues às câmaras mostram que as administrações de saúde gastaram, em 2016, cerca de 2,5 milhões de euros com as suas 821 viaturas, já incluindo gastos com combustível. Se olharmos apenas para os custos de manutenção e com seguros, esse valor ficou pouco acima dos 900 mil euros, cerca de metade do que foi gasto em táxis. E de uma amostra nacional de 280 automóveis (os dados das datas das matrículas no norte e em Lisboa e Vale do Tejo não são legíveis), 40% são do século passado, enquanto os modelos com menos de cinco anos são muito raros. Mais de metade da frota e dos custos com viaturas estão concentrados no norte e em Lisboa e Vale do Tejo, enquanto o centro se destaca como a região que mais gasta em táxis.
Questionada porque não investe este dinheiro na renovação da frota, como reclamam os profissionais de saúde, a ARS centro limita-se a responder ao DN que "tem nesta altura 180 viaturas ativas", três delas doadas em 2017 na sequência dos incêndios que afetaram a região. Já Lisboa e Vale do Tejo, que tem 262 carros para os seus 15 agrupamentos, admite: "Com o aumento do número de domicílios há uma maior necessidade de disponibilização de viaturas para transporte de pessoal, profissionais de saúde", estando prevista para este ano a aquisição de 30 automóveis, que correspondem a 12% da atual frota. "Mantendo esta cadência de aquisição, ao longo dos próximos anos será possível ver rejuvenescida, consideravelmente, a idade média das viaturas." Um investimento também previsto no norte, que tem 800 mil euros destinados à renovação de frota - que é nesta altura de 324 carros - nos próximos quatro anos, "além de estar a tratar de soluções alternativas a curto prazo", indica a ARS, que não dá detalhes sobre essas soluções e se o recurso a táxis faz parte desse lote. Em 2016, o norte gastou 767 mil euros em táxis, quase tanto como o centro, que tinha menos 135 viaturas. Visitas ao domicílio feitas a pé "Estamos a falar de despesismo puro e duro e de uma má estratégia em termos assistenciais, que serve para alimentar interesses privados", acusa Sérgio Branco, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, que relata casos de profissionais com problemas para prestar cuidados ao domicílio. "No Algarve, há uma equipa que faz visitas a pé, viagens de vários quilómetros, porque lhes quiseram imputar os custos de incidentes com as viaturas. A frota automóvel é violenta em termos de segurança e de higiene. Há uns tempos fui chamado a um centro de saúde de Loulé porque estavam a tentar usar uma viatura que não podia circular, por ter chumbado na inspeção, para transportar alunos de enfermagem."
A Administração Regional de Saúde contrapõe que não tem despesas com táxis e que "em janeiro de 2017 a ARS reforçou a frota com três novas unidades (em regime de aluguer operacional de veículos) para apoiar a atividade global de cuidados de saúde primários".
No Alentejo, a Administração Regional de Saúde admite a falta de veículos para "deslocação às extensões rurais e domicílios". A maior dificuldade prende-se "com a falta de viaturas para o elevado número de quilómetros, devido à grande dispersão geográfica que caracteriza o Alentejo. Este fator tem reflexos nos elevados custos com a conservação e reparação de viaturas", argumenta em respostas enviadas ao DN, nas quais também informa que não gasta dinheiro em táxis e que 30% da sua frota tem uma idade igual ou inferior a 2000. Já neste ano, em visita à Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, deputados do Bloco de Esquerda criticaram o governo por gastar quantias avultadas em táxis para transportar os profissionais de saúde, em vez de investir na frota, como tinha sido acordado com os partidos de esquerda. "Todos sabemos que nesta região, tendo em conta a dispersão geográfica e a idade e o perfil de saúde das pessoas, é preocupante a falta de viaturas que permitam a deslocação dos profissionais de saúde aos domicílios", alertou na altura o deputado bloquista Moisés Ferreira. "Mas não é um problema tão simples como parece", realça o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que lembra que há questões práticas que se colocam no terreno, "como uma enfermeira que vai e volta num táxi, ficando à porta do seu destino, sem ter de se preocupar com lugares de estacionamento, ou questões como os seguros dos carros". No entanto, Rui Nogueira reconhece que as despesas com táxis são muito elevadas.
Via Diário de Notícias
Numa lista em que não faltam clássicos dos anos 1980, como o Citroën 2 CV, o caso mais extremo é o de uma Renault 4L com a mesma idade do sistema democrático português: 44 anos. Uma viatura anterior ao Serviço Nacional de Saúde, que tem irmãs já em museus, mas que continua ao serviço do Agrupamento de Centros de Saúde Dão-Lafões (ACES), da Administração Regional de Saúde do Centro.
O DN confirmou que o carro com matrícula de 1974 ainda circula e transporta, por exemplo, equipas de cuidados domiciliários em casos de emergência. Isto se os profissionais não se recusarem a fazê-lo, por razões de segurança. Problemas que se estendem a pelo menos metade do parque automóvel do ACES Dão-Lafões - que, segundo informações recolhidas pelo DN, precisa de renovação - e que estão longe de se resumir à zona centro.
Os dados entregues às câmaras mostram que as administrações de saúde gastaram, em 2016, cerca de 2,5 milhões de euros com as suas 821 viaturas, já incluindo gastos com combustível. Se olharmos apenas para os custos de manutenção e com seguros, esse valor ficou pouco acima dos 900 mil euros, cerca de metade do que foi gasto em táxis. E de uma amostra nacional de 280 automóveis (os dados das datas das matrículas no norte e em Lisboa e Vale do Tejo não são legíveis), 40% são do século passado, enquanto os modelos com menos de cinco anos são muito raros. Mais de metade da frota e dos custos com viaturas estão concentrados no norte e em Lisboa e Vale do Tejo, enquanto o centro se destaca como a região que mais gasta em táxis.
Questionada porque não investe este dinheiro na renovação da frota, como reclamam os profissionais de saúde, a ARS centro limita-se a responder ao DN que "tem nesta altura 180 viaturas ativas", três delas doadas em 2017 na sequência dos incêndios que afetaram a região. Já Lisboa e Vale do Tejo, que tem 262 carros para os seus 15 agrupamentos, admite: "Com o aumento do número de domicílios há uma maior necessidade de disponibilização de viaturas para transporte de pessoal, profissionais de saúde", estando prevista para este ano a aquisição de 30 automóveis, que correspondem a 12% da atual frota. "Mantendo esta cadência de aquisição, ao longo dos próximos anos será possível ver rejuvenescida, consideravelmente, a idade média das viaturas." Um investimento também previsto no norte, que tem 800 mil euros destinados à renovação de frota - que é nesta altura de 324 carros - nos próximos quatro anos, "além de estar a tratar de soluções alternativas a curto prazo", indica a ARS, que não dá detalhes sobre essas soluções e se o recurso a táxis faz parte desse lote. Em 2016, o norte gastou 767 mil euros em táxis, quase tanto como o centro, que tinha menos 135 viaturas. Visitas ao domicílio feitas a pé "Estamos a falar de despesismo puro e duro e de uma má estratégia em termos assistenciais, que serve para alimentar interesses privados", acusa Sérgio Branco, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, que relata casos de profissionais com problemas para prestar cuidados ao domicílio. "No Algarve, há uma equipa que faz visitas a pé, viagens de vários quilómetros, porque lhes quiseram imputar os custos de incidentes com as viaturas. A frota automóvel é violenta em termos de segurança e de higiene. Há uns tempos fui chamado a um centro de saúde de Loulé porque estavam a tentar usar uma viatura que não podia circular, por ter chumbado na inspeção, para transportar alunos de enfermagem."
A Administração Regional de Saúde contrapõe que não tem despesas com táxis e que "em janeiro de 2017 a ARS reforçou a frota com três novas unidades (em regime de aluguer operacional de veículos) para apoiar a atividade global de cuidados de saúde primários".
No Alentejo, a Administração Regional de Saúde admite a falta de veículos para "deslocação às extensões rurais e domicílios". A maior dificuldade prende-se "com a falta de viaturas para o elevado número de quilómetros, devido à grande dispersão geográfica que caracteriza o Alentejo. Este fator tem reflexos nos elevados custos com a conservação e reparação de viaturas", argumenta em respostas enviadas ao DN, nas quais também informa que não gasta dinheiro em táxis e que 30% da sua frota tem uma idade igual ou inferior a 2000. Já neste ano, em visita à Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, deputados do Bloco de Esquerda criticaram o governo por gastar quantias avultadas em táxis para transportar os profissionais de saúde, em vez de investir na frota, como tinha sido acordado com os partidos de esquerda. "Todos sabemos que nesta região, tendo em conta a dispersão geográfica e a idade e o perfil de saúde das pessoas, é preocupante a falta de viaturas que permitam a deslocação dos profissionais de saúde aos domicílios", alertou na altura o deputado bloquista Moisés Ferreira. "Mas não é um problema tão simples como parece", realça o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que lembra que há questões práticas que se colocam no terreno, "como uma enfermeira que vai e volta num táxi, ficando à porta do seu destino, sem ter de se preocupar com lugares de estacionamento, ou questões como os seguros dos carros". No entanto, Rui Nogueira reconhece que as despesas com táxis são muito elevadas.
Via Diário de Notícias
Que é feito da "Gaivota?..
Houve o tempo em que a "Gaivota" gostava de ir planar para a entrada da barra da Figueira.
Chegava a casa toda salgada, mas gostava de ver os barco a sair e a baloiçar nas ondas!
Clicando aqui, podem ver o que ela via lá de cima.
Que terá acontecido à "Gaivota"?..
Chegava a casa toda salgada, mas gostava de ver os barco a sair e a baloiçar nas ondas!
Clicando aqui, podem ver o que ela via lá de cima.
Que terá acontecido à "Gaivota"?..
Cortaram-lhe as asas e deixou de poder voar?..
Será que o espaço público figueirense é propriedade de grupelhos?
"Na Figueira é difícil ser ousado e mudar o espaço público. Há resistência à mudança, falta de apropriação da modernidade e estamos longe de um entendimento mais ecológico do espaço público. Temos uma elite conservadora e nostálgica da “Figueira que sempre conheceu” a pedir o “coreto no Jardim”. Apesar dos desafios emergentes, desde a mitigação das alterações climáticas até à prevalência da obesidade infantil, os espaços públicos estão como eram há 30 anos. Pouco mudou na Figueira, excluindo o areal que foi “renaturalizado” e que é agora vivenciado.
As obras realizadas no espaço público são constrangedoras, como já escrevi aqui, o repisar dos anos 80 e 90. As vias urbanas são dimensionadas em função do automóvel, passeios estreitos, ondulados, piso escorregadio e impróprio para quem anda a pé; ausência de novos espaços verdes e nula arborização do espaço edificado. Quem faz o planeamento das obras municipais não anda a pé nem tem sensibilidade ambiental.
As recentes obras junto ao quartel (EPST) mostram que temos “mais do mesmo”, uma pobreza de engenharia e um urbanismo dos anos 80. Triste. Desencorajador. As forças de oposição defendem “o automóvel”, fazem guerra à Figueira Parques (porque não querem pagar o estacionamento?) e não têm ideias sobre espaços públicos de qualidade. O objetivo central das cidades europeias (Paris, Milão, Madrid, Hamburgo, Oslo,…etc.) é devolver o espaço público às pessoas, tornando-o mais ecológico, retirando o carro particular. Nós estamos a milhas do resto da Europa…"
"Mudar o espaço público", uma crónica de João Vaz, via AS BEIRAS.
As obras realizadas no espaço público são constrangedoras, como já escrevi aqui, o repisar dos anos 80 e 90. As vias urbanas são dimensionadas em função do automóvel, passeios estreitos, ondulados, piso escorregadio e impróprio para quem anda a pé; ausência de novos espaços verdes e nula arborização do espaço edificado. Quem faz o planeamento das obras municipais não anda a pé nem tem sensibilidade ambiental.
As recentes obras junto ao quartel (EPST) mostram que temos “mais do mesmo”, uma pobreza de engenharia e um urbanismo dos anos 80. Triste. Desencorajador. As forças de oposição defendem “o automóvel”, fazem guerra à Figueira Parques (porque não querem pagar o estacionamento?) e não têm ideias sobre espaços públicos de qualidade. O objetivo central das cidades europeias (Paris, Milão, Madrid, Hamburgo, Oslo,…etc.) é devolver o espaço público às pessoas, tornando-o mais ecológico, retirando o carro particular. Nós estamos a milhas do resto da Europa…"
"Mudar o espaço público", uma crónica de João Vaz, via AS BEIRAS.
sábado, 21 de abril de 2018
Se fosse vinho, a escolha era determinante. Há sempre uma ponderação entre preço e qualidade...
(... e a estação de tratamento de águas residuais de São Pedro, que conta agora com a participação de privados, continua uma merda...
Senhores responsáveis:
como é evidente,
o ambiente
é tudo o que nos rodeia.
É o Sol , é uma ideia.
É a chuva, é o rio.
É o vento a soprar.
São as praias à beira mar.
São os cheiros no ar!..
Em S. Pedro, junto à Ponte dos Arcos,
quem por lá anda,
nota o perfume da ETAR:
cheira a merda que tresanda!..
Estamos fartos.)
Senhores responsáveis:
como é evidente,
o ambiente
é tudo o que nos rodeia.
É o Sol , é uma ideia.
É a chuva, é o rio.
É o vento a soprar.
São as praias à beira mar.
São os cheiros no ar!..
Em S. Pedro, junto à Ponte dos Arcos,
quem por lá anda,
nota o perfume da ETAR:
cheira a merda que tresanda!..
Estamos fartos.)
Não se esqueçam que só pode votar quem tiver as cotas em dia!..
Via AS BEIRAS |
Será este, um tempo de mudança no PSD/Figueira?..
Será que vai haver mudança de hábitos e de processos?..
Mas, será que passado um mês tudo não voltará à normalidade!..
Esta nossa barra está numa situação crítica...
Na Figueira, há mais de 100 anos que os engenheiros se dedicam a fazer estudos para a construção de uma barra...
Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996.
Manuel Luís Pata, no extinto Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava então isto.
“Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”
A Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF) deverá realizar dragagens na barra este fim de semana, assim as condições marítimas o permitam.
A notícia foi avançada, ontem, pelo administrador Luís Leal, depois do comandante da capitania, Silva Rocha, ter alertado para o assoreamento do acesso às infraestruturas portuárias locais.
Hoje, pode ler-se nos jornais AS BEIRAS e Diário de Coimbra, que “a barra está, neste momento, numa situação crítica”, afirmou o militar, Silva Rocha realçou que, desde o início do ano, a barra esteve condicionada 63 dias a embarcações com comprimento inferior a 11 metros, outros 29 dias a embarcações com menos de 35 metros e encerrada durante 13 dias. Luís Leal adiantou que serão retirados 100 mil metros cúbicos da areia da barra, para repor o calado de 6,5 metros, que, devido ao assoreamento, neste momento, se encontra nos seis metros. A administração portuária vai iniciar dragagens, no final de setembro, a montante do molhe norte, que poderão transferir entre um e três milhões de metros cúbicos de sedimentos do areal urbano para a Praia da Cova. A quantidade de areia a definir está pendente da APA, que tem de se prenunciar se aquela transposição de areia necessita ou não de estudo de impacte ambiental. Aquele foi um tema abordado no debate promovido, ontem, pela APFF, nas suas instalações, sobre um estudo realizado pela Universidade de Aveiro sobre, justamente, o transporte de areias de norte para sul, no qual participaram Luís Leal (moderador) e Silva Rocha.
Esta nossa barra, ai esta nossa barra!..
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996.
Manuel Luís Pata, no extinto Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava então isto.
“Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”
A Administração do Porto da Figueira da Foz (APFF) deverá realizar dragagens na barra este fim de semana, assim as condições marítimas o permitam.
A notícia foi avançada, ontem, pelo administrador Luís Leal, depois do comandante da capitania, Silva Rocha, ter alertado para o assoreamento do acesso às infraestruturas portuárias locais.
Hoje, pode ler-se nos jornais AS BEIRAS e Diário de Coimbra, que “a barra está, neste momento, numa situação crítica”, afirmou o militar, Silva Rocha realçou que, desde o início do ano, a barra esteve condicionada 63 dias a embarcações com comprimento inferior a 11 metros, outros 29 dias a embarcações com menos de 35 metros e encerrada durante 13 dias. Luís Leal adiantou que serão retirados 100 mil metros cúbicos da areia da barra, para repor o calado de 6,5 metros, que, devido ao assoreamento, neste momento, se encontra nos seis metros. A administração portuária vai iniciar dragagens, no final de setembro, a montante do molhe norte, que poderão transferir entre um e três milhões de metros cúbicos de sedimentos do areal urbano para a Praia da Cova. A quantidade de areia a definir está pendente da APA, que tem de se prenunciar se aquela transposição de areia necessita ou não de estudo de impacte ambiental. Aquele foi um tema abordado no debate promovido, ontem, pela APFF, nas suas instalações, sobre um estudo realizado pela Universidade de Aveiro sobre, justamente, o transporte de areias de norte para sul, no qual participaram Luís Leal (moderador) e Silva Rocha.
Esta nossa barra, ai esta nossa barra!..
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar, o turismo já faliu - tudo nos está a ser levado...
Resta-nos a promessa dos paquetes de passageiros e os números das toneladas dos cargueiros...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...
Um romance que precisa de dicionário
"O Coro dos Defuntos", prémio Leya 2015, usa uma linguagem pretensiosa e anda aos tropeções entre um romance de costumes e um mistério.
De um coro dos defuntos, para mais galardoado com o prémio Leya, esperaríamos, se não a melodiosa voz dos Anjos em Glória, pelo menos mais traquejo literário. Este novo coro pode cantar mas não alegra: linguagem pretensiosa, escalada entre o popular e o erudito, na forma que Aquilino criou e já tantos imitaram. O resto é um solfejar monótono de acontecimentos históricos, a velha cantiga das aldeias ajoujadas de bichos canhestros, brutos e ignorantes. Em linguagem musical, um breve resumo: nota baixa, com sorte de se não marcar o tempo. Aí, teria a nota de ser mínima.
O romance de António Tavares foi construído a partir da linguagem. O romance passa-se numa aldeia, único sítio em que o linguajar aquiliniano ainda podia a custo respirar. Usam-se palavras difíceis, cheias de ressonância visigótica, espingardeadas a esmo nas cenas de caçadas e que brilham entre os altares da religião popular, tão úteis ao escritor palavroso: há, nos paramentos e nos missais do vetus ordo, um imenso léxico hoje quase desconhecido que ele se pode entreter a desbravar.
Não nos deteríamos antes de mais na forma se não o sugerisse o próprio livro; a marca mais vincada do Coro dos Defuntos, a par de um bordão (diz ela) que volta e meia ajuda a amaciar a passagem de uns temas para os outros, é esta linguagem pouco habitual, amanhada na gíria agrícola, com variações sobre palavras vulgares e uns requebros de erudição clássica, que concede uns latinismos à narração.
A opção, não tivesse já dado frutos pela pena de Aquilino, secado pela de Jorge Reis e saturada por uma multidão de artistas interessados em aproveitar o solo fértil, até podia ser original. Mas se o fosse, se cada exclamação não consistisse num grito de afirmação de paternidade usurpada ao autor do Malhadinhas, e se em cada personagem uma protuberância aquilina não indicasse a verdadeira filiação, que poderíamos dizer mais do estilo?
Que não deixa de ser cómica a decisão (não sabemos se do autor se do editor) de dificultar a vida a quem lê pejando o texto de um jargão regional incompreensível para depois a facilitar pondo um dicionário com os termos difíceis usados no fim do livro; que este dicionário é uma cândida confissão pública do forçada que a linguagem é: habitualmente, quando alguém escreve, procura dizer aquilo que quer; se usa um dicionário daquilo que disse, não estará a mostrar que afinal quis não expressar aquilo que quer expressar? O estilo é, de certa forma, a marca da personalidade do autor, aquilo que é próprio dele; um dicionário só mostra a artificialidade do estilo, mostra que, de certa forma, foi forjado, não é sincero; não é, sequer, estilo.
O lamentável erro em que cai o autor está em julgar que o uso de palavras estranhas é uma forma de fazer estilo, ou que o uso de um léxico variado é uma forma de precisão linguística. A habilidade de fazer estilo com um léxico variado não consiste em usá-lo: nesse caso, o dicionário de Morais já teria há muito destronado o Padre António Vieira como Imperador da língua portuguesa; a habilidade que tem Camilo, que tem (nem sempre, mas ainda assim…) Aquilino, passa por usar o vocabulário de uma forma tão expressiva que este consegue imediatamente ser percebido. Não é preciso um glossário para o Amor de Perdição porque não há nele nada que se perca: as palavras não só exprimem as imagens, como se exprimem a si próprias. O que acontece no livro de António Tavares é que perdem força as ideias e significado as palavras, o vocabulário interrompe, atravanca, cria trânsito; a história está neste livro como Eliza Doolittle na primeira aparição na sociedade. Pouco à vontade, ajaezada com roupas que não são as suas, excessivamente empolada, de tal forma que tudo soa a falso.
Há uns momentos de espanto, em que a junção dos elementos logra uma verdadeira habilidade, mas em todo o resto a mistura é de tal forma grotesca que o resultado acaba por ser o mesmo que ver um chimpanzé com farda de colégio a acertar exercícios de aritmética: a vestimenta é tão ridícula – neste caso, tão enfatuada – que a verdadeira proeza perde efeito.
Uma última nota sobre a linguagem, já mais que mastigada: a quem quer usar o vernáculo mais montanhoso com o pretexto de tratar de uma aldeia insulada, não basta enchumaçar o texto com palavrório beirão; tem também de purgá-lo de barbarismos. Mais estranho do que ouvir alguém falar de uma “lura” é a surdez selectiva de uma aldeia que não conhece a língua como ela se fala na sua pátria mas apropria-se de estrangeirismos como “gare” para dizer embarcadouro ou estação.
Mas enfim, percorrida a linguagem, aproveitemos a chegada à “gare” para mudar de linha…
Romance de costumes ou mistério?
Hesitamos, no entanto, em qual apanhar, porque a respeito do enredo parece haver pelo menos duas. Não conseguimos perceber se o autor quis fazer um romance de costumes, a saltar entre cenas da vida aldeã, de tal modo que a intriga passasse para segundo plano, ou se quis urdir um mistério que dominasse a narrativa.
Parece ter andado aos tropeções entre uma hipótese e outra, sem ter verdadeiramente decidido escolher. Para a primeira hipótese, concorre a entrada em cena da Rainha e sua irmã, do posteriormente emigrado Jorge, ou de Manuel Rato. São personagens que a dado momento da narrativa ganham importância, antes de desaparecerem deixando, na melhor das hipóteses, um tímido rasto de menções breves aspergidas pelo texto. Podia fazer sentido acrescentá-las, embora não sejam de importância capital para o enredo – Manuel Rato serve para a engorda do drama principal e Jorge é apenas um instrumento cuja única característica é ter um instrumento que mostra a transformação da Olivita. Podia fazer sentido acrescentá-las, dizia-se, caso servisse para dar perspectivas diferentes de uma situação, acrescentar dramas complexos da personalidade humana, qualquer coisa; mas a sensação com que ficamos é de que não existem personalidades. Todas as personagens são manequins curvados ao jugo estilístico, que cumprem a função de joguete enquanto o autor tem uma descrição elaborada para apresentar e que, sorvada a descrição, morrem ou emigram sem que isso provoque sequer um pensamento sobre um movimento comum de êxodo ou aumento da solidão. Isto é, nem o facto de as personagens desaparecerem de uma maneira abrupta parece ser propositado.
Repete-se: a opção de apresentar uma série de personagens com pouca relevância para o corpo principal seria legítima, se elas fossem levadas até ao fim. O que acontece é que elas são demasiado expostas para ambiente e demasiado esquecidas para serem importantes.
Podia um enredo bem construído dirimir todas estas questões e provocar a remissão do livro; no entanto, o corpo principal – o argumento – nem sequer é muito cuidado. O tronco da história é a morte da Chinchona, antiga prostituta, que aparece estrangulada. Podia nascer aqui certo mistério, mas o autor trata logo de o sufocar, ilibando para os leitores o principal suspeito à luz da aldeia. Disfarça-o com uma historieta místico-absurda sobre pedras, esquece o enigma por uns tempos e só volta a ele para o resolver com uma solução semi-arbitrária, que o autor já quase tinha eliminado (quem a mata é a mulher de um tal Albano que visita a prostituta frequentemente, movida pelo ciúme, quando o marido partilha o leito entre mulher e cunhada, sem que isto a enciume).
O crime é resolvido por uma denúncia, cuja justificação é dada sem grandes delongas por uma vidente: a antiga beata, vertida em rapariga sofisticada, teria visto o crime. À medida que deixa de pertencer psicologicamente à aldeia, vão afrouxando os laços que a ligavam aos vizinhos e acaba por fazer a denúncia. Não se explica se haveria um peso na consciência, porque é que o desinteresse pela aldeia provoca um revigorar do caso e não um esquecimento, nem há sequer um sinal de mudança provocado pelo peso do segredo, importante o suficiente para motivar um suicídio.
É esta a partitura do coro dos defuntos. Última nota, apenas, para dois aspectos que marcam também o livro. O autor, com grandeza e à-vontade cosmopolitas, de conhecedor, vai mesclando uns acontecimentos históricos na relação da vida aldeã. São estes interlúdios curtos, com a profundidade e informação plástica de um manual de liceu ou, por vezes, tão arbitrários como resultaria da consulta esparsa de jornais coevos: um número da Flama, talvez um Século Ilustrado, e pouco mais. Seria um entretém inútil, se não servisse para mostrar como as personagens são criações vocabulares, não pessoas. Estas notícias motivam, por vezes, fumos de comentador político nos aldeãos. Ora, a forma de comentar passa por encontrar uma semelhança auditiva ou uma ambiguidade semântica na descrição séria dos acontecimentos e convertê-la numa versão dadaísta sem mais relação do que parecenças fonéticas.
É esta uma doença que ataca vários autores desde o advento do “realismo mágico”. Mas há outra, mais antiga e com antibióticos suficientes para já estar dizimada, que volta e meia ataca ainda António Tavares. Trata-se do velho lugar-comum da literatura jacobina que consiste em insinuar maliciosamente umas certas interrupções clericais no voto de castidade, certas permissividades para com o pecado em troca de dinheiro e, claro, a libertação sexual da virgem púdica. Neste caso, então, o texto transborda classe e denodo: a virgem desce do alto de uma árvore para aplicar uma felação num pastorinho.
Síndroma de um velho estilo, já repisado, morto e enterrado: enfim, é mais um a juntar-se ao coro.
Nota de rodapé.
O ex-político António Tavares, foi recentemente medalhado pela Câmara com um voto contra...
Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. Colabora no site Velho Critério.
De um coro dos defuntos, para mais galardoado com o prémio Leya, esperaríamos, se não a melodiosa voz dos Anjos em Glória, pelo menos mais traquejo literário. Este novo coro pode cantar mas não alegra: linguagem pretensiosa, escalada entre o popular e o erudito, na forma que Aquilino criou e já tantos imitaram. O resto é um solfejar monótono de acontecimentos históricos, a velha cantiga das aldeias ajoujadas de bichos canhestros, brutos e ignorantes. Em linguagem musical, um breve resumo: nota baixa, com sorte de se não marcar o tempo. Aí, teria a nota de ser mínima.
O romance de António Tavares foi construído a partir da linguagem. O romance passa-se numa aldeia, único sítio em que o linguajar aquiliniano ainda podia a custo respirar. Usam-se palavras difíceis, cheias de ressonância visigótica, espingardeadas a esmo nas cenas de caçadas e que brilham entre os altares da religião popular, tão úteis ao escritor palavroso: há, nos paramentos e nos missais do vetus ordo, um imenso léxico hoje quase desconhecido que ele se pode entreter a desbravar.
Não nos deteríamos antes de mais na forma se não o sugerisse o próprio livro; a marca mais vincada do Coro dos Defuntos, a par de um bordão (diz ela) que volta e meia ajuda a amaciar a passagem de uns temas para os outros, é esta linguagem pouco habitual, amanhada na gíria agrícola, com variações sobre palavras vulgares e uns requebros de erudição clássica, que concede uns latinismos à narração.
A opção, não tivesse já dado frutos pela pena de Aquilino, secado pela de Jorge Reis e saturada por uma multidão de artistas interessados em aproveitar o solo fértil, até podia ser original. Mas se o fosse, se cada exclamação não consistisse num grito de afirmação de paternidade usurpada ao autor do Malhadinhas, e se em cada personagem uma protuberância aquilina não indicasse a verdadeira filiação, que poderíamos dizer mais do estilo?
Que não deixa de ser cómica a decisão (não sabemos se do autor se do editor) de dificultar a vida a quem lê pejando o texto de um jargão regional incompreensível para depois a facilitar pondo um dicionário com os termos difíceis usados no fim do livro; que este dicionário é uma cândida confissão pública do forçada que a linguagem é: habitualmente, quando alguém escreve, procura dizer aquilo que quer; se usa um dicionário daquilo que disse, não estará a mostrar que afinal quis não expressar aquilo que quer expressar? O estilo é, de certa forma, a marca da personalidade do autor, aquilo que é próprio dele; um dicionário só mostra a artificialidade do estilo, mostra que, de certa forma, foi forjado, não é sincero; não é, sequer, estilo.
O lamentável erro em que cai o autor está em julgar que o uso de palavras estranhas é uma forma de fazer estilo, ou que o uso de um léxico variado é uma forma de precisão linguística. A habilidade de fazer estilo com um léxico variado não consiste em usá-lo: nesse caso, o dicionário de Morais já teria há muito destronado o Padre António Vieira como Imperador da língua portuguesa; a habilidade que tem Camilo, que tem (nem sempre, mas ainda assim…) Aquilino, passa por usar o vocabulário de uma forma tão expressiva que este consegue imediatamente ser percebido. Não é preciso um glossário para o Amor de Perdição porque não há nele nada que se perca: as palavras não só exprimem as imagens, como se exprimem a si próprias. O que acontece no livro de António Tavares é que perdem força as ideias e significado as palavras, o vocabulário interrompe, atravanca, cria trânsito; a história está neste livro como Eliza Doolittle na primeira aparição na sociedade. Pouco à vontade, ajaezada com roupas que não são as suas, excessivamente empolada, de tal forma que tudo soa a falso.
Há uns momentos de espanto, em que a junção dos elementos logra uma verdadeira habilidade, mas em todo o resto a mistura é de tal forma grotesca que o resultado acaba por ser o mesmo que ver um chimpanzé com farda de colégio a acertar exercícios de aritmética: a vestimenta é tão ridícula – neste caso, tão enfatuada – que a verdadeira proeza perde efeito.
Uma última nota sobre a linguagem, já mais que mastigada: a quem quer usar o vernáculo mais montanhoso com o pretexto de tratar de uma aldeia insulada, não basta enchumaçar o texto com palavrório beirão; tem também de purgá-lo de barbarismos. Mais estranho do que ouvir alguém falar de uma “lura” é a surdez selectiva de uma aldeia que não conhece a língua como ela se fala na sua pátria mas apropria-se de estrangeirismos como “gare” para dizer embarcadouro ou estação.
Mas enfim, percorrida a linguagem, aproveitemos a chegada à “gare” para mudar de linha…
Romance de costumes ou mistério?
Hesitamos, no entanto, em qual apanhar, porque a respeito do enredo parece haver pelo menos duas. Não conseguimos perceber se o autor quis fazer um romance de costumes, a saltar entre cenas da vida aldeã, de tal modo que a intriga passasse para segundo plano, ou se quis urdir um mistério que dominasse a narrativa.
Parece ter andado aos tropeções entre uma hipótese e outra, sem ter verdadeiramente decidido escolher. Para a primeira hipótese, concorre a entrada em cena da Rainha e sua irmã, do posteriormente emigrado Jorge, ou de Manuel Rato. São personagens que a dado momento da narrativa ganham importância, antes de desaparecerem deixando, na melhor das hipóteses, um tímido rasto de menções breves aspergidas pelo texto. Podia fazer sentido acrescentá-las, embora não sejam de importância capital para o enredo – Manuel Rato serve para a engorda do drama principal e Jorge é apenas um instrumento cuja única característica é ter um instrumento que mostra a transformação da Olivita. Podia fazer sentido acrescentá-las, dizia-se, caso servisse para dar perspectivas diferentes de uma situação, acrescentar dramas complexos da personalidade humana, qualquer coisa; mas a sensação com que ficamos é de que não existem personalidades. Todas as personagens são manequins curvados ao jugo estilístico, que cumprem a função de joguete enquanto o autor tem uma descrição elaborada para apresentar e que, sorvada a descrição, morrem ou emigram sem que isso provoque sequer um pensamento sobre um movimento comum de êxodo ou aumento da solidão. Isto é, nem o facto de as personagens desaparecerem de uma maneira abrupta parece ser propositado.
Repete-se: a opção de apresentar uma série de personagens com pouca relevância para o corpo principal seria legítima, se elas fossem levadas até ao fim. O que acontece é que elas são demasiado expostas para ambiente e demasiado esquecidas para serem importantes.
Podia um enredo bem construído dirimir todas estas questões e provocar a remissão do livro; no entanto, o corpo principal – o argumento – nem sequer é muito cuidado. O tronco da história é a morte da Chinchona, antiga prostituta, que aparece estrangulada. Podia nascer aqui certo mistério, mas o autor trata logo de o sufocar, ilibando para os leitores o principal suspeito à luz da aldeia. Disfarça-o com uma historieta místico-absurda sobre pedras, esquece o enigma por uns tempos e só volta a ele para o resolver com uma solução semi-arbitrária, que o autor já quase tinha eliminado (quem a mata é a mulher de um tal Albano que visita a prostituta frequentemente, movida pelo ciúme, quando o marido partilha o leito entre mulher e cunhada, sem que isto a enciume).
O crime é resolvido por uma denúncia, cuja justificação é dada sem grandes delongas por uma vidente: a antiga beata, vertida em rapariga sofisticada, teria visto o crime. À medida que deixa de pertencer psicologicamente à aldeia, vão afrouxando os laços que a ligavam aos vizinhos e acaba por fazer a denúncia. Não se explica se haveria um peso na consciência, porque é que o desinteresse pela aldeia provoca um revigorar do caso e não um esquecimento, nem há sequer um sinal de mudança provocado pelo peso do segredo, importante o suficiente para motivar um suicídio.
É esta a partitura do coro dos defuntos. Última nota, apenas, para dois aspectos que marcam também o livro. O autor, com grandeza e à-vontade cosmopolitas, de conhecedor, vai mesclando uns acontecimentos históricos na relação da vida aldeã. São estes interlúdios curtos, com a profundidade e informação plástica de um manual de liceu ou, por vezes, tão arbitrários como resultaria da consulta esparsa de jornais coevos: um número da Flama, talvez um Século Ilustrado, e pouco mais. Seria um entretém inútil, se não servisse para mostrar como as personagens são criações vocabulares, não pessoas. Estas notícias motivam, por vezes, fumos de comentador político nos aldeãos. Ora, a forma de comentar passa por encontrar uma semelhança auditiva ou uma ambiguidade semântica na descrição séria dos acontecimentos e convertê-la numa versão dadaísta sem mais relação do que parecenças fonéticas.
É esta uma doença que ataca vários autores desde o advento do “realismo mágico”. Mas há outra, mais antiga e com antibióticos suficientes para já estar dizimada, que volta e meia ataca ainda António Tavares. Trata-se do velho lugar-comum da literatura jacobina que consiste em insinuar maliciosamente umas certas interrupções clericais no voto de castidade, certas permissividades para com o pecado em troca de dinheiro e, claro, a libertação sexual da virgem púdica. Neste caso, então, o texto transborda classe e denodo: a virgem desce do alto de uma árvore para aplicar uma felação num pastorinho.
Síndroma de um velho estilo, já repisado, morto e enterrado: enfim, é mais um a juntar-se ao coro.
Nota de rodapé.
O ex-político António Tavares, foi recentemente medalhado pela Câmara com um voto contra...
Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. Colabora no site Velho Critério.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Eleições de amanhã para a concelhia do PSD/Figueira...
"NOVO CANDIDATO, NOVA ESPERANÇA!", uma crónica de Carlos Tenreiro.
"É já amanhã que têm lugar as eleições para o PSD local. Muito se especulou nestes últimos tempos acerca da minha eventual candidatura a esse cargo. Apesar de simpatizante desde a sua fundação, apenas sou militante do partido há 4 anos, altura em que fui candidato à Junta de Freguesia de Buarcos e S. Julião. Não tenho, nem nunca tive aspirações a dirigente partidário, centrando-se as minhas motivações políticas em prol da defesa dos interesses da nossa terra."
Para continuar a ler, clicar AQUI.
Nota de rodapé.
1. "Espero que ao contrário do seu antecessor não receie abrir o partido à comunidade, aspecto vital para a sua desejável regeneração e credibilização."
Ainda que mal pergunte: quem é que convidou o doutor Carlos Tenreiro para candidato à Junta de Freguesia de Buarcos/S. Julião era ele apenas "simpatizante do PSD"?..
2. Para se ser candidato partidário não é imprescindível ser militante e ter as quotas pagas? Já agora: será que, amanhã, vai votar?
"É já amanhã que têm lugar as eleições para o PSD local. Muito se especulou nestes últimos tempos acerca da minha eventual candidatura a esse cargo. Apesar de simpatizante desde a sua fundação, apenas sou militante do partido há 4 anos, altura em que fui candidato à Junta de Freguesia de Buarcos e S. Julião. Não tenho, nem nunca tive aspirações a dirigente partidário, centrando-se as minhas motivações políticas em prol da defesa dos interesses da nossa terra."
Para continuar a ler, clicar AQUI.
Nota de rodapé.
1. "Espero que ao contrário do seu antecessor não receie abrir o partido à comunidade, aspecto vital para a sua desejável regeneração e credibilização."
Ainda que mal pergunte: quem é que convidou o doutor Carlos Tenreiro para candidato à Junta de Freguesia de Buarcos/S. Julião era ele apenas "simpatizante do PSD"?..
2. Para se ser candidato partidário não é imprescindível ser militante e ter as quotas pagas? Já agora: será que, amanhã, vai votar?
Um contributo para o conhecimento do que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974 na Figueira
"O 25 de Abril está aí à porta. Iremos assistir a cerimónias oficiais, ler-se-ão discursos, haverá por vezes bandas e palmas, trânsitos formais, poderão agitar ventos e consciências. O sol brilhará talvez, na esperança de palavras de vozes emprestadas.
Da bruma do tempo recordo o dia inicial, em que corremos para a Tipografia Cruz & Cardoso, para escrever e imprimir uma edição especial de “Mar Alto”, semanário onde, em equipa, um punhado tentava, na medida do possível, dar notícias do bloqueio em que vivíamos. Depois, fomos a correr afixá-lo, e às palavras de esperança, nas paredes. E imprimimos um a folha volante, assinada pela Oposição Democrática, texto escrito por Cerqueira da Rocha, Luís de Melo Biscaia, com o meu contributo, e não recordo se de outros. O Secretariado do MDP a sair para a claridade.
Foi distribuído o “panfleto”, pela cidade. A história está cheia de milhões de homens e mulheres que se têm sacrificado e lutado pelos mais desfavorecidos.
”São estes que encarnam a resistência (Ernesto Sabato)”.
Neste aniversário do 25 de Abril, em que as desigualdades, o desemprego, a fome vão crescendo, e a alta tecnologia e a finança ombreiam com a desgraça, não nos sentimos órfãos, porque este não é o tempo da amargura, e sim da esperança.
Nascerá da liberdade exterior aliada à liberdade interior, como Ghandi afirmou."
25 de Abril, por António Augusto Menano, via AS BEIRAS.
Da bruma do tempo recordo o dia inicial, em que corremos para a Tipografia Cruz & Cardoso, para escrever e imprimir uma edição especial de “Mar Alto”, semanário onde, em equipa, um punhado tentava, na medida do possível, dar notícias do bloqueio em que vivíamos. Depois, fomos a correr afixá-lo, e às palavras de esperança, nas paredes. E imprimimos um a folha volante, assinada pela Oposição Democrática, texto escrito por Cerqueira da Rocha, Luís de Melo Biscaia, com o meu contributo, e não recordo se de outros. O Secretariado do MDP a sair para a claridade.
Foi distribuído o “panfleto”, pela cidade. A história está cheia de milhões de homens e mulheres que se têm sacrificado e lutado pelos mais desfavorecidos.
”São estes que encarnam a resistência (Ernesto Sabato)”.
Neste aniversário do 25 de Abril, em que as desigualdades, o desemprego, a fome vão crescendo, e a alta tecnologia e a finança ombreiam com a desgraça, não nos sentimos órfãos, porque este não é o tempo da amargura, e sim da esperança.
Nascerá da liberdade exterior aliada à liberdade interior, como Ghandi afirmou."
25 de Abril, por António Augusto Menano, via AS BEIRAS.
Complexo Piscina Mar: o que vale é que continua a não faltar investidores interessados!..
A Câmara da Figueira da Foz vai lançar uma nova hasta pública para o complexo da piscina-mar, desta vez com um caderno de encargos menos exigente. A primeira tentativa, em 2017, recorde-se, ficou deserta. “Houve muitos interessados, mas, quando chegou a hora da verdade, não concorreram, porque consideraram o projeto pouco rentável”, afirmou a vereadora Ana Carvalho um dia destes ao jornal AS BEIRAS.
O vencedor do concurso terá de assegurar a concessão, a construção e a exploração do espaço. Isto é, fazer o projecto e as obras e assumir a concessão por um período de 50 anos. Se alguém vier a explorar aquele imóvel icónico da Figueira da Foz, construído no início dos anos 50 do século passado, terá de investir, no mínimo, dois milhões de euros, mas não terá de pagar renda, já que a autarquia abdicou daquele rendimento, tendo em conta o valor do investimento e a utilidade da reabilitação e da utilização daquele edifício municipal. O concessionário terá, no entanto, de garantir uma caução de 120 mil euros.
“Esta será a última tentativa, atendendo ao estado de degradação do edifício. Se não aparecer um privado, em última instância, terá de ser a autarquia a fazer as obras”, vereadora Ana Carvalho na edição do jornal AS BEIRAS do passado dia 19.
A hasta pública do imóvel turístico foi votada, ontem, na reunião de câmara.
Foi aprovada com os votos do PS (seis) e um do PSD (Ricardo Silva).
Miguel Babo e Carlos Tenreiro (PSD) votaram contra. O primeiro defendeu que o imóvel deve ser recuperado e explorado pela autarquia.
Ricardo Silva, por seu lado, justificou que votou a favor porque quando o PSD foi poder na autarquia também concessionou o complexo turístico municipal.
E pronto.
Não pensem muito. Não há mais problemas.
Não devem continuar a faltar investidores interessados.
Como dá para ver, o problema não é que existam problemas.
O problema é esperar outras coisas e pensar que ter problemas é um problema.
E, já agora, a Piscina Mar, se não servir para mais nada, sempre há-de servir para "gratificar os trabalhadores camarários"...
O vencedor do concurso terá de assegurar a concessão, a construção e a exploração do espaço. Isto é, fazer o projecto e as obras e assumir a concessão por um período de 50 anos. Se alguém vier a explorar aquele imóvel icónico da Figueira da Foz, construído no início dos anos 50 do século passado, terá de investir, no mínimo, dois milhões de euros, mas não terá de pagar renda, já que a autarquia abdicou daquele rendimento, tendo em conta o valor do investimento e a utilidade da reabilitação e da utilização daquele edifício municipal. O concessionário terá, no entanto, de garantir uma caução de 120 mil euros.
“Esta será a última tentativa, atendendo ao estado de degradação do edifício. Se não aparecer um privado, em última instância, terá de ser a autarquia a fazer as obras”, vereadora Ana Carvalho na edição do jornal AS BEIRAS do passado dia 19.
A hasta pública do imóvel turístico foi votada, ontem, na reunião de câmara.
Foi aprovada com os votos do PS (seis) e um do PSD (Ricardo Silva).
Miguel Babo e Carlos Tenreiro (PSD) votaram contra. O primeiro defendeu que o imóvel deve ser recuperado e explorado pela autarquia.
Ricardo Silva, por seu lado, justificou que votou a favor porque quando o PSD foi poder na autarquia também concessionou o complexo turístico municipal.
E pronto.
Não pensem muito. Não há mais problemas.
Não devem continuar a faltar investidores interessados.
Como dá para ver, o problema não é que existam problemas.
O problema é esperar outras coisas e pensar que ter problemas é um problema.
E, já agora, a Piscina Mar, se não servir para mais nada, sempre há-de servir para "gratificar os trabalhadores camarários"...
Subscrever:
Mensagens (Atom)