sexta-feira, 23 de junho de 2023

Santana, promotor cultural...

Uma obra de um pintor que Santana desconhecia, o sérvio Branislav Mihajlovic, que o surprendeu agradavelmente: paisagem Marítimo (Noturno). Óleo sobre tela. Para quem estiver interessado: custa 1 400 euros.

Santana Lopes,  na primeira pessoa numa postagem no facebook:
"No caminho diário de casa para a Câmara Municipal, costumo passar à porta de uma galeria de arte, na Rua da Liberdade. Ontem, por coincidência, estava cá fora, perto da porta, uma pessoa que me pareceu ser o responsável da dita galeria. Não o conhecia, tinha uma ideia por votos que tinha visto. Pedi para pararem o carro, a dita pessoa, entretanto, entrara e entrei eu também. Naturalmente, o dito responsável ficou muito surpreendido quando me viu e eu disse que queria conhecer o espaço e as obras de arte. Confesso que gostei bastante de várias das obras expostas entre elas uma de um pintor que desconhecia, o sérvio Branislav Mihajlovic. Revi um pintor de que muito gosto, Paulo Ossião, algumas do cada vez mais valorizado Manuel Cargaleiro, outras do magnífico pintor moçambicano Roberto Chichorro ( uma delas fez- me lembrar o Carnaval do Mindelo, de Clotilde Fava), e outra, muito rara,  duma pintora Duma , que nunca retrata os olhos.
Gostei do que vi e a Arte não impediu o que devia ser dito de frente. Não sobre Arte mas sobre Ética e um pouco de história figueirense.
Sempre gostei de ir direito aos assuntos mas foi uma coincidência. E devo reconhecer que, depois da natural surpresa inicial, a frontalidade foi recíproca. Mas haverá mais Arte?"


Quem acha que Santana perdeu o sentido mediático, está completamente enganado.
Mais interessante do que tecer qualquer comentário sobre este pequeno episódio, é a análise da opção de Santana pela promoção e divulgação da Arte.
É assim que um autarca, como "promotor cultural", faz as coisas: desloca-se aos locais que mostram a diferença e divulga-os.
Se concordarmos com Mathew Arnold - "a cultura como luz e doçura, como a busca da perfeição" - um autarca, que já foi Secretário de Estado da Cultura e Primeiro-Ministro, tudo cargos por definição provisórios, tem de ter o sentido do momento da oportunidade.
Resolvida que está a questão do leitinho nas escolas e o saneamento, está na hora daqueles que no meu tempo eram famintos e porcalhões, passarem a ser os futuros vistantes de espaços de cultura distintos, como o que foi visitado ontem por Santana Lopes.
Pensando um pouco mais, constatamos que Santana acrescentou algo importante para a Figueira: trouxe à colação, sublinhou e praticou algo, que está a ser tão necessário e tão essencial à cultura - o conflito exercido de forma elevada, civilizada e culta.

A democratização trouxe um inevitável abismo entre os agentes culturais e o público: no meu tempo, não se tinha nada, ou tinha-se cultura; passou-se, nos dias de hoje, a ter uma data de coisas - entre elas, livros idiotas, televisão boa, péssima e má.
E, claro - há quem continue a ter, ou não, cultura. 
A velha ideia que obrigava o homem de bem a educar o povo, caiu em desuso.
É claro que Santana,  apesar de ser expert em conflitualizar debates (culturais ou políticos), neste caso não cometeu o erro de se deixar enredar no visco sedutor.

Santana, como promotor cultural está no bom caminho: só tem que manter o rumo e continuar a visitar e divulgar os locais de cultura do concelho de que é presidente de câmara: não estamos a falar de dinheiro, mas de serviço público.
Certamente que o senhorito dono da galeria deve ter ficado agradecido pela divulgação do seu espaço comercial. 
Por outro lado, penso eu, para além de ter ficado surprendido, sensível como é, deve ter vivido uma emoção única, estranha, marcante e violenta.
Quiçá, talvez tenha chegado mesmo a sentir uma comoção...

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Administrador de insolvência detido aos 82 anos por desviar fortunas

"Manuel da Silva Teodoro, administrador de insolvência de 82 anos, foi esta manhã detido pela Polícia Judiciária na sequência de um caso revelado pela TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) em abril: o desvio, para as suas próprias contas, de um milhão de euros da massa falida do restaurante Teimoso, na Figueira da Foz."

"A minha experiência com as coletividades diz-me que não há vontade, vantagem ou lógica ontológica na maioria das fusões"...

 Via Diário as Beiras

Dia de festas na cidade...

 Via Diário as Beiras

"Aguiar de Carvalho, Duarte Silva, João Ataíde (os três a título póstumo) e Carlos Monteiro, vão ser distinguidos com a medalha da cidade e o título de cidadão honorário. O ex-vereador José Elísio, a jornalista aposentada Bela Coutinho, o ex-autarca comunista Nélson Fernandes e os empresários de restauração Isabel João Brites e Fernando Grilo também estão entre os homenageados."

Porque há quem não goste de evocar o passado, recordo 2017, que foi um ano e peras para campanhas de promoção publicitária

Lembram-se de Maio de 2017, ano de limpeza da praia, de eleições autárquicas e  de uma campanha publicitária lançada pela Câmara Municipal, a nível nacional, num investimento de 90 mil euros, para mostrar a diversidade da oferta turística do concelho e combater a sazonalidade.
A campanha "A Figueira que já não é só da Foz" pretendia, por um lado, "mostrar as oportunidades turísticas que a cidade oferece" e, por outro, combater a sazonalidade que continua a marcar o fluxo turístico do concelho.
A campanha foi lançada no final do mês de Maio a nível nacional, "na televisão, rádio, campanhas de 'outdoor', 'mupis' (mobiliário urbano para informação) e autocarros", assim como nas redes sociais, e  durou até agosto.
Houve ainda publicidade nas autoestradas número 1 (A1) e 8 (A8) e no Metro de Lisboa.
A campanha, explanou  na altura Tiago Castelo Branco, chefe de gabinete da Câmara da Figueira da Foz, pretendeu mostrar que a Figueira não é apenas a praia, mas também é "do 'sunset', dos amigos e da família", que é um espaço com "cultura, turismo de natureza e de prática desportiva".
Primeiramente, o município  apresentou a campanha aos habitantes do concelho, numa versão em que foram usadas "expressões, palavras, lugares e personagens comuns apenas aos figueirenses".
Estávamos em Maio de 2021. Entretanto, chegou Junho e tivemos um pequeno intervalo para publicitar o S. João...

A publicidade para mostrar a diversidade da oferta turística do concelho e combater a sazonalidade seguiu dentro de momentos!
Na altura, escrevi no OUTRA MARGEM: chama-se a isto, "consumir rápido e depressa, deitar borda fora e publicitar novo..." 

Politiquices de Aldeia....

Um exemplo.
Em 22 de fevereiro de 2021, numa postagem OUTRA MARGEM, publiquei esta postagem.
"Quinto Molhe: deixem-se de politiquices e exijam mas é soluções políticas aos políticos e técnicas aos engenheiros", onde apresentei esta sugestão.
Eu não tinha descoberto nada: apenas deixei uma sugestão, aliás, conhecida dos técnicos, há muito...
«A Junta de São Pedro está a promover um abaixo-assinado em defesa da costa. 
A moção propõe a construção de um quebra-mar paralelo à praia do quinto molhe, na Cova, para afastar o mar das dunas e fazer crescer o areal. 
Ao final da manhã de ontem (dia 26 de fevereiro de 2021), um dia depois de ter sido tornado público, o abaixo-assinado já contava com mais de 200 assinaturas. 
Por outro lado, na próxima segunda-feira, o executivo daquela junta de freguesia da margem sul da Figueira da Foz avançará com uma petição pública na internet sobre o mesmo assunto. 
Os documentos serão enviados à tutela do Ambiente e ao executivo camarário.»

Nota de rodapé.
Há cada coincidência...
A título de curiosidade, recorde-se que 2021 foi ano de eleições autárquicas.

Na Madeira não "há linhas vermelhas", mas "o acordo PSD-Chega fragiliza liderança de Montenegro"

Via Diário de Notícias

«A data para as Regionais está marcada: 24 de setembro. PSD já governa a região há 47 anos. PS tenta pela 13.ª vez. Este ano há uma incógnita: será Albuquerque obrigado a negociar com Ventura? Um acordo fragilizaria Montenegro. Esquerda admite unir-se. Na IL há um dilema.

O sinal de queda do PSD acentuou-se em 2004 sob a liderança de Jardim. E o mesmo aconteceu com o PS que vinha em crescendo desde 1976. O PS fica-se pela meia-dúzia de deputados, e dali não sai, enquanto que o PSD vai caindo gradualmente, apesar de ir mantendo as maiorias, até atingir o mínimo histórico em 2019 com Miguel Albuquerque: 21 deputados contra 19 dos socialistas que tinham então seis eleitos. 5241 votos fizeram a diferença nesse domingo de 22 de setembro, mas não fosse a mão do CDS, que se aliou ao seu adversário de sempre, Paulo Cafôfo (então líder do PS, o décimo) teria conseguido quebrar 43  anos de "PPD".


E agora, após 47 anos de regime social-democrata pode alguma coisa mudar no cenário político madeirense? Todas as declarações públicas vão no mesmo sentido: o PSD-M, aliado ao CDS-M, acredita numa vitória - os seus dirigentes até falam em maioria absoluta; o PS-M confia num "bom resultado para ser governo"; e todos os restantes partidos, até os que não têm nenhum deputado eleito, acreditam que vão "entrar na Assembleia Regional".

Porém, nos bastidores a conversa é outra. O PSD-M "não sabe ainda calcular o efeito [ou "os estragos", como também foi referido ao DN] que André Ventura pode causar". E essa é a grande incógnita. Um "desgaste eleitoral no PSD" - o CDS é praticamente ignorado no discurso, e até nos cartazes, ainda que esteja na coligação "Somos Madeira" - pode "escancarar as portas" ao Chega, até porque Albuquerque nunca as fechou.

De todas as vezes que foi questionado pelo DN, o presidente do governo regional sempre recusou dizer não ao Chega. E deixou sempre entreabertas as "pontes de diálogo", sublinhando a necessidade de "derrotar a esquerda" e defendendo que o Chega é "um partido legal, como qualquer outro partido", porque "não temos de ter nenhum complexo"

quarta-feira, 21 de junho de 2023

𝗖𝗼𝗻𝘃𝗶𝘁𝗲 | 𝗗𝗶𝘀𝗰𝘂𝘀𝘀𝗮̃𝗼 𝗣𝘂́𝗯𝗹𝗶𝗰𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗔𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗨𝗿𝗯𝗮𝗻𝗼 - 𝟮𝟴 𝗝𝗨𝗡 - 𝟭𝟳𝗵𝟬𝟬

 Via Município da Figueira da Foz

Considero a iniciativa excelente. Contudo, a meu ver, se fosse possível considerar o início da sessão pública para as 18 horas, talvez desse a possibilidade a mais figueirenses que trabalham de estar presentes.
Para ler melhor, clicar em cima da imagem.

Quinta das Recolhidas (Vila Verde), Vila Robim (Tavarede) e Leirosa (Marinha das Ondas), vão ter cinco milhões para a reabilitação de habitação pública municipal

Via Diário as Beiras

"Foi apresentado ontem o programa de reabilitação de 145 fogos nas urbanizações de habitação municipal Quinta das Recolhidas (Vila Verde), Vila Robim (Tavarede) e Leirosa (Marinha das Ondas). A candidatura que o Município da Figueira da Foz submeteu ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o efeito, ao abrigo do programa 1.º Direito, que foi aprovada, representa um investimento de cinco milhões de euros."

O casino da Figueira da Foz rende milhões de euros em impostos à autarquia figueirense e ao Estado português

"Casino da Figueira pode fechar a 30 de Junho. Concessionária e Governo não se entendem.
O Casino da Figueira da Foz está em risco de fechar as portas já daqui a dez dias porque o Governo não acautelou o período de transição da exploração entre 30 de Junho de 2023 e 31 de Dezembro de 2024, alega a empresa concessionária. Em risco estão 150 postos de trabalho e o Estado e a própria autarquia podem perder milhares de euros em impostos."
Via Jornal Público. Para ler melhor clicar em cima da imagem.

NORTE/SUL e a luta contra o egoísmo

A luta contra a pobreza e contra qualquer exclusão acompanhou-me ao longo da vida.
Muito jovem ainda, aproximei-me da Igreja Católica e fiz parte de um grupo na minha Aldeia  - o GAU (Grupo Acção Unida), que tinha na luta pelo direito ao acesso à cultura dos mais pobres dos pobres (no início dos anos 70 na minha Aldeia éramos praticamente todos pobres) contra a exclusão social, a exploração e a pobreza a sua razão de ser.
Depressa, porém, verifiquei que não era por aí: a luta teria de ser travada a nível político.
Aproximei-me dos comunistas. E, embora não concorde com tudo, continuo a pensar que a sua existência e participação na política em Portugal é fundamental para a democarcia.
 
A luta dos comunistas não tem cento e poucos anos. Tem milhares de anos. Desde que o mundo é mundo. A meu ver, entronca nos princípios que nos foram legados  pela vida e pelo exemplo de Jesus Cristo. 
No convívio com os comunistas aprendi o que é a partilha da esperança.
Álvaro Cunhal escreveu num texto de 1974 «A superioridade moral dos comunistas»: «da própria consciência dos objectivos e da missão histórica do proletariado decorre uma nova concepção da vida e do homem, que se exprime numa nova ética. A intransigência para com a exploração e os exploradores, para com a opressão e os opressores, para com qualquer forma de parasitismo, a indignação perante as injustiças, (…) convertem-se em conceitos morais, necessariamente associados aos objectivos políticos»
Combater o egoísmo e as desigualdades sociais, a exclusão social e a pobreza é para os comunistas, parte da intransigência e indignação com que olham a imoralidade.
Enquanto houver um explorado, haverá sempre alguém que se levanta.

O areal que a foto mostra (que fui sacar ao mural da página do facebook do município), coloca diante dos nossos olhos a realidade que é o aumento das desigualdades sociais e da pobreza no nosso concelho, entre o norte e o sul. 
A norte, aquele areal é um deserto em constante crescimento.
Nós, a sul, nesta outra margem, somos a matéria prima que alimenta aquele deserto a norte, que não serve a ninguém. Nem ao norte nem ao sul.

É neste quadro e neste contexto que todos temos a obrigação moral de intervir. Os do norte e os do sul do concelho. O SOS Cabedelo. O MOVIMENTO PARQUE VERDE. Os Fóruns intelectuais. Os autarcas da Figueira. E os governantes deste País. Todos. Por isso é que por aqui ando.

terça-feira, 20 de junho de 2023

Alguém consegue entender isto?

 

«Luís Montenegro retirou a confiança política a Pinto Moreira, deputado ex-autarca de Espinho. Oito dias depois, o grupo parlamentar indicava o agora arguido para as comissões de Saúde e Defesa»

"Digo sim, não porque o defenda enquanto princípio, mas porque entendo que nada há a opor que seja considerada enquanto possibilidade"...

 Via Diário as Beiras

Case study na Aldeia (continuação...)

 Via Diário as Beiras

A luta da arte xávega (continuação)

A arte xávega é um dos mais antigos e característicos processos de pesca artesanal, em toda a faixa litoral.

Os seus elementos identificativos são inúmeros, começando pela embarcação – fundo chato, proa em bico elevado, decoração simples. Também a rede possui características próprias, sendo constituída pelo saco (onde se acumula o peixe) e pelas cordas, cuja extensão varia conforme a dimensão da rede e dos lances. A companha, variável, era, na generalidade composta por 8 homens: o arrais, à ré; 3 remadores no banco do meio, os "revezeiros", os que "vão de caras pró mar", 2 no banco da proa e outros tantos no "banco" sobre a coberta; embora esta disposição não fosse rígida, labutavam, tantas vezes estoicamente, num remar vigoroso e cadenciado, a caminho dos lances dos lances que lhe davam o sustento.

Noutros tempos, quando a pesca era sustento de muitas famílias, a chegada do saco a terra era saudada com entusiasmo, se vinha cheio (“aboiado”), ou com tristeza, se vinha vazio (“estremado”). O peixe era posteriormente tirado para os xalavares (tipo de cesto), a fim de se proceder à sua venda. A lota era na praia. A licitação do peixe era feita com o tradicional “chui” – sinal que o peixe foi arrematado pela melhor oferta.

A rede era, assim, lançada de acordo com os sinais de terra e mar, a cerca de 300 braças da praia e ocupando uma extensão de cerca de 200 metros de largura. Cada lance, tinha a duração de hora e meia para a permanência da rede na água, e meia hora para a alagem (puxar a rede). Na borda d’água, estavam os camaradas de terra, para o alar da rede. Com um ritual próprio, lento e cadenciado, dois “cordões humanos” puxavam as cordas dos dois lados – mão esquerda agarrada à corda junto ao pescoço, braço direito estendido.

Agora tudo é diferente e menos penoso.

Os remos, que davam andamento ao barco, foram substituídos pelo motor fora de borda. No areal, as redes vão sendo recolhidas com a ajuda de tractores. Antigamente este trabalho, penoso, estava reservado a junta de bois e aos homens.

A Arte de Pesca de Arrasto para Terra, modernamente designada legalmente pelas instituições administrativas e fiscais do Estado português com o nome oficial de "Arte-Xávega", tem ainda vivos e em actividade no concelho da Figueira da Foz, três companhas activas: na Cova, na Costa de Lavos e na Leirosa.

Em condições por vezes bastante difíceis, estes antigos homens do mar, tentam amealhar alguns cobres que lhes melhorem a parca reforma que obtiveram depois de uma vida longa de trabalho e de sacrifícios noutras pescas e noutros mares.

Citando o Professor Alfredo Pinheiro Marques, um grande defensor e lutador desta causa, «a Arte de Pesca de Arrasto para Terra é um tipo de pesca muito específico, muito especializado e bastante diferente (pois, na sua aparente simplicidade, é muito mais heroico e muito mais difícil e perigoso do que julgam os que nada sabem de mar), e que por isso não pode ser comparado com qualquer outro tipo de pesca praticada em qualquer outro litoral oceânico do mundo inteiro. É mesmo muito diferente, e muito mais impressionante, em coragem e em esforço, do que os próprios modelos originais mediterrânicos da “Xávega”, islâmica, andaluza e algarvia, que lhe estiveram na origem há muitos séculos atrás, mas que entretanto já se extinguiram (ao longo do século XX), e que já não existem hoje em dia (no século XXI). A Arte de Pesca de Arrasto para Terra, característica dos litorais portugueses da Ria de Aveiro e da Beira Litoral (hoje, legalmente, dita “Arte-Xávega”), é uma arte que nos nossos dias ainda continua a ser praticada por muitas centenas de homens e mulheres, desde as praias de Espinho até à Praia da Vieira de Leiria, e actualmente com o coração na Praia de Mira (depois de, outrora, ter irradiado sobretudo a partir das praias do Furadouro, Torreira e Ílhavo), e é uma das realidades mais impressionantes, mais autênticas e mais simbólicas — e, por isso, mais importantes — daquilo que continua a ser, ainda hoje, Portugal: um país dividido entre o Passado e o Futuro, um país sempre adiado, e sempre sem conseguir descobrir o seu caminho, entre a tradição que não consegue manter e a modernidade que não consegue construir. Um país sempre mergulhado no seu subdesenvolvimento secular e na sua insustentabilidade económica. Mas que, nem por isso, pode ou deve sacrificar os mais autênticos e verdadeiros exemplos da sua identidade nacional e da sua cultura secular em nome de quaisquer cegas burocracias estatais normalizadoras, ou de quaisquer imbecis aculturações televisivas, ou de quaisquer bizantinismos “culturais” “modernizadores”, ignorantes das verdadeiras tradições e identidades locais.»

A arte xávega da Praia da Tocha foi, recentemente, distinguida pelos Prémios Europeus do Património Cultural/Prémios Europa Nostra, atribuídos pela Comissão Europeia, ao abrigo de um projeto de investigação promovido pela Câmara Municipal de Cantanhede.

Na edição de hoje do Diário as Beiras, Helena Teodósio informa, "que em parceria com os municípios vizinhos de Mira, Vagos e Figueira da Foz, onde também se pratica a arte xávega, aquela modalidade de pesca tradicional deverá ser objecto de uma candidatura a Património Mundial".

Vergonhas...

Por falar em vergonhas: onde é que andava João Portugal, quando Ricardo Silva, depois de se desfiliar do PSD, apoiou publicamente João Ataíde, que era para ter sido o candidato do PSD nas eleições autárquicas de 2009, e acabou (depois de uma história recambolesca) por ser candidato PS Figueira nessas mesmas eleições de 2009, contra a recandidatura de Duarte Silva (PSD), contribuindo para uma das derrotas que o PSD sofreu localmente?
João Portugal conhece Ricardo Silva e Ricardo Silva conhece João Portugal.
São ambos produto das jotas partidárias da área do poder. 
Ricardo Silva, depois de se desfiliar do PSD, apoiou a primeira candidatura do presidente da Câmara da Figueira da Foz, o independente João Ataíde, como candidato do PS. O mesmo Ricardo Silva voltou a filar-se no PSD em Coimbra, tendo, entretanto, transferido a sua ficha de militante para a Figueira da Foz, concelho de onde é natural e reside. “Regressei ao partido a pedido de figuras regionais e nacionais do PSD. Quando saí, saíram vários militantes”, disse Ricardo Silva ao jornal AS BEIRAS, em Março de 2018.
E disse mais acerca do apoio dado ao candidato  João Ataíde, que acabou por concorrer pelo PS em 2009:  “de acordo com a estratégia do partido (PSD), traçada entre 2006 e 2007, João Ataíde deveria ter sido o candidato do PSD, em 2009. Se se tivesse candidatado pelo PSD, hoje, o concelho estaria melhor”

Depois de ter chegado ao poder na Figueira, via PS, João Ataide, que nunca foi militante socialista, transformou o PS Figueira num partido municipalista liderado por ele próprio.
O rosto do rosto do PS na Figueira, partido municipalista figueirense, era João Ataíde, que como qualquer eucalipto secou tudo à sua volta. A entourage socialista nos tempos do poder, não sendo brilhante, disfarçava - o exercício do poder e os  interesses à volta, conseguem disfarçar muita coisa. 
Depois de 21 de Setembro de 2021, com a "improvável" derrota eleitoral do PS, no pensar das cabecinhas pensadoras do PS, a realidade dentro do PS ultrapassou a ficção. E os acontecimentos que se sucedem em catadupas, como é do conhecimento geral, vão continuar...
Perante um filme de terror, ou melhor ainda, um cenário dantesco vivido no interior do PS Figueira, o que pode fazer um infeliz e acossado líder distrital interino do PS num momento destes?
Isto que está na edição do Diário de Coimbra de ontem... 

Obrigado Doutor Santana Lopes. Fica o registo

 Imagem via mural de P Santana Lopes

Este OUTRA MARGEM veio ao mundo para registar. Fica mais este registo.
Mas - também e sempre - para questionar... Que o mesmo é dizer: para incomodar.
Enquanto o seu autor mantiver a esperança de que há uma possibilidade de ser possível viver numa Aldeia, num Concelho e num País melhor do que isto que temos, e onde seja possível o debate de ideias, vou continuar por aqui. 
Quando perder totalmente essa esperança, meto o teclado no saco...
Nestes quase 18 anos de OUTRA MARGEM, como sempre aconteceu na minha existência, tenho sido incómodo, difícil, duro e ousado. Todavia, continuo a não me esconder na cumplicidade, no silêncio, nas meias-tintas de conluio com o poder. Ao invés, procurando fazê-lo sempre com o rigor que considero imprescindível em qualquer confronto de ideias, mesmo que seja uma mera troca de pontos de vista divergentes sobre política.
Já fui prejudicado na vida, na carreira profissional, na família e no bolso (mas, isso, é o menos importante). 
Até agora não desisti. A luta continua. 
Liberdade e Abril, Sempre! 
Saúde e um abraço para todos: aos que gostam e aos que gostam menos - e que apesar de estarem fartos de mim, continuam a vir cá espreitar...

Como escrevi num comentário do mural do Doutor Santana Lopes:
"O genial Fernando Pessoa, poeta português que viveu entre 1888 e 1935, in “Livro do desassossego”: “não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade.”
Se há algo que caracterizou a minha vida, foi lutar em todo o lado por onde passei por aquilo que a minha (nossa) geração encarou como progresso e avanço social e poltítico: a ideia de liberdade.
Infelizmente, os sinais e os rumores que vamos tendo, é que essa ideia de liberdade já conheceu melhores dias.
Já tivemos mais certezas e mais capacidade para a luta pela liberdade. A sociedade está a mudar. Hoje, em Portugal, vive-se com a sensação de que o futuro está a ser construído sem a nossa participação.
Olhamos em frente e vemos o futuro cinzento, desorganizado, confuso e assustador, porventura com novidades para as quais ainda não temos respostas.
Os fundamentos que ameaçam o nosso futuro e a nossa democracia são reais.
Temos de estar atentos e não deixar que os receios com o nosso futuro colectivo nos atemorize e nos iniba na batalha pela liberdade e pela democracia.
E aquilo que quero para o meu País, quero para o meu concelho, para a minha Aldeia e, claro, para mim próprio.
Dentro das minhas parcas possibildades vou tentando contribuir para o debate. Sempre fiz o que pude.
As palavras da sua postagem que estou a comentar, que sei sinceras e autênticas da parte do Doutor Santana Lopes, vão provocar sobre a minha pessoa, invejas, refinamento de ódios e maus olhados, para não falar nas tricas de café tão normais e tão férteis numa cidade de província como a Figueira e, quiçá, umas filosóficas postas no face.
Mas, como deve calcular, isso será para o lado que me viro melhor. Nada, nem ninguém, vai conseguir comprometer a minha ideia de Liberdade."