Uma obra de um pintor que Santana desconhecia, o sérvio Branislav Mihajlovic, que o surprendeu agradavelmente: paisagem Marítimo (Noturno). Óleo sobre tela. Para quem estiver interessado: custa 1 400 euros. |
Santana Lopes, na primeira pessoa numa postagem no facebook:
"No caminho diário de casa para a Câmara Municipal, costumo passar à porta de uma galeria de arte, na Rua da Liberdade. Ontem, por coincidência, estava cá fora, perto da porta, uma pessoa que me pareceu ser o responsável da dita galeria. Não o conhecia, tinha uma ideia por votos que tinha visto. Pedi para pararem o carro, a dita pessoa, entretanto, entrara e entrei eu também. Naturalmente, o dito responsável ficou muito surpreendido quando me viu e eu disse que queria conhecer o espaço e as obras de arte. Confesso que gostei bastante de várias das obras expostas entre elas uma de um pintor que desconhecia, o sérvio Branislav Mihajlovic. Revi um pintor de que muito gosto, Paulo Ossião, algumas do cada vez mais valorizado Manuel Cargaleiro, outras do magnífico pintor moçambicano Roberto Chichorro ( uma delas fez- me lembrar o Carnaval do Mindelo, de Clotilde Fava), e outra, muito rara, duma pintora Duma , que nunca retrata os olhos.
Gostei do que vi e a Arte não impediu o que devia ser dito de frente. Não sobre Arte mas sobre Ética e um pouco de história figueirense.
Sempre gostei de ir direito aos assuntos mas foi uma coincidência. E devo reconhecer que, depois da natural surpresa inicial, a frontalidade foi recíproca. Mas haverá mais Arte?"
Mais interessante do que tecer qualquer comentário sobre este pequeno episódio, é a análise da opção de Santana pela promoção e divulgação da Arte.
É assim que um autarca, como "promotor cultural", faz as coisas: desloca-se aos locais que mostram a diferença e divulga-os.
Se concordarmos com Mathew Arnold - "a cultura como luz e doçura, como a busca da perfeição" - um autarca, que já foi Secretário de Estado da Cultura e Primeiro-Ministro, tudo cargos por definição provisórios, tem de ter o sentido do momento da oportunidade.
Resolvida que está a questão do leitinho nas escolas e o saneamento, está na hora daqueles que no meu tempo eram famintos e porcalhões, passarem a ser os futuros vistantes de espaços de cultura distintos, como o que foi visitado ontem por Santana Lopes.
Pensando um pouco mais, constatamos que Santana acrescentou algo importante para a Figueira: trouxe à colação, sublinhou e praticou algo, que está a ser tão necessário e tão essencial à cultura - o conflito exercido de forma elevada, civilizada e culta.
A democratização trouxe um inevitável abismo entre os agentes culturais e o público: no meu tempo, não se tinha nada, ou tinha-se cultura; passou-se, nos dias de hoje, a ter uma data de coisas - entre elas, livros idiotas, televisão boa, péssima e má.
E, claro - há quem continue a ter, ou não, cultura.
A velha ideia que obrigava o homem de bem a educar o povo, caiu em desuso.
É claro que Santana, apesar de ser expert em conflitualizar debates (culturais ou políticos), neste caso não cometeu o erro de se deixar enredar no visco sedutor.
Santana, como promotor cultural está no bom caminho: só tem que manter o rumo e continuar a visitar e divulgar os locais de cultura do concelho de que é presidente de câmara: não estamos a falar de dinheiro, mas de serviço público.
Certamente que o senhorito dono da galeria deve ter ficado agradecido pela divulgação do seu espaço comercial.
Quiçá, talvez tenha chegado mesmo a sentir uma comoção...