Tenho saudades do futebol dos anos sessenta/setenta, quando ia com o meu Pai ao velho Calhabé, em Coimbra, ver jogar a Académica, do Maló, do Celestino, do Belo, do Gervásio, do Rocha, do Oliveira Duarte, do Artur Joge, do Marques, do Ernesto, do Manuel António, do Brasfemes, dos irmãos Mário e Vitor Campos, do Brassard, do Crispim, do "velho capitão" Mário Wilson e de tantos outros.
Tenho saudades do homem, a apregoar pelas velhas bancadas "olha o gelado" e “olha a bolacha americana”, do homem do tabuleiro dos chocolates, dos lenços e dos chapéus de papel na cabeça, das bandeiras grandes e presas a grandes paus, das dedicadas esposas a fazerem tempo e renda no carro à espera dos maridos, das bocas foleiras aos árbitros, por parte dos adultos, dos meninos a perguntarem ao pai o que é um corrupto, um cornudo e um filho da puta, dos rádios colados ao ouvido, dos carteiristas, dos candongueiros, das casas de banho a tresandarem a cheiro a mijo, do cheiro a sovaco no aperto do peão, do jornal desportivo passado de mão em mão, da patanisca de bacalhau depois da partida na tasca, da viagem no velho e ronceiro comboio para Coimbra e volta, do passeio até à Rainha Santa, em Santa Clara e depois, antes do futebol, o almoço no restaurante/tasca ali prós lados do Portugal dos Pequeninos ...
Sobretudo, tenho saudades do meu Pai. E de poder ir a um estádio, tranquilo e descansado, para ver bom futebol – o futebol que era jogado pelos "Pardalitos do Choupal"...