Pacheco Pereira no Jornal Público:
«Os actos do Hamas e os de Israel são politicamente equivalentes? Não, não são. O que é que significa aqui “politicamente”?
Já não é a primeira vez que escrevo artigos contra minha vontade. Tudo está tão inquinado, a dramaticidade real – demasiado real – do que se está a passar é tal que de pouco valem as palavras. Há milhões delas no ar, a maioria das quais furiosas, sectárias, combatentes de um lado ou do outro, algumas de lados imaginários, outras de puro oportunismo e aproveitamento, muitas irresponsáveis e algumas mesmo criminosas, que a tentação de ficar calado é grande. Mas há um pecado mortal, a acedia, mal traduzido na lista dos pecados por “preguiça” e eu não queria acrescentar mais um à longa lista dos meus outros pecados. E por isso lá vou falar daquilo a que se tem chamado o “conflito israelo-palestiniano”.
O que tem de profundamente errado o diálogo absurdo do Presidente da República com o representante diplomático da Autoridade Palestiniana é a frase: “Desta vez foi alguém do vosso lado que começou.”
E, mesmo quando precisou com um “alguns de vocês”, é exactamente o “vocês” que coloca na acção do Hamas a culpa de todos os palestinianos. Ele está a falar com alguém do sector moderado da Palestina, que reconheceu o Estado de Israel, e que o Hamas vê como traidor e inimigo e que sente como “seus” os que o Presidente classifica de “vocês”, como é de todo natural.
Se alguém nesta situação, com as pilhas de mortos inocentes atrás, me dissesse que tenho de ser “cauteloso, inteligente e pacífico”, eu passava-me certamente.»
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