Quê, quem,
de quem, de quê,
onde, donde, por onde,
há, pensa, move, tem,
busca, sugere, esconde,
quê, porquê,
para quê?
Médico e poeta ligado à corrente neo-realista desde o seu primeiro livro (Voz Arremessada ao Caminho, 1943), Armindo Rodrigues (1904-1993) ergueu ao longo de cinquenta anos de poesia uma Obra Poética.
Não desespera apenas a quem não espera.
Desesperada, a esperança espera ainda.
Espera-se até ao fim do desespero.
Armindo Rodrigues, um Poeta quase esquecido, ergueu a sua voz, falou alto e com justiça, participou corajosamente no acto de emendar o rumo da História que, como poucos de nós, viveu por dentro nas linhas cruzadas da própria vida e do tempo que lhe coube viver:
Toda a justiça é injusta, porque julga,
toda a ordem desordem, porque impõe,
toda a verdade errada, porque muda.
Um Poeta recorda-se.
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
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