"Se calhar, é preciso ser-se português para ter a certeza de que Camões é o melhor poeta que alguma vez existiu. E daí?
Isso apenas significa que a grandeza da poesia dele só se mostra inteiramente na língua em que foi escrita.
A questão está em saber quanto português é que um estrangeiro tem de aprender para poder pelo menos compreender porque é que alguns portugueses que lêem poesia noutras línguas acham sinceramente que Camões é o maior poeta de sempre, pelo menos entre as línguas mais conhecidas no Ocidente. Os grandes poetas tiram tanto partido das línguas em que escrevem, exploram-nas tanto, lêem-nas com tal violência, que é bom sinal quanto mais perdem quando são traduzidos — e, sobretudo, quando são muito bem traduzidos, isto é, com mais dó, com mais consciência do que se perdeu.
O maior drama com Camões é a quantidade de portugueses que não o leram. Mas não é um drama por aí além: convém a muita gente dizer que é um caso perdido.
Graças a Deus, vamos sempre a tempo, já que todos os anos há magotes de bebés que fazem o favor de nascer. E todos eles são intocados pela propaganda dissuasora com que os megafones da educação conseguem afastar qualquer adolescente do apetecimento de ler Camões como se fosse um prazer.
Felizmente, há quem consiga tornar Camões interessante, irresistível, investigável."
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