Em finais de Maio de 2004 o jornalista Luciano Alvarez, publicou no jornal Público o seguinte texto:
«Em 1975, durante o PREC, alguma direita mais radical alinhada com a "Maioria Silenciosa", trouxe ao debate político a moca de Rio Maior. Um pau maciço, com uma ponta mais larga cravejada de pregos e que era a arma que essa direita imbecil entendia ser a melhor para combater os comunistas.
Trinta anos depois, numa campanha para as eleições europeias, o Bloco de Esquerda (BE) reinventou a moca. Os cartazes que já estão afixados, pelo menos em Lisboa, mostram um padeiro sorridente (alguma da malta que, em 1975, se passeava pelas ruas com a já referida moca também sorria) com um rolo da massa na mão direita e uns pães tipo cacete na outra. "Estás farto? Vota em quem lhes bate forte. Bloco de Esquerda. Na Europa como em Portugal", está escrito no referido cartaz.
Qual é a primeira conclusão que se pode tirar deste placar? A política, a forma de fazer política do BE, é a da mocada e da traulitada (espera-se que só verbal). "Na Europa como em Portugal".
Numa campanha em que PSD-CDS e PS têm apostado em imagens futeboleiras para fazer campanha, o BE apresenta agora o rolo da massa contra os cartões vermelhos e amarelos, os apitos e os cachecóis. Num momento de crispação verbal na política portuguesa, o BE cava o fundo do poço prometendo que vai bater forte (espera-se que só por palavras).»
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Imagem via Diário as Beiras |
Quem tenha acompanhado a política figueirense no último ano não nota algumas semelhanças com a política trauliteira do PREC em 1975 e "a política do BE, da mocada e da traulitada" em 2004?«"É uma imagem", dirão os bloquistas. Pois é - por sinal, bem verdadeira. É a imagem de quem acha que a política se faz à cacetada (deseja-se que apenas com o verbo) e de "sound-bytes".»
Lamentável, verdadeiramente lamentável, é que uma força política como o PS/Figueira, que governou a autarquia figueirense mais de 30 anos a seguir à implantação da democracia e que teve responsabilidades políticas na condução da câmara municipal da Figueira da Foz e da junta de freguesia de Buarcos e são Julião, entre muitas outras, até Setembro de 2021, e continua com grandes responsabilidades autárquicas, pois detém a responsabilidade política de gerir a maior parte das freguesias do concelho, já antes, mas depois da saída dos vereadores directamente eleitos a coisa acentuou-se, tenha vindo a surfar a onda bloquista alimentada e incentivada por sectores direitistas da sociedade figueirense, adeptos da "mocada", derrotados por Santana Lopes nas últimas autárquicas.
Quem não desconheça os meandros politiqueiros figueirenses ao longo dos anos a seguir ao 25 de Abril, mas em especial de 2005 para cá, é fácil fazer a leitura política e perceber o que está a acontecer, porquê, como e quem está na sombra a puxar os cordelinhos.
O episódio da passada quarta-feira ocorrido na Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião não foi fruto do acaso.
Quem o idealizou e perpetrou sabia certamente o que estava a fazer. Contava, como contou, com a inexperiência política da presidente da Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião e de alguns dos seus membros, para fazer o número que pretendia fazer - e concretizou.
Na Figueira, o debate democrático, tirando os primeiros anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, não tem sido lá muito profícuo e interessante. Basta olhar para a composição das sucessivas Vereações Camarárias e Assembleias Municipais, principalmente a partir do século XXI, para termos uma ideia do que para aí vai em qualidade política, em termos gerais, pelas Assembleias de Freguesia do concelho.
Isto fragiliza a democracia. A liberdade não pode permitir tudo. Não pode permitir, por exemplo, que cidadãos e cidadãs com um passado decente, uma família e uma vida que deveria falar por si, sejam tratados na internet como "chulos" e "prostitutas".
Com o episódio da passada quarta-feira na Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião, a política figueirense deu mais um passo rumo a não sei o quê, mas nada de positivo: entrou no vale tudo que, de há uns meses a esta parte, se via em algumas páginas do facebook.
Isto é preocupante. Que o diga a presidente de junta de Buarcos e São Julião, que sentiu na pele o que tem sido a campanha de baixaria que assola a Figueira no Natal de 2022.
O facebook é o facebook. Porém, o que aconteceu na passada quarta-feira no decorrer da Assembleia de Freguesia de Buarcos e São Julião, a meu ver, é grave, muito grave.
Merece ser alvo de reflexão profunda e leitura política atenta, corajosa e responsável por todas as forças políticas existentes no concelho da Figueira da Foz.
Que me recorde, foi o episódio institucional e político mais triste e lamentável ocorrido no nosso concelho, pós 25 de Abril de 1974.
Não foi um acto isolado. Recordo o último comunicado do BE da Figueira, que deu corpo, politicamente falando, aos "sound-bytes" facebokianos.
O que aconteceu na passada quarta-feira, foi a "cereja em cima do bolo" de algo que andava a ser cozinhado em lume brando há meses.
Os mentores sabiam (e sabem) o que andam a fazer.
Bom Natal para todos. Que o próximo ano de 2023 traga aos figueirenses a melhoria das condições de vida, serenidade e paz.