Segundo nota de imprensa da coligação Somos Figueira lida aqui, na reunião de Câmara de ontem, vedada à comunicação social e ao público, "o presidente João Ataíde abordou a situação que se vive no seio do executivo da junta de freguesia de S. Pedro, após o secretário e a tesoureira terem anunciado que pretendiam a demissão das suas funções, na sequência de António Samuel, líder do executivo, ter utilizado dinheiro público, entretanto reposto, para pagar despesas pessoais. O edil defendeu que estas condutas são censuráveis e que, apesar de considerar que há pouca sustentabilidade para António Samuel se manter no cargo, a Assembleia de Freguesia tem autonomia para demonstrar a sua vontade, independentemente da decisão tomada pelo presidente da junta.
Miguel Almeida, vereador da coligação Somos Figueira, lamentou a demora na resolução do processo, afirmou que o presidente da junta de S. Pedro já deveria ter pedido, taxativamente, a demissão do cargo e relembrou também a contratação da filha de António Samuel como trabalhadora da junta, que está mal esclarecida e que não seguiu os trâmites legais. O vereador da coligação considera que, constatada a demissão de todo o executivo da junta, não há alternativa à convocatória de eleições intercalares. Miguel Almeida disse ainda que seria bom o Partido Socialista tornar pública, inequivocamente, a sua posição sobre o problema e que há um momento em que o silêncio passa a ser penoso para todos.
O vereador executivo João Portugal também interveio e considerou que há vários cenários em aberto, sendo que não é obrigatório que haja eleições intercalares na freguesia de S. Pedro e que pode surgir um novo executivo aprovado pela Assembleia de Freguesia local. Por fim, Miguel Almeida manifestou a sua incredulidade perante a opinião de João Portugal e reforçou que, perante a demissão de todo o executivo, é sensato que se realizem eleições intercalares na freguesia de S. Pedro".
Pronto: o caso já está na mais alta esfera da política concelhia.
A inabilidade que o presidente da junta tem revelado na gestão mediática deste caso poderia ser louvável no plano dos princípios. Mas julgo que teria sido possível, sem ferir os imperativos da dignidade, não se deixar trucidar, que é o que está a acontecer, pelas feras deste circo politico, mediático e partidário com o qual teve de coexistir.
Neste momento e neste caso, apresentar-se como ingénuo, ou tentar fazer-se de tal, para continuar a vestir o fato de vítima, não é a melhor estratégia.
Os rumores há muito que circulavam na Aldeia.
Depois, vieram as notícias nos jornais.
Só depois os blogues apareceram.
Ao contrário do que sucede com os jornais, os blogues reflectem o que os seus autores pensam ou sentem em cada momento.
O que se escreve em muitos blogues, não é mais do que qualquer cidadão comum comenta com o amigo na mesa do café.
É evidente que uma opinião transmitida na mesa do café não tem o mesmo impacto do que se for escrita num blogue, ainda que este seja lido apenas por umas centenas de leitores.
Esta democratização da opinião mudou as coisas: agora os cidadãos não se limitam a consumir informação, são eles que, mal ou bem, produzem informação.
Quer se queira, quer não o mundo mudou, a Figueira também e a Aldeia idem, idem, aspas, aspas.
Da mesma forma que tudo mudou quando Abril pôs fim à ditadura e as forças policiais deixaram de poder proibir ajuntamentos de mais de quatro pessoas, agora as pessoas podem juntar-se no número que entenderem e até podem escrever em blogues.
Isso, é uma dor de cabeça para o poder, mas é assim e só pode continuar neste caminho. E, quanto mais mais profunda for a democracia, mais difícil é a vida para os políticos, até para os que chegaram ao poder já depois da existência de blogues e ajudados por esses, agora, malditos blogues.
Todos
os dramas são,
antes de mais, humanos.
Manifestamente, agora que aconteceu o que era normal e previsível - a guerra dos partidos pelo poder - o
presidente da junta de freguesia de S. Pedro está - e vai continuar - a
passar um mau bocado.
Descobriu,
ou está prestes a descobrir, da
pior maneira possível, que não era, afinal, o centro da freguesia de
S. Pedro,
e que, pior, também
ele é,
afinal, como todos nós, dispensável.
Cresci
a conviver com o Tó Samuel. Por isso, repito aqui o que já lhe disse pessoalmente: independentemente
do que se passe, ou deixe de passar, o actual presidente da junta de
freguesia de S. Pedro,
acabou politicamente.
Bem
pode continuar a queixar-se de tudo - do mundo, do azar e da traição...
O
António Samuel é, de
facto uma vítima -
mas, na minha opinião, em primeiro lugar e antes de tudo, dele mesmo.
Começou por ser traído por ele próprio...
Depois, a meu ver, ainda não entendeu o óbvio: que para o partido que o apresentou às eleições não
passou nunca de
um meio; para o PSD, nesta conjuntura, não passa de um meio para atingir Ataíde, o que não deve desagradar por aí além a João Portugal...
Governar não é fácil.
Bertoldt Brecht, escreveu um poema no qual glosava a infinita dificuldade de governar.
"Como é difícil governar!", começava assim, para terminar a escrever que ...
"É só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes.
Ou será que governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?"
Alguns dos que passam por aqui,
mais atentos, já terão percebido que o que se passa na junta de
freguesia de S. Pedro, me foi sempre, ao longo dos anos, um assunto muito caro.
E
a explicação é simples: entre 1986 e 1989, como secretário, fiz
parte do primeiro executivo da autarquia da minha Aldeia.
Sempre
enfermei de um pecado: olhar para a política como uma intervenção
cidadã e sem qualquer ambição de nenhum género.
Sei
que nesta Figueira e nesta Aldeia quem está errado sou eu...
Contudo, embora não perceba nada desta política, sei que o que é político tem de ser tratado politicamente.
De uma vez por todas e para tranquilidade de todos, atrevo-me a lembrar que aquilo que era uma promessa da lista do PS, vencedora nas últimas eleições autárquicas na minha Aldeia - e que não foi concretizado até aqui -, acabe por acontecer: uma auditoria à
gestão da junta de freguesia de S. Pedro nos últimos 15 anos.
Tem
a palavra quem de direito.
Neste
momento, face ao que aconteceu, é o mínimo que se pode esperar...
Este executivo foi eleito para cortar com o passado.
Há
uma pergunta que requer uma resposta clara e tão rápida quanto possível: será
que foi isso que aconteceu?..