Temos uma fascinação
antiga pela mediocridade, pelo sofrimento e pela pobreza.
Salazar, que nos conhecia
bem, soube tirar partido dela.
Passos (tal como
Sócrates…), que também nos conhece de
gingeira, sabe que até na inveja somos pobrezinhos: odiamos quem tem um pouco
mais que nós, mesmo que o mereça, mas tratamos com admiração e subserviência
qualquer ladrão completamente descarado que tenha acumulado uma fortuna.
No fundamental, aceitamos que merecemos ser pobres e vemos nessa pobreza
uma manifestação de virtude.
Permitimos tudo.
Até aceitamos pacificamente que nos digam que não trabalhamos o suficiente.
Tudo o que realça a vida é luxo, e tudo o que é luxo é
pecado: daí a nossa aversão ao pensamento, à discussão dos problemas e ao
conhecimento.
As Ciências, as Letras e as Artes são coisas marginais.
Em vez de favorecer o
engenho, condenamo-lo à miséria.
Já disto se queixava Camões, no tal Canto Décimo que todos
os portugueses deviam conhecer:
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida;
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Somos e vamos continuar portugueses - mesquinhos,
austeros, apagados e vis.
Por isso, descansem as almas inquietas.
Nas próximas eleições, vamos continuar, muito maioritariamente, a votar nos partidos da troika, que são, certamente
por mera e infeliz coincidência, os partidos
da corrupção.