Surda e absurda: a maioria absoluta
"A Assembleia da República está dominada por uma maioria absoluta, a do arco da governação há muitos anos: entre PS e PSD (e o satélite CDS), é mais aquilo que os une (a distribuição de “jobs”) do que aquilo que os separa. Conclui-se, portanto, que existe uma maioria absoluta de facto. No que se refere às questões essenciais, tem-se intensificado o mesmo desprezo pelos serviços públicos, a mesma subserviência aos poderes privados e a uma União Europeia que representa, na prática, esses mesmos poderes.
É claro que a distribuição de poder(es) é suficiente para que haja conflitos entre os partidos do arco da governação, pelo que uma legislatura fortalece sempre um lado, enfraquecendo o outro.
Além disso, um deputado, de uma maneira geral, não representa os eleitores, antes serve o partido, votando de acordo com as ordens que emanam das chefias. Se esta perversão existe em todos os partidos (com os deputados a desrespeitarem conscientemente a sua essência), torna-se ainda mais perigosa quando há uma maioria absoluta de direito: na prática, o poder legislativo fica ao serviço do executivo.
A Geringonça foi uma habilidade absolutamente legal e legítima que serviu para afastar Passos Coelho do poder, o que já foi bom, mas não suficiente para que o PS abandonasse a sua verdadeira natureza. António Costa conseguiu, assim, chegar ao poder, fingindo-se de esquerda, usando as companhias que se deixaram usar.
Neste momento, os socialistas sonham com uma nova maioria absoluta. Centeno já disse que é mais fácil atingir objectivos se isso acontecer. No fundo, no fundo, qual é o político que não sonha com uma ditadura? O meu único voto de esquerda é contra a maioria absoluta, até porque, excepcionalmente, concordo com António Costa."
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