ANABELA MOTA RIBEIRO (Texto) e NUNO FERREIRA SANTOS (Fotografia)
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"Casaram em 1969. Mas antes disso tiveram uma vida. E depois
de 74 tiveram outra. E antes dessas tiveram vidas paupérrimas, onde crescia a
revolta e, estranhamente, havia espaço para a felicidade. Conceição Matos e
Domingos Abrantes usam nomes ternos para chamar o outro. Nomes que
surpreenderiam quem os conheceu, de aço, na luta antifascista
Domingos Abrantes foi preso pela primeira vez em 1959.
Participou na famosa fuga de Caxias em Dezembro de 61. Ligou-se a Conceição
Matos em 1963, viveram uma vida clandestina. Funcionários do Partido Comunista
(ele desde 54, ela desde 63), eram considerados subversivos pelo regime
salazarista. Foram presos em 65. Domingos ficou preso até 73, Conceição ficou um
ano e meio. Voltaria a ser presa em 68, por uns meses.
Foi na cadeia que Conceição comeu chocolates pela primeira
vez. Conta isso enquanto oferece chocolates. Comeu-se uma caixa ao longo de
três horas de entrevista. Falou-se de uma vida antiga que é importante que seja
presente. Porquê? Porque há o dever de contar. O dever. O dever de não falar
(na cadeia), o dever de falar (agora). O dever de estudar (evoluir). O dever de
lutar (sempre) por um mundo melhor. A conversa diz respeito ao tempo em que
foram revolucionários e termina em 1974. Nasceram em 1936. Nenhum deles chorou.
Riram várias vezes. Parecem felizes."
Uma entrevista de Anabela Mota Ribeiro publicada no jornal Público, a não perder. Aqui.
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