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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

5 de Outubro de 1910, a Figueira e os Homens de bem

Quem sempre determina o rumo do mundo, são duas espécies de seres humanos.
Os que fazem da sua vida uma inspiração a luta pela esperança, pela democracia e pelo futuro. 
E os outros.
É por isso, que quando desaparece alguém que deu exemplo de generosidade e dedicação, que olhou para diferentes como semelhantes ou para semelhantes como iguais, ficamos abandonados à sorte de uma humanidade que continua a revelar-se animalesca, verificando-se, nos últimos tempos, uma  revalorização do ódio, uma perseguição do outro, a obsessão da identidade nacional como desculpa para a agressão.
É por isso que Portugal em 2025 está a ficar tão perigoso.

A implantação da República em Portugal, aconteceu como um golpe inevitável dado o clima que se vivia no país.
Nos últimos anos de monarquia a situação sócio- económica do país agravava-se de dia para dia, a crise tinha-se instalado, o povo vivia na miséria em contraste com a abundância em que viviam a classe política, a burguesia e a nobreza. Esta situação agravou-se com a questão do Ultimato Inglês, onde era exigido que Portugal se retirasse do território entre Angola e Moçambique (zona do Mapa cor-de-rosa), perdendo os benefícios de que usufruía nessa região. O descontentamento foi geral, tanto mais que ainda reforçava o poder do Rei, e os ânimos exaltaram-se. A partir de 1906 conjurava-se já o derrube da monarquia constitucional. Em 1908 deu-se, efectivamente, uma primeira tentativa de destituição da monarquia, mas falhou, tendo sido, no entanto, morto o Rei D. Carlos I e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe. O regicídio deu-se no Terreiro de Paço, onde foram ambos abatidos a tiro. D. Manuel foi o seu sucessor. Nos anos seguintes o clima foi-se agravando e, em 1910 o país vivia num caos com conspirações dos republicanos de um lado, conspirações dos monárquicos do outro, os operários faziam greve reclamando melhores condições de trabalho e de vida e a classe média, mostrava-se tão furiosa como o operariado, pois perdiam com a falência do banco Crédito Predial Português, dirigido por chefes políticos da monarquia. Os republicanos reclamavam, acima de tudo, com a ordem forçada em que se vivia, reclamavam uma “greve geral” e a ideia, por muito disparatada que parecesse, começou a soar bem. As operações que levaram à queda da monarquia revelaram-se fáceis face à desorganização das forças monárquicas.

A Figueira também viveu os acontecimentos de Outubro de 1910.
Manuel Gaspar de Barros, Memórias
"Nos anos que precederam a proclamação da República, os republicanos organizavam conferências de propaganda em todo o país. Na Figueira isso acontecia frequentemente, com numerosos vultos políticos. Só quero agora referir que conhecei então o Prof. Miguel Bombarda. Veio uma vez fazer umas dessas conferências no Teatro Príncipe, que mais tarde ardeu.
Em 1910 eu tinha 9 anos. A nossa habitação era na rua da Lomba e o meu pai tinha um pequeno escritório no rés-do-chão. No dia 3 de Outubro à noitinha o meu pai disse-me: “Vais ser um homenzinho e quero-te dizer uma coisa. Rebentou em Lisboa uma revolução para proclamar a República. Hoje aqui não sabemos mais nada”. Mas no dia seguinte, 4 de Outubro, o meu pai não veio almoçar e à noite não veio jantar. Não sabíamos dele e, ao entrar da noite, minha Mãe começou a ficar inquieta, não sabia o que havia de fazer. A cidade estava agitada, corriam muitos boatos, na madrugada do dia 5, perante a inquietação de minha mãe a minha avó, que tinha grande ascendente sobre meu Pai, resolveu-se afazer alguma coisa. Mandou um empregado procurá-lo pela cidade e dizer-lhe que ela lhe queria falar; ele não apareceu à hora matutina do primeiro almoço, e contou que, de pé, dum banco da praça Nova, tinha conseguido pelo seu prestígio político, manter ordeira toda a população agitadíssima pela vitória da República em Lisboa.
Nos dias seguintes, talvez nos dias 5 e 6 de Outubro, eram manifestações e cortejos por toda a cidade. Vivas, discursos, a cada paragem, homens roucos de tanto gritar. Meu pai seguia nessas manifestações e eu acompanhava-o. Um dos tribunos mais em evidencia era o Snr. António Lino Franco, farmacêutico na Praça Velha. Nas manifestações as filarmónicas tocavam incessantemente a “Portuguesa”, o nosso hino. Em seguida foi a mudança da bandeira azul e branca, da Monarquia, pela verde rubra da República, nos edifícios públicos. No forte de Santa Catarina deixaram-me puxar a adriça para içar a bandeira verde-encarnada. Possuo uma fotografia da cerimónia."

Na foto da comemoração do 5 de Outubro de 1971 na Figueira, (obtida via Mário Bertô Ribeiro) é visível o Homem e  o Mestre da política e da escrita, de seu nome José Fernandes Martins.
Morreu em 28 de Abril de 2000. Tinha nascido a 17 de Fevereiro de 1941. Nome completo: José Alberto de Castro Fernandes Martins. Para os Amigos, simplesmente o ZÉ. 
Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre. “Também a lança pode ser uma pena/também a pena pode ser chicote!” 
Andarilho e contador de histórias vividas, passou em palavras escritas pelo Notícias da Figueira, Diário de Coimbra, Diário Popular, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, República, Opinião, Vértice, Mar Alto (de que foi co-fundador), Barca Nova (de que foi fundador e Director) e Linha do Oeste. 
No associativismo passou pelo Ginásio Clube Figueirense e Sociedade Boa União Alhadense. 
Lutador contra o regime deposto pelo 25 de Abril de 1974, teve ficha na PIDE. Foi membro da Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática que se realizou em 1969 em Aveiro. Chegou a ser preso pela polícia política. 
Com a sua morte, a Figueira perdeu uma parte do seu rosto. Não a visível, mas a essencial. Era crítico e exigente. Mas, ao mesmo tempo, bom, tolerante e solidário. 
Mais de 25 anos depois da sua morte, a Figueira, a cidade que amou toda a vida, continua a ignorá-lo.
Zé Martins, de costas e em primeiro plano, é o terceiro a contar da direita

terça-feira, 1 de abril de 2025

Túnel submerso para ligar a cidade ao Cabedelo inviabiliza a solução teleférico

Túnel submerso substitui teleférico
Ao que conseguimos apurar, um túnel rodoviário imerso entre a cidade e o Cabedelo, pode estar para breve. Vai
 ligar a cidade à outra margem e, ao mesmo tempo, serão aproveitadas as escavações para colocar os tubos do by pass para transportar a areia retida na Praia da Calamidade para as praias a sul do estuário do Mondego. O túnel Figueira-Cabedelo tem também como objetivo aliviar o trânsito da Figueira da Foz e poderá ser apresentado nas próximas semanas.

Esta nova ligação imersa pretende dar resposta ao crescente volume de tráfego e à necessidade de soluções mais eficientes de transporte. O objetivo é melhorar a mobilidade entre as margens do Mondego, aliviando o trânsito na Ponte Edgar Cardoso, problema esse que vai ser agravado com o empreendimento da Foz Gala Investments, que vai construir 220 apartamentos distribuídos por 12 edifícios, nos terrenos da antiga fábrica de transformação de madeira Alberto Gaspar, na freguesia de São Pedro, na margem sul da cidade da Figueira da Foz.
Como a vida é feita de opções e não se pode ter tudo, aquilo que O SOS Cabedelo propôs, em devido tempo ("a inscrição no PDM de uma infraestrutura de ligação para modos suaves de transporte entre o centro da cidade e Cabedelo, com o objetivo da continuidade de percursos na frente de mar e ao longo do rio - com a ligação à Ciclovia do Mondego. A proposta apresentada apresentada pelo Arq. Miguel Figueira em 2010, então elogiada pelo presidente Dr. João Ataíde, foi primeiro substituída pela possibilidade de uma ponte móvel, com custos proibitivos e difícil compatibilidade com a navegação.) deverá ser preterido.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Vão ser construídos "220 apartamentos distribuídos por 12 edifícios". Não se esqueçam da ETAR DA GALA e do QUINTO MOLHE...

Via Diário as Beiras: "A Foz Gala Investments vai construir 220 apartamentos distribuídos por 12 edifícios, nos terrenos da antiga fábrica de transformação de madeira Alberto Gaspar, na freguesia de São Pedro, na margem sul da cidade da Figueira da Foz.
Neste momento, o processo do loteamento encontra-se em fase de estudo prévio. Entretanto, foi aprovada, na reunião de câmara e por unanimidade, a não sujeição do empreendimento imobiliário a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental.
A aprovação da proposta, no entanto, foi condicionada ao cumprimento de todas as normas de proteção do ambiente, nomeadamente tratamento dos antigos terrenos industriais e remoção das estruturas de fibrocimento com amianto por uma empresa especializada."
Sabe-se também que "o processo do loteamento encontra-se em fase de estudo prévio" e que "foi aprovada, na reunião de câmara e por unanimidade, a não sujeição do empreendimento imobiliário a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental".
"A aprovação da proposta, no entanto, foi condicionada ao cumprimento de todas as normas de proteção do ambiente, nomeadamente tratamento dos antigos terrenos industriais e remoção das estruturas de fibrocimento com amianto por uma empresa especializada. Aquela exigência foi incluída na ata da sessão de câmara por iniciativa do presidente da autarquia da Figueira da Foz, Santana Lopes (FAP), após preocupações ambientais manifestadas pelos vereadores Diana Rodrigues e Daniela Azenha (PS). Contudo, os esclarecimentos prestados por técnicos do Município da Figueira da Foz, a pedido do presidente da autarquia, e as condições impostas por Santana Lopes geraram unanimidade na votação."
Posto isto, já que estamos a falar de ambiente, penso haver uma situação também a ponderar: todos sabemos que a ETAR DA GALA há muito que ultrapassou a sua capacidade para tratar os efluentes que lá desaguam para serem tratados. Esta ETAR foi, como quase todas em Portugal, mal projectada e sub-dimensionada.  Foi projectada com uma dimensão para a população existente há mais de 20 anos atrás. Entretanto a massa populacional residente aumentou e muito. E, pelos vistos, vai aumentar mais. É muita água a ser canalizada para a rede de saneamento publico. Lavam-se páteos, carros e louças. É muito banho e muito WC. E temos o Hospital (que já teve ETAR própria) e a zona industrial (que devia ter uma ETAR própria). Em suma, é muita sobrecarga a mais e a ETAR DA GALA, coitada, não se aguenta porque não tem estaleca para tal. Não tem tempo sequer de processar os detritos, quanto mais tratá-los. Paga o ambiente: desde logo o rio. Na vazante, vai para o mar e as praias a sul do estuário do Mondego.
E já agora: atenção ao Quinto Molhe...

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A pesca do bacalhau. Viana do Castelo e Figueira. Gil Eanes e José Cação

GIL EANNES, atracado ao fundo da antiga doca comercial, quase junto da moderna Praça da Liberdade

Foto: António Agostinho

Artigo do Tomo 41 dos Cadernos Vianenses, 2008, escrito por António de Carvalho, investigador da história local.

"O emblemático navio hospital GIL EANNES, atracado ao fundo da antiga doca comercial, quase junto da moderna Praça da Liberdade, sendo considerado desde há alguns anos a esta data como um dos elementos mais marcantes da cidade, afirma-se cada vez mais como seu pólo atractivo, como comprovam as centenas de milhares de visitantes já nele recebidos desde que abriu ao público como núcleo museológico em 19 de Agosto de 1998. (...)"

Hoje, o navio representa um património histórico e emocional muito importante para Viana do Castelo.  Pois, além de ter sido construído no ano 1955 nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, também é um "símbolo vivo da qualidade da nossa construção naval" e prestou "assistência médica e social aos pescadores portugueses da frota bacalhoeira (...)."

O navio hospital GIL EANNES "não é apenas um estimável emblema da tradição e da qualidade da secular construção naval vianense, tem tão só a mais original Pousada da Juventude do País, pois é também o núcleo museológico que se tornou num dos principais pólos de atracção da Frente Ribeirinha, e como tal, um dos espaços mais procurados da cidade, sendo hoje o segundo museu em número de visitas no Norte do País (sendo apenas precedido pelo Museu de Serralves, no Porto), o que é bastante honroso para todos os vianenses. (...)"


Nota de rodapé (1).

1911, Figueira da Foz. Nesse já longínquo ano, é fundada na Figueira da Foz pelos irmãos António e João Neto BrazJosé Ribeiro Gomes e outros, nomeadamente Manuel Gaspar de Lemos, a Sociedade de Pesca Oceano, Lda.
O primeiro navio da empresa foi o lugre Oceano, comprado em Hamburgo em 1912.
Anos mais tarde, os irmãos Alberto e José Sotto Maior adquiriram a SPOL.
Foram eles que trouxeram para a Figueira um dos mais belos navios de que tenho memória: o José Alberto.
Os irmãos António José Cação, passados alguns anos, assumiram a gerência da empresa, tendo depois ficado seus proprietários.  
E é assim que chegamos a 1973 e a minha vida se cruza, durante 10 anos, com o mundo SPOL, comandado pelo eng. Carlos António Andrade Cação.
eng. Andrade Cação, nasceu na Figueira a 24 de julho de 1938. Licenciou-se em engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia do Porto. Depois de ter passado pela Administração Geral do Porto de Lisboaem 1967 tornou-se sócio da Sociedade de Pesca Oceano. Anos mais tarde, quando já era seu único dono, alargou a actividade da empresa ao arrasto costeiro, com os barcos Irene Doraty (a junção dos primeiros nomes da sua mãe e da sua tia) e o Natália Eugénia. A frota de arrasto costeiro da SPOL alargou, e na década de 80, chegou a ser composta por 6 unidades.
Porém, do meu ponto de vista, aquilo onde o eng. Andrade Cação deixou  a sua marca pessoal, aconteceu no final da década de 60 ao transformar o navio de pesca à linha Soto Maior (na altura o nome foi mudado para José Cação, o nome do seu tio) para o sistema de redes de emalhar, o que constituiu na altura uma atitude pioneira em Portugal.
Em 1971, comprou o Vaz, irmão gémeo do José Cação, que depois de também transformado para poder pescar com redes de emalhar, foi baptizado com o nome do seu pai - António Cação

Navio "JOSÉ CAÇÃO"o último bacalhoeiro da  Figueira da Foz,
 
numa foto tirada a 14 de Maio de 2002

Estes barcos pescaram até 1990 e foram os últimos navios da "Faina Maior" a operar no porto da Figueira da Foz.
Lamentavelmente, na Figueira, dessa memória nada resta.  
“José Cação”, apesar dos esforços de homens como Álvaro Abreu da SilvaManuel Luís Pata e Marques Guerra,  foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, um dos seus últimos Capitães, "foi e levou com ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.


Nota de rodapé (2).
Quem quiser saber a importância que a "faina maior" teve na Figueira da Foz, até à década de 80 do século passado, tem de recorrer aos livros que Manuel Luís Pata publicou em 1997, 2001 e 2003. Lá estão coligidas notícias, referências escritas e testemunhos orais, textos, comentários e recordações pessoais, sobre a Figueira da Foz e a relevância da Pesca do Bacalhau no desenvolvimento do nosso concelho. Como escreveu Pinheiro Marques: "se a Figueira da Foz tem reunidos os elementos para a sua História Marítima nos séculos XIX-XX, deve-o à Cova-Gala (São Pedro): deve-o ao Capitão João Pereira Mano e ao Senhor Manuel Luís Pata."

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

"Soares é fixe": em 2024, na Figueira, ninguém se vai esquecer de Mário Soares

Mário Soares, de seu nome completo Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa, em 7 de Dezembro de 1924, filho de João Lopes Soares, professor, pedagogo e político da Iª República, e de Elisa Nobre Soares. Casou com Maria de Jesus Simões Barroso Soares em 1949, falecida em 7 de julho de 2015. Tiveram dois filhos, Isabel Soares, psicóloga e directora do Colégio Moderno, e João Soares, advogado e deputado à Assembleia da República, e cinco netos - Inês, Mafalda, Mário, Jonas e Lilah. Faleceu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, às 15:28 do dia 7 de Janeiro de 2017.
As comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares, na Figueira, tiveram ontem início com a inauguração da exposição de fotografia “Mário Soares – 100 Anos, 100 Fotografias – Democracia”, de Alfredo Cunha, no Centro de Artes e Espetáculos, e uma declamação de poesia e dança. 
O programa vai prolongar-se até dezembro de 2024, com um conjunto de actividades e mostras documentais e fotográficas, atravessando as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. 
Na sessão inaugural, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, sublinhou que Mário Soares (fundador e primeiro líder do PS, opositor ao regime de Salazar/Caetano, após o 25 de Abril de 1974, ministro dos negócios estrangeiros, primeiro-ministro - entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, Presidente da República entre 1986 e 1996) foi um líder marcante, com a democracia “nas entranhas” e uma grande capacidade de lutar sem preconceitos nem vaidades. 
“No tempo em que vivemos precisamos de inalar exemplos destes para podermos ter força para lidar com este mundo complicado em que vivemos”, disse ainda Santana Lopes.
No evento de ontem, participaram também os socialistas Carlos Beja e António Campos. Para Carlos Beja, amigo do homenageado, Portugal “teve a sorte de a seguir ao 25 de Abril de 1974 ter um homem com a visão política e o conhecimento do mundo de Mário Soares”. Para António Campos, também fundador do PS, deve-se a Mário Soares “a liderança e capacidade para segurar e consolidar a democracia” no país. 

"O programa das comemorações dos 100 anos do nascimento de Mário Soares será retomado a 21 de março. É o Dia Mundial da Poesia, que o Município da Figueira da Foz assinala com os “poemas de vida de Mário Soares”, por António Durães, acompanhado ao piano por Luís Pipa, no CAE. 
Abril é o mês da conquista da liberdade em Portugal e o início do processo democrático do país. Mário Soares, opositor ao regime totalitário do Estado Novo, não podia ser esquecido. No dia 18, as 5ªas de Leitura, com David Castaño, realizam-se sob o signo “Mário Soares e a revolução”. No dia 20 do mesmo mês e no mesmo local, realiza-se um colóquio sobre Mário Soares, com a participação de Santana Lopes, António Campos, António Valdemar, Fernando Rosas, Carlos Ascenso André e Jaime Gama (este sujeito a confirmação). 
No dia 25 de abril, o município figueirense assinala os 50 anos da Revolução dos Cravos com o concerto Sin+fonia pela Paz, no CAE. 
Estão ainda agendados eventos para 11 de junho, 1 e 22 de outubro, 23 de novembro (colóquio com Santana Lopes, António Campos, António Valdemar, Carlos Gaspar, José Luís Cardoso, e Mota Amaral (este, a confirmar) e 3 de dezembro."

Em Dezembro de 2016, estava Mário Soares internado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a jornalista Maria Elisa que entrevistou muitas vezes o antigo Presidente da República, deu um testemunho emocionado sobre o papel de Soares na história da Democracia portuguesa. 
Disse aos jornalistas: “tenho medo que as gerações mais novas não percebam o quão importante foi Mário Soares”.
No Portugal de hoje, em que os cidadãos têm medo do futuro, talvez esse seja o ponto mais relevante desta iniciativa de Pedro Santana Lopes: relembrar o enorme contributo de Mário Soares para o Portugal em que vivemos em 2023.

Era eu muito novo, alguém me disse que "velhice é posto".
Agora que cheguei, confirmo: é um posto, mas muito ingrato.
Sem me vangloriar disso, sou do tempo: 
- do Salazar. - do Marcelo Caetano. - do Palma Carlos. - do Vasco Gonçalves. - do Pinheiro de Azevedo. - do Sá Carneiro. - do Pinto Balsemão. - do Ramalho Eanes. - do Sócrates. - do Passos Coelho. - do António Costa - do Toni de Matos. - do António Calvário. - do Artur Garcia. - da Madalena Iglésias. - da Simone de Oliveira. - da Shirley Bassey... 
- do escudo. - dos surtos de cólera. - dos chiqueiros e esgotos a céu aberto. - dos filmes e livros proibidos. - da guerra colonial. - das barracas nas dunas da Cova . - da miséria. - da fome. - do pé descalço.
- em que se morria por falta de cuidados médicos. - do trabalho escravo, no mar e em terra. - da obrigatoriedade da disciplina de Religião e Moral no ensino secundário...
- do 25 de Abril de 1974.
E, também, sou do tempo de Mário Soares. 
O 25 de Abril de 1974 permite que ande por aqui.
A  nossa Pátria, em oito séculos de história, portou-se quase sempre mal com as suas gentes.
Reconheçamo-lo...
Quem somos nós para o contestar?..
Nos dias que passam, a injustiça, o silêncio, o medo e a fome  aumentam neste velho País.
Sente-se e, por vezes, ouve-se,  aqui e ali, um soluço que risca o frio muro da tristeza – o que, mesmo para gente com muita lata, mas pouca vergonha, não deixa de causar incómodo.
Mas, o pano de fundo é desolador: Portugal, quase moribundo e arfante, parece estar a morrer devagar.

"Soares é fixe". Continue, pois, a comemorar-se Mário Soares, que desde o dia 24 de Junho de 2010, uma quinta-feira, pelas 12h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, tem a Chave de Honra da Cidade da Figueira da Foz.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Maria Archer, uma grande escritora que escreveu sobre a Cova, é homenageada hoje em Lisboa

Realiza-se hoje na Biblioteca Nacional um colóquio que marca as comemorações dos 40 anos da morte da autora de Ela é Apenas Mulher, uma voz insubmissa durante a ditadura do Estado Novo. 
Quarenta anos depois da sua morte, a escritora portuguesa Maria Archer (1899-1982), autora de Ela É Apenas Mulher, romance considerado escandaloso em 1944, mas também de Ida e Volta duma Caixa de Cigarros (1938) e de Casa Sem Pão (1947), censurados e apreendidos pela PIDE durante a ditadura do Estado Novo, além de vários livros sobre África, onde viveu, e de outros, como Os Últimos Dias do Fascismo Português, refectindo o seu trabalho como jornalista, tem um dia inteiro dedicado a si e à sua obra na Biblioteca Nacional de Portugal. 
O colóquio internacional Maria Archer: reflexos e reflexões, que tem entre os seus convidados investigadores de universidades portuguesas, brasileiras, espanholas, francesas e norte-americanas, acontece hoje no auditório da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa, a partir das 9h30. Tem entrada livre, sujeita a inscrição, e terá transmissão online via Zoom (o ID da reunião é 848 6544 3846 e a senha de acesso 096452). 
“Maria Archer terá o reconhecimento que ela merece”, diz ao jornal Público numa conversa telefónica a académica brasileira Elisabeth Battista, autora de Maria Archer — o legado de uma escritora viajante (Edições Colibri). É uma das convidadas deste colóquio que abordará as facetas fundamentais desta autora de romances, novelas, contos, crónicas, ensaios, peças de teatro e literatura infantil, sobre quem o crítico João Gaspar Simões escreveu em 1949: “Abram os olhos, Exmos. Senhores, têm diante de vós um escritor, porque os seus contos embora tenham sexo — nas observações que a denunciam e nos temas que tratam — não o tem: são portanto do sexo nobre, o primeiro sexo! […] Maria Archer afirma-se indiscutivelmente um dos nossos primeiros contistas e um grande escritor português!” (na crítica ao livro Há-de Haver uma Lei). 
No Portugal “provinciano e moralista dos anos ditadura fascista, com uma censura atenta às entrelinhas”, como escreveu Maria Teresa Horta no prefácio de Ela é Apenas Mulher, Maria Archer tinha uma “linguagem invulgarmente livre para a época”

OUTRA MARGEM, numa postagem de 18 de Agosto de 2015, referiu-se a Maria Archer nestes termos.
Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira, conhecida como Maria Archer (Lisboa, 4 de Janeiro de 1899 - Lisboa, 23 de Janeiro de 1982), foi uma escritora portuguesa.
Nascida em Lisboa, mudou-se para Moçambique com os pais e seus cinco irmãos em 1910. Só terminou a escola primária aos 16 anos, tendo para isso que insistir com seus pais, que achavam desnecessária a sua formação. A família voltou para Portugal em 1914, mas dois anos depois estava novamente na África, desta vez na Guiné-Bissau.
Em 1921, enquanto o seu pai regressava a Portugal, Maria Archer casou-se com o também português Alberto Teixeira Passos. O jovem casal fixou residência em Ibo. Cinco anos mais tarde, após o surgimento do Estado Novo e a crise subsequente, o marido perdeu o emprego num banco e os dois mudaram-se para Faro. Em 1931, divorciaram-se.
Separada, foi morar com os pais em Luanda, onde iniciou sua carreira literária. Publicou a novela Três Mulheres, num volume que continha também a aventura policial A Lenda e o Processo do Estranho Caso de Pauling, de António Pinto Quartin.
Voltou para Lisboa, onde iniciou um período de intensa actividade, produzindo obras sobre a sua vivência na África. Em 1945, aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), grupo de oposição ao regime salazarista. A partir daí as suas obras passaram a ser censuradas. O romance Casa Sem Pão (1947) foi apreendido. Sem condições de viver da sua produção intelectual, refugiou-se no Brasil, onde chegou em 15 de julho de 1955.
No exílio, colaborou com os jornais O Estado de S. Paulo, Semana Portuguesa e Portugal Democrático e na Revista Municipal de Lisboa (1939-1973). Alternou entre a literatura de temática africana e as obras de oposição à ditadura portuguesa. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista Portugal Colonial  (1931-1937).
Voltou para Portugal em 26 de Abril de 1979, internada na Mansão de Santa Maria de Marvila, em Lisboa, um asilo onde passou seus últimos três anos de vida.
Durante a vida, Maria Archer foi uma inconformista,  consciente das discriminações e das injustiças, em geral, e, em particular, das  que condicionavam o sexo feminino, numa sociedade  retrógrada e, como se diria em linguagem actual, "fundamentalista", em que o regime  impôs a regressão às doutrinas e práticas de um patriarcalismo ancestral.
A escrita, servida pelos dons de inteligência, de observação e de expressividade foi  para Maria Archer uma arma de combate  político. Como disse Artur Portela, "a sua pena parece por vezes uma metralhadora de fogo rasante"
É um combate em que a sua vida e a sua arte  se fundem - norteadas por um ostensivo  propósito de valorização dos valores femininos, de libertação da mulher e, com ela, da sociedade como um todo.
Ela é já uma Mulher livre num país ainda sem liberdade - coragem que lhe custou o preço de um longo exílio ...
Maria Archer é uma grande escritora E pode ser lida apenas como tal. Mas permite também diversas outras leituras.
Uma leitura sociológica, antropológica, política...
Ninguém como ela  escrutinou e caracterizou o pequeno mundo da sociedade portuguesa da primeira metade do século XX, das famílias, pobres ou ricas, decadentes ou ascendentes, aristocratas, burguesas, "povo" - todos  imersos na nebulosa de preconceitos de género e de classe, de vaidades, de ambições, de prepotências e temores...
"Aurea mediocritas", brandos costumes implacáveis... o mundo de contradições de um Estado velho, que se chamava Estado Novo.
Ou uma leitura feminista... 
Ninguém como ela conseguiu corroer essa imagem da "fada do lar", meticulosamente construída sobre a ideia falsa da harmonia de desiguais (em que, noutro plano, se baseava a ideologia corporativa do regime), da falsa brandura do autoritarismo e da subjugação no círculo pequeno da família como no mais alargado, o  do País. 
Maria Archer é uma retratista magistral da mulher e da sua circunstância... O rigor da narrativa, a densidade das personagens, a qualidade literária, só podiam agravar, aos olhos do regime, a força subversiva da  denúncia. Na crueza da palavra. Na nitidez do traço... 
O regime não gostou desses retratos femininos, como não gostava da Autora. Primeiro, tentou desqualificá-la, desvaloriza-la. Sintomática a opinião de um homem do regime, Franco Nogueira, que em contra-corrente , num texto com laivos misóginos,  a apresenta como apenas uma mulher a falar de coisa ligeiras e desinteressantes, (como o destino das mulheres....). 
Sintomático também que a crítica seja divulgada pela própria editora da romancista, a par de tantas outras, todas de sentido contrário.
Não tendo conseguido os seus intentos, o Poder passou à acção: os seus livros foram  apreendidos,  os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento... Maria Archer viu-se forçada a partir para o Brasil - uma última e infindável aventura de expatriação, de onde só viria, envelhecida e fragilizada, para morrer em Lisboa.
Mas o desterro não foi pena bastante! 
Teresa Horta, no prefácio da reedição de "Ela era apenas mulher" afirma que Maria Archer foi deliberadamente apagada da História. 

Elegância é uma palavra que quadra com Maria Archer. Caracteriza-a na maneira como pensou, como escreveu, como se vestiu e apresentou em sociedade, como viveu a vida inteira, até ao fim...
Ousou ser Maria Archer, sem pseudónimos...
Noutra postagem, esta de 24 de Agosto de 2015, OUTRA MARGEM, escreveu sobre a autora hoje homenageada em Lisboa. 
Recordar a Aldeia
imagem sacada daqui
Maria Archer, grande escritora, homenageada sábado passado, na Cova-Gala, em 1938 na  sua novela "Entre Duas Viagens" escrevia assim sobre nós. 
"No primeiro domingo de Janeiro faz-se na Cova a romaria anual a São Pedro, padroeiro dos pescadores. No extremo da povoação, num ermo desabrigado, ergue-se a pequena e humilde capela do santo. Em redor alongam-se as dunas cobertas de juncos, enquadradas pelo pinhal e pelo mar. S. Pedro, se viesse dos areais da Judéia, com as suas rústicas sandálias de caminheiro pobre, as suas barbas austeras, a face tostada pelo ar salgado, sentir-se-ia à vontade entre a gente da Cova e no seu agreste cenário de deserto ribeirinho".

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Desorganização urbana

Foto retirada do facebook, via Isabel Maria Coimbra.

Esta fotografia tem tudo o que se queira: fervor sinalizador (olhai a segurança!), obras (vai uma requalificaçãozinha eleiçoeira?), casario urbano degradado, passeios vedados e intransitáveis (pedimos desculpa pelo incómodo; estamos a melhorar a mobilidade), edificado devoluto (aqui podia morar gente) caindo em ruína (vai uma sandes de pato-bravo?), fachadas antigas abastardadas (a aposta no empreendedorismo) e edificado moderno do melhor gosto (se repararem com atenção lá está o edifício "O Trabalho")... 
Tudo o que se queira. Do melhor da civilização urbana.
A Figueira está entregue aos bichos há muitos anos... E a periferia que se cuide:  atenção aos terrenos da antiga Alberto Gaspar & Cª. Ldª...
Olhar para a Figueira, em 2021, chega a ser doloroso! A  sucessão de crimes,  desde Buarcos ao Cabedelo, passando pela Rua dos Combatentes, é qualquer coisa de chocante e revoltante.
Sinceramente, perdi a esperança de algum dia ver melhoras. Isto é a  barbárie. Aquela visita de ontem ao reino do "breve" em estilo motard, acabou com o resto...
Em verdade vos peço. Em 2021, tentem evitar carreteiras que levem às urnas. Senão estiveram atentos, será a a própria barbárie que vão caucionar. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Posses admnistrativas são anunciadas e só depois se percebeu que há falta de uma proposta de lei que permita que a autarquia venha a ser ressarcida?..

«A Câmara da Figueira da Foz está a preparar uma proposta de lei sobre as posses administrativas, para enviar à Assembleia de República (AR), avançou o presidente da autarquia, Carlos Monteiro. 
O que motivou a iniciativa legislativa foi, entre outros casos, aquele tipo de processo administrativo utilizado para a remoção de fibrocimento das instalações da antiga unidade industrial Alberto Gaspar, em São Pedro.
“Sabemos que não vamos ser ressarcidos das verbas porque a empresa tem um conjunto de credores que estão à frente da autarquia e cujos valores reclamados são muito superiores ao valor do património”, frisou o autarca, na reunião de câmara, quando esclarecia o vereador do PSD, Ricardo Silva, sobre a posse administrativa da Alberto Gaspar. 
“É inadmissível que haja um crime ambiental e a autarquia não seja ressarcida pela despesa” da remoção do amianto, acrescentou Carlos Monteiro.» 
Com esta intervenção «o Município pode ficar sem 80 mil euros.»
Entretanto, “os técnicos da câmara estão a elaborar uma proposta de legislação para enviar à AR, para que as autarquias não fiquem sem o dinheiro”, anunciou o presidente. 
Se a lei não for alterada, “teremos de parar muitas intervenções e apoios de milhares e milhares de euros, se a câmara não for ressarcida”
A empreitada da Alberto Gaspar, adjudicada por cerca de 80 mil euros, só avançará depois de conhecidos os resultados da venda das instalações em leilão, pela Fadesa.»
Via Diário as Beiras

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Alberto Gaspar & Cª Ldª.: o folhetim continua...

Segundo a edição do diário “As Beiras” do dia 17 de Outubro de 2006, numa peça assinada por J. Alves, ”um grupo imobiliário espanhol com filial em Lisboa estava interessado na compra dos terrenos da Alberto Gaspar, com 120 mil metros quadrados, localizados em S. Pedro”. Todavia, essa era uma área reservada a equipamentos industriais. 
Quer dizer, “a transacção, para se concretizar, teria de garantir garantias de que os terrenos poderão ser urbanizados.” 
As autoridades concelhias, nomeadamente a Câmara Municipal da Figueira da Foz, à época, mostravam-se abertas à concretização do negócio. As palavras do Eng. Duarte Silva ao diário “As Beiras”, não deixaram lugar a dúvidas: “há já muito tempo que está prevista a urbanização daquele espaço. Por isso, da nossa parte, não haverá nenhum obstáculo”
A área urbanizável poderia permitir a construção de várias centenas de fogos, havendo quem tivesse arriscado avançar com mil unidades. Todavia, o falecido Duarte Silva não falou em números. 
“Tudo o que se puder dizer nesta altura não passará de pura especulação”, defendia, por seu lado, Rui Pedro de Oliveira, administrador da Alberto Gaspar. 
Ainda de harmonia com o mesmo jornal, em 2004, os 70 trabalhadores da Alberto Gaspar rescindiram contrato com a empresa, alegando justa causa, devido a salários em atraso. Aliás, os antigos trabalhadores são credores da empresa. 
Pouco depois, em Novembro do mesmo ano de 2006, em reunião de Câmara, o então vereador Paulo Pereira Coelho mostrou-se contra a urbanização dos terrenos da Alberto Gaspar. Contudo, se tiver de ser feita, “que seja a autarquia a ganhar dinheiro a favor dos munícipes”
Na reunião de câmara de 6 de Novembro de 2006, o vereador da maioria Paulo Pereira Coelho foi contra a alteração do Plano de Urbanização nos terrenos da Alberto Gaspar, em S. Pedro. No essencial, o PS defendeu a mesma posição
Recorde-se, novamente, que dois anos, em 2004, os cerca de 70 trabalhadores haviam rescindido contrato com a empresa alegando salários em atraso. A administração da empresa, como manobra de pressão, sustentava que o dinheiro (perto de seis milhões de euros) da alienação dos terrenos a um grupo espanhol, que pretendia construir cerca de mil fogos em altura, era para pagar aos credores, incluindo os antigos trabalhadores. Mas o vereador do PSD sublinhou que “a câmara não teve culpa” que a Alberto Gaspar tivesse chegado à situação em que se encontra.“Se os terrenos (de 12 mil metros quadrados) estão na massa falida, a câmara que vá lá e que os valorize, que os venda e que ganhe dinheiro com eles a favor dos munícipes”, sugeriu Pereira Coelho. Isto se Duarte Silva mantivesse a decisão de avançar com a alteração ao PU, porque Pereira Coelho deixou claro que estava contra a transformação de terrenos industriais numa área de “especulação imobiliária”
Duarte Silva, por seu turno, lembrou que aquela solução vinha do executivo municipal de Santana Lopes. E reconheceu estar perante um assunto delicado.

Como era óbvio, o futuro assim o confirmou, a situação dos trabalhadores estava a ser usada como modo de pressionar a câmara a tomar decisões. Esse, foi na altura também o entendimento de Paulo Pereira Coelho, que avisou: “recuso–me, terminantemente, a funcionar sob pressão, diria mesmo, até quase sob chantagem”. É que, segundo o que o vereador disse na altura, “alguém já prometeu comprar os terrenos, baseado em supostas decisões da câmara”
Recorde-se, que um grupo imobiliário espanhol pretendia adquirir os terrenos da falida Alberto Gaspar, para urbanização - 120 mil metros quadrados que estavam à espera da revisão do plano urbanístico, pela câmara. Os espanhóis, chegaram a actuar como legítimos proprietários dos terrenos onde estiveram implantadas as instalações fabris da empresa Alberto Gaspar & Cª. Ldª.: até venderam apartamentos! 
Só que, entretanto, rebentou a bolha imobiliária espanhola, que atingiu em cheio a Martinsa-Fadesa, a tal promotora imobiliária que já estava a vender apartamentos nos terrenos do Alberto Gaspar, situados na zona industrial da Gala!.. 

Quem tem lido este blogue ao longo dos anos, conhece a “estória” … 
Será justo que venham a ser os herdeiros do Alberto Gaspar a beneficiar com as mais valias que a transformação de terrenos, que foram cedidos em condições especiais para uso industrial, em terrenos para a especulação imoblilária, vão proporcionar? 
Porque os políticos têm memória curta, recordo um intervenção do actual presidente da câmara, Carlos Monteiro, no decorrer da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada a 24.09.2009. 
Retirado da acta da sessão ordinária nº. 4/2009. Para ler clicar aqui

Na edição de hoje do Diário as Beiras, pode ler-se que "a insolvente Fadesa Portugal (do antigo gigante imobiliário espanhol Martinsa-Fadesa), empresa que comprou as instalações da antiga fábrica Alberto Gaspar, na freguesia de São Pedro, tem em curso num novo leilão eletrónico para a venda de três prédios urbanos, com cerca de 120 mil metros quadrados, tendo uma base de licitação de um milhão de euros." Continuando a citar o mesmo jornal: "na primeira tentativa, em 2012, o vendedor apresentou uma base licitação de dois milhões de euros, mas o leilão ficou deserto.
Desta vez, porém, tendo em conta que a revisão do Plano Diretor Municipal já permite a construção de habitação ou equipamentos industriais naquela área e que a base de licitação é menor, o desfecho poderá ser outro.
Porém, neste momento estamos perante um facto novo. 
«O leilão coincide com o processo da remoção de amianto das instalações da Alberto Gaspar, pela autarquia, ao abrigo da posse administrativa. A empreitada já foi adjudicada, e só não avançou porque a gestora de insolvência contactou o executivo camarário, dando-lhe conta de que não havia sido informada acerca do ato administrativo. 
A câmara desconhecia o processo de insolvência. Entretanto, surge o leilão, que a autarquia também desconhecia. Agora, que já sabe, deverá esperar pelo resultado da hasta, antes de avançar com a remoção do fi brocimento, até porque poerá ter de enviar a fatura (cerca de 80 mil euros) para outra morada, caso os lotes sejam vendidos, ou constituir-se credor da massa insolvente. 
Quem está a vender o património da Fadesa também não sabia da posse administrativa dos terrenos e edifício. O seu papel no processo de venda, contudo, afiançou fonte ao DIÁRIO AS BEIRAS, é “garantir que a venda seja feita sem ónus ou encargos para o comprador”».
Isto, podia também ter acontecido na Aldeia da Cova-Gala. 
Este blogue, desde Outubro de 2006, foi dando notícias do folhetim...  “O filme compilado do caso Alberto Gaspar & Cª., Ldª.”  dá  noção do que, realmente, esteve em causa nesta questão.
O que se passou no Algarve é uma forma de tragédia…
Havia uma paisagem notável.
Então,  cada um no seu quinhão, procurou  tirar  partido individual duma paisagem comum,  para obter o lucro fácil com a construção ao desbarato. As autoridades, em função de negociatas várias, a procura de taxas e impostos e o objectivo de gerar emprego,  pactuaram de forma desavergonhada... Entretanto, a paisagem ficou destruída e, agora,  as gruas estão a ser desmomtadas…
Será que os trabalhadores (ou os seus herdeiros, pois decorridos tantos anos infelizmente alguns já faleceram) ainda podem manter a esperança de vir a receber as indemnizações?

sábado, 9 de novembro de 2019

Deixem os esqueletos em paz e no sítio: o "armário"... (II)

Imagem via Diário as Beiras
Rosário Águas, ex-vereadora do PSD na Câmara da Figueira da Foz, deputada à Assembleia da República e secretária da Estado, actual dirigente nacional do Aliança, passou na passada quarta-feira pelo Dez&10.
A dado passo da conversa com o entrevistador, mostrou-se “chocada” e “magoada” por não ter sido convidada para integrar a lista social-democrata que concorreu às Eleições Autárquicas de 2001.
Presumo que o "choque" e a "mágoa", lhe tenham passado há muito: isso permitiu-lhe ascender a lugares no governo e ser, neste momento, um quadro superior das Águas de Portugal.
Eu, no lugar da Senhora entrevistada pelo Jota Alves na passada quarta-feira, estaria eternamente grata a quem não a convidou em 2001 para integrar a lista de Duarte Silva.
Por outro lado, livrou-a da preocupação que, ao que foi dito na altura, constituíam os mais de sete milhões de euros que Santana Lopes deixou de dívida escondida e que outros tiveram de pagar!
Rosário Águas, e ainda bem, tem todos os motivos, para ter deixado de ser a "pessoa muito carrancuda que era, antes de vir para a política".
Ainda bem que Rosário Águas se "tornou mais humana"
Na Figueira, apesar de já terem passado alguns anos, ainda há quem recorde o que se passou com a empresa Alberto Gaspar. Ainda há quem “sinta uma revolta grande quando ouve falar da administração da Alberto Gaspar”.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Uma curiosidade histórica figueirense com quase 119 anos

Participação cívica dos figueirenses no já longínquo ano de 1900. 

Entre os que assinaram esta Petição, reconhecem-se alguns apelidos que marcaram a vida figueirense no início do século 20.

Representação
"Vêm os abaixo assignados perante os Vereadores da Câmara Municipal da Figueira, respeitosamente manifestar o seu justo e profundo pezar pela projectada venda dos terrenos do Bairro Novo – estrada e esplanada – situados em frente da praia, entre a propriedade do Sr. Baldaque da Silva e a linha dos carros americanos. 
Se foi acertado o procedimento da Câmara que se oppoz à venda dos terrenos, que hoje se acham ajardinados entre a Alfândega e o Largo do Carvão, no caso presente, muito mais grave, não pode a actual Vereação consentir que a Figueira fique privada de uma regalia tão importante.
Fiados na Justiça da causa que defendem, esperam os abaixo assignados que a Câmara Municipal se digne considerar atentamente um assunto que tanto pode prejudicar a Figueira, suprimindo um logar de recreio público, que pela sua situação elevada e pelo vasto panorama que domina, constitue um dos pontos de vista mais belos da nossa formosa cidade.
Figueira, 16 de outubro de 1900.

Manuel Gaspar de Lemos, Joaquim Costa, António Marianno, Adriano Dias Barata Salgueiro, Manoel Gomes Cruz, Ignácio Lopes de Oliveira, Raymundo Esteves, António Wiptnich Carrisso, Francisco Lopes Guimarães, Joaquim Féteira  António Ferreira de Campos, António Marques Falcão, Henrique Pereira Jardim, Joaquim José Cerqueira da Rocha José Gaspar d’Oliveira, Benjamim Mendes, José Joaquim Veríssimo, António Ferreira Carvalho, João Maria Rocha, Álvaro Malafaia,  Manoel de Oliveira Catharina, Adriano Fernandes Águas,  Joaquim do Amaral, David d’Oliveira Braga, António Domingues, António Augusto Vianna, José Augusto Germano Alves, Remígeo Falcão Barreto, João da Silva Rascão,  António Jorge Coimbra, Augusto d’Oliveira, Gentil da Silva Ribeiro,  António Neves da Costa, Joaquim Ramos Pinto,  António da Silva Ferraz, José Luizão Ferraz, Henrique Raymundo de Barros, José Pinto, Abílio José da Costa Pereira, Henrique Mendes, António Gonçalves Mendes, Augusto Duarte Coelho, Francisco da Silva Neves, Jacintho Serrão Burguete, Joaquim Adelino Marques, José da Silva e Castro, João Eloy, Joaquim Duarte Mendes, Francisco Netto Júnior, Adelino Augusto Carvalho, José Maria d’Oliveira Mattos, João José Silva e Costa, Adriano Ignácio Pinto, João da Costa Monsanto, Eduardo da Costa Monsanto, José da Costa Monsanto, Adolpho da Costa Monsanto, Augusto Silvério d’Oliveira, Francisco da Costa Ramos, David Fernandes Duarte, José Lucas da Costa, José Augusto Ramos,  José Nunes da Silva, Manoel da Silva Rocha, Albino Nunes da Cunha, Guilherme Dias da Costa, Joaquim Dias Antunes, António Pires de Castro, João Fernandes Thomaz, Ernesto Fernandes Thomaz, António Neves Alvim, Joaquim Ribeiro Gomes, Augusto Dias, José Évora Poeira, José Maria Martins Junior, António Roque Gázio, Joaquim da Costa Pinto, José Silva e Sousa, Jacintho Gouvêa, António Boaventura Dias Nestório, José Carlos de Barros,  Domingos Lino Gaspar, Francisco Salles da Veiga, César Cascão, Julio Gonçalves Mendes, Visconde de Taveiro (pae), José Ferreira Sopas, António Luiz Soares, João Pinto Duarte, João da Silva Coelho, Cypriano Fernandes Fresta, José Azul, Francisco Fernandes Talhadas, Deziderio Henrique Pessoa, Rodrigo de  Campos Costa, Aniceto Rodrigues Redondo, José Lopes do Espírito Santo, Augusto da Cruz, João Esteves de Carvalho, Joaquim do Souto Junior, Paulo Barbosa da Cruz,  João d’Almeida Manso, Manoel Fernandes Querido, António Jacob Junior, Manoel Almeida Lemos, Arthur Miranda Castella, Jacintho Dias Milheiriço, José Maria Pedrosa Ramos, Luiz Duarte Sereno, Manoel Roiz Formigal, Artur Xavier Lopes da Silva, José Luiz de Meira, Frederico de Carvalho, João Gomes Moreira, Joaquim Cortezão, Balthazar Castiço Loureiro, Augusto Sampaio e Mello, José Augusto Fera, Manoel Pedro Caçador,  Ricardo d’Oliveira Neves, Urbano Conceição Motta, Adrião Felício Martins, Alberto Cardoso d’Oliveira, Caetano Pereira Baptista, José Rodriguez de Jesus, José Maria Brito, António Francisco Galvão, Luiz Penteado, Thomaz Santos Bruegas, Joaquim Vital, Crispulo Alpoim Borges Cabral, João Macedo Santos, João Rodrigues Estrella, José de Azevedo Teixeira, Eduardo Dias Margarido. Francisco da Silva Ramalho, Manoel da Silva Carraco (…)”.

"Esta petição, que foi redigida pelo Dr. Manuel Gaspar de Lemos recolheu a assinatura de cerca de 150 figueirenses e, segundo reza a crónica, “os senhores camaristas ficaram bastante aborrecidos, acedendo, contudo, ao pedido que lhes era feito, e mais tarde, como que a penitenciar-se, vieram até a esforçar-se por, no limite das suas possibilidades, melhorar o aspecto do local, alindando-o um pouco, com algumas obras que ainda hoje atestam, dignamente, a sua passagem pelo Município”.
In Álbum Figueirense, 1937

Nota.
Um agradecimento especial do responsável deste espaço ao Pedro Biscaia, um Amigo de, pelo menos, 4 décadas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Os covagalenses andam a respirar pó de amianto. O assunto foi denunciado em reunião de câmara. Balanço: vitórias de Ataíde, Monteiro, Tenreiro e Babo. Derrota do ambiente na "vila" de S. Pedro...

Na reunião de câmara, realizada no dia de 15 de julho passado, o tema "resíduos de construção e demolição", foi abordado por iniciativa do vereador Ricardo Silva, que apresentou um requerimento:
Na reunião de câmara realizada na passada quarta-feira, dia 18 do corrente, o senhor Jorge Simões, morador na Gala, foi queixar-se do ambiente envenenado que os covagalenses estão a respirar e dos prejuízos que teve de suportar para retirar do seu quintal 400 kilos de telhas de amianto que foram parar à sua propriedade, na altura da tempestade Leslie, vindas das antigas instalações da Alberto Gaspar. Este é um problema de saúde pública, pois afecta toda a população de S. Pedro, que deveria preocupar as autoridades competentes: câmara municipal da Figueira da Foz e junta de freguesia de S. Pedro. Pelo que tive oportunidade de verificar ao vivo, o senhor Jorge Simões foi alertar a autarquia figueirense para a enorme quantidade de amianto que existe nas instalações da Alberto Gaspar e veio como foi: sem nenhuma solução e de mãos a abanar.
No fundo, isto é ridículo...
Em Maio passado, o secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde, que tinha sido presidente da câmara até Abril, um mês antes, não poupou, elogios à autarquia de que esteve à frente cerca de 10 anos!.. 
Na prática é o que vemos, ouvimos, respiramos e não podemos ignorar.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

"O CORREDOR VERDE E A ESTRUTURA VIÁRIA"

Um texto do eng. Daniel Santos. Via Na ponta da língua. 

"O reconhecimento da estrutura ecológica urbana constitui uma informação relevante para a correta ocupação do solo. 
Se hoje é perceptível pela maioria dos cidadãos que se encontram mais informados sobre as razões da necessidade da sua preservação com vista à implementação sustentável da estrutura edificada, tal nem sempre aconteceu.
De facto, principalmente desde o século XIX, a estrutura ecológica da cidade da Figueira foi sendo sistematicamente atacada pela ocupação selvagem do território.
Recorde-se a construção da estação do caminho de ferro que obrigou a canalizar o troço final da ribeira de Tavarede ou a construção do quarteirão da rua da Praia da Fonte que impediu a continuidade da vala das Abadias, igualmente emanilhada até à foz do Mondego. A vala de Buarcos, os rios de Cima e de Baixo em Buarcos, são outros exemplos.
Que estas “soluções” tenham sido implementadas em época de pouco conhecimento das consequências futuras é coisa que talvez se possa compreender.
O facto é que, ainda no final dos anos sessenta e início dos anos setenta, com o espírito visionário dos engºs Coelho Jordão e Costa Redondo (Chefe dos Serviços Técnicos), a que se juntou a assessoria do arqº Alberto Pessoa, impediram-se outros erros.
Recorde-se que, nessa época foi sistematicamente contrariada a construção da moradia que se encontra no topo norte das Abadias (hoje com aspecto de total abandono) que as facilidades que se seguiram acabaram por permitir.
Aliás acompanhadas da aprovação dos edifícios em altura que ali se encontram e cujas caves quase não podem ser utilizadas, por se tratar de território de leito de cheia da vala das abadias.
Ou seja, o verdadeiro “corredor verde” está bloqueado a norte e a sul, sendo o Parque de Campismo e o terreno do Horto apenas e tão só um território sobrante que apenas “compensa” a violação daquela estrutura ecológica. A vala das Abadias não vem dali.
Imaginar que é possível restabelecer aquele corredor verde das abadias é pura estultícia.
Acresce que a Avenida Manuel Gaspar de Lemos faz hoje parte da rede viária estruturante, trazendo e levando o tráfego viário para o interior urbanizado, através das vias que ladeiam o jardim municipal.
Ou seja, na zona do jardim, as funções viárias estão em claro conflito: ao mesmo tempo que ali se encontra a fronteira da “cidade velha” com o “bairro novo”, são simultaneamente estruturantes, distribuidoras e de fruição. Seria interessante descobrir uma solução que as separe e torne claras.
Na sessão de apresentação ouvi uma proposta (a que parece ninguém ter dado atenção) que valeria a pena reflectir. Seria a de levar o tráfego que entra pelo lado dos Correios e Tribunal por detrás das casas das Pestanas, dirigindo-o para a Avenida Gaspar de Lemos, reduzindo o nó de conflito que não se resolve nem com rotunda nem com a solução proposta.
- A solução agora proposta levou em conta a envolvente, considerando que, quando se estuda uma parte da cidade se deve utilizar o conceito “do geral para o particular”, que o meu professor de planeamento urbanístico não se cansava de sublinhar?
- Terão sido realizadas contagens de tráfego em época estival, quando o fluxo é mais intenso? O simples facto de a solução proposta ter mudado tão rapidamente (com rotunda, sem rotunda) indicia que tal não aconteceu.
- A construção do coreto é prioritária ou serve apenas para cumprir uma promessa eleitoral com dez anos, apelo de saudosistas que ainda não perceberam que tudo muda na vida?
Não, com esta proposta, o “corredor verde” não vai acontecer. Nem ali, nem sequer na estrutura ecológica da Várzea, cuja margem poente já foi conquistada pelas chamadas “grandes superfícies”."

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Parecer favorável para a construção de um Aldi nas Abadias... (a propósito do PDM feito à medida... Vamos então continuar a discutir?)

1.Isabel Maranha Cardoso, via DIÁRIO AS BEIRAS

"... a propósito das decisões que vêm sendo tomadas em matéria de ordenamento de território e planeamento urbano, quer na localização de superfícies comerciais quer de unidades produtivas localmente indesejadas, sempre com o argumento “legalmente não se pode recusar pois o Plano Director Municipal (PDM) permite”

Dum PDM que se revelou robusto e sobreviveu mais de vinte anos, passámos a um PDM, por este executivo camarário da Figueira da Foz revisto, permissivo, frágil e sem a necessária blindagem desprotegendo, ou desistindo dos interesses da cidade e dos figueirenses, quando tudo deixa instalar! Então qual foi a escolha política?"


2. Em 26 de março de 2017, publicava aqui no OUTRA MARGEM, a postagem de que mostro imagem abaixo (para ver melhor, clicar em cima da imagem).


3. Fica uma pergunta que, na última reunião de Câmara, foi colocada por um vereador da oposição, se bem lembro o Ricardo Silva: "porque é que na última década foram desaparecendo os sinais de proibição de circulação nas Avenidas  Gaspar de Lemos e Joaquim de Carvalho a veículos com mais de 3 500 Kgs?"
Carlos Tenreiro, relembrou que "no antigo PDM esta era uma área verde". Isto "é contra o discurso da CMFF: vai construir mais uma rotunda e cortar mais árvores". Na sua opinião, "o corredor verde da cidade merecia outro tipo de protecção"
Miguel Babo lembrou que "as árvores demoram tempo a crescer". Esta decisão, traz "mais betão, rotundas e estacionamentos e mais CO2 e não vai ajudar o comércio local".

4. Tal como disse um dia destes a vereadora Ana Carvalho (minuto 14 do vídeo): "o PDM também foi feito à medida. Claro que sim...".

5. A terminar cito Luís Pena.
Está em causa uma referência de excelência em termos de harmonia paisagística da cidade que ficará comprometida com a instalação de um armazém alimentar de péssimo gosto...Este executivo não sente a cidade porque a maioria dos eleitos não são de cá e não conhecem a história da Figueira. O Arquitecto Ribeiro Telles (que conjuntamente com Alberto Pessoa planificou as zonas verdes da cidade) se souber deste projecto dirá que "os deuses devem estar loucos..."

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A educação, a percepção e o meio ambiente que nos rodeia

Das poucas certezas que tenho na vida, é que gosto de todas as árvores.
Contudo, a minha paixão é os pinheiros.
E a explicação é simples: cresci no meio deles. 

Lamentavelmente, também na Gala, o progresso não  permitiu que as zonas arborizadas, por outras palavras , a vida natural e a vida domesticada, pudessem existir lado a lado, numa tolerância e numa harmonia mútuas.

Quem não se lembra do chamado "Pinhal do Chula", uma zona verde de excelência que foi dizimada para dar lugar a vivendas e blocos de apartamentos. E do pinhal a sul, que chegava a cerca de 200 metros da casa dos meus pais. Em seu lugar, está lá uma empresa abandonada e uma zona completamente degradada que há-de ser espaço de mais blocos de apartamentos. 
Recorde-se, que já esteve prevista a construção de cerca de mil fogos em altura nos 12 mil quadrados onde estão os escombros da antiga Alberto Gaspar.

Foto sacada daqui
Neste momento, temos os casos das árvores de Buarcos e da instalação na freguesia da Marinha das Ondas de uma unidade de reciclagem e valorização de produtos orgânicos da BioEnergias...
Vivemos numa Figueira cada vez mais desigual, em que se perdeu a noção de uma certa decência e muita eticidade comportamental.

Parece que não aprendemos nada com a História. 
Os políticos figueirenses, até prova em contrário, são pessoas educadas. Só que a educação, é esse o meu receio, consiste em aprender a ver uma coisa, tornando-nos cegos para outras, nomeadamente a percepção.
A característica mais notável da percepção é que ela não provoca nem o consumo nem o desgaste de qualquer recurso. 
Promover a percepção é a única parte verdadeiramente criativa da indústria da recreação ao ar livre.