quarta-feira, 6 de março de 2024

O voto útil na AD será útil a Ventura

 Carmo Afonso via Jornal Público

«Numa entrevista ao jornalista Hugo Gilberto, na RTP, André Ventura revelou finalmente quais "as forças vivas" do PSD que lhe tinham garantido que haveria acordo com o Chega, depois das eleições, se houver uma maioria à direita.

Nomeou Passos Coelho, Ângelo Correia, Rui Gomes da Silva e Miguel Relvas. Há aqui uma novidade. Na reta final da campanha Ventura decide indicar os nomes  de quem tem vindo a falar sem concretizar. Porquê?

Certamente porque a última semana não lhe correu de feição. Os números das sondagens começaram a descer. O líder do Chega precisa de dizer aos eleitores que o voto no partido vai servir para formar governo e não será um voto perdido.

Reparem que, a partir do momento em que indica nomes, seria muito mais fácil que qualquer um deles o defendesse. Mas todos têm vindo a defender um entendimento com o Chega e Passos Coelho chegou a afirmar que Luís Montenegro fará o que for preciso para formar governo. Não há desmentidos na calha.

A AD prepara assim o melhor de dois mundos.

Por um lado, tem Luís Montenegro na liderança a garantir que não fará acordos com a extrema-direita e que só será primeiro-ministro se ganhar as eleições. Com esta garantia de Montenegro a AD consegue captar os votos daqueles que não querem Ventura no governo. Isto significa que, neste momento, há pessoas que tencionam votar na AD com esse propósito. Há alguma habilidade dos responsáveis de campanha da AD nesta situação, deve ser reconhecido. Aquilo que o PS conseguiu nas últimas eleições, e refiro-me a canalizar os votos d quem não aceita o Chega no arco da governação, pode agora ser conseguido pela AD.

Ma o que acontecerá se Luís Montenegro não ganhar as eleições? Bom, nesse caso tudo é possível e refiro-me à própria saída de cena de Luís Montenegro. Pasos Coelho disse acreditar que, nesse cenário, "Luís" não deixará de formar governo. Mas parece mais provável que seja o próprio Passo Coelho a assumir as rédeas e a fazer as honras da casa.

O que é que isto significa?

Que - quer com uma vitória de Luís Montenegro, quer com a sua derrota - a AD pretende formar governo. Significa também que está a fazer tudo para ganhar as eleições e neste "tudo" incluo a captação dos votos de quem não quer o Chega. Mas esses votos servirão precisamente para fazer acordo com o partido, se os resultados das eleições assim o determinarem. Nessa altura Ventura dirá que nunca escondeu nada e o mesmo dirão todas as vozes  do PSD que já manifestaram abertura para o acordo.

O "Não é não" de Luís Montenegro pode transformar-se num sim. Os eleitores que votam AD não sabem para que servirá o seu voto e têm boas razões para admitir que servirá para fazer uma coligação com o Chega. isto é algo nunca visto. Conquistar o voto dos eleitores garantindo que tem a utilidade de de afastar a extrema-direita da governação e, ao emsmo tempo, ter tudo a postos para se coligarem com a extrema-direita, caso da primeira estratégia não resulte a vitória.

Depois das últimas eleições escrevi sobre o voto útil e os danos que provoca no sistema democrático. Aquela maioria absoluta resultou em grande parte do medo que os portugueses tinham de que Rui Rio se entendesse com o Chega. O PS soube tirar partido da indefinição de Rui Rio. Muitos eleitores que votaram PS não o teriam feito, se tivessem antevisto que estava em causa a obtenção de uma maioria absoluta. Desta vez pode estar em causa uma verdadeira traiçaõ. O voto útil na AD poderá vir a ser útil ao próprio Ventura.

Os barões do PSD e pesos pesados da AD estão muito à vontade. Se a coisa não for lá de uma maneira, acreditam que irá de outra. Fazem declarações inconvenientes e até bizarras.  É o país que é inseguro por causa da imigração, é o amor ao brasão das armas que serve para aferir quem são os verdadeiros portugueses e é o aborto que pode voltar a ser tema. Montenegro relativiza, por um lado e, por outro, diz que não tem importância. Chegou mesmo a afirmar que quem decide as propostas da AD é ele. A verdade é que não tem mão em nada disto. Porque haveria de ter a seguir à eleições?

Sobre propostas não se fala muito. Para mais, os resultados da governação socialista têm-se feito notar: Portugal bem posicionado nas agências de rating, escedente orçamental e crescimento económico acima da média europeia. Estes resulatdos drenam a argumentação habitual ad direita. Sobra é fé no desejo de mudança. E vai valer mesmo tudo para chegar a poder.»

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