Um texto de Filipe Tourais com cinco anos, mais actual do que nunca:
"Dois terços dos portugueses auferem salários abaixo dos 1000 euros é um dado que devia envergonhar-nos a todos. Mas não. Há demasiada gente que, ao invés de se insurgir contra a pobreza que o dado expõe, atira-se com tudo o que tenha à mão sempre que algum grupo profissional que ganhe um pouco acima daquela fortuna exija salários que garantam a vida de gente que 1000 euros não garantem.
E pior do que esta mentalidade miserabilista que põe os portugueses a atrasarem-se uns aos outros é o vazio no discurso de partidos que não explicam aos seus eleitorados que, porque cerca de 4 em cada 5 euros de receita fiscal provêm directa ou indirectamente dos rendimentos do trabalho, haver 2 em cada 3 de nós que ganham menos de mil euros condena os serviços públicos que são pagos com esses impostos a um declínio cada vez mais acelerado. Auferirmos salários decentes não é apenas um imperativo social. É também e sobretudo um imperativo de sustentabilidade económica da comunidade que se vai desagregando à medida que aqueles que põem os seus lucros a pagar impostos em paraísos fiscais vão pagando salários cada vez menores. Ganham duas vezes. As mesmas duas que todos perdemos enquanto comunidade, às quais se soma uma terceira, o crédito fácil que serve de almofada social à penúria e vai fazendo crescer o nosso endividamento externo."
Imagem via SICN
Continuando a citar Filipe Tourais.
"Passados cinco anos, para além dos salários que geram quase 80% das receitas fiscais continuarem a encolher, temos um Governo que se propõe aliviar ainda mais os impostos sobre lucros de grandes empresas que já pagavam muito pouco em IRC e, em vez de políticas que incentivem a valorização de salários, quer criar um estatuto fiscal especial para jovens com menos de 35 anos. O novo estatuto beneficia em IRS quem ganha 1000 euros mensais em menos de 500 euros por ano e quem ganha 10 mil em quase 20 mil. Dizem eles que é para estancar a emigração. Os que ficariam sempre porque a vida lhes sorri, e ainda bem que lhes sorri, reparar que entre eles estão os jogadores de futebol, continuarão a ficar. Os que ganham os mil e poucos da média não serão 500 euros por ano que os convencerão a não procurar melhor vida onde os valorizem como merecem. A brincadeira custa mais de mil milhões de euros em receitas fiscais aos nossos serviços públicos cada vez menos universais e com uma qualidade que não é à prova de absurdos.
Resumindo e concluindo, somos um país que se dá ao luxo de investir 98 mil euros por cabeça na Educação de jovens que depois exporta gratuitamente porque lhes nega salários acima dos mil euros, que olha satisfeitíssimo para o nada que cobra em IRC aos lucros das grandes empresas. Portugal! Portugal! Portugal! Nós somos o país que fizermos."
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