Há uns dias escrevi aqui: “a ética, o sentido de missão e de serviço, na vida como na política, só podem ser um ponto de partida, nunca um ponto de chegada. Os partidos, esses “chamados pilares da democracia”, não são propriamente uma escola de virtudes, de bons costumes e de lisura de processos.”
Para mim, é claro que a chamada crise do sistema partidário em Portugal é artificial. Ela foi criada, e é mantida, de modo a ajudar a perpetuar no poder sempre o mesmo bloco de interesses – sobretudo pessoais.
O político de sucesso nos dias que vivemos, mente, tem de ser, obrigatoriamente, bom fingidor, tresanda a falso, constrói o seu caminho, na busca do poder, entre o favor e a intriga, conta espingardas e distribui cumprimentos e palmadas nas costas com o ar enternecido com que Judas beijou Cristo.
Depois de ler, aqui, o que resultou da reunião da comissão política concelhia do PS, realizada na noite do passado domingo, reforcei a minha opinião.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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