Um dia destes, ao fazer uma caminhada pelas ruas da minha Aldeia, passei pela Rua António dos Santos - o Tróia - e deparei com a placa no topo norte da rua (para quem não sabe, é a que vai dar mesmo até à entrada do porto de pesca) no estado que a foto mostra.
Confesso que não gostei e, espero, que depois deste reparo a placa que recorda na toponímia cova-galense um lobo do mar, talvez um dos maiores de toda a orla marítima portuguesa, de seu nome António Santos - o Tróia, volte a ter a dignidade e o respeito que o homenageado, em devido tempo, pela Comissão de Toponímia da junta de freguesia de S. Pedro, merece.
Conheci muito bem António dos Santos - o Tróia, a sua esposa - a dª. Elvira - e as suas filhas.
A sua casa ficava a cerca de 200 metros para sul da casa dos meus Pais. A casa em madeira, embora já não pertença à família, ainda lá está: fica na esquina, lado norte, da rua que dá acesso às antigas instalações do Alberto Gaspar.
Por uma questão de precisão histórica, porém, recorro ao livro A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, vulme II, de Manuel Luís Pata, que retrata essa figura lendária que se chamou António dos Santos, mais conhecido pelo o Tróia.
Nasceu na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, a 15 de Fevereiro de 1912.
Fez 6 campanhas ao bacalhau. Entre as razões que o levaram a ter abandonado a pesca ao bacalhau, não esteve de certeza o medo. Escreve quem o conheceu: "por medo? Não! O Tróia não sabia o que era o medo. Ele tratava o mar por tu, o mar era o seu grande companheiro do dia a dia...
O Tróia deve ter deixado a pesca do bacalhau, não por medo, mas sim por revolta pela desumanidade que imperava naquela vida, que não se enquadrava na sua maneira de ser. Enquanto para alguns capitães o bacalhau representava mais do que a vida dos pescadores, ele, Tróia, vária vezes tinha posto a sua vida em perigo para salvar vidas em naufrágios ocorridos na barra da Figueira da Foz. O Tróia, antes de embarcar para a pesca do bacalhau, já tinha dado provas da sua bravura, quer na sua bateira a remos, quer a nado, cometendo actos de invulgar heroísmo. Ele parecia possuir algo sobrenatural: de noite, acordava e levantava-se da sua cama, quando pressentia que algo de grave se passava nas proximidades da barra da Figueira. E, muitas vezes, o seu pressentimento estava certo. Nessas ocasiões, saltava para dentro da sua bateira, quer em noites de verão, quer em noites invernosas e fazia-se à barra, muitas das vezes antes das sereias dos Bombeiros começarem a roncar a dar o alarme. Quando chegava o socorro já lá andava o Tróia a furar o mar..."
Quem recorda o Tróia, lembra-o como um lobo do mar, possivelmente um dos maiores que existiram na orla marítima portuguesa.
Manuel Luís Pata, ao vivo, assistiu o dois naufrágios em que o Tróia arriscou a sua própria vida para salvar outras vidas.
"O primeiro foi o encalhe da traineira Sagres, nos rochedos do Forte de Santa Catarina. O outro, foi o encalhe do iate de cabotagem Bem Aventurado ao sul dos blocos da barra no Cabedelo."
Nesta ocorrência, todo o esforço do Tróia foi feito a nado, batendo-se com o mar, a passar cabos do navio para terra. Graças à sua coragem, toda a tripulação se salvou e alcançou terra. Neste naufrágio, a que assistiu Manuel Luís Pata, o único meio possível de ajudar as vitimas era a nado pois não havia outro meio de chegar ao navio - "só um Tróia teria a força e a coragem para o fazer".
Relatar uma vida cheia como a de António dos Santos - o Tróia não é tarefa fácil. Muito mais haveria a escrever. Porém, esta postagem para além de apenas recordar uma figura com a dimensão humana de poucos, pretende chamar a atenção de quem de direito para a dignidade que merece a preservação da sua memória numa rua da freguesia de S. Pedro.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Um contributo para tentar compreender o momento que vivemos
Mas, não se esqueceu de lembrar esta garantia: “não fazemos nem propomos nada que não tenhamos afirmado ou proposto durante a campanha eleitoral.”
Muita gente, critica de forma leviana e completamente acéfala, o balanço das realizações do regime democrático que vigora em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, apontando uma falha grave, que realmente existe: a subsistência da pobreza e da iliteracia.
Muitos, até bem intencionados, tiram a conclusão que a “democracia não foi cumprida”.
Vamos lá a um ponto da situação, até porque o momento que vivemos, assim o determina e exige.
A Democracia - esta democracia representativa - limita-se a proporcionar um método de decisão colectivo e de transição pacífica dos governantes.
As eleições, isto é o processo de decisão maioritária, porém, não garantem, nem asseguram, a justeza das decisões de quem ascende ao poder pelo voto da maioria, como temos constatado nestes últimos cerca de 40 anos em Portugal.
Nomeadamente, ficaram por cumprir objectivos que eram fundamentais terem sido cumpridos.
Aponto apenas dois: o respeito pelos direitos das pessoas e a boa conduta dos governantes.
41 anos depois do 25 de Abril de 1974, a Democracia - esta democracia representativa - foi “cumprida”, a partir do momento em que se devolveu aos portugueses o poder de voto, como estamos a verificar pelo desespero que se verifica neste momento no espectro político à direita do PS.
A meu ver, é um erro grave, e potencialmente perigoso, exigir a este sistema democrático objectivos que vão para além da escolha democrática dos governos.
O que estamos a viver por estes dias foi um avanço da nossa Democracia - esta democracia representativa.
Penso que estamos a ganhar todos: os de esquerda e os de direita.
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Assis: nada de novo...
Curiosa, no mínimo, a análise de Francisco Assis sobre a actuação do PCP e BE na vida democrática.
Ora foi determinante: "os deputados do PCP e do Bloco de Esquerda contribuíram para a tomada de decisões parlamentares da maior relevância pública. Foram determinantes para derrubar governos, concorreram para a aprovação de legislação de inegável importância, participaram activamente no processo de fiscalização da acção executiva".
Ora foi irrelevante: "a extrema-esquerda parlamentar optou deliberadamente por um acantonamento político impeditivo de qualquer participação não só na esfera estrita da governação, como no horizonte mais vasto de definição das grandes prioridades".
Afinal,em que ficamos senhor Assis?
Cavaco Silva, pelos vistos, não está só, nem é o principal agente a pretender dividir o PS para atingir os seus objectivos.
Leiam o artigo de Francisco Assis, no Público de hoje. No que está lá escrito, vê-se que existe, dentro do PS, um ponta de lança, de seu nome Francisco Assis, à espera do falhanço de Costa...
O sentido deste senhor Assis sempre foi este: direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita…
Ora foi determinante: "os deputados do PCP e do Bloco de Esquerda contribuíram para a tomada de decisões parlamentares da maior relevância pública. Foram determinantes para derrubar governos, concorreram para a aprovação de legislação de inegável importância, participaram activamente no processo de fiscalização da acção executiva".
Ora foi irrelevante: "a extrema-esquerda parlamentar optou deliberadamente por um acantonamento político impeditivo de qualquer participação não só na esfera estrita da governação, como no horizonte mais vasto de definição das grandes prioridades".
Afinal,em que ficamos senhor Assis?
Cavaco Silva, pelos vistos, não está só, nem é o principal agente a pretender dividir o PS para atingir os seus objectivos.
Leiam o artigo de Francisco Assis, no Público de hoje. No que está lá escrito, vê-se que existe, dentro do PS, um ponta de lança, de seu nome Francisco Assis, à espera do falhanço de Costa...
O sentido deste senhor Assis sempre foi este: direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita, direita…
Conselhos...
O Olívia Ribau, no estuário do Mondego, numa foto de António Agostinho desta manhã, cerca das 9 horas. Mais fotos aqui. |
Crónica de Rui Curado da Silva publicada no jornal AS BEIRAS.
Uma conversa comigo...
Escrever este blogue, para mim, é uma coisa normal.
Desde sempre me fascinou o desafio da página em branco.
Ainda mais, quando nada me obriga a fazê-lo.
Eu sei que na Aldeia, escrever publicamente é perigoso.
Não tenho, como nunca tive, medo de me manifestar, através da opinião e do testemunho.
Não sou isento. Aliás, ninguém é isento. Todos fazemos escolhas. Todos tomamos partido. Uns, de forma mais serena, outros de forma mais ponderada.
Mas, nos tempos conturbados e perigosos que vivemos, não ter medo, salvo raras excepções, não é um estado de espírito inato. Resulta de uma aprendizagem de anos, na qual as nossas relações com os outros e a Aldeia global em que vivemos, nos foi construindo a pessoa que somos permanentemente em construção.
Escrito isto, que fique claro que não pretendo, nem acredito, que a minha opinião mude algo na minha Aldeia, na minha cidade, no meu país ou à face da terra.
A minha motivação é simples e singela: limita-se, apenas, a desabafar, a partilhar emoções, ou criticas azedas, ao que nos vai acontecendo, por culpa de quem decide por nós o rumo das nossas vidas.
A minha escrita, por aqui, é, sobretudo, uma conversa comigo. No fundo, ando por aqui a aliviar o corpo, o espírito e a alma.
Confesso que tenho dificuldade em engolir e calar, quando ouço o homem que está há mais tempo na política nacional afirmar isto: "como sabem nunca tive nem tenho qualquer interesse pessoal, desde o primeiro dia do meu mandato, até ao último dia do meu mandato guiar-me-ei sempre, sempre, sempre pelo superior interesse nacional".
"Não que a narrativa tenha alguma novidade, é velha de mais e é a cara do sujeito. Estamos todos carecas de saber que, sempre escondido atrás do interesse nacional, não dá um único passo sem saber se é bom ou mau para o seu umbigo. Estamos todos fartinhos de saber que o político no activo que mais tempo de vida política leva, que há trinta e tal anos não faz outra coisa que não carreira política, não é político. Mas está acima deles, e abomina-os. Sabemos todos muito bem que ainda está para nascer alguém mais sério, mesmo que do seu lastro tenham saído muitos dos intérpretes dos maiores crimes de colarinho branco que o país conheceu. Todos - repito, todos - impunes!
Apenas porque quer fazer de nós testemunhas forçadas da sua narrativa. Já não se limita a repeti-la até á exaustão, vai mais longe. Já passou a fase da mentira que por tão repetida passa a verdade. Depois de tão repetida, a sua narrativa já não é apenas verdadeira, é indesmentível, sobejamente confirmada, e amplamente testemunhada."
"Como sabem". Como sabemos...
Termino com uma citação de Albert Camus. "Quando se medita muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções."
Desde sempre me fascinou o desafio da página em branco.
Ainda mais, quando nada me obriga a fazê-lo.
Eu sei que na Aldeia, escrever publicamente é perigoso.
Não tenho, como nunca tive, medo de me manifestar, através da opinião e do testemunho.
Não sou isento. Aliás, ninguém é isento. Todos fazemos escolhas. Todos tomamos partido. Uns, de forma mais serena, outros de forma mais ponderada.
Mas, nos tempos conturbados e perigosos que vivemos, não ter medo, salvo raras excepções, não é um estado de espírito inato. Resulta de uma aprendizagem de anos, na qual as nossas relações com os outros e a Aldeia global em que vivemos, nos foi construindo a pessoa que somos permanentemente em construção.
Escrito isto, que fique claro que não pretendo, nem acredito, que a minha opinião mude algo na minha Aldeia, na minha cidade, no meu país ou à face da terra.
A minha motivação é simples e singela: limita-se, apenas, a desabafar, a partilhar emoções, ou criticas azedas, ao que nos vai acontecendo, por culpa de quem decide por nós o rumo das nossas vidas.
A minha escrita, por aqui, é, sobretudo, uma conversa comigo. No fundo, ando por aqui a aliviar o corpo, o espírito e a alma.
Confesso que tenho dificuldade em engolir e calar, quando ouço o homem que está há mais tempo na política nacional afirmar isto: "como sabem nunca tive nem tenho qualquer interesse pessoal, desde o primeiro dia do meu mandato, até ao último dia do meu mandato guiar-me-ei sempre, sempre, sempre pelo superior interesse nacional".
"Não que a narrativa tenha alguma novidade, é velha de mais e é a cara do sujeito. Estamos todos carecas de saber que, sempre escondido atrás do interesse nacional, não dá um único passo sem saber se é bom ou mau para o seu umbigo. Estamos todos fartinhos de saber que o político no activo que mais tempo de vida política leva, que há trinta e tal anos não faz outra coisa que não carreira política, não é político. Mas está acima deles, e abomina-os. Sabemos todos muito bem que ainda está para nascer alguém mais sério, mesmo que do seu lastro tenham saído muitos dos intérpretes dos maiores crimes de colarinho branco que o país conheceu. Todos - repito, todos - impunes!
Apenas porque quer fazer de nós testemunhas forçadas da sua narrativa. Já não se limita a repeti-la até á exaustão, vai mais longe. Já passou a fase da mentira que por tão repetida passa a verdade. Depois de tão repetida, a sua narrativa já não é apenas verdadeira, é indesmentível, sobejamente confirmada, e amplamente testemunhada."
"Como sabem". Como sabemos...
Termino com uma citação de Albert Camus. "Quando se medita muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções."
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Mas o que é que isso interessa?... De Cavaco já alguma coisa interessa?..
Cavaco não se arrepende de "uma única linha" do que disse...
Porque é que eu não estou assim tão confiante?...
A Figueira tem tido azar com as escolhas que os partidos têm feito para presidente de câmara.
Quando o PSD escolheu "um peso pesado", escolheu um profissional da política.
Quando o PSD e o PS escolheram "independentes", ficámos onde nos encontramos: no limbo, que é uma excelente e interessante maneira de não ser "nem carne, nem peixe".
Gere-se à vista, faz-se qualquer coisa, vai-se andando...
Tivemos a actual maioria absoluta da vereação camarária de um partido de Esquerda, o PS, a tomar decisões liberais que nenhum outro, PSD e anteriores vereações PS, ousou tomar.
Refiro-me, muito concretamente, às reuniões à porta fechada.
Imaginem o que seria uma gestão PSD a implementar uma medida destas na Figueira?
Seria combatida e criticada como uma tomada de decisão de direita.
Como foi o PS, foi considerada e aceite pela maioria dos figueirenses, como uma medida de oportunidade, qualificada mais de centro, ou mais de esquerda.
Depende dos "oportunistas"...
Ontem, ficámos a conhecer o frágil governo de Cavaco Silva, de Passos Coelho e de Paulo Portas, no fundo o governo que interessava a António Costa.
Espero que esta venha a ser a situação que venha a interessar à maioria de nós...
Quando o PSD escolheu "um peso pesado", escolheu um profissional da política.
Quando o PSD e o PS escolheram "independentes", ficámos onde nos encontramos: no limbo, que é uma excelente e interessante maneira de não ser "nem carne, nem peixe".
Gere-se à vista, faz-se qualquer coisa, vai-se andando...
Tivemos a actual maioria absoluta da vereação camarária de um partido de Esquerda, o PS, a tomar decisões liberais que nenhum outro, PSD e anteriores vereações PS, ousou tomar.
Refiro-me, muito concretamente, às reuniões à porta fechada.
Imaginem o que seria uma gestão PSD a implementar uma medida destas na Figueira?
Seria combatida e criticada como uma tomada de decisão de direita.
Como foi o PS, foi considerada e aceite pela maioria dos figueirenses, como uma medida de oportunidade, qualificada mais de centro, ou mais de esquerda.
Depende dos "oportunistas"...
Ontem, ficámos a conhecer o frágil governo de Cavaco Silva, de Passos Coelho e de Paulo Portas, no fundo o governo que interessava a António Costa.
Espero que esta venha a ser a situação que venha a interessar à maioria de nós...
NAVAL VAI ENTREGAR RECEITA DO JOGO DE SOLIDARIEDADE ÀS FAMILIAS DOS PESCADORES MORTOS NO NAUFRÁGIO DO OLIVIA RIBAU
A Direcção da Associação Naval 1º de Maio promove sábado, dia 31, pelas 12 horas, na sua sede do Estádio Municipal Bento Pessoa um encontro com os familiares dos pescadores falecidos no Naufrágio do arrastão "Olívia Ribau" ocorrido no passado dia 6 de Outubro, para a entrega do valor apurado na causa de solidariedade promovida pela equipa figueirense no decorrer do encontro com o Paços de Ferreira inserido na III Eliminatória da Taça de Portugal.
O valor apurado na receita do citado encontro foi de 5.425.00€ importância que poderá ter de ser corrigida face à eventualidade desta esta importância ser passível de ser taxada com IVA, aguardando os dirigentes figueirenses o parecer da Federação Portuguesa de Futebol.
O valor apurado na receita do citado encontro foi de 5.425.00€ importância que poderá ter de ser corrigida face à eventualidade desta esta importância ser passível de ser taxada com IVA, aguardando os dirigentes figueirenses o parecer da Federação Portuguesa de Futebol.
Via Marcha do Vapor
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