quinta-feira, 12 de abril de 2007

Leitão Fernandes, um humanista discreto



Por detrás do solícito funcionário público do Registo Predial, Manuel Leitão Fernandes era um humanista discreto.
Cidadão figueirense empenhado no bem comum, dedicou-se, ao longo da sua curta vida, ao associativismo, ao jornalismo e à sua paixão pelo cinema. Registamos a sua activa passagem pelo Ginásio Figueirense, foi correspondente de vários jornais nacionais (Diário Popular, Capital, Record ou O Diário onde tinha excelentes relações), colaborou anos a fio na "Voz da Figueira" onde assinava uma coluna denominada "Quinta Coluna", pertenceu à entusiástica equipa de colaboradores do "Mar Alto" 1ª série, ainda antes do 25 de Abril e foi um dos iniciais cabouqueiros do semanário "Barca Nova".
Manuel Leitão Fernandes possuía uma diversificada biblioteca pessoal e um enorme acervo de documentação cinematográfica. Deve-se a ele e a Manuel Catarino o lançamento das bases do Círculo Juvenil de Cinema em 1970, que envolveu um punhado de jovens estudantes figueirenses que, no "Caras Direitas", viam e debatiam bom cinema de quinze em quinze dias, à tarde. É nesse contexto que irá surgir a Semana Internacional de Cinema e, depois, o Festival de Cinema da Figueira da Foz do qual, Leitão Fernandes, foi membro da Comissão Executiva durante as primeiras edições.
Manuel Leitão Fernandes foi sempre um democrata convicto e na papelaria/livraria Carvalheiro, ali ao Jardim, que possuía em conjunto com a sua mulher Celina Carvalheiro, se juntavam, depois da hora do fecho, pequenas tertúlias conspirativas e de divulgação cultural. Era também um pedagogo, no sentido largo do termo, pela paciência e interesse com que se relacionava com os jovens proporcionando-lhes formação e estímulo na descoberta de novos mundos da escrita e da imagem. Foi pela sua mão, que alguns de nós nos aventurámos nos jornais e, cá deixou este gosto pelas palavras e pelas histórias contadas. Se ele fosse vivo creio que estaria connosco nalgum blog de intervenção, sempre na outra margem do poder.
Manuel Leitão Fernandes era, enfim, um homem respeitado e afável, para quem a Amizade era um firme compromisso, uma atitude constante, muito para além das meras palavras de retórica.
P.B.

No texto acima, que o sempre Amigo Pedro Biscaia, a meu pedido, escreveu para recordar um Homem importante nas nossas vidas, pode ler-se a dado passo: “se ele fosse vivo creio que estaria connosco nalgum blog de intervenção, sempre na outra margem do poder”.
Concordo plenamente contigo Pedro. Leitão Fernandes, era receptivo ao novo. Já agora, recordo que era também um excelente fotógrafo.
Foi com Manuel Leitão Fernandes, aí pelo final do ano de 1977, que eu dei os primeiros passos no jornalismo, fazendo uma parceria com ele, numa altura em que se encontrava já doente, como correspondentes do jornal “O Diário” na Figueira da Foz.
Lembro-me, como se fosse hoje, o primeiro trabalho que fizemos em equipa: a cobertura da grande cheia no inverno de 1977, no Baixo Mondego. Foi o meu baptismo no mundo fascinante que é o jornalismo.
Foi ceifado pela morte aos 47 anos, depois de ter lutado estoicamente com uma doença que continua a não perdoar, em Agosto de 1978.
Fica aqui a recordação de um antifascista, um Homem de Cultura e um cavalheiro de uma educação irrepreensível.
A.A
Nota: para ampliar a imagem, basta clicar sobre ela.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só agora, ao ler o texto anexo, dei conta da idade final do Leitão Fernandes. Morreu mais novo do que hoje somos e, por conseguinte, quão miúdos nós eramos nessa época!
Que privilégio termos privado com gente tão genial, tão íntegra, tão atenta...
Seremos dignos depositários do seu legado?
Teremos a consciência diária de que eles nos marcaram a forma de olhar o mundo?
Poderemos ambicionar que continuem a caminhar ao nosso lado?