quinta-feira, 4 de julho de 2024

Naufrágios: nos últimos 14 anos parece que se abateu uma calamidade sobre a nossa região

Se há coisa com que lido mal é com acidentes no mar. Sou filho, neto e bisneto de pescadores. Estas tragédias tocam-me profundamente. Tenho antepassados que tiveram o mar como sepultura eterna.
O naufrágio de ontem, envolvendo pescadores do concelho da Figueira da Foz, até ao momento com um saldo de três mortos e três desaparecidos, ocorrido a cerca de uma milha náutica, entre São Pedro de Moel e a Praia da Vieira, está longe de ser um caso isolado.
Nos últimos cerca de 14 anos, foram vários os acidentes marítimos no porto figueirense. 
Em 26.10.2010 deu-se o naufrágio da traineira "Vila de Buarcos", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz, com dezassete tripulantes. Felizmente, todos se salvaram.
O mesmo não havia contecido com o naufrágio de um pequeno bote com dois pescadores, no local da obra da chamada "Ponte dos Arcos", antes, em 19.03.2007, um desastre em que os dois pescadores morreram (e do processo judicial que se seguiu veio a resultar, anos depois, em 24.09.2014, que os responsáveis dessa obra sobre o braço sul do Mondego, que havia estreitado o caudal do rio, vieram a ser ilibados, e as famílias vieram a perder a acção que moveram). 
Em 10.04.2013 deu-se o duplo naufrágio, na barra do porto fluvial da Figueira da Foz, do veleiro alemão de recreio "Meri Tuuli" e da lancha da Capitania figueirense que o havia ido socorrer. Morreram dois homens: um dos tripulantes, velejador alemão, e um dos agentes da Polícia Marítima, militar português, que o estava a tentar salvar. O iate alemão estava a tentar entrar a barra, falhou a entrada, e foi arrojado à praia do lado de fora do molhe sul.
Em 25.06.2013 deu-se o naufrágio da motora poveira "Cambola" (depois de falhar a entrada da barra), junto ao molhe sul do porto fluvial da Figueira da Foz. Nenhum tripulante se perdeu, pois foram salvos pela Marinha.    
Em 25.10.2013, deu-se a tragédia do naufrágio da motora "Jesus dos Navegantes", na saída da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram quatro dos oito pescadores, poveiros (das Caxinas), que vinham a bordo. 
Em 19.08.2015 deu-se o naufrágio da motora "Ruben e Bruna", ao largo da Figueira da Foz, com um morto, numa tripulação de cinco pescadores poveiros. Este naufrágio foi ao largo, e não na barra.
Em 06.10.2015 deu-se a tragédia do naufrágio do arrastão "Olívia Ribau", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram cinco dos sete pescadores (seis figueirenses, e um da Praia de Mira).
Pouco depois, em 12.11.2015 esteve iminente um novo naufrágio (que, felizmente, não chegou a acontecer, pois foi impedido por outros barcos de pesca que se encontravam nas imediações), de um arrastão espanhol "Catrua", com pescadores galegos de Vigo.
A 29 novembro de 2017, quatro homens morreram na sequência do naufrágio do “Veneza” a 11 milhas (24 quilómetros) da costa da Figueira, sem que tenham sido emitido qualquer pedido de socorro.

1 comentário:

CeterisParibus disse...

Como sabes, sou homem do mar, mesmo que não navegue há muitos anos. Tive alguns sustos, pequenos felizmente e sem consequências graves.
Cresci com essa realidade, com os que foram sendo perdidos para o mar, alguns da minha própria geração, a par de muitas estórias de gente do meu sangue e não só, que não voltou a casa.
Partilho as origens e a tristeza de ver gente perder-se no mar.
É uma morte solitária.