domingo, 23 de outubro de 2022

Qual será o futuro de Passos Coelho? E o nosso?

Uma foto de Luís Carregã/As Beiras, que mostra um homem que
 gosta  de andar de carro com um livro de Salazar debaixo do cu!..
Hoje, no Diário de Notícias, Paula Sá assina uma peça jornalística com o título: "Passos Coelho. Quo vadis? A gestão do silêncio gera ruído."

Começa assim.
«Marcelo voltou a chamá-lo para a política: "Tem muito a dar". Quem o conhece garante que ninguém sabe o que vai na cabeça do antigo primeiro-ministro. Mas descartar que possa vir a ter um papel no futuro do país é coisa que não fazem. Para já dá aulas e vai seguindo os que o querem dar-lhe um empurrão.
O futuro de Pedro Passos Coelho só ele conhece, mas entre o que faz e já fez e pode vir a fazer há todo um mundo de possibilidades. O DN coloca cinco cenários.»
A saber:
"1 - Professor universitário? Entusiasmo posto nas aulas limita futurologias
(Probabilidade elevada)
2 -Gestor? Voltar às empresas seria "sinal que tinha desistido"
(Probabilidade muito reduzida)
 3 - Cargo internacional? Mais depressa a Gulbenkian do que voos no estrangeiro
(Probabilidade reduzida)
4 - Presidente da República? Um fato que todos lhe veem a vestir e a cair bem
(Probabilidade elevada)
5 -Líder do PSD? Se um dia quiser, o PSD estará rendido a seus pés
(Probabilidade média)."

Na peça jornalística (pode ser lida na íntegra no Diário de Notícias), pode ler-se que Passos Coelho "pode falar com 100 pessoas que ninguém lhe vai saber dizer o que Passos pensa fazer".

Discordo. Penso saber - e muito bem -, o que Passos Coelho quer e pensa.
Por exemplo: agora, ao que parece, para Passos Coelho a carga fiscal é insuportável.
Todavia, houve tempo em que portugueses podiam suportá-la. 
É, digamos, um ser que desafia a sinonímia. 
Vive numa bolha onde o ar é rarefeito e tudo está desenhado para que permaneça irrepreensivelmente isolado de contactos com humanos de carne e osso.
Em especial, com os que se servem da sopa dos pobres no Saldanha e os que pernoitam nas arcadas do Terreiro do Paço.
Sempre foi assim. Também no seu tempo de primeiro-ministro.
As caravanas oficiais dos políticos  não param para ver a miséria em que se vive. Se tivessem parado, rapidamente teriam percebido que o importante não era o «ajustamento dos desequilíbrios», mas evitar que o desequilíbrio se apoderado do ajustamento. 

Já passou o tempo suficiente para perceber, apesar de ainda haver muita coisa para ajustar, que tudo isto que continuou a acontecer depois de Passos Coelho, não passa de um assalto ao bolso dos pobres em favor dos grandes interesses e das grandes empresas.
Qualquer dia, quando nos cortarem definitivamente a dignidade, ainda nos dirão que o futuro de tudo isto é o subdesenvolvimento e que o melhor é esquecermos os sonhos de «civilização»
Enquanto o empobrecimento for um problema abstracto, longinquamente reduzido a pano-de-fundo, as elites vão vivendo - e bem. 
Como canta o Sérgio Godinho, "cá vão andando com a cabeça entre as orelhas"
O problema será quando os pobres já não puderem empobrecer mais. Quando não puderem ser ainda mais pobres. 
Aí, «na precariedade de todos os nomes», acabaremos. 
Inexoravelmente.

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