O Governo fez-se notar pela ausência. Bem avisava o poeta:
«E na face do muro uma palavra a giz. MERDA! – lembro-me bem.»
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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3 comentários:
Na cerimónia António Arnaut, um dos fundadores do PS, era o espelho da revolta. Emocionado e chocado, o amigo Arnaut disse aos jornalistas:
"Vivemos num país que não sabe compreender os seus valores. Pelo menos do Ministério da Cultura ninguém esteve à altura da grandeza da sua responsabilidade, da grandeza deste acto."
Horas mais tarde, já na Casa-Museu de Miguel Torga, em plena zona nobre da cidade no bairro dos Olivais, desabafa ao DN:
"Às vezes, fica-me a doer a alma por dizer certas coisas mas não consegui ficar calado."
Torga, em de Janeiro de 1932, já tinha resposta para esta falta de atitude.
No Diário I (1932 a 1941), pode ler-se a dado passo:
“Deixem passar quem vai na sua Estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada (...)”
Governo inteligente, este...
Percebeu, antes de tudo e todos, o óbvio: a sua presença era perfeitamente escusada, pela simples razão de que a comparência do Governo ou da Ministra da Cultura nestas comemorações, não iriam contribuir para prestigiar Torga!..
Agora vêm com desculpas parvas: "mesmo que não tivesse sido convidada a ministra deveria ter imposto a sua presença porque Torga tem uma dimensão que impede homenagens privativas."
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