São cerca de 18 horas e acabei de almoçar.
Estava a preparar-me para ir dar o meu passeio pela beira-mar da Cova-Gala e começa a chover!
Logo hoje, que estou de folga!
Quer fazer?
Ir até ao Jumbo, sei lá, comprar qualquer coisita, por exemplo, uns óculos escuros com o dinheiro que conto ganhar para o mês que vem!..
Cada vez, agora que passo por cá cada vez menos tempo, gosto mais desta Figueira, sobretudo das duas auto-pistas, que nos reduziram para metade qualquer salto que queiramos dar para fora deste sítio muito mal frequentado...
Isto, sim, é progresso. Longe vai o tempo, em que, por não haver via verde a pagar pela conta ordenado, tinha de me sujeitar às curvas e aos sinais da 111 ou da 109.
Chato, mas chato mesmo, é a porcaria do cartão amarelo estar quase nas lonas...
Logo hoje, que estou de folga e que tanto me apetecia dar um salto a um sítio que eu cá sei, para marfar uma bela de uma mariscada...
Só que a vida está uma merda.
Tenho de o poupar para os óculos escuros!..
Enfim, esta crise não está fácil e não se pode ter tudo...
Sobretudo, há que evitar olhar para esta realidade.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
... e para deixar de se olhar para a realidade, compram-se uns óculos de sol e come-se uma bela de uma "mouriscada"...
;)
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