Como se pode ouvir mais abaixo, em 19 de Março passado, o candidato à Presidência da República Manuel Alegre criticou indirectamente o actual Chefe de Estado, Cavaco Silva. Num jantar com apoiantes em Bragança, Manuel Alegre afirmou que o papel do Presidente da República não é gerir silêncios, mas sim o uso da palavra como instrumento ao serviço do país.
Todos sabemos, “que em Portugal a função do Presidente não é governar”.
Mas a função do Presidente, segundo Alegre em 26 de Março passado, “também não é para fazer o discurso do governo”. O seu – prometeu na altura - será sempre “autónomo, responsável, independente e livre”. Porque era sua convicção que o chefe de Estado “pode fazer a diferença e ser um factor de mudança. Pode até ser uma alternativa”. Não de Governo, insistiu, “mas de atitude, de pensamento, de visão de Portugal”, que “não reduza a Nação apenas à economia”.
“O Presidente não governa” – nisso concorda-se com Alegre, “mas pode e deve propor um debate nacional que permita a Portugal sair da crise em que se encontra.” Mais: “Cabe-lhe convocar o país para as reflexões sobre indecisões e contradições.”
Isso, era o que dizia em Março passado, quando ainda não tinha formalizado a candidatura a Presidente da República. Agora, a música é outra.
Ontem, o candidato à Presidência da República Manuel Alegre escusou-se a comentar as medidas a apresentar pelo Governo para acelerar a redução do défice e recusou adiar esse comentário para depois do seu anúncio oficial. Contactado pela Lusa, Manuel Alegre afirmou apenas, sem avançar justificações: "Não comento".
Questionado pela Lusa se estava a adiar o seu comentário para depois do anúncio oficial das medidas, Manuel Alegre rejeitou: "Não, não vou falar hoje".
Deve ser hoje que Manuel Alegre vai falar... Alguém acredita, que o Manuel Alegre, que ninguém calava, iria agora ficar calado para ter o apoio de Sócrates!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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