Outra Margem, terça-feira,
10 de Abril de 2007. Passo a recordar: Joaquim Namorado, Poeta de Incomodidade.
“Metam O burro na gaiola
de doiradas grades
e tratem-no a alpista
se quiserem
- é só um despropósito
Mas esperar dele o trinar
Do canário melodioso
É simplesmente tolo.”
Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do
Chão, Alentejo, em 30 de Junho.
No concelho da Figueira – considerava-se um figueirense de
coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela
APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa
Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da
fundação do jornal Barca Nova.
Muito mais poderia ser dito para recordar Joaquim Namorado,
um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada
á total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do
jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que
constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde
participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da
Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio
a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente
de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
E quatrocentos da primeira edição de
“Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto.
E quarenta do vintecincodAbril, claro.
Os Correios de Portugal não se
esqueceram de nada disto e estão a tratar de o evocar, convenientemente e como
de costume, como aliás lhe compete, em belas edições filatélicas.
Os CTT também não se esqueceram dos cem
anos do poeta (e matemático) Joaquim Namorado e também lhe dedicaram um selo,
integrado numa nova série dedicada a “vultos da história e da cultura”
nacionais.
.
Joaquim Namorado - que cheguei a conhecer fugazmente (nas mesas do café Nau) e a quem já
evoquei aqui a propósito de outra coisa – é um poeta cuja relevância
intelectual e estética (dirigiu durante anos a revista Vértice e foi ele que
cunhou uma das correntes literárias dominantes no século vinte português) é tão
iniludível como o seu testemunho de cidadania. No entanto, além de poeta da incomodidade e de “Aviso à navegação”, empenhado
políticamente (até à militância), também foi capaz da contenção, da ironia profunda, da invenção e do arrojo formal de “Viagem ao país dos nefelibatas”.
A Figueira chegou a ter um prémio
literário com o seu nome, que o inenarrável Santana Lopes aniquilou e o actual
poder autárquico sucialista substituiu pelo nome de João Gaspar Simões (nada contra, uma coisa não impede a outra). Mas há mesmo uma petição ao
presidente da Câmara com o objectivo de “recuperar o prémio literário Joaquim
Namorado”. Assine aqui,
- porque a cidade da Figueira da Foz,
onde o poeta se fixou, fundou um jornal, foi eleito à assembleia municipal e
residiu até á morte, nada. Isto de “vultos da história e da cultura” é,
convenhamos, algo que lhe passa ao lado (veja-se os casos de Cândido Costa
Pinto e de João César Monteiro).
.
A verdade é que ou a cidade tem memória
de peixe - as coisas passam-se-lhe – só uma cidade com a memória de uma chaputa (ou de uma tremelga) se
esquece dos seus maiores - ou então o poeta da incomodidade ainda incomoda. Mesmo depois de morto.
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