Há certos dias em que sentimos na pele, os riscos vingativos de certa gente que ocupou os interstícios do poder dito democrático.
Essa gente, devido ao seu limitado horizonte, não entende o poder dos sem poder, o tal que alimenta a saudável desobediência individual e que há-de sublimar-se em resistência, do cidadão contra os poderes, de consciência a consciência, através da permanente corrente da libertação, daqueles que acreditam que o desenvolvimento impõe que se cresça, não apenas pela estatística, mas, sobretudo, que se cresça
para cima e por dentro.
Esta democracia que temos é um péssimo regime político, mas o menos mau de todos os que, até agora, tivemos.
Todos os líderes, históricos ou presentes, do PS, do PSD e do CDS, os partidos do centrão, todos esses líderes donde nos vem a reserva de recrutamento dos primeiros-ministros, dos ministros, dos presidentes da república, dos deputados, dos presidentes da câmara e dos presidentes da junta, todos eles, para poderem ascender dentro da máquina partidária, ou por entre os corredores e gabinetes da luta interna pelo poder, tiveram que fazer pactos com o diabinho dos caciqueiros, ficando, posteriormente, condicionados.
Assim, o País foi ficando enredado na engenharia das cunhas, da subsidiocracia, do amiguismo, do nepotismo e do clientelismo. A partir desta infra-estrutura mental, gerou-se uma rede de pactos de silêncio e de cumplicidades várias.
Muitos deles, um dia, irão, depois da inevitável queda do pedestal, ser revelados em seus pés de barro.
Entretanto, neste tempo, não é necessário ter coragem. Ter coragem é uma obrigação.